Scorpius tinha terminado com Rose Weasley.

Simplesmente depois de quatro anos e trezentos e sessenta dias entre altos e baixos ele tinha posto um fim na relação. Faltando apenas cinco dias para o aniversário de cinco anos deles. Seria engraçado se não fosse trágico.

A menina tinha se refugiado em seu apartamento, antes tão organizado, agora estava cheio de caixas de pizza, roupas sujas e potes de sorvete.

Ela que antes fazia questão de tomar exatos quatro banhos por dia e trocar de pijama todas as noites (já o Malfoy dormia de qualquer jeito, sem se importar se era pijama limpo, ou o mesmo que da semana passada) estava com a mesma blusa folgada dos Beatles que antes tinha cheiro de Scorpius, mas que agora tinha cheiro de queijo fedido e um short confortável que ela encontrou no fundo de seu armário.

Já o loiro parecia não sentir nada em relação ao término. A vida continuou igualzinha a de antes, como se Rose não fizesse diferença na sua vida, mas ela fazia.

Quando finalmente Roxanne conseguiu convencer a ruiva a sair de casa (faltariam apenas um dia para que completassem cinco anos juntos, mas eles não estavam), encontraram o Malfoy conversando animadamente com uma morena em uma loja de joias. Todas as lágrimas que a menina segurou para sair com a prima escaparam de seus olhos numa velocidade incrível.

A menina correu como se não houvesse amanhã, e talvez para ela não tivesse, porque ver como Scorpius continuava com o mesmo sorriso torto que a fazia tremer na base, e a barba bem feita, como ela fazia questão de que estivesse, quase matou a pequena. Vê-lo ali foi como puxar cada um dos adesivos que mantinham seu coração inteiro, e nunca ela sofreu tanto.

Chegou a casa suando, com os cabelos vermelhos grudados em sua testa e nuca. Desacelerou o passo e dirigiu-se ao quarto. Analisou o próprio corpo, tentando achar o que o rapaz tinha visto na morena e que ela não tinha.

Ela chamava atenção. Mesmo que a maior concentração de ruivos seja na Inglaterra e que eles tinham três amigos ruivos, além de boa parte da família dela, seus cabelos chamavam atenção demais.

Eram de um tom beirando ao laranja, mas era bonito, pelo menos era o que ele dizia, e ela acreditava. Mas o ex-namorado não gostava de atenção. Odiava pessoas prestando atenção demais nele, já bastavam os olhares tortos que recebia por ser filho de Draco Malfoy, um ex-criminoso. E ele superou cada um desses olhares quando se formou com mérito em uma faculdade de nome, ela se orgulhava dele.

Seu corpo não era de todo ruim. Ela não tinha seios enormes e uma bunda maior do que a lua, mas eles eram de um tamanho agradável. Sua cintura era fina e ele fazia questão de passar os braços em volta dela, eles pareciam se encaixar perfeitamente na curva do quadril.

Seu rosto, o problema dos problemas. Rose Weasley detestava cada uma de suas sardas, delicadamente espalhadas pela sua face. Ele dizia amá-las, mas pelo visto, amar suas sardas não foi motivo suficiente para que ele ficasse.

Ela não enxergou nenhuma coisa drástica (além de seu cabelo) em si, nada que fizesse com que ele a deixasse. Chorou por isso.

Naquela tarde ela sentou na cama junto com uma caixa com os pertences de Scorpius e relembrou cada palavra do que ele disse naqueles três dias antes e toda a sua dor veio à tona.

“O loiro chegou calmamente em sua casa, pediu para que ela sentasse e por fim respirou fundo:
- Precisamos conversar. – Ela se assustou, geralmente garotas pedem pra conversar. Ela não queria conversar de jeito nenhum, imaginava o resultado daquilo.
- Claro. – Assentiu e ele sorriu.
- Olha Rose, não estou exatamente preparado para isso, mas acho que eu não poderia fazer isso em outra hora. – Ele parecia nervoso e sério. A menina levantou de supetão, indo embora da casa e deixando um loiro desentendido para trás.”

A menina dormiu ali mesmo, com aquela roupa bonitinha que não usava fazia muito, com o travesseiro molhado e abraçando um suéter cinza que ele tinha deixado por ali.

E era desse jeito que ela acreditava que as coisas tinham acontecido.

Já Scorpius trabalhava em um jeito de conseguir sua ruiva de volta, ela tinha entendido tudo errado com aquela mania boba de não o deixar completar as frases. Era uma mania irritante e chata, mas ele amava isso nela. Ele amava tudo nela.

Dormiu angustiado, sabendo que a sua garota estava sofrendo sem motivos. Foi um sono curto, e nada relaxante, acordou mais cedo do que esperava. Era o dia do aniversário dos dois e ele tinha uma surpresa para a ruiva, e esperava que, pelo menos dessa vez, ela o deixasse terminar de falar.

Bateu na porta do apartamento dela as exatas dez horas da manhã. Era o horário deles. Era o mesmo horário em que pediu a garota em namoro e também teria que ser a que a pediria em casamento. Porque esse era o principal propósito dele.

Ela abriu a porta de madeira escura com o olhar cansado, e ao ver que quem estava do lado de fora, tentou fechar a porta, sendo impedida pelo pé do loiro:
- Posso terminar o que comecei alguns dias atrás? – Ele sorria e a ruiva abaixou a cabeça.
- Não quero ser sua amiga. Você quis acabar com tudo, então me esquece. – Forçou mais uma vez a porta contra o pé dele.
- Não quis acabar com tudo, você e essa mania irritante de me interromper. – Riu, bem do jeito que ela gostava. – Eu te amo, te amo tanto que você nem imagina. Amo sua sobrancelha arqueada, amo quando sua voz vai afinando conforme você fala, amo quando você morde a parte interna de sua bochecha esquerda quando está nervosa. Eu amo sua mania de escovar seu cabelo cinquentas vezes contadas de cada lado, por mais que muita gente ache que é maluquice. Eu amo quando você resolve deixar suas responsabilidades de lado e passa à tarde na praia comigo. Eu te amo Rose Weasley, amo suas manias e gostos. Amo-te de todos os jeitos possíveis Rose. – Uma lágrima escorreu pela bochecha da garota.
- O que você quer que eu diga, Malfoy? – Ela não o chamava de Malfoy desde o colegial.
- Quero que você diga “sim”. Quero que você diga “com toda a certeza” e me dê um abraço que ninguém consegue imitar. Eu quero que você diga sim, porque estou te pedindo em casamento Rose. Estou te pedindo para passar o resto da vida comigo, estou te pedindo para ver os nossos filhos crescerem em uma casa, ou um apartamento, ou onde você quiser. Estou te pedindo para me dar uma chance de compensar esses cinco dias de choro com o infinito. Por favor, ruiva. Eu quero que você diga que me ama, e que quer casar comigo, porque isso é o que estou lhe pedindo. E aí, Rose? Casa comigo? – Ele tirou do bolso uma caixinha e então se lembrou de ajoelhar. Mais lágrimas escorreram dos olhos da menina.

Ela ficou sem resposta, era tudo que ela queria. Sentiu seu coração dançar a Macarena dentro do peito.

A garota obviamente aceitou. Porque ela o corresponde no mesmo nível em que ele a ama.

Então, como qualquer pessoa que os visse saberia, ela aceitou a proposta.