Unica Et Opposita escrita por Sali


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeeeey, povo!
Sim, voltei. Rápido bagarai né?
Mas não vão se acostumando não u.u Posso ter escrito muitos caps durante a manutenção, mas isso não significa que eu tenho tempo de entrar no pc pra digitar ou postar eles. Então, ladies and gentlemen, paciência.
Bom, sem mais delongas, um aviso:
Nesse cap, o choro é livre para todos os públicos.
2bj



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Jude

O último sábado do mês surgiu surpreendentemente rápido e, ao acordar, às 7:30 da manhã, um sol convidativo já clareava o nosso chalé.

Não fazia nem cinco minutos que eu me levantara quando ouvi uma leve batida na porta, erguendo as sobrancelhas e olhando para Lizzie. Ela, que mal acabara de acordar, deu de ombros, como quem não faz ideia nem ao menos de que planeta está.

– Abre aí. – Ela disse, enquanto eu já me dirigia para a porta.

– Jude!

Era Kristin.

Mesmo sem olhar para trás, pude quase sentir Lizzie se enrijecendo sentada na cama. E, pelo olhar de Kristin, ela igualmente não parecia amar a minha colega de quarto.

– Hey Kristin. – Sorri, apresentando as duas, que se cumprimentaram com nada além de acenos de cabeça. – Entra.

Ela sorriu.

– Não, Jude. Eu já estou indo para casa. Só passei aqui para te convidar para o jantar que a minha família está organizando hoje a noite, pela nossa volta. Acho que o convite já foi mandado para a sua casa, mas eu quis te avisar pessoalmente.

– Obrigada, Kristin.

Por mais madura que ela fosse, Kristin tinha uma adoração por esse tipo de convenção social de pessoas ricas.

– Você vai, não vai?

– Claro! –Não tenho escolha.

– Então te vejo lá. Até mais, Jude!

– Até, Kristin. Despedi-me, antes de vê-la correr em direção ao hall.

– Por que eu tenho a impressão de que esse “jantar” vai ser tudo, menos pequeno? – Quando fechei a porta, Lizzie estava ao meu lado.

Me assustei, e ri.

– Não, não será.

O sorriso dela era irônico.

– Você deve estar ansiosa.

Voltei a rir.

– Nem em mil anos! Odeio esses jantares. Vestidos caros, sapatos desconfortáveis, regras de etiqueta, um milhão de pratos, taças e talheres…

Lizzie riu.

– Não duvido que você fique linda com vestidos caros e sapatos desconfortáveis.

Senti meu rosto mais vermelho que um tomate, desviando automaticamente o olhar para baixo.

A minha colega de quarto bocejou.

– Acho que vou tomar um banho. Quer ir primeiro?

– Não. À vontade.

Lizzie deu mais um de seus sorrisos tortos e se voltou na direção do banheiro, enquanto meu olhar caía automaticamente para as pernas dela, nuas pelo short curto e justo, suas coxas bem torneadas e também, senti-me enrubescer, um pouco mais em cima, o movimento de seus quadris e do seu caminhar.

Antes que eu percebesse, estava mordendo o lábio com força, ao mesmo tempo em que sentia, no corpo, uma sensação diferente. Algo parecido já me acontecera antes, ao observar Lizzie em alguns momentos. Mas dessa vez era ainda mais intenso, e o calor que me invadia por dentro me deixava enrubescida e até um tanto arrepiada.

De repente, me peguei divagando sobre Lizzie. Ela definitivamente já havia feito sexo com alguém. Mas ela gostava de mulheres. Como… Como era possível? Eu nunca havia pensado nisso antes, mas agora a curiosidade se tornava latente na minha cabeça, e a única coisa que me impedia de encher minha colega de quarto de perguntas era a vergonha extrema que aquilo significava para mim.

– Pronto, Jude. O banheiro está livre. – A voz dela me pegou de surpresa e, quando ergui os olhos, estava tão vermelha quanto se ela me houvesse visto nua. E, um tanto gaguejante, corri para o banheiro em busca de um banho frio.

. . .

No banco traseiro do carro do meu pai, eu divagava; mal havia despedido-me de Lizzie e já sentia um tipo e falta dela, falta de nossas conversas aleatórias. E, junto a essa falta, me vinha no estômago o frio que sempre antecedia a minha volta para casa.

A Mercedes Classe S Coupé de vidros escurecidos e a impassibilidade do motorista só significavam uma coisa para mim: a troca da tranquilidade e da felicidade que eu sentia entre as minhas amigas – e agora Lizzie – pela frieza das pessoas e das paredes do que eu tinha que chamar de casa.

Olhando pela janela do carro, quase senti vontade de chorar, pensando no quão longo e chato seria meu fim de semana sem Lizzie e as minhas amigas.

– Chegamos, senhorita. – O motorista da Família Ward disse, na sua voz grave e fria.

Ergui os olhos, vendo toda a grandeza da Mansão Ward se mostrar do lado de fora do carro.

Ao deixá-lo, ajudada pelo motorista, suspirei. Eu devia sentir algo próximo daquela sensação de volta para casa, mas, graças ao enorme tempo que eu passava em St. Leonards, essa não era exatamente meu sentimento.

– Jude! – Quem abriu a porta, sorrindo largamente ao me ver, foi Mrs. May, a mulher que fora minha babá desde os meus cinco anos de idade.

– Mrs. May! – Refleti seu sorriso, deixando a minha bolsa no chão para abraçá-la.

– Quem está aí? – Perguntei, quando nos afastamos.

Ela pegou a minha bolsa, antes que eu pudesse impedir, e me puxou para dentro de casa.

– Sua mãe está no banho, e James no estúdio. Mr. Ward está no escritório. Vai comer primeiro ou se ajeitar no quarto? Quer ajuda?

– Eu quero companhia, Mrs. May. Está ocupada?

Ela riu.

– Para a minha Jude, nunca. Para o quarto?

Confirmei, e subimos as escadas de mármore claro.

– E as novidades, Jude? – Ao chegarmos ao quarto, Ms. May perguntou, como sempre fazia.

Sorri e comecei a contar os pequenos acontecimentos, nem sempre relevantes, que haviam acontecido em St. Leonards desde o último fim de semana, omitindo, por querer, os últimos dias, com tudo que envolvera Lizzie e a minha conversa com Anne.

No entanto, assim que terminei de falar, Mrs. May me olhava com um sorriso.

– E quando irei conhecer Lizzie?

– Conhecê-la?

A mulher de cabelos claros e quadris largos sorriu outra vez.

– Sim, Jude. Você ainda não me apresentou a garota que conseguiu roubar para ela o seu coração.

Arregalei os olhos, sentindo meu rosto automaticamente vermelho.

– Mas… Eu… – Gaguejei, vendo o rosto bondoso dela se abrir num sorriso complacente.

– Você não disse, Jude, mas seus olhos me contaram. Desde pequena você sempre se fazia entender assim, sem precisar de palavras. Isso ainda não mudou.

Desviei o olhar para baixo, ainda enrubescida.

– Não precisa ficar assim, minha menina. Não é vergonha amar. – Ergui os olhos e vi Mrs. May sorrindo para mim. – Mas me conta, como ela é?

Abri um sorriso largo e nos sentamos na cama, desfazendo e arrumando minha pequena bolsa enquanto eu começava a falar de Lizzie para Mrs. May.

O resto da minha manhã e a minha tarde de sábado passaram surpreendentemente rápido, depois que James deixou o estúdio e sua amada guitarra para dar atenção à irmã e a minha mãe saiu de seu banho de horas, percebendo que eu estava em casa apenas na hora do almoço e detendo-se a um abraço frio e muitos comentários sobre o jantar da família de Kristin.

Quando meu pai chegou, quase às sete horas da noite, recebi um abraço e um “bem vinda de volta” um tanto mais carinhosos que o da minha mãe, mas o carinho de Mr. Ward não passou disso, a partir do momento que sua esposa começou a encher a sua cabeça sobre a demora e o jantar, resultando em uma bela discussão.

Suspirando, pensei em Lizzie, no fato dela não ter pais, e divaguei por alguns segundos sobre como seria a sua vida nesse aspecto.

Quando eram sete e meia, eu já conseguia ouvir o escândalo de minha mãe, em busca de vestidos, maquiagem, empregados e tudo o mais que precisaria para se montar para o jantar.

Sozinha no meu enorme quarto, meus pensamentos voltaram inevitavelmente para Lizzie. Pensei em uma das nossas primeiras conversas, e pensei em como ela ficaria maravilhada com o tamanho que era o meu local de dormir. Pensei, inevitavelmente, na cama enorme, e em Lizzie deitada nela do seu jeito displicente.

Quando meus olhos caíram nas roupas que me haviam sido escolhidas – um vestido rosa salmão de saia rodada, gola fechada, pequenas mangas e detalhes bordados no corpete, uma meia-calça preta rendada e sapatilhas igualmente delicadas –, lembrei-me do que ela dissera. “Não duvido que você fique linda com vestidos caros e sapatos desconfortáveis”. Será que ela ainda me acharia bonita toda montada, feito uma boneca artificial?

Suspirando sem parar, me dirigi ao banheiro, e mesmo durante meu banho minha cabeça não deixou Lizzie. Ao percorrer meu corpo, ensaboando-o, senti-me quase tonta quando minha mente me lançou imagens do corpo dela, das mãos dela, da voz dela. E, ao me secar, me sentia quase febril vendo a toalha macia causar em mim algumas reações novas e quase perturbadoras.

– Lizzie, Lizzie. – Suspirei ao sair do banheiro vestida por nada, esperando que o ar gélido da noite fizesse, de alguma forma, minha cabeça se acalmar.

– Jude? – Ao ouvir leves batidas na porta, quase gritei de susto. – Está pronta? Quer que eu arrume seu cabelo?

Mordi o lábio, procurando pela minha toalha e me enrolando nela levemente trêmula.

– Não, Mrs. May. Ainda não me vesti.

– Quer ajuda?

Mordi o lábio com mais força.

– N-não. Eu já estou indo. Obrigada.

– Tudo bem. – A mulher concordou, do outro lado da porta, e ouvi seus passos quando ela se afastou.

– Okay, Jude. – Eu falei para mim mesma, caminhando até a minha cama. – Se concentre agora. É hora do jantar. Esqueça todas essas bobagens.

Respirando fundo, me forcei a ignorar tudo aquilo e gastei os minutos seguintes me vestindo, antes de chamar novamente Mrs. May para me auxiliar com o fecho do vestido e o cabelo.

Quando me vi no espelho pela última vez, estava com um coque com alguns cachos descendo pelo pescoço nu, uma fina corrente dourada com um solitário pingente da mesma cor que o vestido, uma pequena e delicada bolsa bordada com pedrinhas e tudo, menos um sorriso no rosto.

Se Mrs. May percebeu isso, preferiu não comentar, e logo eu estava ao lado de minha mãe e seu perfume sufocante na Mercedes que nos levaria à Mansão Jones.

Depois de todas as entediantes cortesias que eram obrigatoriedade naquele tipo de jantar, Mr. e Mrs. Ward sentaram-se à antesala com os demais convidados e Kristin – que se destacava com um vestido esmeralda tomara que caia e os cabelos soltos ornamentados por uma peça do mesmo tom – me convidou para um passeio rápido pelos jardins.

– Você está incrivelmente bonita, Jude! – Ela começou, enquanto caminhávamos pelo caminho iluminado por pontos de luz clara em meio ás folhas. – E, antes que venha discordar, eu falo que não é exagero. Da última vez que eu te vi você estava bonita, sim, mas agora, uau!

Sorri de lado. Talvez aqueles elogios soassem reais na voz de Lizzie, que sempre os fazia para mim em momentos aleatórios e de uma forma comum, como se falasse do tempo. No entanto, com Kristin, pareciam exagerados.

Na verdade, tudo em Kristin não parecia muito certo. Ela estava diferente de quando éramos colegas de quarto, ou pelo menos era o que parecia.

– Eu não acho que tenha mudado, Kristin. Mas se você diz, obrigada.

Ela sorriu e se virou de frente para mim.

– Eu digo porque é verdade. Você mudou, Jude. – De repente, Kristin estava perto. Perto demais. Tão perto que chegava a ser desconfortável.

Dei um passo para trás, e senti algo rígido nas minhas costas; uma das estátuas do jardim. À cabeça, me veio a lembrança do beijo forçado de Noah, que acontecera quase da mesma forma. A diferença é que não havia sido tão encurralante, e na ocasião eu não sentira como tão errado.

Porém, meu sentimento não era devido a Kristin ser uma mulher, ou por estarmos nos jardins de sua casa, com nossos pais a poucos metros. Eu sentia tudo tão errado porque, na minha cabeça, só conseguia ver a mandíbula de Lizzie trincada quando eu contei sobre Noah, pensar em como ela se afastara no refeitório quando eu começara a conversar com Kristin, lembrar da minha conversa com Anne…

E enquanto isso, Kristin falava.

Eu via sua boca mexer, ouvia sua voz, mas as palavras não me eram compreensíveis. Bonita… Saudades… Quanto tempo… Linda…

Quando sua mão me tocou a bochecha, me senti congelar no lugar, e a minha visão tornou-se um tipo de câmera lenta quando seu rosto se aproximou do meu.

E então, por um reflexo, minhas mãos estavam nos ombros de Kristin. Empurrei-a para longe com toda a força que eu tinha, correndo, sem olhar para trás, em direção à casa, com o coração disparado e as mãos trêmulas.


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Notas finais do capítulo

Siiiiiiim, o choro é livre. Chorem, mas chorem mesmo, porque eu sou má e amo isso u.u
Maaas enfim, né?
Não tenho mais o que dizer, eu acho.
Vamos a quem comentou o último cap, e até mais!
— ArayaN
— AnaCarolina
— A F Wonder
— Samyni
— Beatriz Victoria
— Ms Lee
— Uma quase bruxa
— Leah Shintekyo
— Baunilha
— Nathália
— TConty
E... é isso.
Até mais ver! o/