Pegando Fogo. escrita por hollandttinson


Capítulo 4
Memorável.


Notas iniciais do capítulo

Cheguei. Consegui um computador pra poder digitar esse capitulo. Espero que vocês curtam!
~Capitulo Presente~



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POV: PEETA.

Então nós tínhamos mais dias ao lado daqueles... Doentes. Estavam todos absolutamente doentes. E loucos! Loucos de raiva. Mas raiva de quem? Eu tenho certeza que aqueles Carreiristas não sentiam raiva da Capital, afinal, eram os mais "patrocinados" por ela. E eram treinados! E nenhum deles foi escolhido, se voluntariaram, e não foi como a Katniss, não foi por sentimento(e eu duvido que eles tenham algum), foi só porque eles queriam trazer "orgulho" ao seu Distrito. 

Mas agora, enquanto eu vejo eles rirem de mim e Katniss por não conseguirmos acender uma simples fogueira ou subir alto em arvores e essas coisas, eu consigo ver todas as suas habilidades. Sei exatamente do que devo ter medo, do que devo fugir... Só existe um pequeno problema: Eles não tem fraquezas. Sim, talvez eles tenham, mas qual? Um ponto no corpo? Não pode ser, seus corpos devem ser um tipo de mutação da Capital, porque são incrivelmente fortes e quase impenetráveis. Uma habilidade que eles não possuem? Eles sabem fazer tudo! Desde armas de fogo á armas brancas e corrida e escalada. E isso me dá medo.

Prometi que protegeria a Katniss, e é isso que eu vou fazer! Eu vou lutar até quando não poder mais, pra manter Katniss viva. Mas e quando eu morresse? Porque eu sei que não durarei muito tempo lá... E quando eu morrer? Sei que Katniss é forte, corre bem e escala, e ainda tem sua habilidade com as flechas! Mas não se comparava á brutalidade daquelas pessoas! Ela não escalava tão bem quanto Rue, a garotinha de 12 anos do Distrito 11, que me lembra a Prim e de primeira, pensei que fosse frágil, mas aqui, eu vejo como é sorrateira. Se aproxima tão silenciosamente e isso pode ser mortal. Além de sua escalada... Katniss não era como Cato e Clove, Carreiristas do Distrito 4, os que mais me assustavam e que usam uma faca e uma espada com uma maestria bruta, mortal e doentia... Nem Foxface(é como a Katniss gosta de chamá-la, ninguém sabe, ao certo o seu nome por aqui), a garota do Distrito 5, que é rápida e tem um raciocínio muito... Complexo. Ninguém é mais inteligente que ela aqui. E tem Thresh, o garoto grandalhão do Distrito 11, que dá medo só de olhar para ele e seus olhos rudes... Haymitch disse que a força pode ser de grande ajuda na Arena? Bem, com certeza não seria de grande ajuda pra quem lutaria com Thresh... Diante á essas pessoas, Katniss morreria miseravelmente.

Balancei a cabeça e comecei á andar em direção á sessão que eu mais gostava aqui. Camuflagem. Ela estava normalmente vazia e as pessoas nunca vinham me perturbar aqui... Não trato isso como uma habilidade, então eu acho que posso fazer isso. É uma coisa que eu sei fazer....

Enquanto enchia o meu corpo com aquela mistura pensava no quanto eu sentia falta da padaria, da minha casa, do meu distrito... Confeitar os bolos da padaria sempre foi muito legal, eu sempre gostei... Usar isso agora, aqui, parece até errado. Quero dizer, é como se eu estivesse tirando a dignidade do açúcar que cobre os bolos que minha familia dá duro pra deixar apresentáveis diante ás dificuldades. Pode parecer idiota, eu sei...

Esse lugar também me faz ter vontade de agradecer á mamãe por ter pegado tanto no meu pé para que eu aprendesse e fosse bom na padaria. Se mamãe nunca tivesse feito isso, eu não seria forte e também não saberia tanto de camuflagens. Mamãe... Me lembrava do ultimo momento em que a vi. Ela me disse que acreditava que Katniss poderia ganhar... "Talvez tenhamos, finalmente, um vencedor em nosso Distrito. Essa garota, eu não gosto dela, mas é realmente uma sobrevivente, aquilo tudo não vai ser páreo para sua força e habilidades. Sim, com certeza devemos ter esperança." Foi o que ela disse. Acho que foi a primeira vez, desde que nasci, que mamãe conseguiu me fazer ficar feliz com algo que ela disse.

- Olá.- Levantei o rosto do balcão de misturas para ver Katniss sorrir para mim e se aproximar, sentando no balcão.- Aqui de novo?

- Eu me sinto bem aqui. Quase dá pra esquecer que vou morrer em menos de uma semana.- Eu disse. Ela fez uma careta. Eu sei que ela odeia quando eu falo assim... Não gosta de lembrar que temos tão pouco tempo juntos.  

- Você sabe que pode ganhar essa coisa toda, Peeta.- Ela disse, com os olhos azuis penetrantes.Balancei a cabeça. Ela não entende.

- Olha para eles.- Inclinei minha cabeça para as pessoas que corriam, lutavam, brigavam e gritavam lá fora.- Eu não tenho a menor chance.

- Você não está nem tentando ser otimista, não é?- Perguntou. Eu vi a tristeza em sua voz. Estava fazendo de tudo pra fazer com que a Katniss fosse otimista porque eu sabia que ela podia ganhar. É outra coisa comigo.

- Me perdoe.- Eu disse, abaixando a cabeça. Ela suspirou.

- Sinto falta de casa.- Ela disse, me trazendo a antiga dor. Papai, Ethan, Gabreel, Delly...- Até das chatices da sua mãe comigo eu sinto falta.

- Até da sopa de Greasy Sae eu sinto falta.- Eu disse, fazendo ela rir.

- Da implicância de Darius quanto á caça.- Ela disse, depois suspiramos juntos. Não existe coisa mais perturbadora do que saber que vai morrer e não pode fazer nada para mudar isso.

- Nós não devíamos ficar próximos aqui. Devíamos estar interagindo com os outros.- Eu disse. Ela fez uma careta depois abaixou a cabeça. Katniss nunca abaixava a cabeça.

- O que vai ser, depois? Como vamos lidar com isso tudo na Arena, Peeta?- Perguntou, erguendo os olhos. Eu suspirei. Vou morrer pra manter você viva, vai voltar para casa e mostrar o quanto foi forte e vai viver com sua irmãzinha. Eu pensei.

- Eu não sei, vamos deixar que Haymitch cuide disso. É a obrigação dele, não é?- Perguntei. Ela revirou os olhos. Katniss e Haymitch não se davam muito bem.

- Espero que ele esteja sóbrio nesse momento.- Disse ela, depois pulou do balcão e olhou para o meu braço.- Delly ficaria orgulhosa.

- Eu sei.- Eu disse, sorrindo para o meu braço. Delly... O que Delly pensaria quando soubesse que eu morri por Katniss? Ela ficaria orgulhosa de mim, aposto... Tenho certeza que ela soube desde o primeiro momento que eu morreria. Quando veio me ver, no dia da colheita, ela me disse "Eu confio em você." E saiu. Sem abraços, sem beijos, sem despedidas. Ela confiava em mim e é isso o que importava, eu sei disso.

- Agora eu estou indo.- Ela disse, saindo e acenando. 

Este era o ultimo dia aqui. Amanhã iremos nos apresentar aos Patrocinadores, mostrar nossas habilidades, o que só me faz sentir mais medo. 

(...)

- Então, escute. Você vai lá e vai jogar alguns pesos para cima, ok? Não vão prestar atenção em você porque será um dos ultimos á aparecer ali. Estarão cansados demais pra prestar atenção.- Disse Haymitch. Ele não estava sóbrio como Katniss esperava, mas pelo menos estava tentando nos ajudar, no minimo.

- Cansados com o quê?- Eu disse, balançando a cabeça. Haymitch sorriu e deu de ombros.

- Não se preocupe tanto assim. Patrocinadores são fáceis de ganhar com uma boa conversa.- Disse Portia, sorrindo para mim enquanto colocava sua mão em minhas costas. Ela não estava me acalmando.

- Isso ajudaria se o Haymitch não estivesse eternamente bêbado.- Eu disse. Ele ergueu uma sobrancelha.

- Temos um acordo. Eu vou cuidar do que você pediu e você se mantem forte.- Ele disse. Eu suspirei. Ele tinha razão. Portia fez cara feia para ele.

- Seja memorável, Peeta. É só isso que pode te ajudar, entendeu? Fazer as pessoas lembrarem de você.- Ela disse. Eu sorri. Era a unica coisa que ela e Cinna sempre diziam á mim e Katniss. Para sermos memoráveis. Ninguém esperava que nós fizéssemos isso...

- Eles darão notas á vocês, e elas não são, realmente importantes. Só se lembre que: O show não é para eles.- Disse Haymitch. Eu me sentia um palhaço num circo.

- Memorável.- Eu disse, olhando para Portia, que sorriu.

- Effie vai levar você e Katniss até lá.- Disse Haymitch, se sentando em uma poltrona e apontando para a porta.- Agora vá.- Eu o obedeci, mas a Portia veio comigo. 

- Ah, finalmente! Vamos nos atrasar!- Disse Effie, se aproximando de mim e passando a mão nos meus cabelos, arrumando, acredito. Olhei para Katniss e ela tinha uma expressão nervosa. Olhei para Portia.

- Boa sorte, e lembre-se...

- Ser memorável. Já entendi.- Eu disse, sorrindo. Ela abriu seu melhor sorriso e me deu um beijo de leve na bochecha, indo para o lugar onde Haymitch estava. Eu respirei fundo. Tá, mas como eu faço pra ser memorável usando só alguns pesos?

Andamos lado a lado até o elevador com uma Effie tagarela. Olhei para Katniss e sorri de leve, ela retribuiu e encostou sua mão na minha, eu a apertei. Ficamos de mãos dadas até o elevador dar um solavanco e nós termos que sair.

Estavam todos lá, mas não estavamos atrasados, como Effie esperava. Ela se foi quando nos sentamos em nossas respectivas cadeiras. Seríamos os últimos á sermos chamados para entrar e mostrar as habilidades. Pouco á pouco os outros tributos iam entrando na sala e deixando a sala de espera mais vazia.

Eu ganharia uma nota baixa, com certeza. Eles ririam de mim e eu ia fingir que não me importo, quando na verdade eu estou morrendo por saber que sou tão inútil á ponto de não conseguir proteger a mulher que eu amo.

Mas que bosta de vida é essa? Demoro anos para conseguir declarar o meu amor e quando eu consigo, quando tudo parece ir bem, ela vai ser tirada de mim de uma forma tão doentia e brutal! Eu não mereço tanto sofrimento, um sofrimento á mais. Já não era o bastante a ameaça de fome mortal no nosso distrito? O que será que eu e Katniss fizemos para merecer isso? Porque não podíamos ser apenas 2 adolescente normais? Que podiam viver sua vida normal, ter filhos, um emprego, uma familia? Não, não podia.

Delly sempre diz que quando algo de muito ruim acontece é porque algo de muito bom vai vir, que é um ciclo vicioso, a gente só precisa perceber as coisas e não lamentar por elas. Mas o que diabos vai vir de bom depois disso? Eu vou ver pessoas morrerem, vou ter de matá-las para depois morrer dolorosamente, deixando a Katniss sem o cara que ela ama. Eu estou sendo tão egoísta! Quero dizer, eu estava fazendo tudo isso porque ela tem alguém a esperando lá fora... Mas eu não penso na dor que eu a causarei se não voltar? Se ela me vir morrer? Ela já seu pai, porque eu iria fazer com que ela me visse morrer de novo? Porque eu não podia simplesmente deixar as coisas rolarem? Porque eu sou egoísta.

- Peeta Mellark.- Estava tão preocupado com meus desvaneios que não percebi a sala praticamente vazia, exceto por mim e Katniss. Olhei para a porta e depois a Katniss que estava com a boca aberta como se fosse dizer algo, mas nada saia. Eu abracei-a forte.

- Quando entrar lá, acerte bem o alvo.- Eu disse, pegando na sua trança. Ela sorriu um pouco.

- Jogue aqueles pesos e não se faça parecer um idiota fazendo isso.- Ela disse. Eu sorri.

- Eu vou tentar.- Sabia da impossibilidade disso, mas não me importei. Me levantei e fui até a porta que se abriu quando me aproximei.

Lá dentro tinha todo o tipo de armas, facas, espadas... Mas me foquei principalmente nas flechas. Sorri. Katniss poderia usá-las e mostrar que tem talento. Olhei para os patrocinadores e senti uma raiva sem tamanho. Eles não olhavam para mim. Em momento algum viraram seus rostos para me olhar. Estavam muito focados em rir e falar do quanto a comida estava boa. Seneca Crane até se virou quando eu me anunciei, cutucou um homem ao seu lado e então todos se viraram. Mas eu não sabia o que fazer, e tremia ao lembrar de que estava sendo avaliado á olho nu. Respirei fundo e me aproximei dos pesos. Eu vi algumas pessoas prenderem a respiração. Os pesos pareciam intocados. Dei de ombros. Eu não ia conseguir fazer nada de bom, mesmo. Tinha uma distancia excedida para jogar os pesos. Peguei um dos e girei meu braço para jogá-lo e então fiquei de boa aberta para a decepção e frustração. Ignorei as gargalhadas dos idiotas lá em cima e fiquei olhando o peso que não foi á mais de 2 metros de distancia. Eu bufei e olhei para os patrocinadores. Mas outra coisa me chamou a atenção.

Aqueles imbecis estavam em cima de um tipo de palanque sustentado por pilastras e metal. Sorri. Seja memorável, Peeta. Foi o que Portia disse. Nunca faça nada que vá se arrepender. Dizia Delly. Então... Eu me arrependeria disso, com certeza, depois que ouvisse os gritos de terror de Effie e toda a loucura e principalmente, as minhas notas. Delly que me perdoe, mas eu quero ser memorável. Eu quero que eles lembrem de mim como Peeta Mellark, o tributo do Distrito 12 que fez seu chão tremer. 

Me aproximei novamente dos pesos e peguei um dos pesos mais pesados numa mão e o  outro na outra. Eu pendia para o lado e parecia que os meus joelhos não iam suportar, mas suportaram. Girei todo o meu corpo com o pouco de força que eu consegui, aquilo ficaria doendo depois, mas nada que um pouco de gelo não possa resolver. Então, eu os soltei.

Vi o palanque tremer e eles me olharem como se eu fosse um maluco. Seneca Crane se segurou nas paredes de metal com os olhos arregalados. Vi alguns dos Patrocinadores sorrirem para mim e um deles acenou, outro fez uma reverência igual fazem nos exércitos, na marinha por aí. Sorri para ele e retribui o aceno e a reverência. E então saí, com os braços doloridos e os cochichos dos babacas. Quando passei pela porta automática, Effie estava ali. Sorriu aliviada para mim.

- E então, como você foi?

- Fui memorável.

(...)


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Notas finais do capítulo

Curtiram? Mais de 2.000 palavras! Acho que foi o maior capitulo dessa fic que eu escrevi. Espero que vocês curtam.
*Sem previsão de nova atualização.