Pegando Fogo. escrita por hollandttinson


Capítulo 21
Quente e vermelho.


Notas iniciais do capítulo

Cheguei.



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POV: KATNISS.

Eu tremia enquanto olhava aquelas pessoas eufóricas. Eu não tremia de medo, tremia de espanto, eu estava chocada! Aquilo tudo tinha ido muito além do que qualquer coisa que eu já imaginei, Cinna e Portia tinham se separado. Eu via meu vestido, agora negro, e pensava: Meu Deus, não tem mais como escapar, eu serei pra sempre o Tordo dessas pessoas. E eu estava com medo agora. Olhei para Peeta e o percebi dando um sorrisinho, mas seus olhos também estavam chocados, assustados, desesperados. Eu nunca pedi para ser o símbolo de nada, para que alguém me visse como me vêem, e agora não tem mais volta. Quando vi a câmera na minha frente e Cressida sorrindo para mim eu tive certeza que nunca mais, nada voltaria á ser como antes. Vi Gale balançar a cabeça sorrindo e Delly aplaudir e gritar junto com as outras pessoas de nosso Distrito. Eu suspirei e segurei a mão de Haymitch que veio ajudar á mim e Peeta á sairmos do palco. Não precisávamos falar mais nada, nossa performance tinha dito tudo. O que mais uma vez nos leva ao caso de que não é justo. Eu e Peeta estamos levando crédito do trabalho das outras pessoas, Cinna e Portia tinham feito tudo, a gente só usou. Mas então me lembro de que é isso mesmo, nós estamos aqui para isso... Ninguém iria achar que as roupas eram incríveis se não estivesse vestindo-as. Eu devia estar agradecida por tudo isso, por toda essa oportunidade, mas eu não estou.

– Você foi demais, docinho.- Haymitch elogiou. Peeta abraçou a minha cintura enquanto todas as nossas pessoas se aproximavam. O que é estranho porque, "nossas pessoas" agora são pessoas da Capital como Effie, Cinna e Portia.

– Não, Cinna e Portia foram demais. Eu nunca esperava algo desse tipo. Foi um truque de mestre.- Eu disse, sorrindo para meu estilista que apenas balançou as mãos, deixando toda a carga do mérito para mim. Mas que droga, Cinna.

– Não adiantaria de nada se você e Peeta não fossem tão deslumbrantes lá em cima. Estavam perfeitos e você sabe que não costumo exagerar.- Disse Cinna, colocando a mão no meu ombro com um sorriso. Eu dei de ombros. Coin estava se aproximando e me viu revirar os olhos.

– Estavam magníficos.- Ela disse. Foi a vez de Peeta dar de ombros.

– Não é isso que você queria? Pelo que você deixou bem claro: temos que fazer tudo o que você quiser para demonstrar gratidão por tudo o que está fazendo, como por exemplo: abrigar nossas famílias, nos abrigar e ajudar na rebelião. Não é você quem tem que elogiar aqui, certo? Eu quem devo elogiá-la por tanta dedicação.- Disse Peeta. Eu não podia olhar seu rosto mas tive certeza que estava com raiva, seu sarcasmo era evidente na voz. Coin crispou os lábios.

– É uma pena que pense esse tipo de coisa de mim, você sempre foi meu preferido, Peeta, pensei que soubesse disso.- Ela disse.

– Não pense que fico feliz com esses sentimentos ruins que aprendi á nutrir por você, querida. Vem, Katniss, vamos curtir a festa. Com licença.- Peeta me puxou para o meio da galera que dançava e cantava e mostravam seus tordos por todo o lado.

– Você sabia que era o favorito dela?- Perguntei. Peeta estava me levando á padaria.

A padaria que eu pensei que nunca mais veria, tantas coisas mudaram, mas ela continua aqui. A padaria não mudou, no entanto, a padaria mudou. Me levou até o beco e nos sentamos num monte de latas velhas de tinta. O nosso beco. O nosso pequeno refúgio do mundo. Onde eu e Peeta costumávamos vir antes, onde nós podíamos ficar sem medo. Tantas coisas mudaram, mas ele continua aqui. O beco não mudou, no entanto, o beco mudou.

– Não, eu não sou o favorito dela. Eu sei o que Coin quer e eu sei o que não darei á Coin.- Ela disse, sorrindo para mim e segurando a minha mão enquanto falava.

Estávamos num lugar com pouca luminosidade, mas eu não me importava, conseguia ver os olhos azuis e belos de Peeta onde estava e isso já era o suficiente para mim. Como se os olhos de Peeta iluminassem tudo, e iluminam, pelo menos quando lembro que meu tudo é ele.

– E o que a Coin quer de você?

– Eu ouvi uma conversa dela uma vez. Parece que ela acredita que eu poderia representar mais a rebelião, porque eu sou melhor com as palavras do que você, ela realmente acredita que as palavras são mais fortes que "a porcaria de um arco".- Ele fez aspas no ar enquanto falava.

– Eu também acho, aliás.- Eu concordei com Coin e era uma sensação terrível. Peeta deu de ombros.

– Eu não. Você poderia representar qualquer um, não precisa de palavras para isso, precisa ter determinação e isso você tem de sobra.

– Se você não estivesse ao meu lado falando todas as coisas que você diz, eu não seria nada.- Eu disse, e não estava triste por admitir isso, eu já sei disso desde sempre. Peeta deu um sorrisinho.

– Pode ser.

– Mas porque anda tratando Coin tão mal? Quero dizer, eu estou feliz por isso, não gosto dela. Mas ela nunca pareceu te irritar até então...

– Eu decidi que se ela acha que as palavras são mais fortes, ela vai descobrir que podem ser, que podem ser terríveis se eu quiser. Está entendendo? As palavras podem começar uma guerra e eu estou aqui para mostrar pra ela que uma guerra não é a melhor coisa do mundo.

– Guerra?- Eu perguntei. Peeta deu de ombros e olhou para mim.

– Me prometa que não vai contar a ninguém que eu te disse o que vou dizer agora.- Ele pediu, apertando a minha mão um pouco. Concordei com a cabeça e esperei que ele começasse á falar.- Ouvi uma conversa de Coin com Plutarco, o cara que está ajudando a gente lá da Capital. Eles não sabem que eu ouvi, então... Enfim. Coin dizia que quer que invadamos a Capital. Ela quer que ele dê as comandas para que eu e você entremos lá, mas antes vai nos mandar para o 2. As pessoas no 2 nos odeiam mais do que tudo, principalmente á mim: você sabe, eu traí uns integrantes de lá...

– Mas você fez isso por amor á mim. Eu pensei que todo mundo já tivesse entendido isso.- Eu disse, desesperada com a visão de Peeta machucado nas mãos do povo do 2, lá, no Distrito deles.

– Eles não estão muito contentes com isso, Katniss. Nenhum Distrito carreirista está. Você não entende? Se a Capital cair, eles vão ser iguais á nós e á todo mundo. Eles não querem isso.

– E querem fazer uma guerra contra nós?- Perguntei. Peeta deu um sorriso triste.

– Katniss, eles já estão guerreando.

(...)

Acordei com o grito de Prim nos meus ouvidos e os miados de Buttercup. Tinha muito barulho no meu quarto e eu acordei espantada. Mamãe jogava, desesperada, as minhas coisas numa mochila enquanto Prim tentava me tirar da cama.

– O que aconteceu? O que aconteceu?- Eu perguntei. Mas ninguém me respondia, Prim apenas me mandou escovar os dentes. Ela me entregou a minha roupa de caçada e minhas botas. Enquanto eu me vestia Prim trançava o meu cabelo. Eu fazia tudo apressada. Mamãe e Prim usavam roupas de caçada também. Eu olhei ao redor pensando que íamos caçar, mas quando eu desci e mamãe me fez comer um café da manhã apressado, eu ouvi os gritos. Arregalei os olhos para Prim e mamãe.

– Vão bombardear o 12. O Plutarco acabou de avisar. Em menos de 10 minutos seremos bombardeados pela Capital.- Disse mamãe. Eu joguei o arco e a flecha nas costas e fui para a rua. A família de Peeta também estava saindo de casa na hora. Corri até Peeta e lhe abracei forte.

– Era disso que eu estava falando.- Ele apenas disse antes de segurar a minha mão e junto com toda a população do doze, fugimos para a floresta.

Juntos, todo o 12 juntos, juntos contra a guerra e a favor da rebelião. Isso tudo seria um banho de sangue... E quando o sangue de Peeta foi derramado eu entendi porque não queria ser o símbolo da rebelião: eu não aguentaria ver o sangue dos que amo derramado no chão como estava vendo o de Peeta agora. Quente e vermelho. Peeta fora baleado.


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Notas finais do capítulo

Fui, hahahaha