Somos Pó E Sombras escrita por Lyllian Clarie


Capítulo 8
Capítulo VIII - Uma Garota Louca E Seres Do Submundo


Notas iniciais do capítulo

HEY!!!!
Sintam-se honrados, estão testemunhando a volta dos mortos de Lyllian Clarie! NÃO É EMOCIONANTE?!
Eu, pessoinha maravilhosa, deixo que me matem, esquartejem e me atirem no Tártaro. Porque APENAS EU tenho problemas pessoais, APENAS EU tenho professores do demo e APENAS EU tenho que estudar para provas e tenho toneladas de trabalhos todas as semanas. Então como APENAS EU tenho isso, podem me matar pela demora.
Admito que muita preguiça esteve envolvida mas... Sorry.
MIL DESCULPAS ANJOS.
Mas como compensação, o capitulo esta bem grande. (Acho que até demais)

Música do Capítulo: C'mon - Panic! At The Disco feat. Fun

BOA LEITURA!



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Will queria atirar em Jessamine. Mas atirar de verdade, com um canhão de preferência. E depois de mata-la, gostaria de rir maleficamente dos destroços da menina. Cruel, mas é o que ele gostaria de fazer naquele momento.

"Levante-se Willian. Levante-se e vamos acabar logo com isso." A garota disse irritada sentando-se de braços cruzados em uma das cadeiras confortáveis do quarto dele.

Will puxou seu lençol sobre a cabeça. 'Atirar em Charlotte também.' Anotou mentalmente, ela também merecia um tiro de seu canhão. Fora a mulher quem começara aquilo afinal.

"Não entendi a sua pressa Jessie. O nosso passeio lhe agrada?" Ele disse embaixo de suas cobertas. Ali estava tão quente e confortável para que ele se levanta-se e fosse dar um alegre passeio pelo parque com Jessamine no frio de Londres! E a criatura dos infernos, mais demoníaca de que um Demônio Maior, denominada Charlotte, era quem armara tudo isso. Traidora!

"Eu só quero acabar com esse teatro o mais rápido possível." Ela analisou as próprias unhas bem feitas. Will continuou quieto, quem sabe se ele ficasse em silêncio ela fosse embora e fingisse que a brilhante ideia de Charlotte tinha sido apenas uma ilusão? "Você vai demorar?" Ela perguntou impaciente. É, ela não iria deixar ele em paz. Tinha que enfrentar aquilo da maneira correta. Mesmo que todo o resto fosse errado. Will jogou lençol para longe de seu corpo, ao mesmo tempo em que se levantou da cama.

"Satisfeita?!" Ele disse irritado passando a mão nos cabelos enquanto seus olhos se acostumavam com a luz do sol. Will bufou saindo da cama definitivamente, indo em direção a seu guarda roupa. "Eu tenho certeza que Charlotte irá atrás de nós para nos espionar, não vai confiar em Jem totalmente. Para ver o que vamos fazer, então vamos dar duas ou três voltas no parque e quando ela for embora você pode voltar para o Instituto, que eu fico com o Jem. Mas nessas voltas, você tem que mostrar que está perdidamente apaixonada por mim. Entendeu tudo Jessie?" Ele disse com um falso carinho, jogando a camisa em cima do corpo, para logo depois começar a vesti-la.

Jessamine ficou calada por um tempo, e quando Will espiou de trás da porta de seu guarda-roupa para ver o que ela estava fazendo, se surpreendeu vendo ela encara-lo com os lábios vermelhos ligeiramente abertos.

"O que foi? Impressionada comigo?" Ele indagou com um sorriso maldoso. Viu com satisfação ela corar, colocando um pouco de cor em seu rosto pálido. Will riu e ignorando-a completamente voltou a mudar sua roupa. "Entendeu Jessie?" Ele perguntou mais uma vez.

"Entendi sim Willian, não sou burra." Ela rebateu, ainda corada desviou o olhar do menino que se trocava, passando agora a encarar a porta do quarto dele. Com uma careta disse: "Só não entendi por que aceitei participar disto."

"Não é burra? Tem que colocar isso nas manchetes dos jornais Jessie, a cor do seu cabelo pode confundir muita gente." Will sorriu quando a menina mostrou a língua para ele. "Mas eu sei por que aceitou, porque o idiota aqui vai te dar um presente." Will pescou uma de suas melhores casacas. Charlotte tinha que acreditar que aquilo era um encontro amoroso. "O ano mal começou e já estou gastando dinheiro de novo. Desse jeito, no fim de março estarei falido." Sussurrou para si, mas pela risada de Jessamine, ela tinha escutado. "Espero que não queira sorvetes nem pipocas Jessie."

"Eu vou querer tudo o que tenho direito!" A menina riu novamente. "E espero que meu presente seja incrível."

"É melhor você esperar que eu tenha dinheiro para ele. Então, como estou?" Will perguntou saindo de dentro do guarda roupa, vestido como se fosse ser o padrinho de casamento de alguém.

Jessamine ficou em silêncio por alguns instantes, olhando Will dos pés a cabeça, mas logo depois recobrou o ar.

"Está... Aceitável." Ela disse como se aquilo fosse o mínimo que Will conseguisse ser.

"Aceitável? Will Herondale jamais será apenas aceitável." Murmurou virando-se de costas para que ela não visse seu sorriso, ele sabia que estava bonito, mas queria arrancar isso da boca dela. Começou a retirar a casaca.

"Não! Você está lindo, maravilhoso, divino! Mas vamos logo por favor." Ela implorou quando correu e colocou a mão no ombro de Will para impedi-lo de se trocar novamente.

Will riu, achando tudo aquilo hilário.

"Como quiser querida." Disse colocando a roupa de volta a seu lugar. Jessamine revirou os olhos. Ainda sorrindo, Will abriu a porta e fez uma mensura exagerada enquanto ela passava indo em direção a sala.

"Venha logo... Querido." Ela sorriu falsamente para Will aceitando o braço que ele oferecia, e ali ele soube que seria um longo dia.


§

Will estava a ponto de se jogar de uma ponte quando viu Jem.

Jessamine estava conseguindo irritá-lo como ninguém nunca havia feito antes. Sim, ela tinha pedido sorvetes, e pipocas. Agora era fato confirmado, ele estaria falido no final do mês de março. Depois de arrancar quase todo o dinheiro que ele estava levando, ela começara a tagarelar de como aquilo estava sendo chato. Que ele deveria agradece-la por toda a sua vida por aquele imenso favor.

E o pior era que ele não podia simplesmente jogá-la frente de uma carruagem e sorrir enquanto ela era pisoteada pelos cavalos furiosos, não, tinha que bancar o namorado atencioso e ouvinte. Ele conseguia sentir a presença de Charlotte atrás deles, observando cada gesto que ele fazia.

Ela tinha ficado feliz com aquele pronunciamento. Na cabeça dela, Will iria ficar mais dócil se estivesse namorando, apesar de achá-los jovens demais para namorarem. Mas Will sabia que ela não tinha engolido aquela história por completo, que ela ainda desconfiava deles.

E ela estava certa em desconfiar, aquilo tudo era uma farsa mesmo. Will não estava namorando com Jessamine, graças ao Anjo, tinha apenas tido uma ideia genial.

E que ideia.

' "Ela não vai deixar a gente ir para o submundo, assim, sem mais nem menos. Coloque isso nessa sua cabeça oca."

"E você não acha que eu sei disso? Mas não podemos ignorar Magnus. Ele é um feiticeiro, muito colorido para meu refinado gosto, mas ainda é um feiticeiro."

"E o que seu refinado gosto nos dá como solução?" Jem indagou observando Will com atenção pela milésima vez naquela noite.

Depois do jantar Jem havia dado boa noite a todos e se retirado para seu quarto, fazia um bom tempo que não praticava em seu violino, e seus ouvidos precisavam escutar o melancólico som daquele instrumento.

Estava na metade da música, tocando um agudo suave que preenchia todo o seu quarto, quando escutou três batidas firmes contra a sua porta. Imediatamente parou de tocar, o arco e a nota suspenços no ar, colocou o violino em cima do pequeno criado-mudo, e abriu a porta sem olhar quem era; já sabia mesmo, só Will tinha aquela batida.

"Preciso de sua ajuda." Fora o que ele dissera esperando que Jem o desse permissão de entrar. O garoto revirou os olhos prateados. Will mais do que qualquer outra pessoa, tinha imensa e toral permissão de entrar ali, mas sempre esperava que lhe dissessem: 'Pode entrar Will.' E foi o que Jem disse, saindo da frente do amigo.

Will se encaminhou para o meio do quarto a passos apressados e passou a andar em círculos com as mãos atrás das costas; como sempre fazia quando estava inquieto e preocupado com algo.

"Nós temos que ir ao Submundo." Ele disse sem parar de andar. Jem o encarava. "Cumprir o acordo com Magnus. Mas tenho que pensar em alguma coisa que faça Charlotte nos deixar ir sem perguntas."

"Ela não vai nos deixar ir para o Submundo assim, sem mais nem menos. Coloque isso na sua cabeça oca."

Will ainda girava em círculos, quando Jem perguntou sobre o que o refinado gosto dele dava como solução. O garoto mordeu a parte interna de sua bochecha esquerda, tentando fazer sua cabeça a produzir um ideia que os daria passe livre para os dois passarem o dia e a noite fora.

Se fosse apenas Will, Charlotte não se importaria, mas como Jem insistira em ir junto, Will sabia que tinha que inventar algo simples, mirabolante e convincente. Jem era o queridinho da mulher, ela não admitiria que Will o arrastasse para o mal caminho.

Normalmente as ideias afloravam na cabeça de Will como água em uma nascente. Mas naquela hora não lhe tinha ocorrido nada! Nem uma ideiazinha minúscula! Por isso ele entrara no quarto de Jem assim de supetão e tão nervoso. Precisava pensar em algo.

"Will, se você está decidido a abrir um buraco no chão do meu quarto, sugiro que pegue uma pá." Jem comentou com um ar cansado. Era sempre assim; Nunca ocorria a Will o que ele estava fazendo enquanto pensava, sempre começava a fazer coisas aleatórias, para acalmar seu corpo que ficava ativo no mesmo nível que seu cérebro.

"Desculpe." Murmurou parando de andar. Observou a janela por uns instantes; quem sabe se a resposta não estava no céu estrelado daquela noite? "Sabe como fico quando estou inquieto." Ele disse, se jogou no chão antes que começasse a andar novamente.

Eles ouviram passos firmes no fundo do corredor, se aproximando cada vez mais da porta de Jem. 'Provavelmente Sophie.' Pensaram os dois se encarando em um olhar de compreensão. Os passos passaram direto do quarto, e seguiram corredor adiante.

Will voltou sua atenção para a janela, encarando a Lua. 'Vamos massinha que habita minha cabeça! Apenas uma ideia!'

Os pensamentos de Will foram interrompidos com batidas irritantemente frequentes, na porta do quarto. O menino de olhos azuis encarou o amigo

"Está esperando alguém?" Perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

"Não. Não estava esperando nem você." Jem se levantou da cama e foi até a porta, onde, a pessoa do outro lado tornava a bater com urgência.

"Estou indo! Não é uma questão de vida ou morte, certo?" O garoto abriu a porta e se deparou com uma Jessamine furiosíssima, segurando um vestido em uma mão, e sua sombrinha na outra.

"Na verdade é sim! Onde está aquele cafajeste do seu amigo James?!" Ela exigiu a resposta mirando a sombrinha em Jem. O garoto deu um passo para trás, receoso. Garotas no geral já eram perigosas quando estavam com raiva. Armadas de sombrinhas pontiagudas?... Pior ainda.

Jem olhou para trás inconscientemente, quando ela perguntou sobre o amigo, e percebeu que aquilo tinha sido um erro terrível, ele acabara de indicar que Will estava no local. Dito e feito, a menina tirou Jem do caminho com um empurrão de sua sombrinha e se dirigiu a Will, que imediatamente se levantou com as mãos para o alto.

"Calma Jessie." Will disse cautelosamente, se afastando a medida que a menina se aproximava.

"Calma?! Você ainda me pede calma?! Eu ainda não coloquei seus miolos para fora! Acredite Willian, eu estou bastante calma!" Dizendo isso a menina fez um arco com sua sombrinha, que teria mesmo colocado os miolos de Will para fora, se ele não tivesse sido extremamente rápido, se abaixando no último segundo antes que a coisa batesse em sua cabeça.

Jem viu que tinha que interferir antes que visse um assassinato acontecer diante seus olhos.

"Calma Jessie. Você não pode ir entrando no meu quarto desse jeito e ir ameaçando meu amigo na minha frente." Ele disse tomado por uma imensa coragem, quando se prostrou entre Will e o objeto perfurante.

Jessamine pareceu envergonhada com o fato de ter entrado no quarto de um menino que ela mal dirigia a palavra. Mas sua raiva não diminuiu um milímetro.

"Desculpe-me por isso. Não queria ter entrado desse jeito. Mas só por isso! Ainda quero matar essa injúria pelo o que fez!" Ela gritou e girou a sombrinha novamente em um arco mortal. Jem se abaixou no momento exato, e sentiu Will segui-lo em sincronia.

"Vamos com calma!" Jem ergueu as mãos em uma tentativa de paz. "Will, o que exatamente você fez dessa vez?"

"Nada! Eu tenho quase certeza que não fiz nada! Essa garota esta louca!" Will se defendeu usando as palavras erradas com certeza.

"Eu não estou louca Herondale!" Jessamine girou a sombrinha fazendo os meninos se abaixarem mais uma vez.

Will olhou para o objeto ameaçador. Só na loucura daquele Instituto para que uma sombrinha nas mãos de uma garota, fosse considerada uma ameaça. Mas ele tinha convicção de que estava certo. Não tinha feito nada nas últimas semanas, tinha até ficado surpreso com seu próprio comportamento.

"Quase certeza não é uma boa resposta." Jem disse sem desgrudar os olhos ada sombrinha na mão da menina. "Certo Jessie, o que você acha que Will fez?"

"Eu não acho, eu sei que foi ele!" Jessamine se moveu, por um momento de terror, os meninos se preparam para mais uma sombrinhada, mas ela apenas pegou o vestido que trazia segurou-o pelas mangas e o deixou escorregar até o chão, mostrando sua forma aos dois garotos.

"Olhem só para isso! Olhe o que seu amigo santinho fez!" Ela gritou com raiva mais uma vez. Will temeu que com aqueles gritos ela acabasse acordando Londres inteira.

Na frente dos garotos estava agora um vestido em estado deplorável. Não que Will entendesse muito de vestidos, mas ao menos ele sabia quando um estava estragado ou não. E o que Jessamine segurava definitivamente havia sido estragado, por ratos. O antes lindo vestido de tafetá amarelo queimado, agora se encontrava seriamente danificado com rasgos, buracos, e arranhões por todos os lugares.

Com um certo horror, Will percebera que estava totalmente e completamente perdido.

"Está dizendo agora que Will virou um rato? Porque apenas ratos fariam isso com sua roupa."Jem, o bom amigo Jem, tentou defender Will sem saber que ele era sim, o criminoso responsável por aquele assassinato de roupa.

"Ele bem que poderia se chamar de rato. Mas não estou dizendo que foi ele quem fez isso. Mas sim que foi ele quem colocou os ratos para fazerem!" Ela gritou movendo mais uma vez a sombrinha. Os meninos se abaixaram no mesmo instante. "Se eu tivesse um namorado, Willian, eu juro que pediria para que ele enforcasse seu pescoço. Mas como não tenho, vou tentar matar você sozinha!" E mais um giro de sombrinha.

"Tive uma ideia." Will falou de repente quando um click soou em sua cabeça. Era uma ideia louca, e principalmente desesperada, mas Will tinha quase certeza de que ela iria funcionar.

"Acho bom ela ter haver com nos tirar daqui." Jem sussurrou de volta quando se abaixaram mais uma vez para evitar a sombrinha.

"Também, mas antes preciso que..." Will foi interrompido com a porta sendo aberta com um safanão.

Na soleira, Henry estava com a aparência de quem tinha levado um raio na cabeça, e logo depois havia saído para dançar Can Can.

"O que em nome do anjo está havendo aqui?!" Ele perguntou irritado e confuso ao mesmo tempo. Will estava certo quanto aos gritos de Jessamine acordarem pessoas.

Ele entendia porque Henry estava confuso. Deparar-se com dois garotos encurralados contra uma parede por uma menina segurando uma sombrinha em uma mão e um vestido amarelo em outra, não deveria ser fácil para ninguém.

"Está acontecendo simplesmente o fato de que vou matar Willian Herondale e ninguém vai me impedir!" Ela falou para Henry e depois virou-se para Jem. "Não terei problema nenhum em matar você também James, se não sair da minha frente." Ela ergueu novamente a sombrinha.

"Jessamine, não toque em nenhum fio de cabelo desses meninos." A voz de Charlotte se fez presente quando ela apareceu na porta.Você estava adivinhando Lottie., Will pensou maleficamente. A mulher ali era uma deixa perfeita para seu plano entrar em ação.

Só precisava de duas coisas: 1. Que Jessamine estivesse entretida o suficiente com a entrada da mulher para ter esquecido parcialmente dele, por exatos 10 segundos, se Will tivesse calculado certo. E 2. Que Charlotte fosse mesmo uma romântica incorrigível, como ele apostava que ela era.

E temos que admitir, Will Herondale era um gênio em questão de criar planos perfeitos. Aquele começo do seu plano maior, deu certo.

Jessamine continuava olhando para Charlotte, com se tentasse arranjar as palavras certas para dizer que ela poderia sim matar Will, e Jem junto se ele interferisse demais.

Sorrateiramente, como sabia ser quando queria, Will aproximou-se de Jessamine por trás. Ficando parado por uns dois segundos aceitando o que iria fazer.

Rapidamente pegou a mão da menina, fazendo com que a sombrinha caísse e ela se virasse assustada. Will puxou-a para si com violência e segurando a menina pelos pulsos, olhou por um segundo nos seus olhos azuis, e no outro a beijou.

Will permitiu-se esquecer de que estava em um quarto com várias pessoas olhando-o dar um beijo em Jessamine. Permitiu-se se concentrar no gosto doce dos lábios da menina, e afogar-se e seu cheiro de rosas. Por assustadores instantes, Jessamine se debateu contra ele, tentado se livrar de seu aperto, mas Will era vezes mais forte que ela. Então inexplicavelmente ela parou logo depois entregou-se completamente ao menino.

Mais que isso, largou totalmente o vestido que outrora segurara e ficou na ponta dos pés para poder abraçar o pescoço dele totalmente enquanto ele envolvia sua cintura com um braço e com o outro, com a outra mão, penetrava cada vez mais fundo os cabelos loiros dela. Arranhou sua nuca quando ele deu mais profundidade ao beijo, e sentiu o estranho gosto agri-doce dos lábios dele.

Por longos segundos eles apenas experimentaram aquela nova e viciante sensação. Mas, cedo, cedo demais para ambos, a consciência de Will voltou a seu devido lugar e expurgou completamente a parte dele que gostara e queria continuar com aquilo.

Ele segurou o rosto da menina entre as mãos e a afastou lentamente. O corpo e os lábios de Will reclamaram com esse gesto, mas sua mente continuou a mandar mensagens incitando-o a continuar a afasta-la, repetindo que ele fizera aquilo apenas por ser parte de um plano. Apenas isso.

Jessamine olhou para os lábios de Will e depois para seus olhos tão azuis que pareciam ser violeta; ela queria tanto beijá-lo novamente! Mas uma voz assustada vinda de suas costas a impediu.

"O que, em nome de Raziel, significa isto?!" Charlotte perguntou chocada. Todos estavam.

Will, usando todo o poder que tinha para atuar e esconder suas expressões, sorriu arrogante para a mulher que falara.

"Não te contei Lottie? Eu e Jessie estamos namorando." '

Depois disso fora simples inventar uma curta história de que ele se encontrava perdidamente apaixonado pela menina. Jem ficou calado admirando a que ponto havia chegado à loucura de Will. Jessamine parecia assustada com o que tinha feito, e quando abria a boca para protestar, provavelmente para dizer que aquilo era mentira, Will apertava sua cintura e lhe lançava um olhar significativo, como se pedisse para que ela colaborasse. E Jessamine mesmo sem saber porque, fechava boca e concordava com tudo silenciosamente.

Quando conseguiram expulsar o casal do quarto, tiveram uma conversa esclarecedora. Will disse aos dois o que e porque tinha feito aquilo. A menina ouvia quieta e se perguntava onde estivera com a cabeça quando permitira que Will a beijasse daquela forma. E o mais assustador para ela, era o fato de que ansiava por mais um. Mesmo sabendo agora que havia sido apenas maia um plano maluco de Will, ela queria.

Jessamine tinha o rosto fechado em uma careta de confusão enquanto Will despejava tudo o que tinha pensado em segundos. Depois de terminar de falar ele esperou alguma reclamação; alguém lhe dizendo que a ideia de fingir um namoro para poder ter um passe livre para fora do Instituto com Jem (Para passar horas), era loucura. Alguém lhe perguntando como ele tinha tanta certeza que Charlotte iria mandar Jem seguir os dois para que eles não fizessem... Coisas indevidas. Mas ninguém se pronunciou, apenas assentiram e ficaram calados.

Jessamine declarou que para colaborar com aquilo, ela queria algo em troca. E Will bufou quando prometeu um presente. Ela aquiesceu e saiu do quarto levando o vestido estraçalhado e a sombrinha assassina.

Jem suspirou de cansaço e Will aproveitou a oportunidade de ir para seu quarto, para tentar clarear a cabeça. Não deu muito certo.

"Will, você ouviu o que eu disse?"

"O que?" Ele perguntou assustado. Jessamine estivera falando com ele esse tempo todo?

Ela balançou a cabeça em desaprovação, mas sabia que existiam momentos que Will viajava literalmente em seus pensamentos.

"Nada, esqueça. Eu acabei de ver Jem ali sentado. Acha que Charlotte já foi embora?" Perguntou olhando para um banco mais afastando onde um menino de cabelos castanhos meio grisalhos, comia um saco de pipoca, e de momentos em momentos atirava uma para os pombos do local.

Will olhou em volta discretamente; nem sinal da mulher que os estava seguindo. Procurou por mais um tempo em meio as pessoas, mas ao que parecia, Charlotte havia voltado para casa.

"Ela deve ter ido. Se eu me cansei da sua conversa, a pobre coitada deve ter morrido de tédio vendo apenas você falar." Will disse distraído, ainda olhando em volta se certificando de que ela tinha ido mesmo embora.

Jessamine parou de andar e bufou.

"Você não falou porque não quis. E se queria uma companhia melhor, deveria ter procurado mais." Will, que também tinha parado de andar, revirou os olhos para a menina a sua frente que batia o pé no chão com os braços cruzados. Aquilo irritou Will profundamente; odiava meninas que batiam o pé.

"Era mais fácil você." Ele disse simplesmente, tinha que mandar Jessamine embora, estava ansioso para começar sua busca.

"Por quê? Por que eu estava mais perto?" Ela disse irritada.

"Não, era mais fácil você por que eu sei que é uma dessas meninas que se deixa levar por um simples beijo e um presente ridículo." Will disso aquilo sem pensar. Assustou-se por um segundo como a sua capacidade de ser desagradável agora vinha muito naturalmente.

"O... O que você disse?!" Ela perguntou incrédula.

"Acho que me escutou. É tão vazia quanto essas garotas que se oferecem para os homens na calada da noite em troca de um..." Ele não terminou a frase; a mão de Jessamine fez um barulho estalado ao se chocar contra sua face. Will encarou a menina com uma mão no local que fora agredido, sem acreditar que ela tinha feito aquilo mesmo.

"Pode ficar com seu maldito presente, Herondale. Eu não quero mais nada que venha de você, seu crápula." Ela rosnou para ele. O Herondale saindo como uma palavra que ela tinha nojo de pronunciar. "Espero que você um dia ache uma pessoa que ame, e quando amar, sinta tudo de ruim que já fez para todos. Que ela lhe faça sofrer todos os dias."

Ele riu com sarcasmo.

"Está me amaldiçoando Jessie? Ou melhor, esta dizendo que me ama?"

"Não seja tão prepotente, é óbvio que não lhe amo. Estou lhe amaldiçoando, e espero que saiba que maldição de mulher é a pior coisa que existe." Ela girou o corpo, fazendo seu vestido farfalhar quando ela andou. Will observou ela andar para algum lugar, com um aperto esquisito no peito.

"Ótimo, mais uma maldição." Ele murmurou mal-humorado, virando-se na direção contrária da garota, seguindo até Jem. "Já posso começar a fazer uma listinha."

Quando chegou ao local onde Jem estava. sem cerimônia nenhuma se jogou no banco, ao lado do amigo. Ele estava cansado, não fisicamente é óbvio, mas aquela brincadeira de namoradinho tinha deixado sua mente em frangalhos.

"Pelo o que eu vi... Acho que o novo casal do Instituto de Londres acabou de terminar o namoro. Estou certo?" Jem perguntou com ar de quem queria rir, e muito. "Aliais, que tapa bonito aquele, não? Doeu em mim."

"Não enche Jem. Aquela menina é um pesadelo." Will massageou o local onde fora esbofeteado. Ela tinha uma mão forte.

“Tudo bem." Ele se calou, parecendo se controlar para não rir do amigo. "Vamos então?"

"Vamos." Os garotos se levantaram, e começaram a caminhar para o local onde tinha combinado que iriam confeccionar o portal para o Submundo. Um lugar escuro, e principalmente, sem a presença de olhos mundanos curiosos.

"Mas, Will?" Jem chamou sério.

"Sim?"

"Você tem que admitir que foi um belo de um tapa." Ele se virou para o amigo, se deparando com um Jem que lutava contra um sorriso de deboche que estava começando a se formar.

"Você não presta Cartsairs. Tenho pena das pessoas que se iludem com essa sua carinha de anjinho." Will murmurou meio irritado. Mas eles se olharam, e desataram a rir um do outro, parecendo dois bêbados trôpegos nas ruas de Londres.


§

'Dois feiticeiros? Eu vou ter que pedir ajuda para dois feiticeiros?! Raziel só pode estar avacalhando com a minha cara.' Will pensou irritado, chutando a primeira pobre pedra que achou na sua frente.

"Acalme-se. Não sei por que está tão irritado." Jem comentou percebendo o movimento brusco de Will com a pedra. Ele saiu primeiro do beco em que estavam antes, com as mãos nos bolsos.

"Você é uma pessoa eclética demais para meu gosto, James. Não suporto a ideia de ter um encontro amigável com dois feiticeiros em um restaurante caro." Ele continuou a dar passadas longas e precisas que desviavam habilidosamente das poças d'agua na rua. Jem o seguia de perto, por isso trombou contra Will quando ele parou repentinamente de andar. "Eu simplesmente não suporto."

"Will! Ande." Jem reclamou. O garoto voltou a andar mergulhando novamente em seus próprios pensamentos, relembrando como tinha ido acabar naquela situação.

A ida ao submundo tinha dado resultados, até demais. Depois de passar pelo portal tinham procurado alguma informação sobre Magnus, caçado qualquer coisa que tivesse o nome Magnus envolvido. Ás vezes, quando pareciam finalmente terem achado alguma informação que fosse confiável, Will estragava tudo.

Jem havia repetido tantas vezes a Will para que ele tivesse um pouco mais de paciência e não matasse os demônios na primeira vez que eles mentiam, que havia ficado cansado. O garoto tinha que entender que os demônios, por piores que fossem, não possuíam a capacidade de falar depois de terem virado uma poça de ácido.

Quando encontraram um demônio cochichando com outro sobre o tal Merlion, seguiram a criatura e encurralaram ela contra pedras escuras.

"Quem é Merlion? O que ele tem haver com Magnus?" Will rosnou depois de ter invocado uma de suas lâminas, e a apontava para o peito do demônio. A criatura se espremeu contra as pedras os olhos passando de Will para a faca a cada segundo. "É melhor falar. Não tenho muita paciência com demônios mentirosos."

"E-Eu não sei de nada!" A arma de Will ficou mais perto do demônio cinza, suas garras arranharam a pedra quando ele se encolheu novamente tentando se afastar mais.

"Will." Jem. Avisou notando o perigo. Estava realmente cansado de ver Will matando demônios 'inocentes' antes que eles conseguissem algo de produtivo.

"Fale logo." Will grunhiu baixo ignorando Jem.

"Mas eu juro que..." A faca se aproximou perigosamente da besta assustada. "Tu-Tudo bem! Eu não sei de nada mas conheço duas pessoas que sabem. Mas por favor não me mate!" Ele implorou, os olhos fixos na lâmina.

"Fale quem!" Will exigiu não movendo um passo para se afastar.

"Will, devagar." Jem avisou mais uma vez, ele não poderia deixar que Will matasse mais um demônio sem que eles conseguissem informação nenhuma.

"Ca-Catarina Loss e... E Rangon Fell! É tudo o que sei! Juro!" O demônio falou com dificuldade. Ele tremia; a criatura sabia que aquilo era inaceitável para um demônio de sua categoria, mas aquilo pouco lhe importava enquanto aquele maldito Nephilim o ameaçava.

Will rangeu os dentes em frustração, depois rugiu exasperado.

"E onde é que eu vou achar essas duas criaturas?!"

O demônio viu ali a oportunidade de escapar.

"Posso lhe ajudar nisso. Sei onde encontrá-los." Ele disse quase com um pouco de coragem. Will percebeu isso e com um único golpe atravessou o demônio com a lâmina serafim, tinha se enchido daquela criatura.

"Will! Parabéns!" Jem tinha gritado com raiva, dando uma tapa na cabeça de Will.

Depois de ter levado mais uma reclamação, Will havia saído a procura de informações sobre Catarina Loss e Rangon Fell. Eles pareciam ser mais conhecidos, rapidamente descobriram coisas e conseguiram (o Anjo sabe lá como) arrumar um encontro com os dois. E era para esse adorável encontro que eles seguiam.

"Acho que chegamos Will." Jem murmurou puxando a roupa do amigo, fazendo com que ele parasse seu andar distraído.

Não era de se admirar que Jem achasse que aquele fosse o lugar. Ao longo da avenida que eles estavam percorrendo, aquele era o único prédio aceso e iluminado. Quando Will notou as portas de pinho escuras, soube que aquilo não era nem de longe um restaurante caro.

Uma música suave atravessava as pesadas portas, estimulando a curiosidade de qualquer passante daquelas redondezas. Will suspirou reconhecendo o local. Já estivera ali antes, e não fora para tomar chá.

"É, eu acho que é aqui sim." Ele disse passando a mão por entre seus fios negros, num gesto de nervosismo.

"O que foi Will?" Jem perguntou notando a cara do amigo. "Algum problema?"

"Não, nenhum. Vamos entrar logo. Estou ansioso para nosso encontro a quatro. Espero que Rangon goste de você Jem, porque se acontecer algum beijo, eu fico com a Catarina." Ele disse usando a argola de ferro em forma de flor, para bater na madeira firme. Jem revirou os olhos e preferiu não discutir com Will.

×××

A Casa Acolhedora de Moças Rosa Del Fiore cheirava a vinho e álcool. Bastante álcool. O nome formal poderia até enganar os leigos inexperientes, mas para Will o lugar podia ser chamado simplesmente de Casa da Prostituição Rosa da Flor, e para seu terror, ele tinha quase certeza de que conhecia Lady Loss, e essa não era uma noticia lá muito agradável.

Will caminhou por entre as mesas, e desviou das almofadas e dos palcos onde as moças exibiam seus corpos. Estava ciente do olhar desconfiado de Jem a suas costas, querendo lhe fazer inúmeras perguntas, mas Will não queria responder a nenhuma delas.

Enquanto andavam em direção a uma mesa que Will tinha selecionado como sendo a mais calma do lugar, as mulheres e moças viravam os pescoços para melhor vê-los. Jem atraía atenção para si, mas do que gostaria, é verdade, mas não podia deixar de notar as mulheres que o olhavam. Já Will tinha um magnetismo totalmente diferente, era uma coisa quase sobrenatural; ele gostava, mas não na frente de Jem.

Will puxou uma cadeira e se sentou. Inevitavelmente, seu olhar recaiu para uma garota que encarava o menino como se quisesse devorá-lo. E dada as circunstâncias, ele achou que se fosse lhe dado permissão, ela faria isso mesmo.

"Will, isso não é um restaurante." Jem comentou baixinho sentando-se, a contra gosto, ao lado do amigo.

"Não é que eu notei a mesma coisa?" Will perguntou revirando os olhos. "Acho que devemos mudar nosso conceito de restaurante o mais rápido possível. Ele parece ter sido ultrapassado."

Jem suspirou desistindo. Will definitivamente não queria conversa.
Will olhou em volta procurando a dona do estabelecimento, Lady Loss (Ele simplesmente não gostava do jeito que tinha que chamá-la, aquela mulher poderia ser tudo, menos uma Lady). Algumas garotas soltaram sorrisinhos na direção dele, pensando que o menino estava atrás de uma 'atendente'. Will sentiu nojo de si mesmo ao lembrar que tinha comparado Jessamine com mulheres como aquelas.

"Escolha a do canto esquerdo, Katrina esta deslumbrante hoje." Uma voz doce e melodiosa (demais até) comentou ao lado de Will.

O menino se virou um pouco espantado com a chegada repentina da feiticeira. Aquelas criaturas davam medo nele; sorrateiras como eram. Mas ele nunca falou nada porque os Nephilm eram tão sorrateiros quanto.

"Lady Loss." Will cumprimentou cordialmente, levantando-se de sua cadeira. Ele havia aprendido que com aquela ali, a cortesia era fundamental. Pegou a mão que a mulher lhe estendia e beijou o dorso. Fria como o gelo, ele sentiu a pele dela contra seus lábios.

"Will!" Ela saudou alegre. "Estou muito feliz que tenha aparecido aqui. Faz um pouco de tempo. Tempo demais não acha? Eu pensei que havia se esquecido de mim." Depois de sorrir com afeto, o olhar de Catarina pousou em Jem. Ela analisou-o de cima a baixo como se ele fosse um produto novo. "E quem é este jovem mal-educado que não cumprimenta uma dama?"

Ás costas de Loss, Will fez um sinal apressado para que Jem cumprimentasse Catarina logo. Com um sobressalto, ele o fez imitando o que Will tinha feito, mas sem a mesma classe; como o olhar crítico de Catarina mostrou.

"James Cartsairs. Muito prazer." Jem notou que ela não tinha prazer nenhum em conhecê-lo. Will achou toda aquela encenação patética.

Eles ficaram em silêncio, esperando a próxima ação da vampira, mas ela também ficara calada e encarava-os com as sobrancelhas erguidas. Will imediatamente se tocou do que estava deixando de fazer. Rapidamente puxou uma cadeira ao lado da sua, e ela graciosamente sentou-se.

"Então, meu criado me informou que queria falar comigo. O que é que possuo que lhe atrai Will?" Jem notou a conotação que Catarina usou na última frase, e também não pode deixar de notar que ela só se dirigia ao outro menino. Melhor assim, ele não queria a atenção de uma mulher como aquela.

"Pensei ter informado a seu criado que queria falar com a senhorita e com Fell." Will disse categórico. A postura Catarina mudou consideravelmente, e Jem franziu as sobrancelhas com a 'educação' de Will.

"Sim, ele me disse isso também." Ela contraiu os lábios em um sorriso forçado. "Espero que goste de esperar. O senhor Fell costuma demorar."

"Esperar não é problema para mim." Will disse, mas estava quase atacando a feiticeira para obter informações. Jem reprimiu um sorriso ao ver essa vontade nos olhos dele.

"Pois eu odeio esperar. Philip!" Ela gritou com sua voz estridente. Um homem cadavérico surgiu das sombras do canto de uma parede. Ele trazia nas mãos uma bandeja vazia. "Traga meu vinho. Estou com a garganta um pouco seca." Will percebeu com um certo desgosto que teria que pedir algo para beber também. Catarina olhou para eles. "O que vão querer garotos? Pode deixar que é por conta da casa."

"Uísque Escocês." Will disse enquanto arrancava uma rosa que fazia a decoração da mesa. Jem arregalou os olhos para o amigo, em espanto. Depois olhou para os dois adultos, mas nenhum protesto veio. Eles realmente estavam achando normal aquilo?

Jem nunca acreditou em Will quando ele dizia que bebia. É verdade que ele já tinha chegado em casa bêbado algumas vezes, mas sempre parecia a Jem que era... Ele não sabia, mas ver Will pedindo naturalmente álcool, o espantou.

Ele viu os olhares dos adultos sobre ele, e rapidamente apressou-se para responder:

"Er... Apenas água para mim."

"Água?" Catarina indagou com as sobrancelhas erguidas novamente. Will percebendo a encrenca que Jem estava se metendo, correu em ajudar.

"Jem passou mal essa semana e o médico recomendou que ele não ingerisse nenhuma bebida alcoólica." Jem pela primeira vez ficou grato com a capacidade de Will mentir.

Ela assentiu e dispensou Philip com um aceno de mão.

Minutos depois o homem voltou com o pedido deles, e Will tomou um gole de seu copo com naturalidade, mesmo um pouco incomodado com o gosto do alcoól que sempre restava em sua boca após gole. Jem não tocou em sua água.

Will observou as garotas que lhe lançavam olhares famintos. Havia duas no recinto que o encaravam com um fervor maior. Uma era loira e a outra tinha cabelos castanhos. Lembravam muito Jessamine e Sophie (se ele ignorasse a falta de roupas e modos das duas), olhando-as Will perguntou-se se um dia seria capaz de sentir algum sentimento mais forte por uma menina. E se fosse, como será que ele lidaria com isso? Como faria um sentimento de afeto se transformar em ódio aparente? E o que mais preocupava ele era não ser capaz de identificar esse sentimento. Conseguiria ele diferenciar uma amizade de algo maior, mesmo tendo que mascarar os dois da mesma forma? Aquilo era assustador.

"... Não nos escuta." Ele ouviu a voz de Jem comentar. Girou o pescoço na direção dele. "Finalmente acordou Will. Estava pensando que teria que jogar água em você."

"O que?" Ele olhou a seu redor sem entender, mas rapidamente percebeu uma nova presença ali com eles. Rangon Fell encarava-o com olhos ferozes.

"Prazer em conhecer vocês, Nephilins. Isso é o que eu deveria dizer não é? Mas não tenho prazer nenhum nesse encontro." O feiticeiro disse rudemente. Will mordeu a parte interna de sua bochecha (iria acabar machucando-a desse jeito), dois feiticeiros para o jantar. Faltava apenas chamar um demônio para passear.

"Sempre cortez. Sente-se Rangon, o menino só quer conversar." Catarina tentou amenizar a situação. Ele manteve-se em pé.

"Não confio nesses Nephilins, Catarina, principalmente nesse aí." Ele indicou Will com o queixo. "Como vai a vida Herondale? Caçando muitos feiticeiros?"

"Não tantos quanto eu gostaria Fell, mas da para o gasto." Will respondeu arrancando uma pétala da rosa que antes girava entre os dedos. Rangon rosnou para Will.

"Acalmem-se meninos." Lady Loss disse revirando os olhos. "Sente logo Rangon, não quero ter que forçar você a fazer isso." O feiticeiro recém chegado trincou o maxilar mas obedeceu.

"Diga logo o que quer, Herondale. Não tenho tempo para suas baboseiras."

Will teve vontade de atirar a flor nele. Bastante inútil. 'Você quer o que Willian? Que a flor crie raízes e mate ele sufocado?' Ele repreendeu-se mentalmente, mas continuou tentado.

"Não vou enrolar. O que é que o feiticeiro Magnus Bane quer com um feiticeiro chamado Merlion?"

Os ‘adultos’ se entreolharam desconfiados.

"Para que quer saber disso? Pelo que sabemos vocês Nephilins não precisam de motivos para matarem feiticeiros." Catarina pronunciou-se estreitando seus olhos gelados.

"Isso é ressentimento?" Will riu com escárnio. "Não, não precisamos. Matar feiticeiros que descumprem a lei é nosso trabalho. Agora, precisamos de motivos para agir como mercenários."

"Magnus chegou a esse ponto?" Rangon perguntou espantado.

"Merlion deve estar extrapolando."

"Extrapolando o que?" Jem inclinou-se para frente em sua cadeira, levemente curioso. Catarina e Rangon entreolharam-se novamente. Will irritou-se com isso, odiava não saber das coisas.

Puxou bruscamente uma de suas lâminas e nomeando-a rapidamente, a pôs em cima da mesa.

"Ou começam a dar informações concretas, ou as coisas vão começar a ficar feias." Will ameaçou.

"Só conversar?" Fell perguntou a Catarina, irritado. A feiticeira de vermelho umedeceu seus lábios rubros.

"Will, somos amigos de Magnus, mas não sabemos tudo o que ele faz." Ela disse em um tom ameno. Will rangeu os dentes, se levantou e agarrou a lâmina. Aproximou-a dos rostos dos dois e disse por entre dentes:

"Eu não rodei o Submundo inteiro para vocês simplesmente chegarem e dizerem: 'Oh! Brincamos de boneca com Magnus mais não sabemos onde ele esconde a casinha!' Façam-me o favor! Andem, sei que são da mesma laia daquele lá. Quem é Merlion, e por que o azulzinho quer ele morto? Respondam seus miseráveis!" Will ameaçou os dois com a faca brilhante.

"Senhora? Esse Caçador de Sombras está a incomodando?" Philip surgiu das sombras novamente, encarando Will com olhos vítreos. Catarina analisou sua situação por um segundo, mas depois negou com a cabeça.

"Pode deixar Philip, não é nada. Will só esta um pouco exaltado, mas ele já vai se sentar. Não é Will?" Ela olhou significativamente para ele, mas o garoto se ia se mexer, não deu nenhum sinal. Jem, rapidamente, puxou o amigo pelos ombros fazendo ele se sentar.

Philip fuzilou Will com o olhar por mais alguns segundos e depois se retirou. Jem apertou o ombro de Will e sussurrou:

"Fique calmo. Quer atacar a cobra no covil dela? Calma." Will tentou respirar fundo. Ele bem que tentou.

"Vou fingir que não ouvi o senhor me comparar com uma cobra, senhor Cartsairs. Mas está certo, fique calmo Will." Catarina disse friamente. Jem sentiu seu rosto esquentar.

“Não vou ficar quieto enquanto não me disserem alguma coisa.” Will rosnou para a feiticeira.

“Ei, está vendo aquelas garotas? E aquele velhinho?” Catarina apontou discretamente para algumas meninas que dançavam, consideravelmente mais bonitas que as outras, e para Philip. “Com apenas um gesto meu, eles fatiam vocês dois em segundos. Como seu amigo lembrou, está na minha casa. Não tem direito algum de fazer ameaças Will. Então fique quieto.”

“Estou adorando cada vez mais o dia de hoje.” Will cruzou os braços quando murmurou isso para si mesmo.

“Merlion é um de feiticeiro irritante, bastante até, ele é... Mais jovem que a maioria de nós. Ele vende coisas. E faz coisas.” Rangon deu um gole na água de Jem. O garoto mordeu o lábio e ficou calado.

“Antes que pergunte,” Catarina antecipou-se quando Will abriu a boca. “Ele vende coisas que os humanos querem. Faz coisas que os humanos querem.”

“Atrapalha a clientela de Magnus e a nossa as vezes.” Fell completou. Will encarou-o. Depois olhou para a vampira. Não estava conseguindo acreditar no que ouvia.

“Já pedimos a Magnus que ele deixe de ser tão ganancioso. As pessoas já conhecem sua fama. Não precisa se incomodar com Merlion. Mas nosso feiticeiro não aceita.” Catarina recostou-se mais em sua cadeira. “Quer todos apenas para ele.”

“E vamos concordar que os preços de Merlion são bem mais baixos.” Fell fez o mesmo gesto de Catarina.

Will sacudiu a cabeça, aturdido.

“Mas... É só isso?” Perguntou incrédulo. A esperança fria que havia criado sobre o que aqueles demônios do Hyde Park estavam falando, morreu rapidamente. Devia ser outra coisa. Por que isso que ele odiava criar expectativas - elas só lhe davam decepções. Teve vontade de bater em si mesmo por isso.

“Só? Invadir o território de um feiticeiro é uma ofensa sem tamanho, garotinho. Mas nunca imaginei que Magnus fosse pedir ajuda logo aos Caçadores de Sombras.” Rangon negou com a cabeça, desaprovando o gesto. “Merlion deve estar muito ousado.”

“Eu tive esse trabalho todo só para... Resolver um problema comercial?” Will levantou-se irritado.

“E pensou que era o que? Merlion matando criancinhas e Magnus com pena delas pediu ajuda a vocês?” O homem revirou os olhos.

“Bem, na verdade era...”

“Não! Claro que não! Mas... Um problema com clientes?! Mas eu tenho muita sorte mesmo!” Will cortou a frase de Jem na metade, notando que iria parecer muito idiota se ele dissesse aquilo. “Só falta agora uma doce velhinha aparecer na minha porta querendo que eu ache seu cachorrinho perdido! Argh! Vamos embora Jem.”

“Mas... Não vamos ir atrás de Merlion?” Jem perguntou espantado, mas se levantando prontamente. Tudo o que ele mais queria era sair daquele lugar agradável.

Catarina inclinou a cabeça, em dúvida.

“Seu amigo tem razão Will. Por mais simples que possa parecer para você, se Magnus pediu, acho melhor atender.”

“É. Seria realmente uma pena se ele ficasse ofendido com vocês.” Fell comentou sorrindo como se aquela fosse uma ideia incrível.

Will revirou os olhos revoltado e irritado. Aquela noite estava saindo melhor do que a encomenda. Estava sendo contrariado em tudo, perdendo todas as discursões e ainda sendo ameaçado de morte. Por um feiticeiro que se achava, uma outra feiticeira arrogante e um feiticeiro purpurinante (Este era indiretamente).

“Muito bem! Mas onde acho essa coisa?”

“Não é tão difícil. Basta achar um dos servos dele. São um bando de fracotes. Lhe dirão a localização sem problema.” Fell disse levantando-se da mesa. Terminou o copo que bebia e sorriu maldoso. “Agora cuidado com o tal Merlion. Ele não aceita tantos desaforos quando eu. Boa noite Lady Loss.”

Ele curvou-se na direção dela e saiu sem dizer uma palavra em direção aos meninos. Will odiava aquele cara.

“Venha Jem.” Ele puxou o amigo pela roupa e o arrastou para a saída.

“E aquela história do respeito com Lady Loss?” Jem perguntou, agora seguindo Will sem precisar ser arrastado.

“Para o inferno com o respeito.” Will respondeu quando colocou o pé fora do estabelecimento. Jem sorriu sem ter o que dizer.

§

Will respirou fundo e tentou convencer-se mais uma vez de que aquilo que estava fazendo não iria arruinar sua imagem de insensível. Ela talvez só me odeie menos. Pensou. Seu coração ansiava por ser amado, ele não queria admitir, mas era verdade. Não importava o jeito, só queria que alguém gostasse dele verdadeiramente.

Mas você já tem o Jem! Sua consciência impiedosa gritou. Ele parou de andar. No meio do corredor. De onde estava já podia enxergar a porta do quarto dela. Só mais alguns passos. Ele deveria seguir, não?

Deu dois passos e parou novamente. Não, não posso. Todos tem que me odiar com todas as forças. Dessa vez virou-se, ficando de costas para a porta de Jessamine. A caixa em sua mão parecia mais quente a medida que se aproximava de seu destino. Mas ele não podia. Imagens do corpo de Ella verde e borbulhante surgirão em sua mente como um fantasma temido. Will estremeceu. Não iria deixar ninguém se machucar novamente por culpa dele.

Mas ele queria tanto. Tanto dar o presente que tinha comprado, se redimir ao menos um pouco das coisas horríveis que tinha falado. Seu corpo girou novamente, ele deu mais três passos em direção à porta da menina. Will parou. Ele não podia.

E se com isso ela começasse a gostar dele por mínimo que fosse? E a maldição atacasse sem piedade? Não podia ser responsável por isso. Tinha que ser assim.

Will suspirou e voltou a andar para longe, iria caminhar naquela noite. Andar para esquecer. E se desse muita sorte, encontraria algum demônio que o fizesse se distrair de verdade. O presente... Jogaria em alguma lixeira ou no rio, realmente não se importava. Além disso Jessamine não estava nem aí para ele.

Mas naquela hora... Ele balançou a cabeça irritado. Ela ia acabar deixando-o louco. Ela e todo mundo daquele Instituto.

Iria andar muito pelo visto, queria esquecer que tivera algum pensamento como aquele.

Fazer ela me odiar menos... Ninguém nunca vai gostar de você Willian. Não se você continuar assim. E você tem que continuar assim.



Há alguns metros dali, uma cabeça loira balançava em desaprovação e total confusão. Como alguém podia ser tão idiota? Ela também era idiota. Por, mesmo sem querer, sentir uma coisa muito estranha quando ele estava por perto.

Ele estivera tão perto. Por que não tinha vindo? Ela nunca conseguiria entende-lo. Jurou a si mesma que jamais demonstraria sentir qualquer coisa além da indiferença para com ele. Mas mesmo que não demonstrasse... Ela tocou os lábios com as pontas dos dedos.

Will Herondale iria deixar Jessamine Lovelace louca.


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Notas finais do capítulo

Bem Amores, acho que tenho que dizer duas coisinhas.
1- Sobre o "Romance". Quando comecei a escrever essa história não pensei em momento algum em romance. Admito, sou MUITO romântica. Mas com Will... Principalmente nessa fase da vida dele. Então pensei em deixar de lado. Mas queria também explicar um clima estranho que ronda (na minha opinião) Will e Jessie, Então...

2- A história esta na reta final.
Não tenho certeza se com a minha demora ainda tem gente que queira ler isso aqui mas... Achei que devia dizer. Não podia durar para sempre não é? (Eu bem que queria. *Começa a chorar desesperadamente*)
Não vai acabar no próximo capitulo. Acho que pela frente só temos mais três. Ou quatro...
E pode ser que eu tenha uma notícia boa pra vocês... Dependendo das suas reações.
Bem, até. Se tiver alguém aqui comente e me faça imensamente feliz.
(Pode dizer que o capitulo não ficou bom, eu deixo)

P. S.: Para os que já leram esse capitulo, eu modifiquei algumas coisinhas para facilitar o desenrrolar da história. Nada muito importante, apenas ajustes em algumas partes que eu percebi que estavam meio erradas quando reli Princesa Mecânica.
Sobre os eles falando de Edmund Herondale... Bem, tem haver com o plano de Mortmain. :) Desde aqui, sim.
Beijos!