Elinor escrita por Elizabeth Darcy


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Acho que quem me conhece um pouco sabe que eu amo escrever, mas tenho dificuldade de continuar minhas histórias. Não se preocupe, elas têm uma ideia maior, serão livros, mesmo que póstumos e eu mesma pretendo finaliza-los. Mas enquanto isso saboreiem mais um drama! Me inspirei tanto no livro Persuasão da Jane Austen como na música Calls Ma Home da Shannon LaBrie.



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ELINOR

1.PRÓLOGO

– Vai deixar-me? - Perguntou uma voz doce e sussurrante vinda do fundo do cômodo.

Edgard mal tinha passado pela soleira da porta, mas então se voltou para a figura e caminhou a seu encontro deixando o chapéu e o casaco de montaria para trás. Agora de frente para a inquisidora, pousou os olhos no percurso que uma lágrima havia feito no rosto cabisbaixo. Com a mão, levantou o pequeno rosto e com a outra limpou as lágrimas analisando cada detalhe dos olhos cinzentos e tristes.

– Eu vou para o mar - a frase era solene como uma sentença - mesmo que eu veja aqui o meu oceano. – Deixá-la era o único motivo para que nosso cavaleiro não tivesse partido antes, era claro em seus olhos profundos que ele acabara de quebrar seu coração.

– Não vê - ela desviou os olhos ligeiramente - se visse o oceano que precisa tanto explorar aqui... Se visse algo pelo que ficar, você ficaria aqui, comigo. Pediria-me para ser sua esposa e eu aceitaria com grande alegria, assim eu seria o seu próprio oceano. Mas você corre ao mar e para tão longe, precisa ir o mais longe que puder de mim... – Elinor suspirou antes de levantar a face com determinação e os submeter os ombros a posição aristocrática que tanto esteve acostumada. – O que há de errado comigo, Edgard? Não sou bonita o suficiente? Ou agradável?

– Quando me diz isso, quando vejo isso em seus olhos, um oceano tempestuoso e doce, não digo que quero ir, só vou. – Edgard suspirou antes de encontrar os olhos da amada novamente. – Não espero que entenda, Elinor, no entanto, precisa acreditar em mim. Sabe que não é nada do que supõe, sabe que é a criatura mais bonita em que já pus os olhos assim como sabe que a amo. Mas também sabe que não tenho meios e que jamais poderia pedir que se cassasse comigo se eu permanecesse aqui.

– Não vê que dinheiro não me trará felicidade, está a me iludir, ou aproximava-se de mim para então ir embora. – O oceano agora parecia fazer por si só tormentas e revoltas em seus olhos, pois sabia que estava a perder o único homem que amara.

– Pois eu ando tantas milhas quanto preciso for por você. - Edgar cobriu então o espaço que havia entre eles. - Não me comprende por certo, não sabe o quanto deixo aqui a espera de minha chegada enquanto ainda nem ao menos parti. Estou deixando a mim mesmo, aqui, com você.

– Como? - Perguntou com esperança a moça. - Diz que vai deixar-se, mas não por inteiro, mas também não permanece aqui a meu lado.

– Para consolá-la. Me terá sempre para lembra-la que um dia eu voltarei para buscar te. – Edgard percorreu de leve seu rosto com as pontas dos dedos, a bela tez clara e cremosa, o nariz arrebitado que dava a pequena Elinor um ar aristocrático, a pequena e rosada boca. - Enquanto pensar em mim eu ficarei bem.

– Virá então buscar o pouco que me deixa? Como pode ser tão doce e tão mau? – Ela se aninhou a palma de sua mão como se recebesse um carinho reconfortante.

– Pois acha que deixo pouco, céus! Deixo aqui mais do que a mim pertence, estou a deixá-la! - Por impulso ele a abraçou, sentiu em pele tudo que queria para si. - Não me acuse de ser mau, jamais viria buscar o que deixo, não como pensou, eu virei vê-la, então me casarei com a senhorita se ainda me querer e então poderia levar tudo que é meu.

– Prometa que me procurará assim que chegar, venha correndo. Eu estarei esperando para que me peça em casamento, para aceita-lo sempre. – Suspirou de felicidade contida. Ele a amava, se casaria com ela. - Me levará para longe?

– Para onde a senhorita quiser.

– E se não for muito longe? – Um pequeno sorriso brilhou em seus lábios, mas Edgard não precisava vê-la para saber, aquele pequeno momento de alegria que se permitiam parecia ecoar na voz de ambos.

– Teremos então que alguma vez visitar minha tia no norte para que você possa usar o xale indiano que eu trouxer.

– Me trará um? – Logo a alegria começava a se dissipar, a tensão de saber que ele logo partiria parecia embrulhar o estomago de Elinor em uma saudade precoce.

– Vou ao oriente e lhe trago um xale, traria até a China se pudesse, para você, que me esperará por todo um ano, traria qualquer coisa que quisesse. – Edgard tinha se tornado sério, e cada palavra sua transmitia a promessa que ele havia lhe feito.

Ele voltaria, para ela. Elinor. A moça dos belos cachos loiros e olhos da cor das tempestades.

– Mas não quero a Índia ou a China, não me interessam, vejo aqui mesmo tudo o que necessito.

Ela queria poder pedir-lhe para ficar, mas sabia que seu coração partiria ao ouvir Edgard negar-lhe novamente, ele acreditava que ela poderia ser paciente, e ela acreditava que seria, apenas por ele. Não tinham coragem de soltar suas mãos, mesmo quando o silêncio desesperador da partida surgiu. Quanto tempo se passaria antes que estivessem novamente a distancia de um braço? Ou de um suspiro como estavam?

Edgard aproximou seus lábios dos de Elinor, agora podia sentir sua respiração suave e rápida, assim como as batidas do coração palpitante como o de um beija flor. Beijou-lhe os lábios em promessa e ternura. Um beijo profundo, o verdadeiro selo de um compromisso.

Porém não digo sobre as sensações que este podia causar em cada, é fato que só pertence aos mesmo até o momento em que os lábios se separaram inchados e rubros e o abraço foi desfeito, lançando ambos ao livre contato com o vento vindo das janelas e o eterno cúmplice dos amantes.

– Elinor - chamou Edgar por uma última vez, o pesar de não vê-la mais agora se fazia chumbo no alma. - Peço aqui, agora e pela eternidade tua mão, aceita-me, Elinor?

Os finos dedos da moça se colocaram na palma maior, segurou com toda a força que podia para não deixar escapar a última súplica antes de aceitar o pedido, como assim teria em qualquer outro momento. Mas neste as lágrimas que haviam cessado voltaram a irromper furtivas e silenciosos os olhos, era sem dúvida a última vez que o veria.

– Vou então encontrar seu pai e por isso aqui devo me despedir. Adeus, querida Elinor. - E beijou-lhe os dedos antes de ir a porta e pela última vez ouvir a voz dela.

– Volte para mim ou nunca o perdoarei! Edgar... - O nome veio a falecer em seus lábios trêmulos, era tarde de mais para dizer qualquer outra coisa. A partir daquele momento, Edgar se encontrava onde ela nunca poderia alcançar-lhe o ouvido.

O primeiro soluço de tristeza e saudade veio logo em seguida, as poucas lágrimas que antes tinha escapados de seus olhos agora eram um fio fluido e abundante. Elinor chorara copiosamente até a noite que se seguiu.

E então, depois de uma longa noite entre lágrimas, sorrisos e esperanças, Elinor recebeu a foice de sua felicidade. Vinha não de algo superior a ambos, mas com certeza poderoso e capaz de influenciar o escritor.

Era uma carta, pequena, não mais que algumas linhas em uma caligrafia trêmula e forçada. O selo indicava em cera que vinha da vizinhança próxima, mas não tinha sinal do que poderia tratar. Ao abrir leu o nome do emissor, então parou em um misto de desespero, alegria e curiosidade, mas de fato, esta não devia tê-la. A curiosidade arruinou lhe a alma.

"Senhorita Anneberg;

Acredito que deva expressar surpresa ao encontrar esta carta, assinada por mim, em sua mesa de chá. De fato não pode imaginar que assunto trato, mas não a culpo, se tomarmos por base nosso último encontro, imprudente, sem dúvida. Não há outra forma de julgar minhas últimas promessas.

Em duras e verdadeiras palavras venho comunicar a outra parte, a quebra desse compromisso, desfazendo entre nós qualquer elo moral ou emocional. Esteve certa ao dizer que eu não ficaria ou deixaria parte de mim para trás, pois me carrego inteiro para os mares verdadeiros sem dever a senhorita mais nenhuma satisfação. Mas quero deixar registrado que não tenho qualquer intenção de voltar, ou vê-la novamente, uso como argumento o fato de não ter visitado seu pai na noite passada como prova. Não posso explicar-lhe minha conduta noite passada, estive seduzido pelos sonhos para me ater a realidade como é.

Não vejo motivo para me demorar aqui, adeus. Que Deus a abençoe.

Edgar Wymer."

Se o pavor tivesse aparecido na mente de Elinor somente ao fim, talvez estivesse salva, mas esta desabou na mesa antes mesmo de chegar ao segundo parágrafo. Não podia suportar a amargura e desilusão que a inundavam como o mar feroz a um navio no alto mar. Maior foi o tempo que sua mente estagnada pelo choque levou para processar o abandono fugaz que ela havia sofrido. Porém não o culpemos, qualquer caráter que se pode ter respeito não permaneceria sólido e indiferente em um devastador furacão.

As lágrimas não eram apenas salgadas, tinham o gosto amargo da desilusão, mortífero do abandono e descarte, e denso do desentendimento. No leito, por dias não dormiu e comeu, não podia dar-se a qualquer prazer ao perder o maior. Não imaginou por um só minuto o futuro, pois perdera as perspectivas, e a felicidade a abandonara para a eternidade assim como o amor.

Durante o primeiro ano, a esperança era ainda constante, acalentava em seu âmbito a possibilidade de vê-lo novamente e então descobrir o grande mal entendido que tinha se feito, seria feliz em descobrir a luz que as nuvens taparam por completo, um pedaço de sol na noite negra e completa. Mas nada aconteceu, nenhuma notícia sobre Edgar chegou aos ouvidos de alguém na cidade, ninguém veio gritar em sua janela anunciando a volta ou uma carta dele. E então que a consciência se fez mais pesada, ele jamais voltaria, Edgar deixava claro naquele pequeno pedaço de papel que nunca a amara, e que nunca poderia, eram as entrelinhas que Elinor se recusara ler, ou mesmo compreender.

Porém, este não foi o fim.

Algum mês próximo desse o pai veio contar-lhe sobre a decisão de casar a única filha com o filho de um baronete. Como poderia viver a moça em tal situação? Rica de amargor, ela escreveu em desespero, escreveu a Edgar dizendo tudo o que pode.

"Sr. Wymer;

Uma vez teve a oportunidade, e dela se aproveitou bem, para cortejar-me, me agradou muito o mesmo, e então seguida pela carta, descobri sobre seu verdadeiro caráter, é o homem mais asqueroso e mau que pude conhecer, não cometeu crimes e pecados, mas espero que o que fez lhe fira mais que um punhal. O merece.

Tendo passado um ano, sem notícia ou sua volta, me encontrei no direito de escrever-lhe, em ti despejo todo o ódio que um coração pode ter, não merece que eu o guarde. Não merece que a partir do momento que essa carta for selada, tenha qualquer reconhecimento de mim, notícia, ou mesmo memória.

Pois digo agora o que se tornou verdade, odeio-o. A mais de um ano, mostrou-me o melhor da vida, fez-me sentir amada e desejada, e eu o amei como nunca o fiz. Desgraço-o aqui, diante de você mesmo, quebrou meu coração, partiu minhas esperanças e agora que me é anunciado meu próprio casamento, digo que a ti devo o meu desespero e minha infelicidade.

Que vida posso eu ter quando meu coração já não existe? Porque realmente não o tenho mais. Devo por último lhe congratular por me tornar infeliz e incapaz de amar, não poderei manter um lar feliz, e devo definhar pouco depois do casamento. O odeio profundamente, arruinou-me da pior forma que se podia fazer, pois continuo a viver uma vida que já não me pertence mais e jamais; saiba - mesmo diante de Deus - serei capaz de perdoá-lo por isso.

Elinor Anneberg, em breve, sra. Francey."

A carta foi selada e enviada ao navio sta. Marta. Elinor achou em direito do ato e por um breve tempo se livrou da raiva, lhe sobrava apenas o desespero, o desânimo e tudo o que estes poderiam resultar. Por momentos esperou que fosse acometida de uma doença que lhe daria cabo da vida, mas essa não veio. Às vezes teve pensamentos obscuros, pensou no rio no campo, ou a forca na praça, no penhasco, mas de nada fez. A vida previa-lhe a completa desgraça e a única esperança que podia ter era a da felicidade em meio aos anjos.

Logo, em cerca de um semestre, o topor recaiu sobre Elinor e esta parou de sentir qualquer forte emoção, até fez com que se envergonhasse das que teve. A dias da chagada do futuro noivo, quando acreditava que não havia nada que pudesse ser feito para poupar tanto a ela e sua miserável alma quanto a um marido que morreria sem nunca ter tido o verdadeiro apreço de sua esposa, porém, teve a notícia do falecimento deste durante a viagem. Não sentiu dor, ou luto por aquele que não conhecia, mas por resolução decidiu manter-se solteira até o dia de sua morte, mesmo que o pai não pudesse aceitar, não assinaria qualquer certidão pelo resto de seus dias.


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Notas finais do capítulo

Preciso perguntar o que acharam, na verdade o prólogo ficou maior que os capítulos que eu normalmente escrevo, mas é que essa era a história que precisava estar no prólogo e como não dá pra fazer prólogo parte 2, me esforcei mais ainda para trazer esse capítulo. Quero agradecer a Vi e a Jordana que me ajudaram muito nesse projeto, pouco eu seria sem vocês, amores!