Unica Et Opposita escrita por Sali


Capítulo 7
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Essas leitoras devem estar querendo me matar, no mínimo.
Me desculpem pela demora, sério. Eu tô numa crise de bloqueio criativo que vocês não acreditam. Tô chegando ao nível de passar três, quatro dias sem escrever uma linha, e isso não costuma acontecer comigo!
Bom, peço desculpas mesmo. Não foi por querer.
Bom... Para quem queria saber mais sobre a vida de nossa Elizabeth Bennet, cá está um capítulo novíssimo e todo sobre ela. Espero que gostem! :D



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Lizzie

Jude e eu seguimos pela alameda até o chalé 69, depois de deixarmos Lucy no 67. Eu havia percebido que ela parecia mais distante desde a “conversa” com Lydia, e, pensei, por alguns instantes, que ela tivesse ficado desse jeito graças à pergunta que a garota fez.

Mas logo que adentramos o quarto, tudo não passou de uma impressão.

– Mas então, Lizzie. Vai me contar sobre você? – Jude perguntou, sorrindo daquele jeito alegre.

Sorri de canto.

– Agora?

– Hmm, acho que agora não. Está frio e eu vou tomar banho, mas que tal depois?

Dei de ombros.

– Tudo bem, se você quer.

Ela sorriu abertamente.

– Eu contei quase tudo sobre mim, acho que você devia falar um pouco sobre si também. Afinal, agora vamos praticamente morar juntas.

Sorri de canto e concordei, enquanto Jude se dirigia ao seu armário. Quando ela o abriu, pude ver alguns vestidos e peças de roupas de tons claros, todas perfeitamente organizadas e dobradas em seus cabides. Mordi levemente o lábio inferior, pensando nas minhas roupas um tanto displicentes, colocadas de qualquer jeito no armário.

Ela tirou algo cor-de-rosa que parecia ser seu pijama e virou-se para mim.

– Então eu volto logo.

Assenti e ela sorriu, adentrando o banheiro e fechando a porta. Deitei-me na cama e comecei a olhar o teto, tendo, finalmente, um tempo sozinha para pensar naquele dia tão longo.

Eu era o tipo de pessoa que não gostava de preconceitos – mesmo porque, gostando de garotas e tendo um estilo tão “diferente”, eu era o tipo de alvo ideal para tais –, mas, quando coloquei os pés dentro de St. Leonards-Mayfield, a primeira coisa que eu imaginei foi um colégio cheio de jovens absurdamente ricas e arrogantes, que me odiariam no primeiro olhar. Eu não estava totalmente errada, mas também não estava certa em pensar assim. Obviamente, havia uma boa porcentagem de meninas desse jeito, mas também haviam garotas doces e simpáticas, como Anne, Lucy e, principalmente, a minha colega de quarto.

Jude Ward era um misto de simpatia, delicadeza, alegria, doçura e inocência tão grandes que me parecia simplesmente impossível que uma pessoa não gostasse dela. E, assim, eu me vi imensamente encantada com aquela garota baixinha que eu conhecia havia menos de um dia, tocada pela alegria e pelo ânimo que estavam com ela na maior parte do tempo. Além disso, Jude, mesmo sendo filha de uma família incrivelmente rica da elite de Londres, me aceitara como eu era, sendo indiferente ao meu modo de vestir, como se estivesse acostumada com isso desde sempre. E essa era outra coisa que eu admirava nela.

De repente, o ruído de uma chuva forte se fez ouvir contra as venezianas do quarto. Suspirei e me levantei da cama, espreguiçando-me lentamente e sentindo alguma parte dos meus ombros estalar com a flexão. Andei com passos lentos até a janela e abri a parte de madeira, me apoiando na base da janela para observar, através do vidro, a chuva caindo na praça aberta em frente aos chalés.

Pude ver algumas garotas se cobrindo com seus casacos, correndo em direção aos chalés, e então a chuva engrossou e tudo que eu via eram vultos e a cor esmaecida da grama. Comecei a fazer desenhos com a ponta do dedo no vidro embaçado da janela, e então o som da porta do banheiro se abrindo chamou a minha atenção.

Virei-me e vi Jude saindo do banheiro, vestida com uma camisa de botões e mangas compridas cor-de-rosa com bolinhas brancas e uma calça com a mesma cor e estampa. Os cabelos estavam presos em um coque frouxo, e os pés cobertos por pantufas também rosa. Se eu pensava que ela não poderia ter uma aparência mais meiga e inocente, estava errada.

Quase ao mesmo tempo, um vento frio percorreu meu corpo e me fez me encolher, esfregando os braços. Fechei a parte de madeira das venezianas.

– Que frio! – Exclamei automaticamente.

Jude riu.

– Que tal tomar um banho, Lizzie? A gente pode conversar depois.

Sorri de canto.

– É, boa ideia.

– Então vai lá. A torneira da direita é a quente, a da esquerda a fria. As toalhas do armário estão limpas.

Sorri novamente.

– Ok, obrigada. – Respondi enquanto pegava no armário o meu pijama e uma boxer cinza com listras pretas e um top cinza escuro.

– Por nada. – Ela sorriu e eu fui para o banheiro.

Eu já havia entrado no banheiro mais cedo, para trocar minhas roupas pelo uniforme, mas não havia reparado tanto no tamanho do cômodo. Agora, desabotoando a camisa de uniforme, eu observava as paredes cobertas de azulejos brancos com pequenas pastilhas azul-claras, a pia com duas bacias, decorada com mosaicos de diferentes tons de azul, o espelho grande sobre elas e, de cada lado, um armário pequeno. Na parede da esquerda ficava o box de vidro e o chuveiro, e na outra, os sanitários.

Terminei de tirar meu uniforme e o deixei num canto da pia, entrando no chuveiro e girando a torneira da direita.

Jude

Eu não costumava devotar muito tempo aos meus pensamentos, então não demorei a deixar de lado a minha preocupação com a sexualidade de Lizzie. De qualquer forma, isso não era nem um pouco da minha conta. Gostando de meninos ou meninas, ela continuaria sendo aquela garota doce de aparência diferente, da qual eu já gostava mesmo a tendo conhecido por apenas um dia.

Senti uma corrente de vento frio soprar, mesmo através das venezianas fechadas e me cobri com as duas mantas que se embolavam no pé da cama, me encolhendo sob elas. Peguei, na mesinha de cabeceira, o livro que eu lia – Um Dia, de David Nicholls – e abri na página em que eu havia parado, começando a ler enquanto aguardava Lizzie terminar seu banho.

– Meu Deus, essa escola é sempre fria assim no outono ou hoje é especial? – Lizzie perguntou, esfregando os braços quando saiu do banheiro.

Eu ri baixo.

– Não, acho que hoje é especial.

– Que ótimo jeito de dar boas vindas à aluna nova. – Ela revirou os olhos e eu ri novamente, colocando o livro sobre a mesinha de cabeceira.

Depois de vestir um moletom por sobre a camiseta de pijama, Lizzie sentou-se na cama.

– Acho que você está me devendo algumas histórias… – Eu disse por fim, sorrindo.

Lizzie riu baixo, balançando a cabeça.

– Você realmente quer saber sobre mim, não é?

– Claro! Eu te contei tudo sobre mim, agora nada mais justo que você fazer o mesmo.

– Tudo bem. – Ela riu novamente. – E do que quer saber?

– Hmm… Deixa eu pensar. Você já me falou do seu gosto musical, dos discos clássicos… Então, me conte da sua casa.

– Tudo bem, eu conto. Mas é melhor não ficar surpresa. Quando eu disse que esse quarto era do tamanho da minha casa, não estava brincando.

Dei uma risada.

– Relaxa, eu não vou ficar. Pode contar.

Ela sorriu de canto e cruzou as pernas sobre a cama, girando a pequena argola do nariz enquanto começava a falar.

– Eu nasci e cresci na mesma casa. – Lizzie contou. – Era a casa da minha avó, mas os meus pais moravam lá. Eles estavam juntando dinheiro para comprar um apartamento, mas isso nunca aconteceu. De qualquer forma, é uma casa legal. Eu gosto de lá, sabe? Mesmo sendo minúscula e tendo cheiro de velha, é onde eu nasci e cresci. – Ela sorriu de canto e eu ri baixo. – Enfim. A casa é de um andar só, e acima só tem o sótão. Da rua, só dá para ver o jardim da frente (provavelmente uma das únicas coisas que a minha avó realmente ama) e o portãozinho. Quando você passa por eles, chega na porta de entrada. Uma porta… Normal. Nada de dourados ou madeiras chiques. A porta dá para a sala. A sala de estar da minha casa é um cubículo, com um sofá antiquado de couro e uma TV antiga, em cima de um móvel velho em frente a uma mesinha de centro decrépita.

– Uau. – Murmurei, rindo, e Lizzie sorriu de canto. – Não pode ser tudo tão velho.

Ela riu.

– Não duvide da capacidade da minha avó. Eu já falei com ela sobre isso, uma vez. Ela riu e disse que eu era realmente filha do meu pai, porque ele sempre reclamava das mesmas coisas, do mesmo jeito. – Lizzie sorriu de canto e eu dei um sorriso pequeno, triste.

– A sua avó… Ela é mãe do seu pai? – Perguntei com cautela, temendo mencionar algo que a deixasse triste. Para o meu alívio, Lizzie apenas sorriu.

– É, sim. Joanne Bennet, mãe de Ethan Bennet.

Sorri.

– Ethan Bennet. É um nome bonito, forte. Mais bonito que Oliver Ward.

Lizzie riu baixo, olhando para baixo.

– Se você diz…

– Mas vai, me conta. Depois da sala de estar tem o quê?

Ela sorriu.

– Na parede do outro lado tem a porta do corredor. A primeira porta depois disso, à esquerda, é a porta da cozinha. A casa é tão velha que a cozinha não tem aqueles balcões abertos. A única coisa que tem na cozinha, além do fogão e da pia é uma porta de tela que dá para o jardim de trás. – E então Lizzie abriu um sorriso pequeno, um tanto nostálgico. – Teve uma vez que, todo dia, por umas duas ou três semanas, aparecia uma gata lá. Ela era branca, rajada de marrom e laranja nas costas e nas orelhas. Eu dava um pires de leite para ela e ela se encolhia do meu lado e me deixava fazer carinho nela.

Dei um sorriso ao ouvir o carinho com que Lizzie falava da gata.

– E o que aconteceu com ela?

– Ela tinha dona. – Lizzie abriu um sorriso mais largo, ainda de canto. – Jenny, era o nome dela. Era uma garota que morava no quarteirão de baixo. Ela tinha essa gata, Whisky, e mais outros dois. E a gatinha fugia todos os dias, e ia parar no meu jardim.

– E logo na sua casa?

– É. – Lizzie sorriu.

– E a garota, Jenny?

Percebi que o sorriso de Lizzie aumentou, tornando-se diferente. E, quando tornou a falar, ela mordiscava suavemente o lábio.

– Ela era um ano mais velha que eu. Tinha uns dezesseis, na época. Eu tinha quinze. A gente acabou virando amiga, e aí… – Ela deu de ombros. Abri a boca para perguntar o que ela queria dizer com o “e aí”, mas ela continuou a falar antes que eu pudesse fazer a pergunta. – Enfim. Depois da cozinha, a segunda porta é a do meu quarto, do lado direito, a do banheiro, no esquerdo, e, no fim do corredor, o quarto da minha avó.

Arqueei as sobrancelhas.

– E seus pais viveram com você e a sua avó nessa casa de dois quartos? – Perguntei, surpresa.

Lizzie sorriu de canto e riu baixo.

– Pois é. Eu também acho um pouco inacreditável, mas aconteceu.

Sorri.

– E como é o seu quarto, Lizzie?

Ela sorriu de canto e riu, balançando a cabeça antes de começar a contar.

– O meu quarto é bem pequeno, na verdade. É só uma cama de solteiro velha, um armário, uma mesa pequena, uma cadeira e uma janela. – Arregalei os olhos e ela sorriu, dando de ombros.

– Isso é… Tão estranho. Eu quase não consigo imaginar um quarto assim.

– Bom, é o meu. E foi mais ou menos isso que eu senti quando você me contou da sua casa. Quartos gigantes, portões com jardim frontal…

Dei risada.

– Tudo bem. É realmente muito diferente. Agora me diz, como é a sua avó?

Lizzie abriu um sorriso e olhou para baixo, estalando as articulações dos dedos longos e finos e brincando com as unhas curtas. Foi naquele momento que, reparando nas suas mãos, vi que ela trazia um anel prateado liso e reto no polegar direito.

– A senhora Bennet é um paradoxo em forma humana.

Ergui as sobrancelhas.

– Como assim?

Lizzie riu.

– Eu sou tudo que ela tem, e ela é tudo que eu tenho, mas nós discutimos como se fôssemos... Nem sei. Ela briga, me xinga, reclama das minhas roupas, do meu cabelo, do meu jeito. Mas não faz nada para me mudar, porque ela sabe que, se fosse de outro jeito eu seria infeliz. E tudo que ela não aguenta é me ver infeliz.

Olhei para baixo e dei um sorriso pequeno, triste, ao ouvir o relato de Lizzie, vendo o quão bonita era aquela relação – mesmo um tanto conturbada – entre ela e a avó.

Lizzie

Eu havia contado quase tudo sobre a minha casa e a minha avó sobre Jude, mas escondera de propósito a minha história com Jenny. Não que eu realmente ligasse para a opinião dela sobre a minha sexualidade, mas não era o tipo de coisa que eu falaria com uma pessoa que eu conhecia a menos de um dia, mesmo sendo uma garota tão meiga e doce como Jude.

– A minha avó é tão diferente da sua. – Ela riu. – Bem, na verdade, é impossível comparar. A mãe do meu pai é carinhosa e tudo, e ela sempre dá dinheiro e presentes para mim e para o James quando vem da Escócia. Mas ela detesta a minha mãe e adora dizer que não sabe onde meu pai, um homem tão culto e inteligente foi tão idiota de se casar com ela.

Com isso, dei risada.

– A sua vida é tão de filme, Jude.

Ela riu e balançou a cabeça.

– É, eu sei. Mas eu ainda acho que preferiria ter a sua vida. Seria bem menos tedioso.

Ri baixo.

– Duvido muito disso.

– Bom, eu preferiria. Como você mesma já disse, eu prefiro a simplicidade.

Sorri de canto, vendo que Jude bocejava e esfregava os olhos levemente enquanto falava.

– Pelo visto você está com sono, não está?

Ela deu um sorriso pequeno, meigo.

– É, acho que sim. Eu acordei cedo hoje.

– Então vamos dormir. Teremos que acordar cedo amanhã também, não é?

– É. – Jude concordou, sorrindo.

– Então… Boa noite, Jude.

Ela sorriu.

– Boa noite, Lizzie. Pode deixar que eu apago a luz.

Sorri de canto.

– Tudo bem, boa noite. – Respondi e deitei-me na cama, enquanto Jude fazia o mesmo e apagava a luz, deixando o quarto numa penumbra, onde ainda era possível ver a sua silhueta e a silhueta dos móveis e objetos do quarto.

Observei enquanto Jude se encolhia sob as duas mantas, virada de lado, e peguei o meu celular, voltando a plugar os fones. Eram dez e meia da noite e eu, acostumada a dormir tarde, não estava com o menor sono.

Dei play na música que tocava, Nothing Else Matters, e me deitei de barriga para cima, olhando para o teto que adquirira uma cor acinzentada com a escuridão do quarto.

Embalada pelo ritmo e as batidas lentas da música do Metallica, comecei a pensar em tudo que acontecera naquele meu primeiro dia de aula.


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Notas finais do capítulo

Hey, moças. Acho que já pedi desculpas o suficiente nas notas iniciais, né? Só quero dizer mais uma coisinha. Pra quem não conhece, Nothing Else Matters é uma música do Metallica, e tem uma letra que me lembra muito a Lizzie.
E... É isso. Bora pro povo que comentou no último cap:
— Alucard Jr. (Seja bem vindo! :D)
— Em
— Vírus (Aaah! Tem um vírus na fic! O.o Ok, piada péssima. Bem vinda, minha linda)
— juliana
— Paçoquinha
— Biscoitinho (cês gostam de um nome de comida no diminutivo hein?)
— Arayan
— Samyni
— Yayo (já comentei que amo teus reviews, moça?)
— Gabs Jenner Somerhalder (mocinha que já tinha favoritado! Valeu por comentar! o/)
— Haay (Baby, Lizzie é m-i-n-h-a. Não adianta!)
— Kroll (outra moça nova nessa fic. Muuito obrigada, baby!)
E a moça que favoritou mas não comentou:
— Kringo
Muuito obrigada, moças. Vocês são demais.
Até mais! o/a