Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

AAAAAAh, adorei os comentários. E eles me fizeram postar mais um capítulo. Ah, e as pessoas que querem as continuações, mês que vem começarei a postar a continuação de Sociedade Dark - com o título Sociedade Renegada.

Aqui está mais um capítulo e espero que tenham comentários. Incluindo os dos fantasminhas que ainda não apareceram.

Aproveitem.



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Aquela noite, sentada no telhado com Adriel e Caliel, eu me sentia estranha. Como se eu não pertencesse de fato aquela cena. Caliel estava um pouco afastada, suas asas abertas e as penas se balançando ao vendo. Adriel estava encostado em uma grande telha solta e olhava para o chão e para as pessoas passando, sério.

Parecendo sentir o meu olhar, ele me encarou. Nunca tive problema em olhar de volta para um anjo, mas tinha algo nos olhos de Adriel, que me fez abaixar a cabeça e olhar para minhas próprias unhas. Abracei minhas pernas e deitei meu queixo no vão entre os joelhos. Eu me sentia estranha desde aquela conversa com Jeremy. Não, era de antes.

Me sentia estranha desde o primeiro dia em que nos encontramos. Quando encarei pela primeira vez aquelas belas safiras e me perguntei se ele era um anjo. Olhei para Caliel. Ela olhava para frente fixamente e suspirava. Eu não queria admitir que um humano poderia mudar a personalidade de um anjo.

Mas, a cada vez que eu estudava a minha situação, percebia que talvez eu estivesse um pouco errada. E isso era apavorante. Engoli em seco e voltei a olhar para frente, minhas asas um pouco encolhidas nas costas e as penas roçando em minha pele. Fechei os olhos e aproveitei a sensação do fraco vendo da madrugada em meu rosto.

“E como está a sua missão, Aliel?”

Quase pulei com a voz de Caliel. A encarei e ela tinha se levantado e estava parada na beirada do telhado, como se fosse pular a qualquer segundo. Seu rosto estava sério e o meu olhar confuso pela mudança de assunto. Se fosse um humano na situação de Caliel, estaria forçando interesse ou um sorriso, mas Caliel não.

“Está indo bem.”, eu disse cautelosa. “Na verdade, está melhor do que eu esperava.”, pensei na situação de Jay e Sarah e dei um pequeno sorriso feliz. “Jason chamou Sarah para ir a festa de Jeremy.”

“Festa?”, ela perguntou.

Só então eu me lembrei que não havia comentado a festa com nenhum dos anjos. Caliel se aproximou, interessada no assunto. Seus olhos azuis brilharam de empolgação. Até mesmo Adriel, que estava silencioso, veio se sentar mais perto de mim, com um olhar interessado.

“É, a fantasia.”, eu fiz uma careta. “Mesmo não gostando muito, acho que vai ser uma boa oportunidade para Jason e Sarah finalmente ficaram juntos.”, eu suspirei. “Pelo menos é o que eu espero.”

“Interrupções?”, Adriel adivinhou.

“Nossa, muitas.”, contei na ponta dos dedos. “A namorada de Jason, Laisa. O melhor amigo dele, Jeremy”, minha garganta se apertou ao dizer o seu nome, mas eu ignorei. “E eu tenho uma leve suspeita que o irmão de Sarah, Simon, não vai gostar muito dela namorando.”

“Isso complica tudo”, Caliel comentou.

“O lado bom é que estou bastante adiantada.”, disse pensativa. “Se bem que, eu acho que sem a minha ajuda, eles iam se entender de qualquer jeito.”

“Não iriam não.”, Caliel disse séria. “Só somos mandados para uma missão de juntar casais, como última opção. Eles ainda tem o livre arbítrio.”

“Você se lembra bem da sua época de juntar casais?”, eu perguntei.

Caliel riu.

“Se eu me lembro? Óbvio! Acho que foi a época mais fácil da minha existência.”

Eu e Adriel nos olhamos. Nunca soubemos, de fato, qual era a idade certa de Caliel. Alguns diziam que ela já estava aqui quando Deus mandou seu filho a terra. Outros dizem que ela é ainda mais antiga. Me surpreendo com o fato dela nunca ter sido “promovida” a arcanjo. Adriel me disse uma vez que, o fato dela ter quase sido tentada que a fez continuar sendo um simples anjo da guarda.

Mas, no fundo eu sentia que ela não se arrependia de quase ter caído em tentação. Ela pode, por alguns momentos, se sentir mais humana. Eu fazia uma careta, só de me imaginar sem as minhas asas. Eu fui criada para ser anjo, não humana. Era um simples fato da vida. Enquanto Caliel comentava sobre a época em que juntava casais, eu mantinha minha mente longe.

Mais especificamente, em uma janela a alguns quilômetros de distância.

***********************************

Estava atrasada para a missa. Tinha perdido a hora com as inúmeras histórias de Caliel no telhado. Em nenhum momento ela citou a sua tentação. E pelo olhar de Adriel, ele também percebeu a mesma coisa.

Saindo do banho, vesti uma blusa de manga longa branca e uma calça jeans escura. Peguei a toalha e comecei a secar o meu cabelo cacheado. Eu nunca tinha me dado ao trabalho de ter um secador. Não era material quando já tinha o essencial. Saí do quarto, ficando de costas para a porta do banheiro, quando senti uma presença diferente.

Me virei, vendo Adriel sentado na poltrona favorita. Mas, ele estava diferente. Não estava descontraído como sempre. Seu corpo estava inclinado para frente, seus cotovelos nos joelhos e as mãos cruzadas na frente do rosto. Suas asas estavam um pouco abertas e seu rosto sério.

“Adriel, o que foi?”, perguntei, me sentando na cama e pegando o meu tênis. “Você não deveria estar em algum outro lugar?”

“Aliel, tem nada o que você queira me contar?”, ele perguntou, ignorando a minha pergunta.

Eu congelei no lugar. Meus dedos pararam no meio do processo de amarrar meus tênis e eu levantei os meus olhos lentamente. Adriel tinha um olhar desconfiado que parecia olhar a minha alma. Eu pensei em ignorar a sua pergunta, mas sabia que se o fizesse, só iria atrair mais atenção para a minha situação.

“Na verdade, não.”, eu disse lentamente, terminando de amarrar o sapato e me levantando. Eu estava sendo sincera, não tinha nada que eu quisesse contar a ele. Tinha coisas que eu tinha que contar? Sim. Mas eu queria? Não. “Por que está me perguntando isso, afinal?”, o encarei.

“Hoje é o dia”

Eu estava terminando de arrumar a minha mochila, quando ele disse isso. Tudo o que estava na minha mão caiu e eu demorei uns dois segundos para me recuperar do choque e me abaixar para pegar. Eu comecei a catar as coisas, como uma desculpa para manter os olhos longe de Adriel.

“Não pode ser.”, eu disse quase gaguejando. Minhas mãos começaram a tremer enquanto eu fazia o calculo mental. “Quero dizer, hoje?”

“Sim”, Adriel assentiu. “Você não percebeu que ela estava muito calada a noite?”

“Tem razão”, eu disse lentamente.

Hoje era um dia muito doloroso para Caliel. Faziam 150 anos desde que a sua tentação foi morta, em um assalto, a protegendo (mesmo sem que ela precisasse). Adriel e eu sempre ficávamos apreensivos nessa data. A dor de Caliel quase se tornava nossa, de tão grande. E isso a fazia cada vez mais humana.

Lamentar a perda do humano também atrasava a sua vida. Afinal, todos os dias humanos morrem. Eles próprios se matam, não adianta lamentar por uma escolha que eles mesmos fizeram. Olhei para Adriel, que agora estava mais relaxado em dividir aquilo comigo. Nós dois sabíamos que não iríamos ver Caliel o dia inteiro.

Ela ficava em algum cemitério da Inglaterra, sentada apenas olhando para o túmulo com um olhar perdido. Eu já tinha ido com ela uma vez, apenas para dizer que todos os humanos morriam e que vazia parte da vida. Mas, quando vi seu olhar desolado, minha garganta se apertou e eu não consegui nem respirar por um momento. A tristeza de um anjo mais velho, era uma das principais tristezas do mundo.

Peguei minha mochila e pus em cima da cama, colocando todo o meu material ali dentro, com a desculpa de não olhar para Adriel. Eu suspirei, deixando os meus ombros caírem, de desistência. Então, encarei os olhos verdes de Adriel, séria.

“Não podemos nos meter na dor dela”, eu disse baixo. Mais para mim, do que para Adriel. “É a dor de um anjo maior. Pode levar anos, séculos, milênios. E ela sempre vai lamentar.”

“Morrer por alguém que não morre.”, Adriel divagou.

“Ele poderia ter ganho uma segunda chance, pelo menos”, eu disse, então balancei a cabeça. “Era a hora dele. E ele morreu nobre. Isso que importa.”, me sentei na cama e cruzei as pernas. “Mas, não foi só por isso que você veio até mim, não é?”

“Estou preocupado, Aliel”, ele disse se levantando e andando de um lado, suas asas encolhida nas costas, para que não batesse em nada. “Com isso de Tentação e Tentado, eu tenho medo que isso aconteça com algum de nós dois.”

Eu engoli em seco e desviei meus olhos para a janela. O sol estava fraco, indicando algumas nuvens no céu. Seria um pouco mais difícil voar, se chovesse. As asas pesavam. Adriel chamou a minha atenção de volta, se sentando na minha frente, e pegando a minha mão. Seus olhos verdes estavam mais sérios do que eu sempre via. E isso me preocupou.

“Estou preocupado que aconteça algo com você”, ele disse sincero. Eu mordi o lábio e desviei o olhar. “Eu vi o jeito com que você olhou para aquele garoto na lanchonete, no primeiro dia, Aliel. E vi o jeito com que ele te olhou.”, ele balançou a cabeça e eu arregalei os meus olhos. “Não se deixe cair nas tentações humanas. Veja como Caliel ficou. Um dia eles morrem. E nós continuamos. É a lei do nosso Criador.”

“Adriel, eu sei me cuidar.”, eu soltei a minha mão na dele, sentindo queimar. Me levantei. “Estou atrasada para a missa. E você também”, andei em direção a porta, e parei. “Eu não tenho planos de largar a minha meta de ser anjo da guarda, para cair na desgraça de ser tentada, Adriel. Pensei que me conhecesse melhor.”

“Eu espero realmente conhecer.”

*************************

Uma coisa que eu sempre admirei nos humanos, é a paciência. Como eles conseguiam andar horas e horas pelo shopping, sem se cansar ou pirar. Já estávamos andando a quase duas horas. Minha sorte é que hoje não teria missa. Jason e Sarah pareciam procurar a fantasia ideal. Enquanto eu e Jeremy só queríamos ir embora.

Entramos em mais uma loja de fantasia e deixamos Sarah e Jason irem na frente. Era estranho estar sozinha com Jeremy. Até porque, eu o estava evitando o dia inteiro. As palavras de Adriel pareciam queimar em minha mente, junto com a lembrança da tristeza de Caliel.

Eu levantei os meus olhos lentamente para ele. Jeremy tinha a expressão séria enquanto observava Sarah corando com alguma brincadeira de Jay. Seus olhos azuis lípidos estavam estreitos e sua boca avermelhada pressionada em uma linha reta. Me perguntei se ele penteava o cabelo de manhã, pois ele sempre vivia em bagunça. Mas uma cabeça bonita. A pele parecia mais pálida contra a luz florescente da loja e seus ombros largos estavam tensos.

Ele pareceu sentir o meu olhar, e me encarou de volta. Jeremy deu um pequeno sorriso e eu apenas abaixei os meus olhos andando até a arara com fantasias de anjos. Olhei para o lado enquanto o casal brincava com as fantasias e o som das suas risadas enchiam a minha alma de felicidade e satisfação.

Sarah olhou para mim, seus olhos verdes quase tão brilhantes quanto seus cabelos cor de fogo. E Jason a olhava como se fosse a coisa que mais importava no mundo. Me perguntei por um momento, como humanos tão jovens poderiam encontrar um amor tão forte e duradouro, que outras pessoas demoravam séculos para descobrir.

“Eles são bem bonitos juntos”

Saltei no lugar com a voz de Jeremy tão perto de mim. Me virei e o vi parado ao meu lado, olhando para a mesma cena que eu, mas não com a mesma alegria. Sem tirar os olhos dele, fui para o outro lado da arara, mexendo nas fantasia e fazendo caretas para o tamanho dos vestidos.

“Quer ajuda?”, ele ofereceu. Levantei os olhos para ele, confusa. Ele sorriu. “Você não parece muito satisfeita com o tamanho. Quer mais longo?”

Assenti.

“No joelho está bom, não é?”, ele perguntou procurando o tamanho das fantasias e olhando para o meu corpo. Me encolhi um pouco mais e assenti mais uma vez. Ele suspirou. “Ah, vamos lá, Aliel. Não vamos voltar a estaca zero de novo, não é? Eu falo e você assenti. Converse comigo, me conte um pouco de você”, quando eu continuei em silêncio, ele disse: “Deixe que eu começo.”

Fiquei um pouco intrigada, afinal eu não sabia nada da vida de Jeremy. Eu não poderia reclamar. O que ele sabia de mim? Que eu morava com meus primos? Que eu frequentava a igreja? E que morava em um quarto perto da igreja? Bem, era o que todos sabiam. Então, era o suficiente. Mas, não pode deixar de prestar atenção quando ele começou a contar da sua vida.

“Meu nome é Jeremy Read, tenho 18 anos.”, ele sorriu quando eu mantive os meus olhos nele e prestei atenção em cada palavra dele. “Moro no centro de Nova Jersey, a alguns quilômetros da escola. Sou do time de futebol. E tinha um romance com Melissa, mas já terminou. Gosto de curtir a vida com os meus amigos. E meu melhor amigo é Jason Hastein. Moro com os meus pais, que são médicos e vivem viajando, mesmo minha mãe estando grávida de 5 meses. Por isso dou muitas festas quando eles estão fora. ”

“Por que não gosta de Sarah?”, eu perguntei subitamente.

Jeremy pareceu ter sido pego de surpresa com a minha interrupção. Eu mesma fiquei surpresa comigo por tê-lo interrompido. Por um momento, ele voltou o olhar o tamanho dos vestidos, até que puxou um e o analisou, olhando de mim para o vestido e de volta para mim.

“Acho que esse é o tamanho certo”, ele me deu o vestido e eu concordei. “Vamos procurar as asas.”, nos movemos para uma arara do lado e voltamos a procurar. Quando eu pensei que ele não diria mais nada, ele disse: “Não é que eu não goste de Sarah, é só que...”

“Ela não pertence ao mundo de vocês”, eu terminei.

Então, me encolhi, percebendo o erro que tinha cometido.

“Você escutou”, ele disse solene e continuou olhando as asas.

“Foi sem querer”, eu disse sincera.

“Tudo bem”, ele deu de ombros. “Não vou negar o que disse. Sarah não é do nosso mundo. Ela é boa demais para isso”, ele manteve os olhos baixos e suspirou. Pela primeira vez, notei que seus ombros estavam caído, não por estar relaxado e sim pelo peso que ele carregava. “Você não sabe como o mundo pode ser cruel, Aliel. Você e Sarah não sabem o peso de carregar um nome importante. Qualquer coisa que você faz, as pessoas se espelham. Isso cansa.”

Mantive os meus lábios pressionados. Não queria dizer que eu sabia sim, como o mundo poderia ser cruel. Eu convivia tempo o suficiente nele para notar essa particularidade. Mas, ver aquele sofrimento em um garoto tão jovens, fez com que eu me sentisse desconfortável por não poder ajudá-lo. Por um lado, Jeremy tem razão. Sarah não poderia viver naquele mundo.

Me movi para o outro lado da arara, fazendo com que ele ficasse em frente a mim. Tentei manter os meus olhos nas arara, procurando o tipo certo de asa para minha fantasia. Novamente, foi Jeremy quem a achou. Nos movemos em silêncio até uma estante que tinha vários tipos de arcos.

“E você?”, ele disse rompendo o silêncio

“O que tem eu?”

“Vamos, Aliel”, Jeremy sorriu e cruzou os braços na minha frente. Eu abaixei os olhos, envergonhada e com medo de mentir. “Me conte um pouco de você. Como são seus pais?”

Dei de ombros.

“Não os vejo.”, eu disse, sentindo uma leve queimação no cérebro. A mentira não havia sido tão grande. “Eu frequento a igreja, convivo mais com Caliel e Adriel. Os conheço há bastante tempo. Acho que Sarah e Jason deveriam dar uma chance para o relacionamento deles.”

“Você está desviando do assunto”, Jeremy disse. Quando eu iria protestar, ele me cortou. “E não adianta dizer coisas que eu já sei. Me responda: Quem é você, Aliel Sky?”

A resposta queimou em minha mente e fez a minha língua coçar. Quem eu era de verdade? Nem eu mesma sabia depois de vários anos. Eu era tímida, ou comecei a ser tímida ao longo de minhas missões? Se eu fosse humana, teria essa aparência ou era vaidade minha querer esse corpo? A única resposta que eu tinha, era a única que eu não poderia dar.

Aliel Sky, era um anjo.

Algo me fez acordar dos meus pensamentos ao longe. Minha mão tocou em algo quente, que quase me fez recuar, mas era tão confortável que por alguns minutos, eu apenas me deixei envolver pelo calor. Levantei os meus olhos, vendo a ponta dos dedos de Jeremy tocando a calma da minha mão. Eu deveria ter recuado.

Mas o que eu fiz foi voltar o meu olhar para Jeremy. Seus olhos azuis pareciam procurar a minha alma e me enxergar além do que eu queria. Engoli a seco. Aquilo não era para mim. Ele não pertencia a mim. Deveria ser fascinado por outra humana. Alguém que pudesse dar um futuro, sem o risco de cair.

Eu estava ficando maluca ou o calor estava se tornando maior? Seu rosto estava se aproximando e o seus olhos, tão azuis quanto o céu, ou talvez mais, encheram a minha visão. Eu tinha que me afastar, certo? Mas, porque os meus pensamentos não faziam o meu corpo se mexer?

“Encontramos”

Eu e Jeremy demos um pulo para trás ao som da voz de Sarah. Eu a olhei, vendo-a segurando uma sacola e a balançando com alegria. Jason também tinha uma sacola e um sorriso. Rapidamente peguei o arco e fui na direção do caixa. Eu realmente não deveria ter brincado com a sorte.

*************************

Minhas asas batiam com rapidez e meus olhos trabalhavam em dobro. Eu voava acima das nuvens para não ter nenhum risco de um humano me ver. Foi fácil demais encontrá-la. As nuvens se tornavam mais pesadas e acinzentadas, indicando o seu lamento e o começo de suas lágrimas. Desci a alguns metros dali e continuei o meu caminho andando.

O clima de luto enchia o cemitério enquanto eu caminhava por ele. Pessoas choravam e lamentavam. Algumas conversavam, mesmo sem a esperança de ter uma resposta. Mas, mesmo com toda essa tristeza, nada se comparou a quando eu encontrei Caliel.

As nuvens pareciam ficar negras onde ela estava ajoelhada, prontas para soltar uma chuva que duraria meses. Ela apenas olhava para a lápide com os olhos perdidos, como se estivesse vidrada. Ela, ora ou outra suspirava. Seus cabelos estavam desalinhados em volta de seu rosto. Sua pele mais pálida que o normal, dando-lhe um aspecto doente. Suas mãos estavam sujas, como se ela tivesse tentado cavar a cova e tirar o corpo de sua Tentação.

Ela, nem ao menos, me escutou chegando. Só percebeu que eu estava lá, quando pus a mão em seu ombros e suspirei junto com ela. Caliel se levantando rapidamente, passando a mão pelo vestido branco sujo de terra. Eu apenas balancei a cabeça, indicando que ela não precisava fazer aquilo.

Olhei novamente para a lápide e de volta para Caliel. Era quase um pecado um anjo ter tanta tristeza em seu coração. Deveria ser pior pedir conselho a uma anjo naquele estado desolado. Mas, eu precisava. Sabia que se Adriel soubesse, ele iria reportar aos meus superiores e eu nunca seria uma anja da guarda. Eu precisava de ajuda de alguém que entendia. Ou que já tinha passado por aquilo. Era doloroso, mas eu precisava.

“Caliel, eu tenho um problema”


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, Caliel contará a sua história. E só porque eu adoro fazer suspense e amo meus leitores, vou postar um trecho.

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Não tinha palavras para descrever a expressão de Caliel assim que eu terminei de contar tudo o que tinha acontecido. Seus olhos azuis estavam arregalados, denunciando o pecado inicial, e suas asas estavam baixas. Ela olhou do túmulo para mim, como se não soubesse em que se concentrar. Eu ainda procurava palavras para descrever a sua reação. Aterrorizada. Enfim achei a palavra.
Caliel estava aterrorizada.
Meu peito começou a doer ao mesmo tempo que meus olhos arderam. Eu respirei fundo tentando controlar aquelas emoções humanas que me possuíam. Olhei para as asas de Caliel que permaneciam encolhidas, como se tivessem medo de me tocar. De reflexo, percebi uma das minhas penas caindo. Engoli em seco.

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Ansiosos? Eu também. Comentem, amores