Astória gritava a plenos pulmões com Draco, e o loiro permanecia com a cabeça abaixada, cheio de culpa. Anos se passaram desde aquele dia, mas Draco nunca conseguiu superar a perda de Hermione. Desde que vira a menina sendo torurada por sua tia, naquela mesma mansão, o loiro tinha pesadelos com isso. Acordava no meio da noite, tremendo e suado, e Astória nunca sabia o que fazer, afinal, ela achava que os pesadelos do marido eram culpa dos dias negros que os Malfoys viveram depois da guerra. Ele nunca havia dito a verdade para a esposa.

Hoje, quando acordaram, Astória pediu para o marido tirar um bicho-papão do armário da cozinha, e, quando Draco abriu a porta do tal armário, viu Hermione sendo torturada, e não conseguiu se controlar. Astória teve um ataque de nervos, e estava gritando até agora.



–QUE DIABOS EU SOU PRA VOCÊ MALFOY? SÓ FACHADA? NOSSO CASAMENTO É SÓ FACHADA? OU VOCÊ SÓ QUERIA UM HERDEIRO? POR QUE AINDA ESTÁ COMIGO?



Draco permaneceu quieto, não conseguia encarar a esposa, e se odiava por faze-la sofrer.



–POR QUE NUNCA ME CONTOU DRACO? O QUE EU FIZ PARA VOCÊ NÃO CONFIAR EM MIM? POR QUE SE CASOU COMIGO? POR QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO?-----Astória agora chorava, estava visivelmente descontrolada.

–Astória, eu...

–Não fale nada Malfoy. Eu não quero ouvir sua voz, eu vou para o mundo trouxa, e não quero que venha atrás de mim!



Astória pegou as chaves do carro e saiu pela porta. Draco tentou impedi-la, mas ela ergueu a varinha e ameaçou usar a maldição cruciatos se o loiro se aproximasse dela. Ela saiu da garagem e quase bateu o carro, depois disparou em alta velocidade pela rua. Malfoy ficou olhando a rua um bom tempo, e depois entrou para dentro, completamente desolado. Que Merlin a proteja.



Rose Weasley.



Segui o resto do caminho em silêncio e de cabeça baixa, eu não ia aguentar falar com Scorpius.

Quando chegamos ao fim da floresta, eu fiquei sem ar com a vista. Havia um pequeno lago congelado, com várias árvores cobertas de neve, assim como a grama. Era realmente lindo, e eu quase me esqueci que Scorpius estava do meu lado, até ele roçar a mão em meu braço.



–Olha só, me desculpe por ter forçado a barra, eu realmente não queria...-----Ele começou a falar, mas eu não o deixei terminar.

–Está tudo bem, sério, a culpa é minha.

–A culpa é dos nossos pais.

–Por favor, não vamos falar nesse assunto.

–Tudo bem.


Ficamos em silêncio por um tempo, ele tirou a varinha das vestes e murmurou algo como “Relaxo”. Logo depois, faísca verdes saíram de sua varinha e contornaram as árvores. Eu ri, peguei minha varinha e murmurei “Periculum”, fazendo faíscas vermelhas saírem de minha varinha. Ficamos rindo e brincando com feitiços simples o resto do dia.

No caminho de volta, caminhamos em silêncio, até ele começar a falar:


–Sabe, eu não me importo nem um pouco com o que nossas famílias pensam sobre nós.

–Scorpius...

–Não, Rose. Essa briga entre nossas famílias não passa de orgulho ferido. Nossos pais são completos idiotas. A guerra acabou, mas eles insistem em continuar brigando. Eu não aguento mais isso! Eu quero poder ficar perto de você sem me preocupar com o que nossos pais vão falar Rose!

–Quem sabe com o tempo, daqui a alguns anos, eles não parem com essa briga...

–Já se passaram 19 anos Rose, por que você acha que eles mudariam em apenas alguns anos?


Abaixei a cabeça e não disse mais nada. Eu nem percebera que já estávamos em frente ao castelo, mas, quando me dei por mim, Scorpius já havia desaparecido.



POV autor.



Astória corria em seu carro pelas ruas de Londres. Não importava se passava em sinais vermelhos, ou quase atropelara pedestres, nada mais importava para ela. Como Draco pôde fazer isso com ela? Será que não havia pensado nem por um minuto que ela o amava mais que tudo?

Ele sempre foi meio fechado com ela. Nunca, nem por uma vez, disse “eu te amo”. Nunca comemorou um aniversário de casamento. Nunca se importou com ela.

Ele sempre fora apaixonado pela sangue ruim da Granger. Ela sabia que eles haviam namorado por um mês, mas achou que Draco só aceitara namorar Granger para obter informações da Ordem da fênix. Infelizmente, parecia que não era só isso.

“BURRA, BURRA, BURRA, VOCÊ ACHOU MESMO QUE ELE IRIA TE AMAR?”. Era só o que Astória conseguia pensar. Ela nem viu quando quase bateu em um carro, desviando-se no último minuto. O que ela não esperava era que, atrás daquele carro de que desviara, vinha outro, também em alta velocidade, atingindo em cheio o carro de Astória e fazendo tudo ficar preto.


(...)


Draco andava de um lado para o outro na sala de estar da mansão Malfoy. Já fazia horas que Astória saíra de casa e não havia voltado. Ele jurou a si mesmo que não ia ligar, que ia deixar a esposa esfriar a cabeça e voltar para casa, mas já estava começando a ficar nervoso. Ele estava quase quebrando o juramento quando seu celular tocou e o nome dela apareceu na tela. Ele rápidamente atendeu.


–Alô?


Mas não foi Astória quem respondeu.


–Sr. Malfoy?