Alex estava trabalhando sem parar. Era sexta-feira, e o jornal estava a mil. Ele era um dos melhores de sua área, viajava muito a trabalho e já tinha ganhado vários prêmios por suas reportagens. Ele estava em seu escritório, concentrado no seu computador quando alguém bate em sua porta.

- Pode entrar – disse Alex de olho na tela do computador.

- Desculpe Alex – disse a mulher, provavelmente uma secretária – tem uma ligação para você na linha três.

- E quem é? – disse ele olhando para ela.

- Disseram que é da escola do Davis – disse a mulher.

- Meu Deus! O que aconteceu agora! – disse ele pegando o telefone – Obrigado Lucy – disse ele a mulher. Ela sorriu e foi embora.

- Alô! Quem fala é o pai do Davis – disse Alex pelo telefone – Qual foi o problema? – perguntou Alex – O QUE? – disse ele se levantando da cadeira – Está bem. Estou indo. Até daqui a pouco – disse Alex desligando o telefone. Ele pegou seu casaco e saiu.

Demorou no máximo vinte minutos para Alex ir até a escola de Davis. A diretora havia ligado para ele, por que o garoto se meteu em uma briga na escola. Alex estava chateado com aquilo. Não pelo fato de ter que sair no horário de trabalho, mas sim, saber que seu filho estava se comportando mal na escola.

Alex, enfim chegou à escola. Ele entrou e foi em direção à diretoria. Quando entrou no corredor avistou Davis sentado em uma cadeira. Ele estava de cabeça baixa. Uma secretária e a diretora conversavam perto dele. Alex deu mais alguns passos até chagar mais perto.

- Davis? – chamou Alex. Davis levantou a cabeça e deu um sorrisinho. Mas ele estava com um olho roxo. Alex congelou.

- Senhor White! – disse a diretora indo a sua direção – Que bom que veio, precisamos conversar - disse a mulher olhando para Davis – você também mocinho. Vamos ao meu escritório – disse a mulher abrindo a porta de sua sala.

Davis se levantou. Ele tinha algumas marcas de sangue pela roupa e manchas de poeira. Provavelmente rolou no chão por causa da briga. Alex entrou no escritório seguido de Davis e a diretora. Ela pediu que eles se sentassem.

- Desculpe o incomodo senhor White, mas é que eu não poderia deixar passar o dia de hoje – disse a diretora se escorando de cotovelos na mesa.

- O que aconteceu senhora Bell? – disse Alex.

- Davis brigou com um colega de sala na hora do intervalo – disse a mulher ajeitando os óculos – e ele sabe que isso é inaceitável nesta escola. Não aceitamos violência aqui dentro.

- Davis? Isso é verdade? – perguntou Alex se virando para o filho. Davis só suspirou, mas não olhou para ele, só olhava pela janela – Davis? Estou falando com você – Alex chamou sua atenção.

Desta vez Davis se virou para ele: - Sim, eu soquei a cara daquele palhaço – disse ele sério.

Alex colocou a mão na cabeça, completamente decepcionado: - Por Deus meu filho! Por que você fez isso? – implorou ele.

- Aquele... – Davis iria falar um palavrão, mas a diretora o olhou com uma cara feia – aquele cara, já estava me provocando a tempo. Então eu não aguentei e bati nele. E é só isso – disse ele dando de ombros.

- É só isso? Bater em alguém é uma coisa muito séria Davis – disse Alex.

- Mas a culpa não é só minha! O cara também bateu em mim! Olha! – disse Davis mostrando o lado direito do rosto que estava roxo.

- Provavelmente vamos fazer algo com ele também Davis, mas vamos ter que fazer alguma coisa com você – disse a diretora –as aulas começarão a três meses, e esta, já é a terceira vez que você causa confusão.

- Terceira vez? – disse Alex incrédulo – Como eu não soube das outras vezes?

- Todas as vezes que acontecia alguma coisa, eu trazia o Davis a minha sala e conversava com ele. E eu lhe dava outra chance – disse a diretora Bell.

- Meu Deus! – disse Alex balançando a cabeça desorientado.

- Eu vou ser expulso? – perguntou Davis.

Alex e a diretora Bell o olharam. A mulher continuou.

- Eu, sinceramente, estou a cada ano me decepcionando com você Davis – disse a diretora – quando você entrou aqui na nossa escola, era um ótimo garoto e um excelente aluno, com notas maravilhosas – ela tirou os óculos e suspirou, e olhou bem para Davis – o que está acontecendo com você? Começou a decair com suas notas, suas atitudes são de uma pessoa que parece não dar mais a mínima para nada.

Em vez de se sentir envergonhado por estar sendo chamado a atenção na frente de seu pai, Davis olhava a diretora Bell atentamente. Era Alex que estava envergonhado.

- Davis, eu lhe dei muitas chances! Mas agora eu acho que não posso deixar passar – disse a mulher.

- Tudo bem – disse Davis dando de ombros.

- Tudo bem? – Alex se incomodou – Você acha que atitudes como essas são brincadeira Davis? – disse ele chamando a atenção do filho – Do jeito que você fala, parece que não dá a mínima para nada mesmo! – disse ele se virando para a diretora – Senhora Bell, eu lhe peço só mais esta chance – disse Alex implorando – pois eu sei que o Davis não vai mais brigar, e vai se esforçar para melhorar as notas. Pois eu tenho uma melhor punição – disse ele. A diretora pensou um pouco.

- Está bem senhor White, eu deixo passar só esta vez – disse ela se levantando – mas é a última! Se houver outra confusão, o Davis é expulso da escola – disse a mulher.

- Muito obrigado senhora Bell pela sua compreensão – disse Alex se levantando e apertando a sua mão.

- Eu espero que você melhore. Tenho esperança em você – disse ela colocando a mão no ombro de Davis.

Davis sorriu. Alex ficou bravo. O filho estava sendo chamado atenção, e ele só sabia sorrir. Aquilo soava irônico.

Eles saíram do prédio da escola. Iriam esperar um taxi. Alex estava em silêncio, estava chateado. Davis o olhava pelo canto dos olhos. Queria falar com seu pai, mas achava que aquele não era o momento.

Logo conseguiram um taxi e foram para a casa. Alex decidiu não voltar ao trabalho. Alguns minutos depois chegaram em casa. Davis estava indo em direção ao seu quarto.

- Davis? Sala, agora! – disse Alex apontando para o sofá.

- Mas pai! Eu... – disse Davis.

- Agora garoto! – disse Alex bravo.

- Está bem – disse Davis desistindo de lutar. Ele se jogou no sofá. Alex caminhou para perto e se sentou também. Deu um profundo suspiro e começou:

- O que está acontecendo com você meu filho? Por que tudo isso? – suplicou Alex.

- Só foi uma briga pai! Nada de mais! – Davis se explicou.

- Nada de mais? Você brigou dentro da escola menino – Alex começou a ficar alterado.

- Eu só me defendi! Queria que o cara batesse em mim, e eu ficasse ali, parado feito um saco de pancada? – disse Davis cruzando os braços.

- Você deveria ter ido até a diretoria e entregado o garoto! – disse Alex.

- É claro! – disse Alex debochando – E parecer um fracote!

- Foi culpa minha eu ter deixado você fazer aquelas aulas de boxe – disse Alex escorando as costas no sofá.

- Eu achei que foi bom!

- Você tem dezesseis anos Davis – disse Alex – não é mais aquele garotinho que chegou aqui e...

- Graças a Deus! – disse Davis se levantando – Alias, eu não gosto que me lembrem desta fase.

- Mas você era um garoto tão bonzinho, carinhoso e...

- Pai? Já chega! Não gosto do que eu fui, está bem! – disse Davis com uma cara séria – E mais! As pessoas mudam.

- Está bem! – disse Alex se levantando, parecendo parar a conversa – Se você não quer conversar, tudo bem!

- Será que agora eu posso ir para o meu quarto? – disse Davis.

- Pode sim – disse Alex.

- Valeu – disse Davis se virando e indo em direção ao quarto.

- Só que eu ainda não dei a minha punição – disse Alex. Davis se virou para olhá-lo.

- Como é?

- Sim! Livrei você de uma suspensão, mas não quer dizer que vai ficar de boa – disse Alex se aproximando do filho.

- E o que é então? – disse Davis revirando os olhos.

- Você vai ficar sem o celular. Dê-me. – disse Alex estendendo a mão.

- O meu celular? Mas pai! Eu preciso falar com a galera e...

- Nada de galera por uma semana – disse Alex.

- O que? Mas e as festas? – perguntou Davis.

- Sem festas essa semana – disse Alex seriamente – Me dê o celular agora Davis – disse ele bravo. Devagar, Davis puxou o celular do bolso e entrega ao seu pai.

- Muito bem! Obrigado! – disse ele pegando o celular e continuou – E também vai ficar...

- Tem mais? – perguntou Davis incrédulo.

- É claro que sim!

- Oh Deus!O que mais pai? – disse Davis desanimado.

- Ficara sem internet.

- Mas...

- Mas nada!

- E sem a sua moto.

- O QUE? – Davis deu um passo para trás colocando as mãos na cabeça – Você não pode tirar minha moto de mim!

- Posso sim! Pelo menos por esta semana.

- Isso não é justo! – disse Davis cruzando os braços.

- Muito justo sim senhor! Agora vai aprender a ser menos encrenqueiro – disse Alex –, agora pode ir para o seu quarto! – disse ele. Davis se virou resmungando – E nada de reclamar mocinho! E depois vá colocar algo neste olho roxo!

Alex se sentou no sofá cansado. Poderia achar que fez horas de exercícios forçados, mas o seu exercício era Davis. Agora com dezesseis anos, era um garoto que gostava de sair com seus amigos, ir a festas, e até namorou uma menina no ano anterior, mas só durou quatro meses. Davis era um adolescente que chamava a atenção por onde passava principalmente das garotas. Só que nos últimos quatro anos estavam sendo diferente, o garoto estava começando a dar dor de cabeça. Sempre se metendo em brigas. Na maioria das vezes, era por causa de meninas.

Alex sabia que o ponto fraco do filho, era a sua moto. Ele ganhou de quinze anos de Alex. Um ano antes de poder tirar a carteira. O garoto usava mais nos finais de semana, principalmente para ir visitar os amigos e ir a festinhas.

Alex via quase todos os dias, notícias sobre acidentes com motos. Se arrependeu de dar algo tão perigoso para o filho, ainda mais sendo uma cidade como Nova Iorque. Mas agora já era tarde, Davis amava sua Harley Davdison vermelha e prata. Era o seu xodó.

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Mais tarde, Kate voltou do trabalho. Ela e Alex jantariam sozinhos. Davis estava chateado com seu pai por lhe tirar tantas coisas importantes que todo o adolescente precisa. Alex sabia que era o melhor a fazer. Apesar das encrencas do filho, ele sabia que Davis ainda era um ótimo garoto.

- Eu ainda não posso acreditar que o Davis se meteu em confusão outra vez Alex – disse Kate.

- Pois é Kate, outra vez! – disse Alex esfregando os olhos cansados – O que eu fiz de errado? Trago ele para cá, ele melhora uma coisa e piora outra!

- São as influencias! – disse Kate – Uma cidade como Nova Iorque é muito cheia de tentações, principalmente para os jovens.

- Essa é a desvantagem – disse Alex com um suspiro.

- Mas depende da cabeça de cada um – disse Kate -, porque eu sei que o Davis é um garoto esperto. Não cairia em uma coisa dessas.

- Estou com medo Kate – disse Alex encarando a irmã.

- Medo de que Alex?

- Do meu filho acabar se tornando um marginal, de sair por aí e usar drogas, fazer filhos e ...

- Alex? Para! O Davis não é assim! Ele é um ótimo garoto e nunca faria isso – disse Kate tentando acalmar o irmão.

- Então o que eu faço? – perguntou ele com um tom cansado.

- Acho que vocês dois precisam passar um tempo juntos, sozinhos – disse Kate.

- Eu trabalho muito! Não tenho tempo!

- Esse é o problema, o tempo. Você não está tendo tempo para o seu filho irmão – disse Kate seriamente.

- Oh Kate! Este trabalho está acabando comigo. Está acabando com meus nervos – disse Alex jogando a cabeça para trás e fechando os olhos – Parece que minha cabeça vai explodir.

- Você precisa de umas férias, urgente! – disse ela sorrindo.

- Sabe o que eu estava pensando ultimamente? – perguntou Alex.

- Não. O que é?

- Mountain Village.

- O quê? – disse Kate quase se engasgando com sua bebida.

- Sim, eu pensei varias vezes em voltar – disse Alex pensativo – a minha casa ainda está lá. O meu antigo emprego no jornal local, provavelmente me aceitaria de volta. E o lugar é onde eu nasci e me criei, conheci minha esposa, onde o Davis nasceu e se criou também. É um bom lugar, apesar de algumas coisas – disse ele levantando as sobrancelhas, enfatizando a ultima coisa que disse. Kate entendeu.

- Conclusão! – disse Kate – Você está tentando dizer que largaria tudo por aqui, e voltaria para aquela cidade outra vez?

- Sim, acho que sim – disse Alex.

- Depois de tudo que você conseguiu aqui Alex?

- Eu sei. Mas ando pensando também no bem estar do Davis. Ele tem que crescer em um lugar mais tranquilo. – disse Alex.

- Mas foi lá, que ele teve problemas!

- Mas agora, tudo está diferente! Eu mudei e o Davis mudou. Temos a nossa própria vida.

- Eu não sei o que dizer Alex – disse Kate se levantando – você é que decide sua vida. Se você acha que deve voltar, que seja. Mas saiba que eles ainda estarão lá.

- Eu sei. Não tenho mais o que temer deles – disse Alex dando de ombros.

- Você é que sabe! – disse Kate indo em direção à cozinha.

- Amanhã falarei com o Davis sobre isso – disse Alex se levantando do sofá.

- Acho que o Davis não voltaria – disse Kate reaparecendo na sala.

- Eu tenho que tentar – disse Alex.

Será que Davis vai aceitar voltar a Mountain Village?