Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores. Quanto tempo?

Então, sei que prometi postar as continuações e que estava sumida. Mas minha vida está uma loucura. Espero que deem uma chance a essa minha história. Beijos.



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Suspirei com o tédio, enquanto mudava de canal pela décima vez. Fazia quase um mês desde a minha última missão como cupido. Fiz uma careta. Odiava quando me chamavam de cupido, mas quando se pensava bem ,era isso o que eu era. Um anjo que juntava casais? Qual era a primeira coisa que vinha a sua mente?

Cupido.

Senti saudades do calor escaldante da Arábia Saudita, onde tinha sido a minha última missão. Juntar um dos príncipes mais cobiçados com uma de suas criadas que era apaixonado. Não foi muito legal usar aquelas roupas longas naquele calor, mas ali, sentada em frente a televisão, no meio do tédio, preferia virar um cozido vivo. Peguei a revista jogada na mesa e comecei a folheá-la. Um vento vindo de trás do meu sofá, me alertou da presença de um anjo em minha sala.

Fiquei de joelhos no sofá, me virando e encarando o rosto sem expressão de Rafael. Um dos principais arcanjos de Deus. Em suas mãos, um pasta. Um sorriso cresceu lentamente por meu rosto. Uma nova missão. Rafael estava com um manto longo tão branco quanto as nuvens do céu. Seus olhos eram tão azuis quando o próprio céu. E os cabelos loiros pareciam fios de ouro. Lisos e tocavam suavemente os ombros. Eu sempre ficava impressionada com a beleza dos arcanjos, e nunca conseguia decidir quais deles era o mais bonito.

“Oh, Rafael.”, fiz uma mesura, com a honra de receber um arcanjo tão importante em minha humilde nuvem que eu usava de casa.

Ele apenas assentiu na minha direção e me estendeu a pasta. Tropecei em meus pés e voltei a me sentar no sofá. Rafael cruzou os braços e ficou me encarando enquanto eu folheava a pasta com as informações sobre a minha nova missão.

Sarah Burke, 17 anos, ensino médio. Ao lado, tinha uma foto dela. Os cabelos vermelhos com cachos rebeldes, os olhos verdes dóceis, a pele pálida e brilhante e as sardas em suas bochechas. Além do aparelho cor de rosa nos dentes. Na pasta dizia que ela morava em Nova Jersey. Ela era a típica nerd, apaixonada pelo garoto popular da escola. Não tinha amigos na escola e vivia com a mãe e tinha dois irmãos mais velhos. Sendo que uma já era casada e o outro estava na faculdade.

O garoto se chamava Jason Hastein e estudava com Sarah desde a terceira série. Todos da escola St. Loise. 18 anos, ensino médio. Filho únicos. Os pais casados a quase vinte e cinco anos. O típico garoto perfeito. Popular, bonito, namorado da líder de torcida Laisa Fernandez. Melhor amigo de Jeremy Read. Na foto da ficha mostrava um garoto com os cabelos castanhos claros, quase loiros, grandes olhos verdes escuros e a pele morena. Um grande sorriso branco e simpático.

“Eu não acredito.”, eu disse e levantei meus olhos para Rafael, que permanecia quieto. Ele apenas levantou uma sobrancelha, mas foi o suficiente para eu ser cautelosa em minhas palavras. “Rafael, arcanjo poderoso, é uma honra vocês me escolherem para uma outra missão. Uma honra maior ainda é você me entregar essa missão, mas eu deixei bem claro que não queria mais missões de garotas deslocadas apaixonadas pelo popular da escola.”

“Sabemos disso, Aliel. E sentimos muito.”, Rafael disse sem inflexão no rosto. Sua voz era tão profunda, que era como um coro de anjos. Me arrepiei. Ele deu um passo na minha direção e pôs a mão em meu ombro. Eu engoli a seco. “Pensamos que você seria a anja certa para essa missão, foi tão boa nas outras.”

Com um pouco de esforço, ele sorriu. Era estranho vê-lo sorrindo. Era como se o sorriso não fizesse parte de sua natureza, mesmo que fôssemos seres de bom espírito. Mas, mesmo assim, ele ainda era lindo e tão majestoso. Mordi o lábio, impedindo as reclamações de continuarem.

“Vamos as informações excecionais.”, Rafael continuou com meu silêncio. “Você será uma aluna nova de St. Loise, terá o corpo de uma garota de 17 anos. Pode continuar com o seu nome e sua aparência atual, se quiser. Não terá supervisores dessa vez.”, isso fez meus olhos brilharem.

“Sem supervisão?”

Ele assentiu.

“Considere isso como um teste. Talvez se você for boa nessa missão, poderá se tornar um anjo da guarda, como tanto deseja.”, ele ofereceu. Levantou um dedo, em sinal de aviso. “Esteja com as malas prontas antes dos últimos raios solares tocarem sua nuvem.”, me segurei para não fazer uma careta. Era tão difícil dizer por do sol? “Outra mudança é que você não ficará em nenhuma igreja ou convento.”

“Onde ficarei?”, perguntei temorosa. Estavam me deixando expostas.

“Em um apartamento ao lado da igreja local.”

Suspirei aliviada. Nós, anjos, só conseguíamos nos comunicar dentro de solo sagrado e se eu ficasse muito longe da igreja, demoraria mais para poder falar com os anjos caso tivesse algum problema. Rafael esperou minha resposta, para ver se eu aceitava ou não a missão.

Eu sorri, um ato que havia se tornado comum para mim, depois de tanto tempo convivendo com os humanos. O rosto de Rafael ficou um pouco sereno. Ele não gostava dos hábitos humanos, ainda mais quando efetuados pelos anjos. Mas ele apenas assentiu e saiu. Voltei a me jogar no sofá e folhear a pasta com as informações dos dois jovens apaixonados. Em minha mente, tentava decidir de quem seria mais fácil me aproximar.

******

Exatamente as sete da noite, eu estava entrando no quarto do apartamento de segunda mão que eu ficaria por toda a minha missão. Joguei minha mala no chão ao lado da cama e abri a janela, dando de cara com as inúmeras placas de neon anunciando a variedade de produtos. Não poderia me mexer muito no quarto.

Quando tentei dar um passo para trás, tropecei na cama de solteiro. Só não caí, pois me segurei no criado mudo. Em frente a cama, tinha uma porta que dava para o banheiro. Minha sorte que eu não precisava comer ou dormir. Caso contrário morreria com aquela situação tão precária. No canto do quarto, perto da janela, tinha uma poltrona bege, com o estofado rasgado e com algumas manchas amareladas, que nem tentei descobrir o que era.

Andei até o banheiro, parando em frente ao espelho para poder decidir a minha aparência. Rafael tinha dito que eu poderia manter meu rosto atual, o que me deixou um pouco aliviada. Nunca fui boa em aparência e muito menos em mudá-la. Usava o mesmo tipo físico e o mesmo rosto a mais de duzentos anos. Já havia me acostumado com ele. O considerava meu.

Geralmente quando se pensavam em anjos, imaginavam pessoas loiras com olhos claros e chamativos, pele clara brilhante. Eu quebrava esse esteriótipo. Minha pele era mulata, os olhos tão escuros quanto o céu ao anoitecer. Os cabelos eram longos e cacheados desde a raiz. O nariz tinha a ponta arredondada. Meu corpo era magro, como qualquer garota de 17 anos. Longas e delgadas pernas, barriga chapada e seios pequenos. Minha bunda era arrebitada, uma paixão que ganhei após uma missão no Brasil. Permanecia com meus 1,70 de altura.

Alguns anjos achavam minha aparência um tanto curiosa, mas eu conseguia me camuflar bem por entre os humanos. Só gostava de mudar poucas coisas. Ás vezes o formato do rosto, para poder parecer mais nova ou mais velha. Ás vezes o comprimento das unhas, dependendo da função que eu assumiria. E o tamanho do cabelo dependendo do lugar onde estaria e da moda dos habitantes.

Meu rosto era típico de uma adolescente de 17 anos, com as maçãs do rosto altas, sorriso impecável e branco, longo círios e sobrancelhas quase perfeitas. Fiz minhas unhas ficarem longas, mas não muito para que não me atrapalhassem. E meu cabelo estava quase tocando a cintura. Esse último era uma coisa que eu raramente gostava de trocar. Adorava meu cabelo. Eles tinham uma cor naturalmente escuros, contrariando outro esteriótipo dos anjos.

“Bela aparência, Aliel”

Me virei assustada com a voz de Adriel. Quando voltei ao quarto, o encontrei sentado na poltrona, relaxado em sua camisa de mangas longas e folgada e sua calça de boca larga. Tudo branco. Os olhos verdes divertidos com a minha expressão confusa. Os cabelos loiros curtos arrepiados e um sorriso encantador compunham a sua beleza angelical. Adriel estava com a atual aparência de um homem de vinte anos.

“O que faz aqui, Adriel?”, perguntei.

Mesmo Adriel tendo quase a mesma idade que eu, ainda ficava encantada com a sua beleza. Nós viramos meio que amigos depois de trabalhar em uma missão juntos. Ele foi meu supervisor. Ele se ajeitou no sofá e seu sorriso cresceu. Diferente de Rafael, Adriel gostava de sorrir. Achava que esse era o melhor hábito humano.

“Vim apenas ver como estava minha amiga.”, ele piscou seus olhos inocentemente. “Não posso fazer isso mais?”

“Eles disseram que eu não teria supervisor.”, eu disse ignorando seu comentário anterior.

“Querida Aliel, não sou seu supervisor.”, ele esclareceu e eu respirei com mais calma. “Mas, Nova Jersey é uma cidade que me fascina. Então, eu resolvi juntar o útil ao agradável.”

“Você não ficará aqui comigo.”

“Um pouco grosseira para um anjo, não é, cara Aliel?”, ele perguntou divertido. Andei até a cama e me sentei, decepcionada. Pensei que trabalharia sozinha. “Não se preocupe. Não me meterei em seu trabalho. Apenas estaremos por perto, caso precise.”

Essa última frase me alertou.

“Estaremos?”, perguntei notando o uso do plural.

Antes que ele tivesse a chance de responder, Caliel entrou no quarto arrastando uma enorme mala de roupas. Os cabelos loiros pálidos dela tocavam o ombro em um corte reto e bem jovial. Ela levantou os olhos azuis e sorriu. Bem , parecia que apenas Rafael não gostava desse hábito humano. Me levantei de súbito a ajudando com a mala e a colocando em cima da cama. Caliel suspirou aliviada e pôs a mão no peito, encenando que seu coração estava acelerado.

“O que é isso?”, perguntei apontando para a mala.

“Suas roupas, bobinha.”, Caliel respondeu passando a mão pelo vestido branco de alças finas. Elas estava aparentando uma garota de 18 anos, recém feitos. Pôs as mãos na cintura e suspirou com o ar de missão cumprida. “Então, para onde vamos sair hoje?”

“Não iremos sair, Caliel.”, Adriel disse e me deu um olhar sarcástico. “Aliel está de mal humor.”

“Por que?”, ela me encarou com os grandes olhos de cachorrinho.

“Vocês estão aqui para me supervisionar.”, eu sussurrei, me sentando lentamente na cama. Antes que eu pudesse acrescentar mais alguma coisa, Caliel e Adriel começaram a rir.

Me encolhi mais ainda e vi os pés elegantes e calçados por um salto baixo branco de Caliel se aproximando. Ela se sentou com dificuldade ao meu lado e pôs a mão em meus ombros. Dentre nós três, eu era a mais nova, então eles me consideravam como uma irmãzinha. Encarei Caliel que tinha um sorriso fofo nos lábios. Adriel se remexeu na poltrona e cruzou os braços, sério.

“Não estamos aqui para te supervisionar.”, Caliel resolveu esclarecer. Adriel levantou uma sobrancelha, como se dissesse Eu Te Avisei. Mas eu apenas ignorei. “Estamos aqui para te ajudar, se você quiser.”

“E aproveitar a cidade.”, Adriel acrescentou.

“E aproveitar a cidade.”, Caliel repetiu, concordando.

Vendo que eu ainda não estava convencida, Caliel se levantou, seguida por Adriel e caminhou até a porta.

“Onde vocês vão?”, perguntei também me levantando.

“Comer alguma coisa.”, Adriel deu de ombros. “Se quiser vir...”

“Não.”, balancei a cabeça e apontei para as pastas jogadas na cama. “Tenho que estudar mais sobre minha próxima missão.”

“Qualquer coisa, estaremos nessa lanchonete aqui do lado que vendo um ótimo milk shake.”, Adriel disse e saiu. Caliel acenou alegre para mim e foi atrás dele.

Assim que a porta se fechou, me joguei na cama e comecei a reler as informações sobre cada um dos adolescentes que trabalharia. Então decidi. Iria me aproximar primeiro de Sarah, já que ela não tinha amigos. Depois ia me aproximando aos poucos de Jason. Rezei para que não tivesse que usar um dos uniformes de líder de torcida. A última vez ainda me traumatizava. Meus olhos escorregaram até a porta e eu mordi o lábio.

Bufei, jogando a pasta para o lado e me levantando. Adriel sabia que eu não conseguia resistir a um milk shake. Mesmo não precisando, eu gostava de comer. Era outro hábito humano que eu tinha gosto de fazer. Antes de passar pela porta e descer as escadas, rumo a rua, mudei de roupa. Antes, estava com uma blusa de alças finas branca e uma calça de boca larga e de cintura regulável, também branca. Troquei por uma blusa azul clara e calça jeans escuras. Calcei um par de All Star antigos preto e branco que tinha guardado de uma missão em Oregon.

Encontrei Adriel e Caliel em uma mesa no fundo da lanchonete. Eles também haviam mudado de roupa. Caliel estava com um vestido florido com o fundo cor de rosa e Adriel uma camisa de manga curta verdes escuros e calça jeans clara. Ele foi quem me viu primeiro e acenou. Caminhei até lá e me sentei. A garçonete chegou e anotou nossos pedidos de milk shake.

“Eu sabia que você não iria resistir.”, Adriel disse sorrindo.

“É pecado fazer um anjo cair em tentação.”, eu brinquei. Ele riu.

“Por essa maravilha humana, eu corro o risco.”

A garçonete voltou e pôs nossos pedidos na mesa. Antes de sair, ela encarou Adriel com um pouco de luxúria no olhar. Adriel sorriu, revelando os dentes perfeitos e brancos. Chutei-o por baixo da mesa. Tinha a impressão que se ele sorrisse por mais tempo, a mulher iria desmaiar. Se eu, que já estava acostumada, ficava deslumbrada com a beleza dos anjos, os humanos eram automaticamente atraídos. A garçonete saiu com as pernas bambas e sumiu atrás do balcão enquanto eu dava uma bronca em Adriel.

“Está doido, Adriel?”, eu sussurrei rapidamente. Ele me olhou inocentemente. “Tentar humanos? Imagina se Rafael souber disso.”

Os olhos de Adriel escureceram com a menção do arcanjo.

“Não fiz nada demais.”, ele disse sério. “Apenas fui educado e sorri.”

Bufei.

“Nada de brigas hoje.”, Caliel disse apaziguadora. Eu e Adriel cruzamos os braços, malcriados. A anja loira revirou os olhos, então se inclinou na minha direção, abaixando o tom de voz. “Então, me conta.”, seus olhos azuis pálidos brilharam. “Qual a sua missão?”

Estava pronta para contar sobre a deslocada e o popular e como eu estava frustrada com isso, quando a porta da lanchonete se abriu e um grupo de adolescente passou por ela. Eram cinco garotos altos e com jaquetas vermelhas e pretas, ao lado de três garotas com tops vermelhos apertados e saias curtas.

Algo naquele grupo me chamou atenção. Um tipo de bom pressentimento se instalou dentro de mim, me fazendo observar o grupo com mais atenção enquanto eles iam ao balcão fazer seus pedidos, até que meus olhos pararam em um garoto de cabelos castanhos claros e olhos verdes escuros.

“Não acredito.”, eu arfei, em seguida me encolhi , tentando esconder meu rosto atrás do cardápio. Levantei meus olhos levemente, até que eu tive certeza. Aquele era Jason Hastein. Parece que Deus estava facilitando essa missão para mim.

“O que houve?”, Caliel perguntou enquanto Adriel procurava o motivo da minha súbita mudança de humor.

“O garoto. Cabelos claros, olhos verdes, pele morena.”, a encarei. “É a minha missão.”

Isso fez Adriel parar de encarar a lanchonete inteira e me olhar.

“Então é a sua chance de falar com ele”, o anjo disse.

“Você bateu com a cabeça durante um voou?”, perguntei. Ele me olhou confuso. Revirei os olhos. “Eu não posso simplesmente chegar nele e dizer 'Hey, sou a garota nova da sua escola. Como está?'.”, pelo olhar que Adriel me deu, foi exatamente o que ele esperou que eu fizesse. “A quanto tempo você não faz uma missão com adolescente?”

“Muito tempo.”

“Explicado”, assenti comigo mesma.

Estava tão distraída tentando tirar aquela ideia maluca da cabeça de Adriel, que nem percebi quando Caliel se levantou e caminhou calmamente até o grupo da escola St. Loise. Quando dei por sua falta, ela já estava conversando animada com Jason. Eles dois riram, então olharam para mim e Caliel fez um sinal, me chamando.

“Meu Santo Criador.”, eu murmurei. Adriel riu ao meu lado.

“Parece que Caliel foi mais rápida que você.”

Ela continuou fazendo sinais para que eu me aproximasse, até que eu suspirei, desistindo e andei até onde eles estavam de cabeça baixa. Um outro motivo por eu sempre preferir a pele mulata, era por eu ser muito envergonhada. Uma vez, quando tive a pele de boneca, corava constantemente e isso me atrapalhou demais. Adriel sempre dizia que dava para ver que eu estava encabulada pelos meus olhos.

Parei a poucos passos deles e Caliel pôs os braços ao redor de meus ombros, sempre sorrindo. Jason também sorriu para mim. Nota mental: Simpático. Isso eles não tinham posto em sua ficha. Agradeci a Deus. Estava cansada de metido patetas. Ele estendeu a mão na minha direção e eu a apertei.

“Jason Hastein.”, ele se apresentou. “Sua prima, Caliel, disse que você se matriculou na St. Loise. E é a minha escola.”

“Oh, sim.”, eu lancei um olhar mortal na direção de Caliel e ela apenas me ignorou. “Sou Aliel Sky.”

Adotei esse sobrenome a quase trezentos anos. Alguns anjos gostavam de tirar sarro de mim, mas eu não ligava. Quando escolhi Sky, pensei em algo que poderia usar em qualquer época e que tivesse realmente a ver comigo. Caliel, sem perceber, tinha mudado meus planos. Minha ideia inicial era de ser amiga de Sarah, depois me aproximar de Jason.

“Então, vieram de onde?”, ele perguntou, cruzando os braços.

“De longe.”, eu dei de ombros. Não gostava de mentir. Uma qualidade de anjo. Parecia que todas as vezes que mentia, algo feria uma parte do meu corpo e arranhava o meu cérebro. Caliel apenas assentiu, concordando.

Jason parecia realmente interessado em saber mais sobre nós. Eu só não sabia se era por nossa beleza angelical ou se ele só estava curioso. Antes que eu pudesse saber seu real motivo, uma garota entrou na frente dele, se pondo entre nós dois. Ela estreitou os olhos mel para mim e passou as longas unhas pelos fios dourados. Mesmo a uma distância razoável, eu podia ver que seu cabelo era tingido.

Ao lado dela, uma garota de descendência chinesa e outra garota negra colocaram as mãos na cintura. Eram as três garotas que estavam de uniforme de torcida. E pela cara de poucos amigos, eu já sabia que não tinha conquistado a confiança delas. Jason fez uma careta e me lançou um olhar de desculpas, mesmo antes de sua namorada abrir a boca.

“Quem é você?”, ela perguntou me olhando de cima a baixo como se eu fosse nada. Mesmo que seu desconforto com a minha beleza e a de Caliel fosse aparente. Suas amigas imitaram seus movimentos. Reparei que a cor da pele da negra era bem mais escura que a minha, o que me deixou fascinada.

“Sou Caliel Crista e essa é minha prima, Aliel Sky.”, a anja ao meu lado nos apresentou, sem nunca deixar o sorriso do rosto. Alguma coisa dentro de mim disse que isso não iria acabar bem.

“Bem, garotas novas, eu sou Laisa Fernandez, namorada de Jason e capitã das líderes de torcida.”, ela pôs a mãos na cintura. Levantei a sobrancelha com o fato dela nem ter si dado ao trabalho de apresentar as amigas.

Senti a presença de Adriel antes que ele parasse ao nosso lado. Seu rosto estava sério, como eu via poucas vezes. Laisa e suas amigas ficaram de boca aberta. Elas nunca tinham visto um garoto tão bonito quanto ele. Sorri mentalmente imaginando a reação delas se encontrassem Rafael. Teriam um infarto.

“Alguma coisa errada, meninas?”, ele perguntou sem tirar os olhos das três torcedoras. Eu e Caliel balançamos a cabeça, negando. Então, como um interruptor, Adriel sorriu e as garotas suspiraram. “Sou Adriel Crista, irmão de Caliel.”

Ninguém ali poderia dizer o contrário. Com a beleza indescritível, os sorrisos maravilhosos e perfeitos , e os olhos brilhantes (mesmo sendo de cores diferentes), Caliel e Adriel poderia se passar muito bem por irmãos. Enquanto eu era a prima de outro estado. As garotas continuaram maravilhadas com a beleza de Adriel enquanto Jason, empurrou-as um pouco para o lado. Seus lábios pressionados em linha reta, demostrando sua frustração.

“Me desculpe por Laisa.”, ele sussurrou para mim e sorriu. Era um ato tão natural para ele. “Ela é um pouco ciumenta.”

“Tudo bem.”, eu disse apressada. O efeito do sorriso de Adriel estava passando lentamente e os outros jogadores de futebol não estavam gostando nada de ter alguém chamando mais atenção do que eles. “Estávamos indo embora mesmo.”, dei de ombros.

“Nos vemos amanhã, na escola?”, ele perguntou.

“Claro.”, sorri.

Ele ficou um pouco bambo com meu sorriso e eu fui rápido em tirá-lo do rosto. Peguei a mão de Caliel e comecei a puxá-la para a saída. Em um ato sem pensar, ela me puxou de volta, com a intensão de chamar Adriel, mas com esse movimento, sem querer, eu acabei soltando a mão dela e me desequilibrando. Quando dei por mim, estava com os braços de alguém a minha volta.

Levantei os olhos lentamente, um pouco constrangida por esse momento. Estava pronta para me desculpar, mas as palavras ficaram presas em minha garganta. Encarei o par de olhos azuis mais lindos de todo o mundo. Eles eram da cor que o mar deveria ter a noite. Um azul tão escuro que de longe eu poderia facilmente confundir com preto. Mas, realmente escuros, eram os seus cabelos. Despenteados e lisos. O queixo quadrado, as maçãs do rosto acentuadas, os lábios torcidos em um meio sorriso.

A pele pálida conseguia brilhar por debaixo da iluminação do balcão. Vi seus lábios se movendo, formando uma pergunta, mas meus ouvidos entraram em estado de torpor e eu não conseguia escutar mais nada. Com o mover de sua boca, notei algo diferente. Ou eu havia batido a cabeça em algum lugar, ou ele tinha um percing em sua língua.

Ao longo dos anos, enquanto observava os humanos mudando seus corpos com operações, tatuagens e percing, achava feio e desnecessário. Deus tinha nos feito do jeito que deveríamos ser. Perfeitos a nossa maneira. Mas, ali, parada nos braços daquele misterioso garoto, percebi que aquele percing fazia parte de sua beleza.

Senti uma mão em meu ombro, me acordando de meu estado de torpor. Ele era um anjo? Me virei encarando os olhos azuis pálidos e confusos de Caliel. Adriel um pouco mais atrás de braços cruzados. As suas garotas torcedoras que estavam com Laisa, ainda estavam babando por ele, mas os olhos verdes de Adriel estavam duros na minha direção.

Levantei, passando a mão por minha roupa, envergonhada e dei um passo para trás, dando espaço ao garoto. Tomando coragem, ergui meus olhos para ele, tentando ter certeza de que ele era tão humano quanto eu era uma anja. Os lábios dele estavam franzidos e fazendo um bico.

“Me desculpe.”, murmurei de cabeça baixa.

Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas eu apenas me virei, pegando a mão de Caliel e a de Adriel, os puxando para longe dali. Antes de passar totalmente pela porta, pude escutar uma voz rouca e sensual me chamando. Essa voz fez algo dentro de mim se agitar de um jeito que eu nunca tinha sentido antes.

De um jeito que um anjo deveria ser proibido de sentir. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.