Jude

Nos três dias que antecederam o fim de semana, recebemos mais uma certa quantidade de trabalhos – alguns em grupo, outros individuais – e, por isso, passei a maior parte do tempo livre enfiada na biblioteca ou na mesa de estudos do chalé com Lizzie.

O trabalho de Biologia rendia, porque por mais que Karen fosse a clássica menina rica que sentia-se chocada com a aparência e as origens de Lizzie, ela não deixava isso transparecer, e era aplicada e estudiosa. E como ela eram muitas garotas de St. Leonards, que diante do esmagador trabalho de Física e Matemática, voltaram-se em busca da ajuda da minha colega de quarto, mesmo com o aviso temeroso de muitas outras de que ela poderia atacá-las.

E assim a tensão do final da etapa permeava o colégio, juntamente com os ventos frios que anunciavam o inverno que estava por vir, e eu esquecia toda a estranheza do livro e do sonho com Lizzie, pois graças ao cansaço, não demorávamos tanto a dormir quanto antes, e mal tínhamos tempo para ficarmos juntas.

Quando a sexta-feira chegou, ninguém comemorou muito. Mesmo que não tivesse aula, grande parte da escola ficaria fazendo trabalhos naqueles dois dias livres, que por não serem os primeiros do mês, não nos permitiam deixar o colégio. Para aquele fim de semana, planejávamos finalizar o trabalho de Biologia com Karen para, assim, focarmos nos outros.

– Essa semana de trabalhos conseguiu ser mais pesada que todas as outras de provas. – Lizzie sorriu de lado quando finalmente chegamos ao chalé, ainda de uniforme, mesmo depois do jantar.

– Sim. – Concordei. – A semana final antes dos feriados é sempre a pior. Aqui eles nos avaliam mais pelo sangue, suor, lágrimas e comprometimento do que pela inteligência.

Vi Lizzie voltar a sorrir, flexionando os ombros.

– Acabo de perceber isso. – Respondeu, finalizando a frase com um gemido.

– Está com dor? – Olhei-a, já me aproximando.

Diante de mim, ela sorria de lado, os olhos enigmáticos como sempre.

– Acho que é a falta de exercício. Eu era mais ativa antes de vir para St. Leonards. – Deu de ombros, massageando a curva do pescoço com a mão.

– Eu acho que você está muito tensa, com todos esses trabalhos. – Mordi o lábio, me postando diante dela e erguendo as mãos para tocar-lhe os ombros.

Vi seu sorriso abrir-se um pouco mais enquanto tocava a minha bochecha e o queixo, subindo os dedos pela minha nuca e trazendo-me arrepios leves. Subi a minha mão do seu ombro para a nuca e ergui um pouco o rosto.

– Tenta ficar mais tranquila, Lizzie. Você está indo bem.

Vi-a sorrir novamente, segurando o meu rosto e puxando-me para si.

– Me beija, vai.

Acabei rindo, o rosto próximo do dela a ponto de sentir a sua respiração.

– Tenta relaxar.

Ela riu baixo, tomando meus lábios nos dela ao mesmo tempo em que eu puxava seu corpo para mim. E então, antes que nos separássemos, já sem ar, senti seu corpo se afastar um pouco.

– Eu vou… – Ela sorriu contra os meus lábios, me roubando um selinho enquanto falava. – Tomar… – Completou, me roubando outro selinho e fazendo-me sorrir com aquilo. – Um banho. – Terminou então, puxando-me para si e me beijando com intensidade e rapidez.

– Já volto. – Vi-a sorrir, e apenas quando se afastou eu percebi que estava com a camisa aberta.

Sentindo meu rosto vermelho, ouvi a porta se trancar, compreendendo então que Lizzie havia aberto a camisa enquanto me beijava. E então corei mais ainda ao notar que não era apenas meu rosto que estava quente, e sim o corpo todo, e, na minha mente, eu pensava, sem querer, em como seria terminar de tirar aquela blusa, e ver o que se escondia sob ela. Mordendo com força o lábio, acabei suspirando. Aquelas reações estranhas eram cada vez mais frequentes em mim, assim como a vontade intensa, latente, que eu não conseguia identificar.

– Sua vez. – Senti então mãos na minha cintura e pulei com o susto, dando um sorriso ao ver Lizzie atrás de mim.

– Você foi rápida. – Ri baixo. – Já vou. – Respondi então, me desvencilhando dos braços dela para ir tomar o meu banho.

Lizzie

Eu me orgulhava de respeitar os limites e compreender as inibições de Jude, pois aquilo era parte dela, assim como todo o resto. Entretanto, não eram raras as vezes que ela me provocava sem querer, deixando meu corpo quente e quase desesperado com a vontade. Porém, desde o dia do livro eu havia percebido que aquilo não era unicamente meu. Eu desejava Jude, e ela começava a descobrir seu desejo.

E foi pensando nisso que eu resolvi provocá-la também, como fizera antes de nos beijarmos pela primeira vez. Tentando ser o mais discreta possível, aproveitei o fato de estar com uma camiseta por sob a camisa de uniforme para abrir essa última enquanto beijava Jude. E, mesmo que a minha vontade fosse tirá-la, junto a todas as minhas roupas e as dela, reuni todo o meu autocontrole para rumar para o banho.

Quando finalmente havíamos as duas tomado nossos banhos, dirigi-me quase automaticamente para a mesa de estudos, até ser parada por minha linda colega de quato.

– Hoje não, Lizzie. Nada de estudar.

Acabei rindo, olhando-a incrédula.

– Jude Ward me impedindo de estudar? É o apocalipse.

Ela também riu.

– Ah, Lizzie, estamos estudando a semana toda quase sem parar. Nossos trabalhos já estão adiantados e hoje é sexta-feira. Nem eu aguento estudar tanto. – Sorriu. – Deveríamos descansar hoje.

– Tudo bem. – Sorri de lado. – Você tem razão.

Jude abriu um sorriso largo.

– E o que você quer fazer?

Dei de ombros, sorrindo de lado.

– Nada que seja permitido.

Ela me olhou e tombou a cabeça de lado.

– Como assim?

Acabei sorrindo, sabendo que ela não entenderia a ambiguidade.

– Queria sair. Sei lá, andar lá fora.

– Nesse frio?

Olhei para baixo.

– Frio é legal.

Jude abriu um sorriso, se aproximando mais.

– Você fica tão bonitinha olhando pra baixo, assim.

Acabei rindo baixo, olhando para ela.

– Você me acha bonitinha?

Ela mordeu o lábio, parecendo sem graça, e eu segurei o riso.

– Acho. – Disse então, olhando-me com os olhos meigos.

Não resisti e acabei sorrindo, segurando o seu queixo.

– Eu te acho linda.

Ela deu uma risadinha, e eu vi o seu rosto ficar rosado.

– Eu também te acho linda. Muito.

Ri baixo, balançando a cabeça.

– Não sei como você acha.

Ela deu de ombros.

– Eu acho.

A esse ponto já estávamos em sua cama, ela sentada com as pernas cruzadas e eu meio ajoelhada, a sua frente. Sorri de lado.

– Viu? Linda. Ainda mais com esse sorriso. – Ela inclinou-se, me roubando um selinho e então voltando à posição original.

Ri baixo.

– Volta aqui.

Ela inclinou-se novamente e deu-me mais alguns selinhos, voltando devagar à posição inicial, e fazendo com que eu me inclinasse. Acabei me desequilibrando com a brincadeira, e então estávamos deitadas, Jude sob mim, beijando-me, deslizando os dedos pelo meu cabelo e nuca, deixando-me arrepiada e fazendo se esvair o meu controle. Em vez de parar, respirar e sorrir quando o ar acabou, trocamos mais selinhos para tomar fôlego, e antes que eu pensasse estava novamente a beijando, as mãos em sua cintura, agarrando sua blusa, descendo para o quadril, enquanto sentia as dela nas minhas costas e braços, agarrando, segurando. Desci a mão para a sua coxa, apertando de leve, e ouvi-a ofegar.

E então arfei, me afastando um pouco, mas sem romper completamente o contato. Desviei o olhar para Jude, que mordia o lábio inferior, e senti uma culpa intensa, percebendo que havia quase perdido o controle. Por alguns segundos temi que ela se assustasse, envergonhasse, afastasse. E quase suspirei de alívio quando não o fez. Em vez disso, sorriu e me deu um selinho, antes de levantar-se da cama.

– Ah, eu esqueci! Queria te mostrar uma coisa no livro novo que eu peguei.