Eu Não Preciso De Amor escrita por Hanna Martins


Capítulo 16
Os pesadelos voltaram


Notas iniciais do capítulo

Peço um milhão de desculpas pelo atraso, estive viajando e não deu para postar... Quero dedicar este capítulo a linda da Panemlove! Fiquei imensamente feliz por receber esta recomendação, muito mesmo! Obrigada!



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Deixo que água quente escorra pelo meu corpo. Viver estes últimos dias tem sido um peso terrível. Não sei como tenho suportado. Contudo, tenho que ser forte, eu jurei que iria desmascarar Peeta Mellark e eu vou cumprir meu juramento, nem que precise fazer os maiores sacrifícios. Sacrifícios que jamais acreditei que conseguiria fazer.

Tenho usado todo o meu sangue frio para me impedir de gritar ao mundo que Peeta Mellark quer me matar.

Quando descobri que Peeta Mellark queria me matar, a única coisa que senti foi um profundo ódio e nojo. Sentia-me enojada em me deixar cair em sua armadilha, em permitir que ele me hipnotiza-se com seus olhos, com seus lábios. Por isso, eu fugi, fui parar na casa da praia. Sabia que não demoraria muito para descobrirem meu paradeiro. No entanto, eu necessitava de um tempo sozinha, um tempo para reunir forças, para pensar.

Depois de muito refletir cheguei à conclusão que eu precisava de provas mais concretas do que meu depoimento de que escutei Peeta Mellark tramando minha morte com seus cúmplices. Não, isso não era suficiente. Além disso, dentro de mim nascia uma vontade imensa de assistir Peeta pagando por tudo o que fez.

Apenas possuía uma opção: fingir que não sabia de nada, enquanto procurava por provas.

Posso não ter as habilidades de atuação dele, aliás, nem chego aos seus pés e nunca chegarei neste quesito, mas posso ter sangue frio o suficiente para fingir que não sei de nada. É claro que nem sempre dá certo. Foi o que aconteceu alguns minutos atrás.

Sinto que Peeta está desconfiado, ele está estranho, muito estranho. Obviamente, deve ter notado minha recusa em receber seus beijos, em me deixar hipnotizar por ele.

Ainda estou com a imagem da cena em minha mente. Peeta estava me esperando na sala quando cheguei após o jantar com Gale. Era um jantar em comemoração ao aniversário de um grande empresário.

Tentei agir o mais calmamente possível. Peeta começou seu interrogatório sobre eu e Gale, é claro, ele precisa representar o papel de tutor preocupado (e vítima de um amor proibido). Devo admitir que ele atua muito bem, um mentiroso nato, quase me convence com suas crises de ciúmes. Se eu não soubesse de tudo o que sei, se não soubesse o quanto Peeta pode mentir, tenho certeza que poderia cair em suas garras. Porém, o fato é que eu sei de tudo, tudo o que ele fala ou faz não passam de mentiras. Seus belos azuis escondem um homem mau. E eu não vou me deixar levar por seus belos azuis. Não!

Depois de seu interrogatório sobre Gale, veio seu questionamento sobre minha fuga. Droga, Peeta está cada vez mais desconfiado. Droga, minha atuação não é suficientemente boa, não consigo deixar Peeta me tocar sem lembrar que ele está planejando me matar, se vingar de mim (de algo que eu nem sei o motivo). Esta é uma das coisas que preciso descobrir, por que Peeta odeia tanto o meu pai, por que ele quer se vingar de mim? Quando escutei aquela conversa, Peeta admitiu que precisava de vingança. Mas vingança do que exatamente?

Peeta tentou me beijar, e meus instintos foram mais fortes. Sei que deveria ter deixado ele me beijar, entregar meus lábios a mercê dos seus. No entanto, eu não consegui e quando percebi, já havia o esbofeteado. Cometi um erro terrível, deixei que a raiva me dominasse, precisei de todas as minhas forças para engolir as palavras que estão entaladas aqui dentro.

Então, aquelas palavras de Peeta: “Katniss, você me odeia?”. Percebi que se eu não fizesse algo, ele iria descobrir tudo. Respirei fundo e me voltei para ele, lhe atacando com um beijo selvagem. Entretanto, aquele beijo estava cheio de ódio, de todo o desprezo que sinto por ele. Queria que meu beijo o ferisse, o magoasse. Meus lábios estavam cheios de espinhos.

E, agora, estou aqui, debaixo do chuveiro, tentando tirar do meu corpo a sensação do toque dele, que queima como brasa. O sabor de seus lábios não sai da minha boca.

Saio do banheiro e me atiro em cima da cama. Fecho os olhos, mas os olhos de Peeta surgem em minha frente, me sondando, me analisando. Droga, droga, droga, eu não consigo tirá-los da minha mente. Depois de muito tempo consigo adormecer, porém, meu sono é turbulento. Meus sonhos estão cheios de mãos, lábios, olhos azuis e em todos Peeta está.

São quase onze horas, quando acordo com as batidas de alguém em minha porta.

– Quem é? – pergunto sonolenta.

– Gale está aqui – responde Mags, entrando no quarto.

– Fale que eu já desço.

Ela se retira.

Vou almoçar com Gale e seus amigos. Isso significa que Glimmer e Cato estarão lá. Talvez, eu consiga descobrir alguma pista sobre Peeta.

Encontro Gale na sala. No entanto, ele não está sozinho, Peeta também está aqui.

Lanço um olhar analítico para Peeta, que está analisando Gale, como um animal que estuda sua presa antes do ataque.

– Vamos, Gale! – digo, querendo salvar Gale das presas de Peeta.

– Onde vocês estão indo? – pergunta Peeta.

– Vamos almoçar com alguns amigos meus – responde Gale.

– Amigos? Que amigos?

– Alguns amigos da faculdade...

– Amigos da faculdade? – insiste Peeta.

– Você conhece alguns deles. Lembra-se de Clove, Cato e Glimmer? Eles estavam comigo em Zermatt.

– Acho que lembro – a atuação de Peeta merece um Oscar. – Mais alguém?

– Gloss e Chashmere... que você ainda não conhece.

– Vamos! Vamos chegar atrasados se não formos agora – se eu deixar que esta conversa prossiga, Peeta se transformara em um verdadeiro agente do FBI.

Peeta se prepara para fazer outra pergunta. Contudo, antes que ele tenha chance arrasto Gale comigo e o retiro da sala, do covil do lobo.

– Seu tutor é pior que um irmão mais velho cuidando de sua irmãzinha caçula – brinca Gale, quando entramos em seu carro.

– Antes fosse isso... – murmuro.

– O quê?

– Nada, não.

– Peeta me dá medo! Ele te olha de uma forma...

– Que forma?

– Sei lá... Se ele não fosse seu tutor, poderia jurar que ele está morrendo de ciúmes de você. E não é do tipo fraternal, é do tipo homem quando está gostando de uma mulher...

– Peeta? Com ciúmes de mim? – solto uma gargalhada nervosa.

– É verdade, Katniss. E olha de que ciúmes eu entendo. Já tive que enfrentar cada mulher enciumada – ri.

– Eu sei – rio também. – Mas não é isso, Peeta apenas está fazendo o papel dele.

– Eu só não entendo uma coisa, por que você não contou para Peeta que não estamos namorando de verdade. E até está fingindo diante dele que estamos namorando. Pensei que os únicos que deveriam acreditar nisso eram meus pais.

– Não, Peeta não entenderia... – falo laconicamente.

– De qualquer forma, tenho que agradecer por fingir ser minha namorada. Meus pais, realmente, estavam pegando no meu pé com este lance de namoro.

Lanço um sorriso desconfortável para Gale.

Sinto-me horrível por estar fazendo isso com ele. Os pais de Gale estavam pressionando-o para que ele namorasse com a filha de um empresário importante.

Chamamos isso de amor por conveniência. Isso é comum no círculo em que eu nasci. É, extremamente, comum famílias influentes se aliarem por meio do casamento entre seus herdeiros. Entretanto, isso é realizado de forma velada. Desde que nascemos somos inseridos em determinado círculo de “pretendentes” (herdeiros de famílias ricas e influentes como as nossas). Podemos escolher? É claro, que podemos, desde que o escolhido esteja dentro do círculo. Provavelmente, este seria meu destino: casar-me com algum herdeiro.

Os pais de Gale, porém, foram um pouco impositivos, escolhendo a garota com a qual ele deveria formar uma aliança. Ele não estava de acordo com a ideia e diversas vezes havia discutido com seus pais. Foi aí que entrei com minha ideia, por que não um namoro falso para enganar os pais de Gale? Afinal, eu sou a herdeira dos Everdeen. Gale aprovou a ideia imediatamente.

No entanto, o que ele não sabe, é que estou o usando. Acreditei que namorar Gale seria uma ótima forma de me proteger, proteger Panem. Descobri, recentemente, que Gale é um ótimo empresário (apesar da pouca idade). Os negócios da família Hawthorne estarão seguros em suas mãos. E eu preciso de alguém que entenda do mundo dos negócios ao meu lado. Não sei qual é o plano de Peeta (além de me matar), porém, se incluir Panem, pelo menos ela estará um pouco protegida – é o máximo que posso fazer por hora.

Usar Gale para meu plano é terrível, eu sofro por isso. Entretanto, eu preciso disso. Sinto que estou me tornando uma pessoa horrível por sua causa, Peeta.

Tudo que tenho feito até agora é atuar. Nenhum dos beijos, que troquei com Gale, é verdadeiro. Já beijei Gale dezenas de vezes, é bom, mas nada que faça meu coração disparar ou borboletas nos estômago. Aliás, minhas borboletas nem chegaram a nascer. Eu nunca precisei delas e nem vou precisar.

Chegamos ao restaurante. Todos já chegaram. Glimmer e Cato agem naturalmente, o que eu poderia esperar destes dois? Eles são os comparsas de Peeta, não poderia esperar menos deles. Os cúmplices podem ser o ponto fraco de seu inimigo, preciso descobrir se Glimmer e Cato possuem algum ponto fraco.

Gloss e Cashmere, dois irmãos que parecem deuses da beleza, durante o almoço tocam no assunto viagens. Eles adoram viajar. Seus pais são diplomatas, o que permite eles conhecerem vários países.

– Vocês parecem que conhecem vários países também – diz Cashmere a Cato e Glimmer.

– Não muitos... – sorri Glimmer.

– Ah, mas vocês falam várias línguas e parecem conhecer tão bem certos países.

– Gostamos apenas de estudar sobre outros países. Tudo o que sabemos conhecemos por meio de livros.

– E a internet – acrescenta Cato. – Não podemos negar o poder dela.

Glimmer consegue trazer a conversa para outro assunto. No entanto, sinto que eles estão escondendo algo. Lembro-me muito bem quando Rue disse que Cato teria viajado por vários países. Não sei por que eles não confessam logo. Afinal, ter tantas viagens no currículo é um ponto positivo e não negativo. A não ser que estas viagens tenham algo de misterioso, de proibido, e tenham um intrigante extra...

– Ei, você está muito pensativa hoje! – fala Gale quando estamos voltando do almoço.

– Não, nada... Seus amigos são bem interessantes.

– É, eles são mesmo. Eles são muito divertidos, principalmente, Glimmer e Cato.

– Humm. Sabe, Glimmer e Cato parecem namorados.

– Não – sorri Gale. – Eles são primos.

– Primos?

Não sei se isso é verdade. Acho que não. Deve ser mais uma daquelas mentiras contadas por eles.

– É. Por quê?

– Nada... é que Rue está interessada em Cato – não posso deixar que Gale desconfiei desse meu interesse súbito por seus amigos.

Gale ri, acho que ele acreditou.

– O que quer fazer? – pergunta Gale, me tirando dos meus pensamentos outra vez. – Hoje é sábado, poderíamos ir ao cinema... – sugere.

– Pode ser – digo dando os ombros.

Passo o resto do dia com Gale, tentando arrancar alguma pista sobre Cato e Glimmer, mas não consigo muita coisa. Os dois parecem ser escorregadios demais.

São quase dez horas da noite, quando chego em casa. Vou para meu quarto quase correndo. Não quero ver Peeta agora. Tudo o que desejo neste momento é dormir por um longo tempo.

Porém, meu sono não é tranquilo.

O medo me domina, estou paralisada pelo medo. Tento correr, mas não consigo, ele vai me pegar. Está cada vez mais perto de mim. Não, por favor, não! Corra! Corra! No entanto, meus pés estão firmes no chão, pesam como chumbo.

– Katniss! Katniss! – uma voz vem me salvar. – Acorda!

Finalmente, consigo me libertar e abro os olhos. Estou suada, tremendo, dominada pelo medo, confusa.

– Ei, só foi um pesadelo – a voz de Peeta é suave e acolhedora. Ele me abraça.

Neste momento, não sou racional, não penso em nada e deixo que Peeta me abrace. Ele acaricia meus cabelos lentamente de um modo delicado e terno, seu abraço é confortável, ao mesmo tempo protetor. Porém, isso não dura muito tempo. Lembro-me de que não posso me deixar ficar tranquilamente nos braços de Peeta Mellark.

Me solto dos braços de Peeta de uma forma brusca. Ele me olha entre o confuso e o preocupado.

– Está tudo bem?

– Sai, Peeta! – digo de maneira nada gentil.

– Katniss, se acalme, por favor.

Peeta tenta me tranquilizar colocando sua mão em meu ombro. No entanto, a retiro imediatamente.

– Sai! – ordeno.

– Katniss – sua voz é ainda suave e tranquila. Ela não se altera. – Está tudo bem.

Ele me arrasta para seu peito contra a minha vontade. Reluto a me aconchegar nele. Peeta se mantém forte e faz com eu me aninhe em seu peito.

– Peeta! – ainda tento lutar contra ele.

– Se acalme...

Aos poucos vou ficando tranquila e adormeço nos braços dele.

Depois disso meu sono é tranquilo. Acordo apenas de manhã. Constato que estou dormindo nos braços de Peeta. Saio sem fazer barulho de seus braços e vou para o banheiro.

Olho para meu reflexo no espelho, meu aspecto é de alguém cansado.

Há muito tempo que eu não tenho estes pesadelos. Eles começaram quando eu era criança. Não lembro muito dos detalhes desta época.

Quando eu tinha cinco anos, alguém me sequestrou. Mas não me levaram para um cativeiro, me levaram para uma espécie de floresta e me soltaram lá. Sei que me acharam três dias depois, com meus pés machucados, sangrando, em carne viva. Dizem que foi um milagre eu ter sobrevivido. Quase ninguém sabe deste fato. Tenho apenas vagas lembranças. Porém, um rosto me persegue em meus pesadelos, o de um homem. O que me chama atenção em seu rosto são seus lábios grossos, que destoa com o resto de seu rosto, o que torna seu rosto ainda mais perturbador. Acho que ele foi um dos meus sequestradores.

A polícia não conseguiu capturá-los e nem descobrir muitos detalhes sobre eles. Um ponto interessante é que eles não pediram dinheiro. A polícia acreditou na época que eles não tiveram tempo para isso.

De qualquer forma, o sequestro me deixou mais do que feridas nos pés, me deixou estes pesadelos horríveis, angustiantes. Por muito tempo tive estes pesadelos, mas com o tempo eles foram ficando menos frequentes, até que se foram completamente. No entanto, eles voltaram, os velhos pesadelos voltaram.


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Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? Críticas? Gale e Katniss não namorados como a maioria de vocês já tinha previsto, e Katniss está tentando descobrir provas contra Peeta. Será que ela vai conseguir alguma? E estes pesadelos perturbadores da Katniss?