Percebo que pela quinta vez li o mesmo parágrafo do livro e que há meia hora não saio da mesma página. Olho para meu relógio de pulso, já são quase duas horas da madrugada... Fecho o livro e levanto do sofá, começo a andar pela sala em círculos. Vou até a janela e não vejo nenhum sinal de vida, tudo está silencioso e escuro. Eu não deveria ter deixado Katniss sair com aquele imitador de Casanova. Ainda sou o tutor dela e tenho poder para isso!

Já faz uma semana que Katniss e Gale estão... namorando (esta palavra me causa irritação). Os dois ficam grande parte do tempo juntos, Katniss vai com muita frequência a casa dos Hawthorne (frequência demais para meu gosto). E quando Katniss não está na casa dos Hawthorne é Gale que está aqui. Isto está me cansando, não suporto olhar para a cara daquele panaca.

Ontem, peguei Katniss e aquele idiota se agarrando na biblioteca. Ainda tenho a imagem nítida em minha mente. Katniss estava sentada na escrivaninha, vestia seu uniforme escolar, acabara de voltar do colégio (o Hawthorne a foi buscar, agora nem isso ela me deixa mais fazer). Aquele imitador de Casanova estava com uma das mãos sobre a coxa dela, enquanto socava a língua em sua garganta.

Pigarreei, porém, nada daqueles dois se soltarem.

– Katniss! – chamei de modo ríspido.

Por fim, eles se desgrudaram. Gale passou a mão pelo cabelo desgrenhado, tentando o arrumar.

– O que foi? – perguntou Katniss, abaixando a saia.

Olhei para os dois, o Hawthorne me lançou um sorrisinho, fechei a cara, mas ele ainda continuou com aquele estúpido sorriso no rosto. Eu poderia ter tirado aquele estúpido sorriso da cara dele, mas preferi não sujar minhas mãos...

– Katniss, acho melhor você ir fazer seu dever de casa – falei com a voz irritada.

Ela olhou para aquele imbecil como se desculpando.

– Tudo bem, Katniss, nós vemos mais tarde... – ele se aproximou dela e lhe deu um beijo rápido nos lábios.

Katniss saiu de cima da escrivaninha e pegou na mão de Gale, os dois saíram da biblioteca. Segui seus passos, eles me olharam incomodados, porém, ignorei seus olhares.

Katniss acompanhou Gale até o carro, antes de ele entrar, ela lhe deu outro beijo. Assim que Gale deu partida no carro, ela entrou e passou por mim sem me lançar um único olhar, quando percebi, já havia subido a escada e ido para seu quarto.

Eu não entendo o que ela viu neste imbecil! Lembro-me de nossa conversa após ela ter anunciado o namoro com Gale.

– Vocês dois estão namorando? – indaguei ainda não acreditando naquilo.

– Sim... – respondeu Katniss.

– Katniss, precisamos conversar sobre isso – disse. – Pode nos dar licença, Gale – me esforcei para ser educado.

– É claro – disse. saindo da biblioteca.

Olhei para Katniss, cruzei meus braços. Ela me olhou, parecia me analisar.

– Então? – indaguei, quebrando o silêncio que havia se instalado.

– O que é? – perguntou me encarando.

– Katniss... por quê?

– Por que o quê? – sua voz era firme e possuía algo de rispidez.

– Por que você está saindo com ele? – me esforcei para me manter calmo.

– Porque eu quero... – disse dando os ombros.

Me aproximei de Katniss, ela recuo dando dois passos para trás. Sua autoconfiança parecia ter dado lugar a uma certa tensão.

– Peeta, Gale é o melhor para mim neste momento... – sua voz naquele instante tornou-se suave e já não tinha o tom ríspido.

– O melhor para você? – interroguei, mas era mais uma pergunta retórica. – Katniss, Gale é um mauricinho que se acha o “pegador” – fiz aspas com as mãos. – Para ele você é apenas diversão... Para ele só importa quantas garotas ele leva para a cama! – meu tom era cada vez mais elevado. – Você é apenas mais uma na conta dele. Gale vai te fazer mal! – adverti.

Katniss nada disse, apenas me lançou um olhar cheio de magoa, o qual me perturbou seriamente. Fiquei desconcertado com o olhar que ela me lançou. No entanto, ele logo desapareceu e depois de alguns segundos não havia nenhum vestígio, até parecia que tudo fora uma invenção de minha mente.

– Posso até ser diversão para ele... Mas tenho certeza que Gale nunca me faria mal algum...

– Katniss, escuta! Gale não é alguém para você!

– Peeta, para! – disse me dando as costas.

Katniss saiu da biblioteca. Me deixando lá, percebendo o quão pateticamente eu agi.

Inferno! Deixei minha racionalidade de lado!

Tudo parece estar fugindo meu controle, nada está ocorrendo como eu quero. Sinto-me preso em um labirinto que eu criei.

Pela primeira vez, em muito tempo, não sei qual deve ser meu próximo passo.

Escuto a leve batida de uma porta de carro. Olho discretamente pela janela da sala, vejo Katniss fechando a porta do carro de Gale. Ela caminha rapidamente em direção a casa.

Me sento no sofá, pego o livro que havia deixando jogado no sofá e abro em uma página qualquer. Coloco em minha face uma expressão de tranquilidade – ainda não perdi minhas habilidades de atuação – e espero calmamente que Katniss passe pela sala.

Ela entra na sala. Katniss nunca usa maquiagem ou salto alto, porém, hoje, usa um pouco de maquiagem e uma sandália de salto alto, veste um vestido laranja claro (acho que é a primeira vez que vejo Katniss Everdeen usando um vestido). O vestido possui um decote nas costas, deixando boa parte de suas costas nua.

– Você está chegando tarde! – digo assim que Katniss passa por mim.

Ela se vira para mim imediatamente, noto que levou um pequeno susto, sorrio.

– Peeta? – sua voz soa um pouco confusa.

Me levanto do sofá e me aproximo dela.

– O que esteve fazendo para chegar tão tarde?

Ela me olha, não consigo decifrar seus pensamentos, droga! Katniss me encara por cerca de um segundo e depois volta seu olhar para algum ponto qualquer da sala.

– Sai com Gale... – responde laconicamente.

– Me diga alguma coisa que eu não sei...

Ela se mantem calada e sem me olhar, isso me irrita.

– O que este imbecil tem? – pergunto de um modo sarcástico.

– Peeta, não quero conversar sobre isso – finalmente olha para mim.

– Não quer? – meu tom é ácido. – Por que não quer? – insisto após não receber nenhuma resposta.

Ela ainda se mantém calada.

– Preciso ir dormir, e você deveria fazer o mesmo – diz após alguns segundos de silêncio.

Ela vai até a escada e sobe um degrau. Quando minha mão retém seu braço, fazendo-a virar-se para mim, Katniss me olha entre surpresa e interrogativa.

– Me solta! – seu tom é autoritário embora sua voz seja baixa.

– Por que você está fugindo de mim, hein? – falo de supetão.

– Eu não estou fugindo de você – seu tom é calmo.

Encaro-a.

– Ah, é... Então por que você foge de meus toques?

– O quê? – ela já não está mais calma.

– Pensa que eu não percebi que toda vez que eu te toco você praticamente escapa de mim, como se eu fosse um doente portador de uma doença contagiosa?

Katniss me olha, primeiro confusa e depois como se estivesse tentando recuperar a sua calma.

– Peeta, você mesmo disse que os sentimentos que sentia por mim não eram certos. Eu estou apenas tentando evitar que eles me atinjam...

Agora é a minha vez de ficar confuso. Será que depois de tudo o meu plano de conquistar Katniss Everdeen deu certo? Será que estou entendo tudo errado? Será que na verdade ela está tentando me esquecer nos braços de Gale?

Preciso provar minha teoria, me aproximo dos lábios de Katniss. Entretanto, ela é mais rápida do que eu, e quando percebo meus lábios estão roçando sua face, já que ela virou o rosto para mim.

Que diabos está acontecendo?

Respiro fundo e solto o braço dela. Ficamos por alguns segundos sem nos mover; eu com meus lábios encostados na face de Katniss, ela sem se voltar para mim e mover qualquer músculo sequer.

Por fim, me afasto um pouco dela. Uma risada debochada sai de minha boca.

– Depois disso nem precisa negar que está fugindo de mim, não se dê ao trabalho – falo sarcástico.

Katniss começa a subir novamente os degraus sem olhar para mim.

Estou fora de mim, não sei o que estou fazendo. Quando percebo pego o braço de Katniss, a fazendo descer os degraus, prendo-a contra o corrimão da escada com meu corpo, e antes que ela possa fazer qualquer coisa a beijo. É um beijo selvagem, agressivo, ela luta contra mim. Contudo, sou muito mais forte do que ela. Com algum esforço, consigo fazer com que ela abra os lábios, permitindo que minha língua penetre em sua boca. Ela ainda reluta, e eu apreendo-a ainda mais em meus braços. Sinto uma dor aguda e o gosto de sangue. Katniss mordeu meu lábio inferior, e não foi de uma maneira sexy.

Solto Katniss e recebo instantaneamente um sonoro tapa na cara. Olho para ela atônito, levando minha mão ao rosto. Katniss me olha furiosa. Ela começa a subir as escadas apressadamente, como se fugisse de um monstro terrível.

– Katniss, você me odeia? – a pergunta sai dos meus lábios quase que automaticamente. Nesse momento, não estou agindo racionalmente.

Katniss para sem se voltar para mim. Ela fica na escada por um bom tempo assim e depois volta-se lentamente para mim. Me lança um olhar decidido e desce os degraus rapidamente, vindo em minha direção.

Se aproxima de mim, detendo-se dois degraus longe de mim, seu corpo está há alguns centímetros apenas longe do meu. Me encara e com um gesto rápido de apossa de meus lábios. Seu beijo é intenso e decidido. Por um curto instante tento ágil racionalmente, no entanto, em menos de um segundo dou adeus a minha racionalidade e correspondo ao beijo de Katniss.

Passo meus braços por suas costas nuas e deslizo minha mão por sua pele. Aperto-a contra mim. Ela passa as mãos pelo meu cabelo de um modo agressivo como se quisesse arrancar cada fio de minha cabeça. Suas pernas pulam em meu colo e se aninham em meu quadril. Sem tirar meus lábios dos seus, começo a subir a escada com ela no colo.

Sem pensar no que estou fazendo, minhas pernas pensam por mim e me conduzem até meu quarto. Com uma das mãos abro a porta de meu quarto e a fecho rapidamente. Deposito Katniss em minha cama. Por todo o trajeto até meu quarto nenhuma única vez meus lábios se desgrudaram dos lábios dela. Finalmente, retiro meus lábios dos seus e começo a beijar seu maxilar fazendo uma trilha de beijos até seu pescoço.

Uma de minhas mãos percorre suas costas nuas, enquanto a outra vai parar em sua perna, subo o vestido e aperto sua coxa. Ela sobe minha camiseta, me afasto apenas o suficiente para tirar a minha camiseta e volto para o que estava fazendo. Katniss crava suas unhas em minhas costas, um pequeno gemido sai dos meus lábios. Ela morde minha orelha de maneira selvagem. Aliás, todos os seus gestos são selvagens e bruscos, não há qualquer gesto delicadeza aqui.

Vou parar atrás de Katniss e começo a percorrer suas costas nuas com meus lábios. Me aproximo de seus lábios novamente, sugando sua boca com voracidade... Sinto dor novamente, Katniss acabou de morder meu lábio inferior no exato lugar em que ela havia mordido alguns minutos atrás. Solto seus lábios e Katniss sai dos meus braços como se houvesse sido picada por uma serpente.

– Katniss? – digo com minha mão em meus lábios.

Ela sai do quarto sem me olhar.

Que diabos acabou de acontecer aqui?

Tento achar uma explicação lógica, mas nada encontro. Sinto que neste momento é impossível ser racional.

Deito na cama e observo o teto, fecho meus olhos ainda sentindo o sabor dos lábios Katniss em meus lábios e a sensação de seu toque.

Maldita garota! Por que minha racionalidade foi embora? Meu lábio inferior começa a latejar, a dor me traz um pouco de racionalidade. Acabei de agir feito um idiota!