Pegando Fogo. escrita por hollandttinson


Capítulo 17
Jogo.


Notas iniciais do capítulo

Acabaram as provas :)



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POV: KATNISS.

Uma semana do Distrito 13 e eu já estava maluca. Sua organização sempre impenetrável e perfeita me dava nos nervos. A sincronia que eles tinham entre si era, no mínimo, irritante.

Eu e Peeta passamos maior parte dessa semana visitando o hospital improvisado daqui. Peeta já tinha largado as muletas e estava perfeitamente bem, apesar de ainda sentir dores das pernas de vez em quando, mas elas diminuíam com os dias. Eu já não usava a cadeira de rodas e também não precisava de muletas, tampouco, meu maior problema eram as dores de cabeça e o estresse.

Além disso tudo, Coin, a presidente deste Distrito, ela insistia que eu e Peeta devíamos estar á postos logo, para seguir com a Revolução. Ela preferia Peeta á mim e deixava isso claro pela forma que falava comigo, fingia ser gentil mas seus olhos hostis diziam o contrário. Peeta me dizia que eu estava apenas exagerando, mas ele não via como era, ele nunca percebia, mas não o culpo, ela é gentil demais com ele.

A mulher de cabelos grisalhos vinha até nós todos os dias para saber como estávamos, se já estávamos nos recuperando, quando íamos poder trabalhar para o Distrito, afinal, estávamos dando despesas é eles, não é? Nos hospedando sem ajudar. Eu simplesmente odeio essa situação e odeio Coin.

– Ela é muito cínica.- Disse Gale uma tarde enquanto almoçávamos. Eu, ele, Peeta e Delly não estávamos reunidos com os outros nas enormes mesas, preferíamos a privacidade.

Privacidade que me foi roubada rudemente desde o dia da Colheita, privacidade que eu nem me lembro mais o que significa, privacidade que eu provavelmente nunca mais terei.

– Gale, você a odeia, não é muito certo você falar mal dela. Além disso, você não a conhece.- Disse Delly olhando para ele de cara feia.

– E nem quero! Diz isso porque você tem mania de querer ver o que tem de melhor nas pessoas, mas nem sempre as pessoas têm coisas boas o suficiente, Delly.- Disse Gale calmamente.

Gale estava muito diferente do que eu me lembrava. Mais calmo, menos impulsivo, mais pensativo. Delly tinha feito algo com Gale, algo que eu admiro e agradeço, porque além disso, Gale não deixa de ser Gale.

– Bom, eu concordo com Delly. Nós não a conhecemos, é claro que vamos achar que ela é a pior pessoa do mundo, está praticamente nos obrigando á fazer coisas que não queremos, está quase passando do seu limite de abusar da autoridade de ser Presidente, e é gentil demais para o gosto de todo mundo, mas ainda assim, não sabemos o que a faz ser assim.- Disse Peeta, dando de ombros. As olheiras embaixo dos seus olhos não sumiram, nossos pesadelos também não.

– O que a faz ser igual a Snow.- Eu corrigi. Eles olharam para mim.

Foi assim que eu classifiquei Coin: O reflexo feminino de Snow. Ela tem os mesmos cabelos grisalhos e estranhos, tem o mesmo sorriso cínico, a mesma forma de agir: maquiando os defeitos com coisas que aos outros parecem perfeitas, mas tem perfurações. Snow usa o fato de querer o bem para a Capital, de querer que eles sejam felizes sem a intervenção dos Distritos. Coin usa o fato de a Capital interferir as nossas vidas como algo á ser odiado, massacrado, destruído, e principalmente: para que nós lutemos contra isso. Mas é exatamente isso que a Capital faz, em todo o caso, as pessoas vão sofrer e o poder estará nas mãos de um novo ditador. Talvez Snow não seja tão diferente assim de qualquer outra pessoa desse Distrito, talvez não seja tão diferente de Coin. E não é.

– Katniss... Igual á Snow? Ela não está matando pessoas por divertimento. Ela não está jogando bombas por aí e nem está obrigando as pessoas á se aliarem á nós.- Disse Delly, calmamente como se eu fosse uma criança idiota de 5 anos.

– Não está? E quem te prova isso? O que te garante?- Perguntou Gale, com uma sobrancelha erguida. Ele concordava comigo, ele entendia o que eu dizia, ele sabe o que é, a gente vive com isso.

– Bom, ela vai nos fazer dar entrevistas, não vai? Quer que nós mostremos nossas caras para as câmeras e isso vai ser exibido para todo o lugar. Ela nos disse que as pessoas se espelham na gente, que elas vão querer vir por nós estarmos aqui. Isso significa que ela está induzindo as pessoas para vir para o nosso lado pela nossa imagem, como o Snow faz, a única diferença é que o Snow usa o dinheiro e o luxo para chamar a atenção da Capital, Coin usa o sentimentalismo.- Eu disse. Peeta me olhou com olhos estreitos.

– Você tem razão, falando desse jeito, você tem razão.- Disse Peeta. Depois olhou para frente onde o formigueiro de pessoas ainda almoçava.- Ela me disse que me queria em seu projeto, disse que meu jeito de falar ia ajudar na revolução.- Ele olhou para nós.- Ela quase me disse que eu era obrigado á fazer isso porque todas essas pessoas só estavam se machucando lá fora porque eu e você colocamos a porcaria da esperança na cabeça delas.

– É isso que ela faz: passa na cara. Ela faz as coisas e depois fica nos mostrando isso e dizendo que devemos ser gratos por isso, na maior parte das vezes, não vale á pena.- Disse Gale. Delly suspirou.

– Será que nós não podemos confiar em ninguém?- Perguntou, colocando o prato de lado.

Não era permitido estragar a comida aqui no 13, eles trabalhavam bastante para conseguir o que queriam e não era justo deixar que uma pessoa idiota estrague isso. Nunca se sabe quando vai precisar de comida e esse prato pode fazer falta. Delly pareceu lembrar disso, porque voltou á comer.

– Você realmente confia em alguém daqui? Porque eu sinceramente não. Só confio em vocês e as pessoas que trouxemos da Capital, e Haymitch. E olha que Haymitch nem é tão confiável assim.- Eu disse, dando de ombros e comendo do almoço sem tempero.

– Gosto de Finnick.- Disse Peeta, olhando para o outro lado do grande salão. Finnick se levantava com seu prato e sorria enquanto conversava com Portia, eles sorriam felizes. Ele tinha um sorriso lindo, além de ser doce.

– Finnick é uma pessoa fácil. Como você.- Eu disse, sorrindo para Peeta. Ele retribuiu o sorriso. Um sino tocou ao longe. Nós tínhamos 5 minutos para terminar o almoço e começarmos nossas atividades.

Eu e Peeta fomos para o hospital quando terminamos de almoçar, de mãos dadas. O doutor sorriu para nós e assinou nossa alta.

– Vocês já podem começar á trabalhar. A nossa presidente vai ficar muito feliz.- Disse ele, sorrindo e colocando a mão no ombros de Peeta. Ele se voltou para um outro paciente com insuficiência respiratória.

– É claro que ela vai.- Eu disse revirando os olhos. Refizemos nosso caminho. Encontramos Haymitch nele. Tinha olheiras profundas: Haymitch não estava podendo beber, não era permitido bebidas no 13. Percebi que tudo o que tira á nós, vencedores dos Jogos, de nosso mundo terrível e cheio de fantasmas é proibido no 13.

– Olá.- Ele disse, acenando com a mão.

– Olá. Recebemos alta. Agora a Presidente vai poder abusar de nós.- Eu disse, com um sorriso cínico. Haymitch revirou os olhos enquanto Peeta suspirava de cara feia para mim.

– Boa sorte, então. Pelo menos vocês só vão precisar da entrevistas e parecer felizes.- Ele disse. Eu revirei os olhos.

– Acho que o que nós temos que fazer é suficientemente irritante, como tudo aqui.- Eu disse, dando de ombros. Peeta olhou para mim de cara feia de novo e depois balançou a cabeça.

– Vou procurar ela para mostrar que já estamos bem. Com licença.- Ele disse e foi andando na frente. Eu olhei para Haymitch e ele deu de ombros.

– Cuide bem do garoto.- Disse e foi para o hospital. Eu corri atrás de Peeta. Quanto tempo não corria? Correr não mais me deixava leve, doía demais.

– O que você tem?- Perguntei quando o alcancei. As pessoas passavam e nos olhavam. Eu não ligava. Ele revirou os olhos.

– Katniss, essas pessoas estão fazendo coisas por nós, eu sei que você odeia ser mandada e tudo mais, mas nós temos, realmente, que agradecer.- Disse Peeta.

– Não, nós não precisamos. E sabe porque? Porque não pedimos nada disso, eles se voluntariaram, quando as pessoas se voluntariam elas tem que arcar com as consequências dos seus atos.- Eu disse. Nunca me arrependeria de ter me colocado no lugar de Prim.

– Isso não importa para mim, Katniss. Consequências ou não, a gente precisa ajudar, nem que seja o mínimo. E quer saber? Eu não tenho problema em dar entrevistas e chamar as pessoas para aliarem-se á nós se isso os fizer sentir agradecidos.- Ele disse. Eu suspirei. Ele nunca mudaria de ideia.

– Tudo bem, Peeta, eu não vou discutir com você. Vá até ela e entregue o resto da porcaria das nossas vidas nas mãos delas. Eu vou andar.- Eu disse, indo na direção da saída do subterrâneo que é o Distrito 13. Johanna estava lá.

– Fugindo?- Perguntou com uma sobrancelha erguida quando me viu. Eu dei de ombros.

– Eu posso?- Perguntei, me sentando ao seu lado. Ela deu de ombros, batendo a cabeça na parede de pedra.

– Nunca vi ninguém tentar.- Ela disse.

– Nunca tentou?- Perguntei. Ela negou com a cabeça.

– Acho que prefiro ficar aqui e ver o quanto todas essas pessoas são terrivelmente patéticas achando que estando trancadas aqui dentro podem mudar o mundo, enquanto lá fora tem pessoas correndo riscos em seu próprio Distrito. Eu sou egoísta o bastante para não querer ver as pessoas morrendo de novo.- Disse Johanna, dando de ombros. Eu olhei para ela com a sobrancelha erguida. Não imaginava que Johanna se importasse com as pessoas, ela disse que era egoísta mas eu nunca vi alguém tão menos egoísta que ela.

– A sua visão da revolução é diferente. É boa, no sentido ruim.- Eu disse. Ela revirou os olhos para mim.

– Admito que não acredito que o rostinho bonito de Peeta e a sua coragem possa fazer Snow cair. Mas se as pessoas acreditam e dizem que a esperança é a única coisa que pode ser mais forte que o medo que sentem da Capital, deixem que se iludam. Se eu fosse você, iria mostrar a minha carinha para todo mundo, é o mínimo que se pode fazer pelas pessoas. Elas podem começar á ter coragem como você, talvez.- Ela disse. Eu ergui uma sobrancelha para ela.

– Você está de contradizendo...

– A vida é uma contradição.- Ela disse, dando de ombros. Eu fiquei olhando para ela, incrédula. Então nós gargalhamos. Era irônico, era hilário, era idiota, era a vida brincando com a gente, como num jogo. Irônico, não? Tudo é um Jogo.

(...)


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Notas finais do capítulo

Johanna