Visões - Série Premonições (Volume 1) escrita por Carolina Pietski

Visões - Série Premonições (Volume 1)

Pela primeira vez em muito tempo eu choro pela minha vida, e não pela vida de minhas personagens. É triste admitir, por isso choro mais ainda, que prefiro viver no mundo da imaginação a viver em minha triste e devastada vida. Eu prefiro ser princesa, bruxa ou qualquer outro personagem de minha escolha do que ser a triste e solitária garota que luta por causas perdidas, que se emociona ao ouvir uma música triste ou ao ver um filme com um final feliz. A menina perfeita para os amigos, a ovelha negra da família, a garota esquisita da escola e, para os inimigos, nada. Um nada que, às vezes, é muito mais que tudo.
Deixo as lágrimas escorrerem silenciosamente pela minha face. Não tento as forçar a parar, pois sei que elas me vencerão. Poupo assim um pouco de energia não fazendo um esforço inútil que não acrescentará nada em minha existência. As lágrimas são como um sopro muito forte de vento: elas te deixam aturdidas por alguns instantes, enquanto caem, e então, quando cessam, você se sente bem, renovada, pronta para a luta, até que o ciclo recomece e as lágrimas cheguem mornas e molhadas.
As lágrimas saem de mim e com elas se vai a tristeza do momento. Quando paro de chorar, sinto meus olhos arderem, olho-me no espelho e vejo olhos vermelhos e inchados, como se chamejassem em fogo eterno pedindo vingança, implorando para que um pouco de seu sofrimento seja transferido para outros olhos, olhos de outra pessoa, pessoa que causou sua dor. Penso um instante nesta possibilidade, mas logo depois descarto a ideia. Os olhos me olham através do espelho, suplicando para que sua sede de vingança seja ouvida, mas simplesmente viro-me de costas e lavo meu rosto com água fria, olho de novo para o espelho, mas meus olhos inundados por água já não podem ver o reflexo da garota que olha por eles. Triste garota que acaba de perder a mãe.
Seco meu rosto com a toalha seca e macia, penso no maldito acidente que levou minha mãe para longe de mim... tão longe. Abaixo os olhos e vejo minhas mãos arranhadas, olho novamente para o meu rosto refletido no espelho, ali também há arranhões, hematomas, cortes profundos, todos lembranças de um passado recente, mas que eu gostaria de ter esquecido.
Saio do banheiro e vou para meu quarto. Abro a porta e vejo o lugar em que vivi momentos alegres e tristes, onde tive brigas e reconciliações. Olho em volta, está tudo tão diferente!, as malas em cima da cama, prontas. A luz entra pela janela aberta, ilumina o lugar de onde terei saudade, mas que não poderei mais visitar, pois se voltar, não haverá ninguém a me esperar, a casa estará fria e vazia, mofada, provavelmente, e com cheiro de saudade no ar. Lágrimas recomeçam a brotar de meus olhos, malditas lágrimas incansáveis, delas nunca me livrarei, mesmo lutando para repeli-las com todas as forças que me restam.
Ouço uma porta abrir-se e depois fechar-se com um baque. Não me mexo, não penso, apenas olho para o nada. Sinto alguém atrás de mim e depois sinto um par de mãos em meus ombros. Suspiro ao sentir o toque familiar, mas há muito esquecido. Viro-me e abraço meu pai, deixo as lágrimas transbordarem em seu ombro. Ele afaga minhas costas e meu cabelo, depois sussurra em meu ouvido, como se tivesse medo de que o vento transmitisse suas palavras pelas ruas:
-- Calma filha. Está tudo bem agora, eu estou com você!
Sim, você está comigo, mas isso é suficiente?, penso. Apenas balanço a cabeça, concordando com ele, mas não sei responder a pergunta que me veio à cabeça, pois só o tempo poderia respondê-la.


Classificação: 13+
Categorias: Histórias originais
Personagens: Personagem Original
Gêneros: Aventura, Drama, Romance, Amizade
Avisos: Álcool, Drogas, Homossexualidade

Capítulos: 4 (2.645 palavras) | Terminada: Não
Publicada: 05/10/2013 às 20:36 | Atualizada: 08/03/2014 às 19:23



Capítulos

1. Príncípio
519 palavras
2. Recomeçar
439 palavras
3. Realidade
896 palavras
4. Certezas
791 palavras