Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Novo Capítulo. Amores, vejo que tenho uma boa quantidade de leitores, mas quero que vocês comentem. quero a opinião de vocês. Afinal, a história está no começo e pode ter algumas alterações se desejarem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421242/chapter/3

Quando viu que meus pés estavam firmes no chão, ele me soltou e pôs as mãos nos bolsos da calça, em uma pose despreocupada. Ele era tão lindo de perto. Não que eu o tenha visto de longe. Todos os nosso encontros começavam com o meu desastroso equilíbrio. Como é que eu conseguia voar sem bater em nenhum prédio?

Meu coração se acelerou tão de repente que me assustou. Eu arfei, sentindo um nó em minha garganta. Ele deu um meio sorriso, passando o peso do corpo para o outro pé. Ele era quase dez centímetros mais alto que eu, o que me deixou impressionada. Os cabelos negros bagunçados, exatamente como ontem. A pele tão pálida que me perguntei se ele estava doente ou algo do tipo. Os ombros largos, parcialmente escondido por seu jaqueta do time de futebol.

O rosto quadrado perfeito, os lábios levemente cheios, o nariz reto. Ele parecia uma obra de arte. Um quadro vivo, parado bem a minha frente. Passei as mãos subitamente soadas por minha calça jeans e engoli a seco quando ele soltou um riso e eu pude ver seu percing na língua. Tremi, mas não por medo dele. Medo de mim mesma e esse enorme frio no estômago. Pode ser um humano tão perfeito assim. Até a sua voz parecia uma melodia. Lenta, rouca, harmônica. Eu poderia fechar os olhos e ficar escutando ela para sempre.

“Alice, certo?”, ele arriscou estreitando os olhos levemente.

“Aliel”, o corrigi, impressionada comigo mesma por ainda conseguir falar. Certo que minha voz saiu um pouco esganiçada, mas pelo menos saiu.

“Aliel”, ele repetiu lentamente fazendo meu corpo se arrepiar. Ele deu um passo a frente, como se não estivéssemos perto o suficiente. “Sou Jeremy Read.”

Então esse anjo tinha nome? Isso fez algo no fundo de minha mente coçar. Eu já havia escutado aquele nome antes, mas eu não lembrava da onde. Estava impressionada que tinha lembrado do meu próprio nome. Aqueles olhos azuis eram como safiras. Brilhantes e que faziam uma pessoa querê-la mais que tudo apenas para si. Eu queria para mim.

Balancei a cabeça, tentando despertar desse encanto e estiquei minha mão com a intenção de manter uma distância segura de nós dois. Ele deve ter interpretado de outra maneira, pôs ao ver minha mão, ele a segurou e deu um leve aperto. Eu segurei outro arfar. Ele era tão quente e sua mão, tão grande, era macia e quase delicada na minha. Rápido demais, ele a soltou e deu outro meio sorriso.

“Parece que todos os nossos encontros são assim.”, ele zombou. “Você caindo em cima de mim.”

Eu desviei os olhos um pouco envergonhada e ri, nervosa. Ele tinha razão. Eu estava sempre caindo em cima dele. Me surpreendendo, ele pôs um dedo em meu queixo, me fazendo levantar os olhos para ele. Seu rosto sério e seus olhos semicerrados, como se tentassem me desvendar. Não consegui me soltar de seu toque. Tentava acalmar meu coração acelerado.

“Não se preocupe, eu gosto.”, Jeremy garantiu e me soltou. Voltei a respirar. “Te vejo por ai, Aliel.”, ele se virou e começou a se afastar.

Acompanhei seus passos até que ele virou o corredor. Pus a mão em meu peito desacostumada com esse descontrole de emoções. Desacostumada a ter essas emoções. Estava tão presa aquele momento que me esqueci totalmente de Sarah. Ela parou a minha frente, balançando a mão na minha frente e sorrindo. Tive que piscar alguma vezes para focá-la na minha visão. Quando o fiz, tentei parecer o mais despreocupada possível.

“Ele é lindo, não é?”, Sarah disse colocando um dos braços ao redor do meu e me puxando para o refeitório. Tive que limpar minha garganta algumas vezes para conseguir responder.

“Quem é ele?”

“Jeremy Read.”, Sarah rolou os olhos verdes como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. “O segundo garoto mais popular da escola e melhor amigo de Jason Hastein, que, por sua vez, é o garoto mais popular da escola.”

Isso me fez frear subitamente. Sarah riu do meu rosto assustado, mas pelas razões erradas. Ela deve ter pensando que eu estava daquele jeito por um garoto popular falar comigo. Era mais do que isso. Eu estava daquele jeito por ter sido mexida pelo melhor amigo da minha missão. Sarah balançou a cabeça e continuou me levando até a fila da comida enquanto continuava falando sobre Jeremy.

“Ele é meio metido, ás vezes, mas boa pessoa.”, ela elogiou. Não vi o motivo. Pelo que lembrava, ele nem tinha trocado uma palavra com ela. “Ele tem um rolo com a Melissa.”, ela apontou com a cabeça para a garota atrás de nós na fila.

Arregalei meus olhos em reconhecimento. Era uma das garotas que estava com Jason ontem. Uma das amigas de Laisa. A de descendência chinesa. Observei os cabelos escuros e lisos que tampavam o seu rosto redondo perfeito. Os pequenos olhos amendoados e a boca cheia. A pele clara e lisa como a de um bebê. Por mais que eu a achasse bonita, não conseguia imaginá-la com Jeremy.

“Não que eles estejam namorando.”, Sarah acrescentou em um sussurrou nervoso e rápido. Voltei a encará-la com uma sobrancelha levantada. “Eles só ficam para se divertir.”, ela deu ênfase a última palavra, então um estalo de entendimento soou dentro de mim.

“Eles tem um envolvimento carnal”, concluí.

“Um jeito meio engraçado de colocar as coisas, mas sim.”, Sarah pegou sua bandeja e andamos até uma mesa no canto do grande refeitório.

Tinha que admitir que era um lugar bem inteligente. Dali, nós podíamos observar a todos, mas quase ninguém conseguia nos ver. Me perguntei se Sarah se sentava ali todos os dias. Deveria ser pela comodidade que ela tinha com o lugar. Olhei em volta, vendo os inúmeros grupos de jovens. Cada um sentado com seu próprio grupo. Os estudiosos eram os que se sentavam mais perto. Depois de alguns minutos de observação, percebi outra coisa sobre a localização da mesa.

Era em frente a mesa em que Jason sentava.

Sarah estava de costas, mas , quando pensava que eu estava distraída com a comida, se virava e ficava olhando por um tempo. Levantei meus olhos, pegando o olhar de Jeremy enquanto ele passava os braços ao redor dos ombros de Melissa. Ela riu e deu um beijo na bochecha dele. Ele estreitou os olhos para mim, como se tivesse me pego vendo algo pessoal. Desviei os olhos para a enorme janela ao meu lado.

“Você sempre se senta aqui, Sarah?”, eu perguntei tentando puxar assunto.

A ruiva levantou os olhos para mim, com o rosto um pouco corado como se tivesse sido pega fazendo algo errado. Bem, então éramos duas. Que Deus me perdoasse. Por cima dos ombros de Sarah, vi Jeremy falando algo com Jason e apontando na minha direção. Jason também olhou e sorriu para mim. Eu sorri de volta e o vi se levantando. Laisa fez uma careta, junto com Melissa e a outra garota que eu não sabia o nome.

“É.”, Sarah respondeu. Voltei a olhá-la. Ela mexia na comida parecendo incomodada com a pergunta. “Não é como se alguém fosse chegar na minha mesa e me convidar para sentar junto.”

“Nunca se sabe.”

Nós duas encaramos Jason um pouco assustadas. Ele tinha aquele sorriso familiar no rosto. Sarah abaixou os olhos, com o rosto vermelho, mas não conseguiu ficar sem olhar Jason por muito tempo e voltou a encará-lo. Ele passou a mão pelo cabelo claros e a olhou de cima a baixo. Não pude deixar de sorrir.

Parecia que o sentimento realmente era mútuo. Não que Deus tivesse errado. Ele nunca errava. Era que algumas vezes, o sentimento florescia mais tarde. E até o garoto perceber que era apaixonado, demorava. Aquele não era o caso de Jason e Sarah. Eu conseguia enxergar o sentimento entre os dois de olhos fechados. Ele puxou uma cadeira ao nosso lado e apontou para a minha comida.

“Não vai comer?”, ele perguntou.

Olhei para meu prato quase intocável.

“Não, estou sem fome.”, dei de ombros.

“Se você diz.”, ele encarou Sarah e seu sorriso aumentou. “Hey.”

“Hey”, ela respondeu.

“Então, vocês querem se sentar com a gente na mesa?”, Jason convidou.

Sarah abriu a boca, pronta para negar. Eu sabia que mesmo que ela fosse apaixonada por Jason aquele era um passo muito grande para ela. Mas, eu fui mais rápida. Me levantei, pegando a mão de Sarah e a puxando para cima.

“É claro que queremos.”, respondi.

*******

“Você faz dieta, Aliel?”

A pergunta veio da garota negra que andava com Laisa. Jéssica, o nome dela. Laisa prendeu o riso, enquanto eu sorria educadamente. Olhei para o meu prato ainda intocado e suspirei. Meu estômago angelical não aguentava comer tantas porcarias humanas de uma vez. Eu só conseguiria comer de novo daqui a um dia ou dois.

“Não, eu como muito de manhã e ficou sem fome essa hora.”, respondi, dando outro sorriso. “Além disso, não gosto de dietas. Se Deus me fez desse jeito e meu corpo mudar, é porque ele quis assim.”

Todos que estavam na mesa me encararam como se eu fosse maluca. Melissa foi a primeira a assentir, concordando e voltando a comer seu prato de salada. Laisa estreitou os olhos mel para mim, como se desconfiasse de algo. Pelo canto do olho, Vi Sarah se remexendo um pouco incomodada. Ela estava entre mim e Jason. Pensei que isso a deixaria mais segura.

Eu que deveria estar incomodada. Tinha me sentado em frente a Jeremy e Melissa. Ele mantinha os olhos azuis fixos em mim, estudando cada pequeno movimento meu. Jéssica estava ao lado de Laisa, com seu namorado Michael. Esse último, comendo como se não houvesse amanhã. Meu estômago sensível deu algumas voltas e eu engoli a seco.

“Você tem um corpo ótimo, querida.”, Laisa disse. Senti um tom de ironia no elogio e vi Jeremy revirando os olhos enquanto Jason passava a mão pelos cabelos, frustrado. “Pena que algumas pessoas nessa mesa não tem a mesma sorte.”, seus olhos permaneceram fixos em Sarah.

A mesa ficou em um completo silêncio. Senti Sarah tremendo ao meu lado e fechei os meus olhos, rezando para que ela não chorasse. Alguém rosnou e Laisa bufou. Quando abri os olhos, vi Sarah com os olhos baixos e as mãos em volta da cintura. O rosto completamente vermelho. Um instinto de defesa se instalou em mim e eu fui em defesa da minha protegida.

“Você não tem o poder de julgar ninguém, Laisa.”, eu ralhei em sua direção. Jéssica e Melissa arregalaram os olhos na minha direção. “Todos nós somos perfeitos a nossa maneira. Senão aceita isso, é porque tem insegurança com seu corpo.”

“Quem você acha que é?”, Laisa quase berrou batendo as mãos na mesa e se levantando. Engolindo em seco, também me levantei, seguida por Jason e Jeremy. Melissa encarou seu “peguete” com olhos de cachorrinho e ele levantou a mão em pedido de silêncio. “Com esse papo de auto ajuda evangélica e tal. Você acabou de chegar. Essa escola é minha e ponto final.”

“Você comprou-a?”, perguntei confusa.

Isso não estava nas informações que tinha recebido. Ela deve ter interpretado de maneira diferente, pôs seu rosto ficou em um tom vermelho quase competitivo com o de Sarah. Laisa abriu a boca algumas vezes, então apontou o dedo para mim. Um insulto pronto para sair. Jason se mexeu, se pondo entre nós. Eu estava bem ciente da atenção de todos do refeitório em nós.

“Chega, Laisa.”, Jason disse frustrado.

“Mas, Jay...”, ela fez um biquinho.

“Nada de Jay.”, ele retruquiu. Parecia realmente irritado. “Pare de insultar as pessoas, pelo menos uma vez de sua vida.”, balançou a cabeça. “Está me dando vergonha. Elas são minhas convidadas.”

“Tudo bem. Fique com as fracassadas.”, Laisa virou as coisas e estalou os dedos. Melissa e Jéssica ficaram de pé no mesmo segundo. “Vamos, meninas.”

Elas se afastaram como se marchassem. Melissa deu uma última olhada para trás e piscou para Jeremy. Ele acenou, com um sorriso forçado. Quando ela voltou a andar olhando para frente, Jeremy revirou os olhos e bufou. Então me encarou, confuso.

“Você é evangélica?”, ele perguntou sem hesitar.

“Jeremy!”, Jason disse e coçou a testa, me olhando pelo canto. “Nada contra a religião, Aliel. É o que o Jeremy não sabe perguntar as coisas educadamente.”, deu um olhar mortal para o amigo que deu de ombros.

“Tudo bem.”, eu ri. “Não, eu não sou evangélica.”, eu respondi olhando para Jeremy. “Não tenho religião exata.”, dei de ombros. Gostava de fazer aquilo. Era tão blasé.

“Ainda bem.”, Jeremy deixou escapar. Jason deu outro olhar mortal para ele. “Calma, cara.”, ele pôs um braço ao redor dos ombros de Jay. “Assim nós vamos poder chamá-las para a festa a fantasia, sem problemas.”, ele olhou para mim, então para Sarah, franzindo o cenho. “Você está bem, ruivinha?”

Estava tão distraída com toda essa discussão que tinha me esquecido de Sarah. Me virei para ela, pegando suas mãos geladas e vi seu rosto pálido. Comecei a ficar um pouco desesperada. Será que eu a tinha matado? Oh, meu criador. Jason sentou do outro lado dela e deu um tapinha na mão dela. Ela focou os olhos dele e piscou algumas vezes.

“Me desculpe.”, ela disse, mas soltou sua mão da de Jason. “Acho que minha pressão caiu.”

“O importante é que você está bem.”, Jason sorriu e a ajudou a levantar. “Acho que isso foi uma reação ao convite a festa, hem, Jeremy.”, ele bateu com o ombro em Jeremy, que bufou.

“Fraca.”, ele disse, mas sorriu entrando na brincadeira. “Tudo bem que terá um ou dois barris de bebida...”

“Um ou dois casais simulando sexo...”, Jason continuou.

“Um ou dois casais fazendo sexo...”, Jeremy riu. “Mas isso faz parte da festa.”, ele deu de ombros e cruzou os braços, parando na minha frente. “Você vai? Ou é santa demais para essas coisas?”

Ele deu um passo a frente na minha direção. Os olhos azuis queimavam, como se pudessem ver a minha alma. Eu recuei, quase tropeçando na cadeira e soltou um grito baixo e assustado. Jeremy riu e Jason deu um soco no ombro dele. Estava tão presa aquele momento que quase não notei o sinal da próxima aula tocando.

Fiquei um pouco receosa em deixar Sarah sozinha, depois desse surto de Laisa. Mas quando ela levantou a cabeça e agradeceu, eu vi que essa ruivinha escondia mais coragem do que gostava de mostrar. Jason observou ela caminhando para longe e suspirou. Jeremy levantou uma sobrancelha para o amigo, então voltou a me encarar.

“Então, você vai?”, ele questionou.

“Não sei.”, hesitei olhando para as minhas mãos.

“Responda até amanhã.”, Jason disse calmo e colocou a última batata frita na boca. “Vamos para a aula antes que cheguemos atrasados.”

Ele saiu andando na frente, deixando eu e Jeremy para trás. Olhei em volta, percebendo que só tinha eu e ele. Os seus amigos pareciam ter evaporado. Ele olhou em volta e deu um meio sorriso, antes de passar a língua pelos lábios, deixando o percing bem aparente.

“Vamos?”, ele perguntou esticando a mão para mim.

Fiquei tentada a pegá-la, mas me segurei. Então me virei e saí andando atrás de Jason, sentindo o olhar de Jeremy queimando em minhas costas. Poderia ser loucura minha, mas mesmo de longe eu consegui escutar o seu riso rouco. E isso me fez tremer.

******

“Pensei que nunca iria chegar.”

Eu sorri para Sarah e nós abraçamos nossas mochilas, andando em direção a sua casa. Ela começou a me contar sobre nunca ter sido convidada para uma festa. Ainda mais uma festa dos populares. Eu não sabia se ficava feliz ou com pena dela. Então apenas sorri e assenti.

Ao chegar na casa de Sarah fomos recebidas por sua mãe. Simone Burke era uma pessoa de coração bom, tanto quanto a filha. Cabelos ruivos e grandes olhos castanhos de cachorrinho. Rosto em forma de coração , mãos pequenas. E um sorriso bem simpático.

“Oh, querida, porque não me avisou que tinha trazido companhia?”, ela perguntou. Sarah apenas sorriu e sua mãe me abraçou. “Uma bela amiga. Como se chama?”

“Aliel Sky.”, eu disse um pouco sem graça.

“Ela é aluna nova, mãe.”, Sarah entrelaçou seu braço no meu e sorriu para mim. “E uma ótima amiga.”

Os olhos de Simone brilharam.

“Estou tão feliz, querida...”

Suas palavras foram interrompidas, quando ela escutou o som alto de heavy metal soando do lado de fora da casa. Em seguida o som de passos descendo as escadas. Todos olhamos, vendo um garoto vestido totalmente de preto descendo as escadas. Um casaco pesado de couro, correntes saindo de sua calça. Ele levantou os olhos castanhos e passou a mão pelos cabelos tingidos de preto. Aquele só poderia ser Simon.

Ele passou e nem deu um segundo olhar para nós. Na verdade, ele nem me deu um primeiro olhar. Sarah, ficou com o rosto triste e rapidamente foi atrás do irmão, impedindo que ele ultrapassasse a porta. Quando a ruiva segurou o braço do irmão, ele lhe deu um olhar mortal.

“Vai sair hoje, Simon?”, ela perguntou docemente.

Ele levantou os olhos para ela e suspirou.

“Pelo menos fale com a visita, Simon.”, Simone disse raivosa.

Simon passou o olho pela sala, procurando a tal visita, até que seus olhos pousaram em mim. Eles se dilataram e focaram em mim, e ele começou a andar na minha direção sem que percebesse. Eu apenas sorri, acostumada com esse encanto. Simon parou a minha frente e , parecendo surpreender sua mãe e Sarah, pegou minha mão e a beijou.

Ele levantou seus olhos castanhos para mim e sorriu.

“Por que não me avisaram que tínhamos visita?”, ele perguntou sem tirar os olhos de mim.

“Como se você ligasse.”, Simone sussurrou.

Simon suspirou, ouvindo o comentário e abriu a boca, pronto para retrucar. Sorte que ele tinha os olhos em mim e eu balancei a cabeça. Seus olhos escuros se estreitaram e ele pareceu confuso. Dei outro sorriso e seus ombros relaxaram. Ele soltou minha mão, se virando para Simone. Sua expressão cansada.

“Me desculpe, tá mãe.”, ele disse. Simone arregalou os olhos e sua boca pendeu aberta, sem palavras. Até Sarah pareceu espantada. Eu continuei sorrindo. Simon olhou para a sua irmã. “Me desculpe também, ruivinha.”, Sarah riu do comentário. “Vou sair, devo voltar cedo.”, ele voltou a me encarar. “Desculpe por isso tudo...”

“Aliel.”, eu me apresentei.

“Aliel.”, ele riu. “Quase o nome de um anjo.”

“Verdade.”, Simone concordou colocando um braço ao redor de meus ombros. Fiquei um pouco incomodada com esse comentário, então me lembrei do hábito que os humanos tinham de nos comparar.

“Que nada,”, respondi olhando para os meus pés.

“Bem...”, Simon disse e olhou para a porta.

“Vá, Simon.”, a mãe dele disse revirando os olhos. “Mas volte cedo.”

“Eu voltarei.”, ele garantiu e deu um beijo na testa de Sarah. “Até mais, ruivinha.”, ele pôs os olhos em mim e deu um meio sorriso. “Até mais, Aliel.”

Eu assenti em sua direção e o vi saindo de casa um pouco hesitante. Quis rir, por vê-lo um pouco perturbado por suas ações. Com certeza, ele nunca havia se desculpado com alguém em sua vida. Era o orgulho humano acabando com algumas famílias. Parecia que o espírito angelical que me rondava tinha ajudado um pouco. E pelo olhar emocionado de Sarah, eu ficava feliz por isso.

******

O quarto de Sarah era totalmente ao contrário do que eu esperava. Paredes amarelas bem chamativas, um grande armário com um espelho ao lado. No vão entre a janela e o armário, tinha uma modesta cama de solteiro com os lenções desarrumados. Uma cômoda com algumas mensagens ou pedaços de músicas e na porta um grande aviso de NÃO PERTURBE.

A ruiva pareceu ficar um pouco apreensiva com a minha inspeção e foi se sentar na cama. Mantive minha expressão vazia enquanto ela jogava os materiais de lado e suspirava, sorrindo e olhando para o teto. Não precisava ser gênio para saber no que ela estava pensando. Melhor, em quem ela estava pensando.

“O que você acha de Jason Hastein?”, ela perguntou de repente, ainda olhando para o teto.

Sorri, tentando esconder meu contentamento por ela finalmente estar falando de Jason para mim. Me sentei no chão, com as costas na parede e esperei que ela me olhasse para poder dar de ombros. Conheci muitas humanas que perguntavam a opinião de outras apenas para sabe se tinha competição.

“Ele parece ser bem simpático.”, eu disse, colocando os livros ao meu lado. Reparei o pequeno sorriso de Sarah, me sinalizando que eu tinha dito a coisa certa. “Mas, por que?”

“Hum, nada.”, ela voltou a olhar para o teto, mas não sem que eu pudesse ver suas bochechas coradas antes. “Ás vezes, eu acho que ele é legal demais para estar com Laisa. Mas, cada um tem quem merece. Certo?”

Ela pôs um cotovelo na cama, levantando seu corpo o suficiente para me encarar. Pensei em suas palavras. Sarah não poderia estar mais certa. Cada um tinha quem merecia. Deus sabia que ela e Jason se mereciam, mas, a quem Laisa deveria merecer? Jeremy talvez. Alguma coisa espetou-me por dentro, só de imaginá-los juntos. Ignorei essa dor e sorri para Sarah.

“É o que você acha?”, eu perguntei, incentivando-a a falar mais.

“Eu meio que tenho certeza.”, ela voltou a deitar de barriga para cima e pôs os braços atrás da cabeça. “Sabe, eu conheço Jason desde a terceira série. Ele sempre foi assim. Bonito, simpático, encantador. Muito diferente dos amigos idiotas dele.”, levantei uma sobrancelha com esse comentário. Sarah, que não viu, continuou contando. “Eu sempre estive nos pequenos momentos dele. Nós éramos bastantes próximos, sabe? Arrisco dizer que fui sua melhor amiga de infância.”

“E quando tudo mudou?”

“Quando ele conheceu Laisa.”, ela bufou e disse o nome da morena com um certo pesar. “Isso foi no primeiro ano. Ela chegou, lançou seu charme e ele já era dela. Logo quando eu estava tão perto de...”, ela pausou e suspirou, triste. “Tão perto de conquistá-lo. Eu podia sentir que ele estava me vendo diferente. Que eu não era mais apenas a amiguinha. Que ele estava me vendo como uma possibilidade. Mas Laisa chegou e acabou com tudo.”

Ficamos em silêncio, mas por motivos diferentes. Sarah estava presa em suas memórias com Jason e eu estava procurando em minha mente alguma informação na pasta que contasse a história agora relatada. Não me lembrava de ter lido sobre a amizade passada deles. Se bem que, o céu deixava de colocar algumas informações, achando que são desnecessárias.

E Rafael disse que aquele era um tipo de teste para mim. Eu não sabia bem o porque. Sarah e Jason pareciam um caso normal de adolescentes apaixonados. A única coisa realmente incomum era o efeito que Jeremy tinha em mim. Ele parecia tão errado. E com isso que Sarah tinha dito, parecia que ele tinha ajudado a separá-la de Jason. Esperava que não. Ter uma namorada que me odiava já era o suficiente. Mas, um amigo que mexia com a cabeça de Jason, iria me atrasar.

“E você e Jeremy?”, Sarah perguntou me tirando dos pensamentos.

“O que tem eu e ele?”, retorqui.

Ela riu e se levantou, jogando a cabeça para o lado, fazendo com que alguns fios de cabelo caíssem em seus olhos. Novamente fiquei impressionada com a beleza de Sarah. Os cabelos pareciam fios de fogo e poderiam intimidar qualquer um, enquanto os olhos verdes claros eram dóceis e junto com o rosto pálido e corado, a faziam parecer uma boneca de porcelana.

“Eu vi o jeito que vocês se olharam nos armários e no refeitório.”, ela disse e estreitou os olhos com uma acusação. Tentei manter meu rosto em branco. “Vocês se conheceram antes?”

“Sim, na lanchonete em baixo do meu apartamento.”, eu respondi o mais imparcial possível. “Eu meio que tropecei em cima dele.”, abaixei meus olhos, envergonhada enquanto Sarah ria.

“Que belo jeito de conhecer Jeremy Read.”, ela disse em meio ao riso. “Caindo em cima dele.”, ela pôs as costas da mão na testa e simulou um desmaio. “Eu queria ser uma mosquinha para ver isso.”, ela parou percebendo meu silêncio. “Não te culpo. Depois de Jason, Jeremy é o garoto mais quente da escola inteira. Melissa que o diga.”

“São que horas?”, perguntei desviando do assunto.

“Acho que vão dar sete horas, por quê?”, ela se sentou, me encarando com uma sobrancelha levantada. “Está fugindo do assunto, não é?”, perguntou, me vendo levantar e pegar as minhas coisas.

“Claro que não”

“Então vai negar que sente alguma coisa por Jeremy Read?”, ela insistiu. Mal sabia ela o que minhas palavras poderiam fazer.

“Eu não sei.”, eu respondi bem devagar, considerando. “Ele me perturba um pouco, quando se aproxima. Me incomoda. Não sei bem o que é isso.”, ela abriu a boca para responder e eu rapidamente levantei minha mão, a interrompendo. “E nem quero saber. Se for para eu sentir algo, eu mesma quero descobrir o que é.”

“Tudo bem.”, Sarah balançou a cabeça se dando por vencida. “Quer que eu te leve até em casa? Posso pedir para minha mãe te dar uma carona.”

“Não precisa.”, a interrompi e sorri. “Irei sozinha. Tenho que ir a missa.”

“Oh!”, isso pareceu surpreendê-la. “Pensei que não fosse evangélica.”

“E não sou.”, dei de ombros. “Só gosto de ir a igreja.”

“Acho que você é a primeira adolescente que diz isso.”, ela riu, mas parecia um pouco sem graça. “Não que eu seja contra... Meu pai frequentava a igreja. Eu ia com ele, antes de toda essa confusão, claro.”

“Eu sei.”, suspirei, deixando meus ombros caírem. Estava apreensiva em deixá-la ali, mas tinha que falar com o padre. E tinha que rezar. “Nos vemos amanhã, certo?”

“Claro.”, seus olhos brilharam e ela me levou até a porta. “Até amanhã.”

*******

Assim que me afastei o bastante da casa de Sarah, abri minhas asas. A queimação em minhas costas foi rapidamente substituída pela maciez de minhas penas prateadas. Voei alto e ligeira, querendo não chegar atrasada a missa. Só me senti aliviada quando constatei que tinha chego na hora certa.

Discretamente, pousei no fundo da igreja e fechei minhas asas, correndo para pegar o começo da missa. Não me surpreendi ao ver Caliel e Adriel sentados no fundo da igreja. Os olhos fixos nos quadros pendurados nas paredes. Eu me arrastei em silêncio até onde eles estavam e esperei para que a missa começasse.

“Atrasada como sempre, Aliel.”, Adriel brincou e deu um pequeno sorriso.

“Estava trabalhando.”, eu respondi em um sussurro.

“Espero que tenha tempo, porque vamos voar mais ao redor da cidade.”, Caliel disse.

Ficamos calados ao início da missa. Assim que o padre assumiu seu lugar no altar, seus olhos escuros escorregaram até onde eu estava. Eles se arregalaram por um momento quando focaram nos dois anjos ao meu lado. Então respirou fundo e começou a celebração da missa. Caliel, eu e Adriel ficamos em silêncio, rezando.

Senti meu coração ficando mais leve com o contato com o céu. Poderia escutar os anjos cantando ao meu redor. O cheiro de bondade e o branco invejável das nuvens. Podia sentir como a falta de palavras poderia dizer tanto. Caliel e Adriel pegaram as minhas mãos e eu pude sentir a nossa ligação fluindo. Nossa ligação com o céu, nossa ligação entre os anjos. Um sorriso lentamente cresceu por meu rosto e meus olhos se fecharam.

Rezamos baixo e entre nós. Cada um em seu próprio idioma preferido. Minha mente totalmente em branco, só com saudade do céu. Minhas asas coçaram, pedindo para se abrirem. Tive que me segurar, lembrando que estava cheio de humanos. Suspirei, sentindo a paz me tocar e mexer com meu interior.

Cedo demais, o padre começou a se despedir de todos da igreja, sinalizando o final da missa. Abri meus olhos lentamente, vendo as pessoas indo embora. Uma por uma. Eu e os dois anjos nos olhamos e assentimos, pensando a mesma coisa. Esperamos todos saírem e caminhamos lentamente até o padre Joseph. Ele acompanhou nossa aproximação. Respirava rápido e mantive os olhos fixos nos meus.

“Padre, esses são Caliel e Adriel.”, eu apresentei gesticulando para cada anjo.

“Que honra conhecê-los.” ele apertou a mão de cada um deles.

“Ele é um graça.”, Caliel disse e sorriu, mas não muito.

“E puro”, Adriel acrescentou.

“Oh, por favor.”, Joseph abaixou os olhos, sem graça. “Eu só tento seguir o caminho que me foi designado. O caminho do senhor.”, ele fez o sinal da cruz. Caliel, Adriel e eu fizemos o mesmo. “Mas, estão precisando de algo?”

“Não.”, eu disse apressada. “Apenas para você saber quem tem asas e quem não tem.”, eu ri da piada ruim. “Mas, se aquiete, Padre. Já disse que quando precisarmos de algo...”

“Se precisarmos.”, Adriel acrescentou.

“Eu virei até você.”, eu terminei.

“Tudo bem.”, ele suspirou e olhou para o relógio. “Tenho que me recolher. Se precisarem, sabem onde me encontrar. Deus os abençoe.”

“Deus o abençoe, padre.”, nós respondemos e saímos da igreja.

Do lado de fora, pude olhar para o céu e ver as estrelas.

“Um belo dia para voar.”, Adriel considerou.

“Então não vamos desperdiçar .”, Caliel disse e correu para trás da igreja.

Eu e Adriel corremos atrás, rindo. Pude sentir minhas costas coçando, antes do vento tomar meu cabelo e me fazer livre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, como eu disse lá em cima deixe o seu comentário e sua opnião