POV: KATNISS.

A ideia de Peeta caiu como uma luva sobre a Rebelião, nosso vídeo foi assistido por todos os Distritos de Panem, inclusive a Capital, as pessoas estavam satisfeitas. Finnick disse que se nós quiséssemos, ele podia fazer um vídeo também, para contribuir. Sabíamos que ele era o queridinho da Capital e que ouviriam ele. Mas nós nunca imaginamos o que Finnick tinha passado em todos esse anos sendo tão "querido", o preço de continuar sendo querido da Capital, tudo isso. Finnick é um vitorioso. Não um vitorioso dos Jogos Vorazes, porque vendo o que passamos eu, Peeta, Haymitch, Johanna, Finnick e Annie, quando saímos dos Jogos Vorazes, vejo que é fácil ganhar aquilo ali, difícil é ficar aqui fora. Difícil é superar.

– Os Jogos Vorazes nunca acabaram para mim. Eu estou sempre enfrentando batalhas, a diferença é que aqui fora eles usam nossos sentimentos contra nós, as pessoas que amamos como suas armas mais poderosas nas mãos de pessoas fúteis que só se preocupam com seus luxos e próprios prazeres.- Finnick disse em seu vídeo. Finnick sempre foram popular na Capital, com seus belos olhos verdes do mar. Ele teria as mulheres mais desejadas da Capital, até mesmo as casadas e com seus filhos. Isso pode parecer magnífico para qualquer um que olhe de fora, mas na realidade, Finnick foi obrigado pelo Presidente Snow á se prostituir, usando, como Finnick mesmo dissera, a vida de Annie Cresta, sua amada, como garantia.- Eu tenho meus próprios motivos para entrar nessa rebelião, para ficar ao lado de Katniss e Peeta, não por vingança, nada vai fazer com que a minha vida volte ao normal, eu tenho certeza disso. Mas pelas pessoas que vem ganhando os Jogos Vorazes á cada ano e têm a sua vida corrompida no momento em que seu nome é chamado. Talvez as pessoas não precisem vender seu corpo, mas talvez seus sentimentos possam ser "doados" em troca de ficar em paz, Johanna?- Finnick olhou para Johanna que tinha, como sempre, sua expressão impassível. Ela apenas ergueu o queixo.- Ou quem sabe, ter sua mentalidade, sua habilidade de pensar, jogada no lixo, como minha amada Annie. Sua vida social, sua habilidade de ser sóbrio e feliz, de encontrar felicidade em alguma coisa, ou em alguém, como Haymitch?- Haymitch ergueu uma sobrancelha, mas Finnick continuou.- Talvez algumas pessoas possam olhar o meu depoimento e pensar que estou apenas querendo o bem daqueles que foram vitoriosos nos Jogos, mas vocês se esquecem que, caso a Rebelião não tenha sucesso, os Jogos continuarão, e talvez amanhã seja você quem estará vendendo a sua vida á Capital. Só talvez. Obrigado.

– Finnick, seu vagabundo, como você pôde me colocar nessa porcaria de vídeo?- Perguntou Johanna, se aproximando irritada quando as câmeras pararam de gravar. Finnick deu um sorrisinho para ela depois deu de ombros.

– Ora, Johanna, você não viria falar nada se eu não o tivesse feito, as pessoas precisam saber que até a fria, sarcástica, dura e irritante Johanna Mason está ao lado da Rebelião.- Disse Finnick.

– Você não está vendo, você não está enxergando, Finnick? Você deu um discurso hipócrita sobre como a Capital usa os Vitoriosos dos Jogos, mas não percebeu que a nossa querida Coin, está usando á nós todos nessa Rebelião, e quer saber? Eu não sei se a causa é tão justa como parece.- Disse Johanna, empurrando o ombro de Finnick e entrando no subterrâneo do Distrito 13. Todos nós nos olhamos chocados com a certeza de que Johanna tinha razão.

(...)

– Apesar de parecer uma maluca que só se preocupa com si, e não tem sentimentos nenhum, acho que Johanna pode ser uma pessoa maravilhosa.- Disse Peeta numa noite quando tivemos um pesadelo e não mais conseguimos dormir. Eu concordei com a cabeça.

– Ela gosta do Finnick. Acho que quando o Finnick disse que os sentimentos de Johanna foram doados em troca de paz, ele quis dizer que se ela não sentisse nada por ninguém, a Capital não teria como fazê-la sofrer, ela teria mesmo paz, eles não poderiam "tocar" nela. Mas á troco do quê? Pouquíssimas pessoas se sentem confortáveis ao lado de Johanna, ela já se habituou á ser quem é. Pouquíssimas pessoas amariam Johanna do jeito que é.

– Finnick parece amar.

– Finnick ama á todos.- Eu disse, dando de ombros. Peeta negou com a cabeça.

– Finnick se sente mais seguro amando as pessoas, mas sóbrio. Acho que é a forma de ele dizer que a Capital pode levar seu corpo, se ele ainda tiver a sua alma e a sua capacidade de se sensibilizar e relacionar, ele continuará sendo o mesmo Finnick Odair de sempre.

– É um jeito bonito de ver as coisas.- Finnick abriu a porta do nosso quarto, com um sorriso. Estava escuro mas o os dentes de Finnick são tão claros que... Mentira, ele trouxe uma lanterna.- Desculpa atrapalhar vocês, é que a Annie teve um acesso e está no hospital, não me deixam ficar com ela, eu ouvi ruídos daqui então...

– Você ouviu a parte da Johanna também?- Perguntei, me sentando na cama e sorrindo para Finnick. Era totalmente compreensível vindo dele. Ele concordou com a cabeça.

– Acho que vocês dois estão totalmente certos sobre mim e Johanna. Eu nunca imaginei que vocês tivessem tanto tempo para observar pessoas e seus sentimentos, mas é fácil pensar esse tipo de coisa do Peeta, está sempre tão preocupado com as pessoas, mas você, Katniss?- Finnick sorriu e ergueu uma sobrancelha pra mim. Eu dei de ombros.

– Conviver com pessoas como Peeta faz a gente ver arco-íris em tudo, ver beleza, bondade em todas as pessoas.- Eu disse, depois suspirei. Deve ser difícil ser assim, olhando dessa forma para o Peeta, as decepções... Peeta deve sofrer muito em seu interior. Olhei para o rosto de Peeta. Ele estava sempre sorrindo ou preocupado comigo, mas ele nunca falava de seus pesadelos, ele nunca reclamava de dores ou de carência ou de tristeza. Era como se Peeta fosse completo com tudo, como se ele conseguisse se contentar com a vida que leva, não devia ser assim.

– Que sorte você tem, então.- Finnick disse. Peeta sorriu abertamente.

– Você estão me deixando com vergonha, parem com isso.- Ele disse, tapando o rosto com a mão e nos fazendo gargalhar.

– Finnick, o que você acha que vai acontecer agora? Quero dizer, Coin está tão destemida em invadir o Distrito 2, e em seguida a Capital, você...

– Eu acho que ela tem de parar de ser destemida, não está nos levando á lugar algum. Invadir o Distrito 2 só vai fazer com que eles tenham mais ódio da Rebelião.- Disse Finnick, respondendo á minha pergunta. Peeta concordou com a cabeça.

– Ela não nos escuta, de que adianta? Não dá pra chegar nela e dizer "então, Coin, pode ir porque eu e Katniss vamos ficar aqui". Ela irá de todo jeito.- Disse Peeta. Eu e Finnick concordamos com a cabeça.

– O que mais me entristece é saber que depois que Katniss matar o Snow, será ela a Presidente.- Disse Finnick, suspirando. Ele se levantou.- Vou ver se Annie já pode voltar, tenham um bom resto de madrugada.- Ele saiu do quarto.

– Talvez não.

– O quê?- Peeta perguntou enquanto deitava.

– Talvez nós não precisemos ter Coin como presidente.- Eu disse, me deitando ao seu lado e fechando os olhos.

(...)

O vídeo de Finnick tinha chocado todos os Distritos, e principalmente, a Capital. As pessoas estavam chocadas por ele ter dito á todos e todo mundo se perguntava quem tinha ido para a cama com Finnick, quantas pessoas? Ver dessa forma me faz pensar que quase toda a Capital tinha ido para a cama com Finnick, pela agonia de todo mundo, devia ter sido mais ou menos isso. Annie já estava bem quando chegamos para o almoço, apesar de estar um pouco distante, ela estava perfeitamente bem. Johanna estava irritada, como sempre, mas dessa vez parecia mais... Aliviada. Era como se o fato de Finnick ter explicado o porquê de ela ser assim tê-la feito mais leve, como se Johanna estivesse pronta para ter sentimentos de novo, e estivesse louca para isso. Peeta pareceu confuso o dia todo, e qualquer um que perguntasse, ele dizia que estava apenas cansado.

– Boa tarde.- Disse Delly se sentando ao meu lado. Ela estava sozinha.

– Onde está o Gale?- Perguntei. Delly suspirou.

– Coin o chamou, ela quer conversar com ele sobre um ideia que ele teve.- Delly pareceu irritada com o fato da ideia.

– Você não está de acordo com a ideia dele?- Perguntei. Ela concordou com a cabeça, depois suspirou.

– Não é como se eu não estivesse concordando com a ideia, só acho que é demais para a situação. Gale e Beetee fizeram uma espécie de bomba nova, eles pretendem jogá-la sobre a Capital antes de invadirem lá. Ele disse que vai ficar mais fácil de passar se todo mundo estiver com medo de ser bombardeado e ficar trancado em casa, vendo da janela, sua cidade em ruínas.- Delly tremeu, depois balançou a cabeça, comendo.

– Isso é tão... Hipócrita.- Nós olhamos para Peeta, que tinha uma expressão... Irritada?

– Como assim?- Delly perguntou, confusa.

– Gale acha que é justo que todas aquelas pessoas da Capital passem por aquilo, mas ficou louco por terem bombardeado o Distrito 12.- Disse Peeta.

– É claro, era o nosso lar.- Eu disse, cruzando os braços para Peeta que balançou a cabeça.

– É o lar daquelas pessoas também. Vamos destruir a Capital á troco do quê? Mais sangue derramado? Gale é egoísta demais para se colocar no lugar daquelas pessoas? Eu sei que eles tiveram luxos, que riram das mortes de nossa família todos os anos, mas ainda são humanos como todos nós, é crueldade de Gale, alguém devia dizer isso á ele.- Disse Peeta, comendo.

– Pensei que você tivesse superado a sua rixa com o Gale, só pensei.- Eu disse. Peeta deu um sorrisinho para mim, engoliu a comida e voltou á falar.

– Não é questão de rixa, eu não tenho nenhum motivo para nutrir uma rixa com ele, além disso, só estou contrariando a decisão dele, dando a minha opinião. Gale abre a boca para falar de Coin e Snow, mas não percebe que está se tornando tão parecido, se não igual, á eles. Gale está agindo como se fosse um dos idealizadores dos Jogos Vorazes, mas nós não estamos aqui para matar ninguém, nós não estamos nos Jogos Vorazes.- Disse Peeta.

– Peeta...- Annie disse. Todos nós olhamos chocados para a garota que olhava Peeta com um foco quase inabalável, Annie não piscava.- Os Jogos Vorazes não acabam quando você sai da Arena.- Annie piscou e olhou para o seu prato, voltando a comer.

(...)