Eu Não Preciso De Amor escrita por Hanna Martins


Capítulo 1
A pedra ainda espera dar flor


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo de minha nova fic. Esperem que gostem



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“A pedra ainda espera dar flor” me detenho na frase do livro que tenho nas mãos, fecho-o. A pedra ainda espera dar flor, mas eu não espero mais nada. A pedra pode desejar amar, mas eu não desejo amar.

Percorro os olhos pelas enormes prateleiras de livros. Um sol triste entra pelas vidraças da biblioteca. Os dias de inverno são sempre tristes. Suspiro, sei que este encontro é inevitável. Tenho que vê-lo, ainda que odeie tudo isso. 

Vou até a janela e olho para o imenso jardim, sempre bem cuidado, a grama parece nunca crescer, já que está sempre do mesmo tamanho. Não há flores no jardim, só o gramado, como se o verde houvesse consumido todas as outras cores.

Vejo meu reflexo no vidro. Ele reflete a imagem de uma garota de dezesseis anos, de longos cabelos negros, prendidos em uma trança. No entanto, meu aspecto me torna ainda mais jovem, minha estatura é baixa, e com este uniforme do colégio, composto de uma camiseta, uma saia de pregas que vai até meus joelhos e um sapato preto sem salto, não pareço ter mais de que quinze anos. Uma frágil garotinha, todos pensariam ao ver meu aspecto. No entanto, os meus olhos parecem mais velhos, como se tivessem nascido dez anos antes do corpo. Olhos de quem viu sofrimento.

— Katniss – me chama a velha governanta Mags, que cuidou de mais de duas gerações de Everdeen.

Me volto para ela, que me olha um pouco preocupada.

— Ele está aqui...

— Peça para que ele venha até a biblioteca. – É preciso esforço para que minha voz soe normal, e não demonstrar toda a raiva que possuo.

Mags se retira, observo suas roupas escuras desaparecem no corredor. Tenho que me controlar, não posso permitir que ele me veja como uma criatura frágil. Já chega, não posso permitir isso...

— Katniss – fala um rapaz louro na porta, sorrindo educadamente.

Apenas faço um sinal para que ele tome assento em uma das poltronas. O rapaz é bastante atrativo, belo, de uma beleza difícil de encontrar, é também forte, sua camiseta negra realça o peitoral musculoso, porém, não é como aqueles rapazes que tem muitos músculos, que são verdadeiros ratos de acadêmia. Não, é um corpo equilibrado, um corpo perfeito, nem muito musculoso, nem sem músculos. Seus olhos são azuis, de um azul intenso e penetrante.

Me sento na frente do rapaz.

— Como você deve saber, sou Peeta Mellark. – Ele olha, esperando que eu fale alguma coisa, mas não faço nada, apenas o encaro. – Seu tutor – acrescenta, depois de perceber que não tenho intenção de fazer qualquer tipo de observação.

Seus belos olhos azuis vão para em mim, parecem me analisar. Deve estar decidindo qual é o próximo passo.

— Pensei que você fosse mais velha – fala, tentando ser simpático.

— Tenho dezesseis anos – respondo de maneira objetiva, sem mostrar qualquer simpatia.

E por que eu deveria mostrar qualquer simpatia? Ele é mais um daqueles que estão atrás de minha fortuna. Pobre garota rica, órfã, sem nenhum parente por perto. A única pessoa que me restou foi ele, Peeta Mellark, o filho dos amigos de meu pai. Por que meu pai tinha que deixar minha tutela justamente para ele? Não consigo perdoar tudo o que aconteceu...

Nunca havia visto Peeta antes, mas eu sempre o odiei. E odiei ainda mais ao saber que meu pai, Haymitch, havia me deixado aos seus cuidados quando ele morreu. Peeta é o filho que meu pai sempre quis ter, afinal ele é o filho da mulher que meu pai amava, Maysilee. Sim, meu pai amava a mãe de Peeta, iria se casar com Maysilee, mas algo aconteceu (não sei o que foi) e ele acabou se casando com minha mãe, Effie. Não cheguei a conhecer Maysilee, ela morreu quando Peeta era ainda uma criança, junto com o marido. Os tios paternos de Peeta, que moravam em outro país, ficaram com sua tutela, por isso nunca o vi.

Estranho, mas não me lembro muito de minha mãe, só de uma mulher triste que andava pelos cantos sempre com um olhar distante. Ela morreu quando eu tinha quatro anos. Mais tarde escutei algumas conversas, e compreendi a tristeza da minha mãe, seu marido não a amava, e só pensava em outra mulher. Era com ela que meu pai havia desejado casar, eu e minha mãe éramos apenas uma cópia barata da família que um dia ele desejou ter.

Meu pai... acho que ele nunca me amou de verdade. Eu nunca o via, passei quase minha vida inteira estudando em um colégio interno só para garotas. Apenas agora, com a morte de meu pai, passei a não morar em um internato. Só via meu pai nas férias, mesmo assim por poucos dias, já que ele vivia viajando. Passava minhas solitárias férias, sozinha nesta enorme mansão. Porém, estar ou não com meu pai não fazia muita diferença. Ele sempre se mostrou um homem distante quando estava comigo, nunca recebi um gesto sequer de afeição. Apenas uma vez o vi realmente sorrir, foi quando ele mencionou uma viagem que fez para ver Peeta. Quando ele falou de Peeta naquela vez, percebi algo que nunca tinha percebido antes em meu pai, amor. Ele amava Peeta, mais do que sua própria filha.

Já se passou mais de seis meses desde que meu pai morreu. Sei que deveria estar abalada e tudo mais, porém a verdade é que não estou. Meu pai sempre foi um completo estranho para mim. E como último ato de amor, ele deixou a guarda da filha em seu testamento para Peeta. Agora estou sob a guarda de um cara de dezenove anos, que eu odeio.

— Katniss, sei que nunca nos vimos antes. – Sorri. – Mas quero que saiba que seu pai me pediu para cuidar de você, por isso vou realizar esta tarefa com muito empenho. E pode ter certeza que vou cuidar de você, como se fosse minha irmã!

— Não preciso de suas promessas – digo de forma seca.

— Katniss... – Ele sorri, como se fosse um adulto falando com uma criança malcriada. – Entendo sua dor, a perda de seu pai foi tão recente. Mas você tem que compreender que existem pessoas que querem o seu bem.

— E você é uma delas? – falo sarcasticamente, lançando um olhar desafiador.

— Sim, sou uma delas – responde como se não tivesse percebido nem meu sarcasmo, nem meu olhar. – A partir de agora, somos uma família! E famílias se ajudam, se amam.

O olho com uma de minhas sobrancelhas arqueadas.

— Katniss, pode ter certeza que quero ajudar você. Quero dar todo o meu amor para você! – Sorri do modo mais doce possível. Odeio esse sorriso doces. Odeio sua gentileza. Odeio sua voz calma e piedosa. 

Ao ouvir a palavra amor, tenho minha fúria despertada. Amor? É assim que você chama agora o dinheiro que irá receber por cuidar de mim? Amor?

— Eu não preciso de amor! – falo furiosa, me levantando da poltrona em que estou.

— Todos precisam de amor, Katniss – responde, sem ao menos se abalar com minhas amargas palavras. – Até mesmos as pedras precisam de amor. Uma pedra pode amar, quando recebe amor...

Meu tutor é um bom samaritano. É claro, que vou acreditar nisto!

— Fique com seu amor! Eu não preciso dele! – falo friamente.

Saio da biblioteca, antes que eu faça qualquer coisa que garanta ao meu tudo o seu objetivo, o meu dinheiro. Ele é igual ao demais, que querem somente o meu dinheiro. Estou farta deles!


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Notas finais do capítulo

Por favor me digam o que acharam do capítulo, devo continuar?