Pegando Fogo. escrita por hollandttinson


Capítulo 10
Peças.




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POV: PEETA.

A agonia, o desespero. Eu sentia isso desde que entrei na Arena. Mas nada se comparava á esse momento. Eu pensava nele o tempo todo e nada me preparou para o encontro dos Carreiristas com Katniss.

Ela estava machucada. Ela não conseguia correr. Ela gritava para que a menininha, Rue, corresse e a deixasse. A menina não o fez. Ajudou-a a correr. E lá estávamos nós, correndo atrás delas. Como Katniss corria atrás e suas presas na floresta. 

- Tá indo pra onde, minha filha?- Perguntou Glimmer, rindo enquanto Katniss tentava subir uma árvore e a menininha a outra. A árvore era grossa, mas era úmida e ameaçava cair. Era a cara da Capital fazer ela cair e ver se eu poderia matar Katniss. Ás vezes eu fico pensando que talvez essa seja a vontade de Seneca Crane, me colocar nessa situação. Foi assim no dia da garota com a fogueira e agora. Mas nada se comparava á agora.

- Me dá isso, eu vou acertá-la.- Disse Marvel, pegando o arco e flecha da mão de Glimmer e atirando. Mas ele era horrível. Nem chegou perto. Eu queria sorrir. Katniss não se deixaria morrer fácil.

- Ah, você é um babaca!- Disse Cato, dando um soco em Marvel que cambaleou, irritado. Cato começou á subir na árvore e as minhas mãos tremeram. Se ele conseguisse? Os galhos começavam á ficar mais finos e fracos no lugar onde Katniss estava. Engoli em seco e depois me segurei para não gargalhar quando Cato caiu. Mas Katniss gargalhou.

- Talvez deva jogar sua espada, querido!- Ela disse, irônica em cima da árvore.

- Deixa ela lá. Não pode ficar lá para sempre. Uma hora vai ter de descer.- Disse Clove, irritada, mas segurando sua faca apertadamente nas mãos. Olhou para mim.- A menos que o Conquistador tenha alguma outra ideia genial.- Ela sorriu. Queria me provocar. Eu sorri de volta.

- Na verdade, Clove, eu achei a sua ideia incrível.- Eu disse, me sentando no chão.- Mas não acho que ela vai se deixar morrer muito fácil. 

- Olha para ela, está prestes á morrer! Se não morrer por nós, morrerá pelos gamemakers.- Disse Cato, sorrindo descarado. Eu revirei os olhos. Mas eu sabia que ele tinha razão. Existia algum motivo para que Katniss tenha ido parar naquele lago com aquela garota e machucada. Os gamemakers queriam que esse encontro acontecessem logo e trabalharam para isso. 

Nós ficamos o resto da tarde inteira vigiando ela. Rue não apareceu mais desde que as achamos. Katniss as vezes se remexia na árvore, só para lembrar que estava viva. Á noite, eu fiquei vigiando ela. Mas era difícil por causa do escuro.

Me levantei o mais silenciosamente possível e comecei á subir a árvore. Ter passado tempos na floresta com Katniss me fez aprender várias coisas. Como por exemplo subir em árvores.

Ela me viu subir e arregalou os olhos, apertando uma faca na mão que estava agarrada com seu casaco chamativo.

- Eu não vou atacar você.- Eu sussurrei.

- Eu não confio em você.- Ela disse, com os olhos tristes. Eu me sentei no mesmo galho que ela que encolheu as pernas. Eu suspirei. Eu já esperava que ela nunca mais fosse confiar em mim.

- Se um deles me vir aqui, eu serei um homem morto, se eu continuar aqui, você me mata e...

- Eu nunca seria capaz de matar você.- Ela disse, relaxando a mão e escorando a cabeça no tronco da árvore.- Mas parece que você não nutre o mesmo sentimento.

- Não seja tola, Katniss. Acha mesmo que se eu fosse capaz de te matar já não o teria feito? Você sabe que eu sei subir em árvores, eu poderia te matar hoje, quando tentaram subir.- Eu disse, revirando os olhos. Katniss já foi mais calculista. Ela sorriu irônica.

- Se você o fizesse, eles te matariam depois.- Ela disse e eu ergui uma sobrancelha.- Só estão com você para me pegarem. Parece que você está fazendo o trabalho direitinho.

- Tão esperta.- Eu disse, sorrindo. Eu estava feliz por Katniss ser tão inteligente. E irritado por ela não perceber que eu nunca seria capaz de fazer nada contra ela.

- Como você conseguiu?

- Me unir á eles?- perguntei, confuso. Olhei nos seus olhos e vi a dor. Mas não era nada físico. Eu suspirei.

- Mentir para mim e para todos por tanto tempo.- Ela disse, e depois abaixou a cabeça.- Eu nunca esperava esse tipo de coisa de você.

- Eu não menti para você. Eu nunca menti para você Katniss!- Eu disse, agoniado. Ela estava chorando. Ela achava que eu menti sobre meus sentimentos o tempo todo para ganhar vantagem em alguma merda de jogo?- O que você acha que eu sou?

- O que você acha que eu acho que você é, Peeta? Andando com os carreiristas. Declarando nosso namoro á todo o público da Capital daquele jeito, sem me contar nada, me deixando vulnerável daquela forma. Mantendo segredinhos com Haymitch o tempo todo. O que você quer que eu pense, Peeta?- Ela perguntei, levantando os olhos para mim. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu suspirei e minha garganta estava começando á travar. Eu queria chorar.

- Eu amo você, Katniss. Eu nunca menti sobre isso. Você sabe que eu faria qualquer coisa por você.- Eu disse, antes de me inclinar para descer da árvore.

- Eu achava que ia ser para sempre.- Ela disse, segurando o meu braço. Eu olhei para a sua mão e vi a aliança que dei para ela. Ela não tirou. Eu beijei o dedo da aliança e me inclinei para lhe dar um selinho. Ela não me afastou nem tentou me bater.

- Eu amo você para sempre.- Eu disse. Dei um beijo na sua testa. Ouvimos um "psiu" baixinho e olhando para a árvore ao lado. Rue estava ali. Katniss sorriu e respirou aliviada.

- Você está viva.- Ela murmurou para a menina que concordou com a cabeça e apontou para um galho em cima de nossas cabeças. Um para-quedas da Capital jazia ali. Eu me estiquei para pegar e o galho fez um ruído. Olhei para baixo esperando que os carreiristas não tivessem ouvido, mas eles pareciam em um sono profundo. Peguei o para-quedas e dentro dele tinha um pote de remédio, olhei para Rue e agradeci com um aceno de cabeça. Ela sorriu e se sentou num galho de sua própria árvore. Katniss olhou para mim e para o pote.

- Haymitch.- Eu disse, sorrindo e pegando um pedaço de papel prateado de dentro da caixa.

Amantes desafortunados do Distrito 12.

- O que significa?- Perguntei, sorrindo e entregando o bilhete á Katniss enquanto abria o pote de remédio.

- Que ele está feliz que tenhamos nos acertado.- Ela disse, sorrindo. Mas não era isso e ela sabia. A Capital estava triste com o desfecho do nosso amor. Acreditavam que eu tinha mentido e não estavam felizes. Agora o cenário é outro.

- O que vamos fazer depois?- Perguntei enquanto passava o remédio na queimadura horrível que se alojava na perna de Katniss devido á um bolo de fogo mandado pela Capital. Ela suspirou. Estava quando dormindo. 

- Você vai voltar com eles e continuar fingindo que não aconteceu nada.- Ela disse. 

- Ou...- Ouvimos o sussurro de Rue mais próximo e ela estava da árvore mais próxima, se inclinando para poder falar baixo e nós ouvirmos.- O atacaremos.

- Como?- Perguntei, confuso.

- Quando o sol nascer, eu mostro á vocês.- Disse ela, se sentando novamente em seu galho.- Bom resto da noite.

Mas eu não dormi.

Eu fiquei vigiando o chão para saber se os carreiristas acordavam e me flagravam aqui. E eu não queria sair de perto de Katniss nunca mais. Nunca mesmo. De verdade.

E então o sol começou á nascer no horizonte e uns pássaros começaram á cantar perto de nós, acordando Rue que olhou para mim e sorriu. Depois procurou algo e sorriu mais ainda. Seu jeito singelo de sorrir me lembra Delly. Sinto falta da amizade de Delly todos os dias. Ela saberia o que dizer sempre que eu precisasse, como sempre fez.

- Bom dia.- Katniss murmurou baixinho quando abriu os olhos por causa do calor do sol. Estava muito cedo e essa não era a hora que os carreiristas costumavam acordar. Eu sorri para ela e olhei para o seu ferimento. Estava absolutamente sarado. Nem um pouco de sangue nem nada. Apenas a cicatriz. Eu sorri  para o ferimento e ela suspirou aliviada. Depois começou á procurar Rue.

Olhei para o lado oposto ao que ela olhava e me assustei quando vi um ponto laranja em algum lugar. Pensei que fosse fogo e já estava começando á ficar com medo e á pedir para que nós corrêssemos quando eu vi que era uma pessoa. A garota do 5, deitada em algum lugar longe, lá em baixo. Perto da Cornuncópia. Parece que ela não tem medo de ser encontrada pelos Carreiristas. Ou talvez soubesse que eles não iam se separar de Katniss agora.

Katniss se levantou do galho ficando em pé e se aproximando de uma árvore com um ninho estranho. Era com certeza a casa de um inseto. Ela tirou a faca de seu casaco e eu vi Rue sorrir e me apontar outra árvore para ficar em cima. Eu obedeci a menininha e esperei até que Katniss tomasse seu movimentos.

As teleguiadas atacaram os carreiristas como Rue e Katniss queriam. Eu vi eles correndo desesperados para o lago á procura de calma e sossego. Katniss, eu e Rue descemos da árvore quando achamos que eles não iam voltar tão cedo.

O canhão tocou. 1, 2, 3 vezes. Nós começamos á caminhar e encontramos o corpo de Glimmer totalmente desconfigurado no chão. Aquela imagem me deu ânsia de vômito. Tinham bolhas por todo o seu corpo e elas estouravam soltando uma gosma de sangue. Seus olhos azuis estavam vidrados e aquilo tudo me assustava. Rue se aproximou de mim, se prendendo á minha perna. Seus olhos eram muito assustados. 

Katniss se agachou ao lado da loira, fechou seus olhos de uma forma doce e pegou o arco e flecha de sua mão. 

Voltamos á andar e encontramos os outros dois corpos próximos ao lado. 

Agora somos apenas 8. Eu, Katniss, Rue, Cato, Clove, Marvel, Thresh e a garota do 5. 

Ouvimos um grito de ódio e nos viramos para ver sua localização. Eram Cato, Clove e Marvel que se aproximavam. Eu e Rue nos preparamos com uma faca e Katniss ergueu sua flecha.

Por um segundo eu me lembrei do quanto achava incrível sua habilidade com a arma e do quanto sempre me senti protegido na floresta quando ela erguia-a e sorria ao saber que conseguiu matar um animal. Por um segundo eu senti orgulho de Katniss. Mas então me lembrei que ali não era um animal. Era um ser humano. Um humano com cérebro de animal. Ou um animal com cérebro modificado por humanos.

- Disse que não devíamos confiar no conquistador!- Dizia Clove, irritada. Um dos motivos para Cato perder seus aliados era que ele não sabia se controlar, nenhuma carreirista conseguia, quando algo dava errado.

- Eu disse que os levaria até ela. Olhe ela aqui!- Eu disse, apontando para Katniss que sorriu de lado para mim.

- Obrigada por terem trazido meu querido até mim. Agora que já me fizeram o favor, acho que não temos mais nada o que tratar.- Disse Katniss. Cato bufou, erguendo sua espada.

- Exatamente. Já está na hora de você morrer, sendo assim.- Disse Marvel, erguendo sua lança para ela, com um ameaçador. Mas Marvel não era tão corajoso quanto as pessoas pensavam. Era apenas psicopata. Apenas.

- Acho que todos nós concordamos que esse termo se aplica á ambos os lados.- Disse Rue, se aproximando mais de Katniss. Ela estava com medo, é claro, eu e Katniss também estávamos. Mas assim como nós, ela conseguia esconder.

Foi tão rápido. Uma hora nós estávamos "dialogando", em outra, Rue estava no chão com uma lança atravessada em suas costas e barriga. Marvel estava caído com uma flecha no peito. Cato enfiava sua espada em minha perna e eu cortava-lhe o rosto com a minha faca, fazendo-o cambalear e cair no chão, agoniado. Katniss levava um corte na testa e Clove era morta por Thresh que surgiu, de dentro das árvores e deu um soco no pescoço, fatal. Olhou para Rue, que estava com o braço preso na minha perna sangrando e para Katniss que tinha acabado de se abaixar sobre a menina para chorar. Balançou a cabeça, quando viu que Cato corria desesperado para algum lugar. Nenhum de nós se movimentou para ir atrás dele. Thresh olhou para mim.

- Obrigado por ela e por sua família.- Ele disse e simplesmente se foi. Eu esqueci a dor para me agachar ao lado de Katniss e abraçá-la. Olhei para os olhos vidrados de Rue. Ela já se fora e nós não podíamos fazer nada.

Me agachei e tirei a lança de dentro dela, enquanto Katniss beijava as pálpebras da mesma, sem ter coragem de fazer mais nada, se abraçou ao corpo da garota. Eu fechei os olhos da pequena e olhei ao redor.

- Acho que ela merece uma lembrança. Algo digno. Você sabe que ela não é só mais uma peça destruída nos jogos.- Eu disse, baixinho para Katniss que levantou a cabeça, concordando e se levantando para com minha ajuda, encher o corpo de Rue se flores. Limpou o rosto e olhou para mim.

- Ela era uma ótima garota.

- Acredito em você.- Eu disse. Na mesma hora, um para-quedas se aproximou de nós, Katniss o abriu com as mãos trêmulas e leu em voz alta: - Uma cama de grama, um macio travesseiro.

- O que significa?- perguntei. Ela olhei para mim e voltou á chorar.

- Significa que ela não é mais uma peça nos jogos.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que a parte dos bilhetinhos não existe no livro e blas, mas é que eu acho tão legal esse bilhetinhos no filme *o*
Sobre a morte de Rue: me pediram para não fazê-los chorar, eu tentei.