Pétalas De Sangue escrita por Julia


Capítulo 2
Parte II


Notas iniciais do capítulo

Bom aí está a parte 2 de pétalas, espero que vcs gostem!
Thi e Dessa muito obrigada pelos reviews



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Meses depois...

- Eu não quero me despedir de você, Robert. - Daisy reclamou fazendo cachos com os dedos nos cabelos loiros.

- Eu sei amor, mas eu tenho que ir. Lembra que eu te expliquei? Eu entrei no exército querendo participar do campo de pesquisas. E depois do treinamento básico de um ano, eu agora posso entrar na faculdade. - Rob explicou pacientemente.

A loira estalou a língua irritada, mas logo depois uma expressão pensativa se formou em seu rosto e depois de algum tempo disse:

- Acho que não posso reclamar. Pelo menos, você não foi chamado. - ela sussurrou a última palavra como se contasse um segredo.

Rob sabia que ela estava se referindo a Alex. Sete meses haviam se passado desde que ele embarcara naquele navio e desde então Rob não tinha tido nenhuma notícia. Em tese, isso era algo bom. Nenhuma notícia significava que ele estava vivo, e era nisso que o garoto se segurava. Alex era a pessoa mais próxima de um irmão que ele tinha.

- Talvez demore um pouco Daisy, mas um dia eu serei convocado. E nesse dia, eu espero que você me apoie. Porque eu não sou como Alex, eu não consigo esquecer das pessoas que eu amo.

Um sorriso tímido saiu dos lábios dela.

- Você me ama? - perguntou corada.

- Achei que você soubesse.

- Mas agora, você disse.

- E se você quiser, eu posso dizer toda hora. Eu amo você Daisy! - gritou a última frase fazendo com que alguns curiosos virassem o rosto para olhá-los.

- Eu também te amo bobo.

- Casa comigo? - perguntou de repente e os olhos dela arregalaram. - Não agora, - ele continuou. - depois que eu me formar. Nós podemos morar em uma casas dessas de filme do jeito que eu sei que você gosta.

Os olhos de Daisy estavam marejados.

- Sim. - ela disse depois de um tempo.

Os dois sorriam um para o outro, analisando cada detalhe, cada reação.

Rob se levantou em um salto e gritou:

- Ela aceitou se casar comigo! - e puxando Daisy pelas mãos, levantou-a em um abraço e começou a rodá-la ao som das palmas dos banhistas e dos risos de sua noiva.

Samantha olhava ansiosa para o quadro negro a sua frente. Primeira semana na faculdade de jornalismo e a cada aula, ela sabia que aquela era a carreira de sua vida.

- Todos vocês, sigam-me. - um senhor de meia idade vestindo uma calça cáqui e uma blusa social com um colete cinza disse aparecendo repentinamente à porta.

Um bando de garotos levantou-se mecanicamente e saíram seguindo o professor que caminhava altivamente a frente. Eles andaram por dois corredores até um jardim anexo a faculdade.

- Boa tarde turma. Eu sou o sr. Ellis e serei o professor de fotografia de vocês. Peguem as câmeras na mesa e comecem a fotografar qualquer coisa. Antes de ensinar técnicas preciso saber como vocês estão.

Sam caminhou até a mesa e pegou um modelo muito parecido com aquela que perdera há quase um ano. Naquele mesmo dia, havia conhecido Alex. Só de pensar nele seu coração doía. Sete meses sem notícias. Será que ele tinha morrido? Não, Rob a avisaria se algo tivesse acontecido. Lembrava de suas palavras quando se mudou para a Carolina do Sul: nenhuma notícia é uma boa notícia.

Estava distante, mexendo nas configurações da máquina quando uma mão tocou seu ombro fazendo-a levantar os olhos e encarar um rapaz loiro com um sorriso típico de comercial de creme dental.

- Hey, eu sou o Noah. E você é a...?

- Samantha. - respondeu tão automática que o sorriso de Noah murchou um pouco.

- Algum problema com o equipamento? - perguntou tentando ser simpático.

- Oh não. - respondeu e forçou um sorriso, afinal o garoto só tentava se enturmar. - Já tive uma máquina dessas.

- Sério? - ele agora parecia realmente animado. - O mais perto que já cheguei de uma foi em uma exposição na minha cidade. O que aconteceu com a sua?

Noah falava tão depressa que Sam balançou a cabeça para tentar assimilar tudo.

- Ela caiu no mar. - respondeu já conformada com as lembranças de Alex que retornavam.

Instintivamente, levou uma das mãos até o pescoço onde uma corrente dourada com uma cruz pequena repousava no lugar da pesada de prata.

- Garota que azar.

Alguns diriam que foi sorte. Pensou e deu de ombros.

- Já superei.

- Seu sotaque é da onde?

- Posso perguntar o mesmo para você. Sou de Graz, Carolina do Norte.

- Houston, Texas.

- Onde está a fivela e o chapéu, cawboy?

- Ficaram na fazenda. - respondeu forçando ainda mais o sotaque sulista. - Papai achou melhor tentar ser civilizado.

- Ele estava certo. Cintos e chapéus são assustadores. Mas, falando sério, você realmente mora em uma fazenda?

- Moro. Meu pai cria bois. E eu não estou brincando Samantha! - completou quando a garota começou a rir. - Meu melhor amigo é um boi que eu fiz o parto quando tinha 10 anos. O nome dele é Paco. Tentaram mandar Paco dois anos depois para o abate. Mas, quando meu pai me contou, eu chorei muito e fiquei dois dias sem comer. Minha mama implorou para que papa fizesse alguma coisa, então ele me deu o boi. Vê, esse é o Paco. - ele disse tirando uma foto da carteira e entregando a Sam.

A garota sorriu ao reparar na foto. Ela mostrava um garotinho loiro com uns 13 anos ao lado de um boi preto. O sol forte do Texas fez com que ele fechasse os olhos, mas mesmo assim, ele sorria largamente e seus bracinhos curtos tentavam abraçar o boi.

- Paco não parece muito feliz.

- É, eu sei. Paco não é muito fotogênico.

- Por que o seu melhor amigo é um boi? - a garota perguntou curiosa.

- Pode não parecer, mas eu sou um garoto tímido. Além do mais, todos implicavam com meu jeito de falar e vestir, mas come on, nós morávamos no Texas. Todos ali tinham uma fazenda. O problema era que eu era o único que realmente morava em uma.

- Well, se isso o deixar melhor eu gosto do seu sotaque.

- Obrigado Samantha.

- Mas, porque vir para tão longe do Texas? Tenho certeza que há excelentes faculdades lá.

- Eu queria mudar de ares. Esquecer que no próprio Texas eu era diferente. E eu não sirvo para administrar aquela fazenda. Finn, meu irmão mais novo, provavelmente assumirá a fazenda. Acho que o melhor a se fazer quando você quer fugir de uma realidade é ir para o mais longe possível dela.

As palavras dele atingiram Samantha de uma maneira inexplicável. Afinal, era isso que ela tinha feito; se formado mais cedo na high school, feito as malas e ido para o mais longe que seu pai a deixara ir, tudo para fugir de uma cidade que lembrava Alex.

-É, eu sei bem como isso funciona. - comentou com a voz distante.

- De quem você fugiu?

Sam levou a câmera ao rosto e tirou uma foto do garoto a sua frente. Os olhos dele arregalaram em surpresa e ela lhe deu um sorriso triste. Antes que mudasse de ideia, sentou-se no chão e olhando para o céu a sua frente começou a contar a história.

- No dia em que minha câmera caiu ao mar, eu pulei atrás dela. Eu a havia ganho há menos de um mês, depois de quase um ano de insistência com meu pai. - Noah se sentou ao lado da garota que tirava fotos da paisagem distraída. - O único problema é que meu pé ficou preso em uma alga e eu me afoguei. Eu achei que ia morrer sabe? Mas, um soldado me resgatou. - ela sorriu involuntariamente ao lembrar da preocupação dele com ela. - E nós nos apaixonamos. Ficamos três meses juntos. O único problema foi uma maldita promessa.

- Que promessa? - perguntou.

- Ele me fez prometer que se por um acaso ele fosse chamado, eu iria seguir a minha vida, que eu não iria esperá-lo. - o garoto abriu a boca para reclamar, mas Sam continuou. - Eu o entendo. Juro que sim. O pai dele era um tenente da marinha que morreu no ataque a Pearl Harbor e por causa disso, a mãe dele se suicidou. Ele não queria essa vida para mim.

- E ele foi chamado? - a garota balançou a cabeça em concordância e uma lágrima solitária escapou de seu olho.

O garoto podia entender o sofrimento dela. Deveria ser a pior sensação do mundo amar e não poder ficar com a pessoa.

- Há quanto tempo?

- Sete meses. E desde que ele embarcou, eu não tive nenhuma notícia dele. Tudo que eu queria saber é se ele está bem.

- Não fique assim Sammy. - Noah a puxou para um abraço apertado e começou a passar as mãos em seu cabelo tentando acalmá-la.

Durante quatro anos, Sam e Noah ficaram cada vez mais próximos. Se tornaram amigos, quase irmãos, até que um dia, Noah a encontrou chorando no seu Chevy Impala 48 vermelho. Tudo por causa de Alex, o ex-namorado militar. Sam desejava mais do que tudo notícias dele, apenas saber se estava vivo, mas nem isso ele se dignou a fazer e isso deixava Noah irritado, se ele encontrasse esse cara na rua um dia com certeza daria um soco bem dado direto no queixo. Alex podia ser militar, mas ele aprendera desde cedo a domar bois pelo braço e isso havia garantido a ele bons músculos e um soco poderoso. Nesse dia, Noah sentou ao lado dela e a consolou. Exerceu a função de melhor amigo mesmo que no fundo ele a quisesse de outra forma. Desde o primeiro dia, quando a viu olhando para a câmera, ele queria ser mais do que amigo. Eles ficaram abraçados durante horas no banco de trás do carro até que Sam começou a lutar contra as lágrimas que insistiam em cair e o agradeceu por tudo que ele já tinha feito para ela. Curar um coração ferido era difícil, mas ela ia conseguir.

- Sam, você não disse que um amigo seu ia te avisar se alguma coisaa acontecesse? - perguntou e a garota fez que sim concordando. - Então, se não tem notícias, nada aconteceu. Mas, se faz tanta questão ligue para ele.

- Isso realmente é embaraçoso. Samantha Clark chorando por um cara que pediu para que ela o esquecesse. - a garota limpou as lágrimas rapidamente, esfregando o rosto com a palma das mãos. - Obrigada Noah, por estar aqui por mim. - Sam levantou o rosto para beijar a bochecha do amigo confirmando a gratidão que ela sentia, mas nesse exato momento, o garoto virou o rosto para olhá-la e os lábios deles se tocaram. Um contato ínfimio, mas suficiente para fazer o garoto se arrepiar.

Por instinto, ele passou a mão pelas costas dela trazendo-a mais para perto e abriu um pouco a boca transformando o selinho em um beijo de verdade. Assim que se deixou ser beijada pelo melhor amigo, Sam levou as mãos ao rosto dele, acariciando suas bochechas com o polegar. Ela não sabia como estava se sentindo em relação a isso, mas naquele momento enquanto beijava Noah, ela conseguiu se esquecer completamente de Alex, o exército norte-americano, mortes traumáticas e seu coração partido.

O convite chegou ao dormitório quando Sam se preparava para a última semana de aula. Não era suntuoso ou exagerado. Era delicado, branco escrito em dourado. No lado de fora, uma letra bordada indicava o destinatário: Samantha Clark e acompanhante. Dentro, uma mensagem bíblica anunciava as dificuldades do amor.

- O amor é paciente, é bondoso. O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará!” (I Cor. 13,4-7-8). - Sam leu para Noah que a olhava curioso. - O Sr. e a Sra. Jones juntamente com o Sr. e a Sra. Morgan convidam você para o casamento de seus filhos Robert e Daisy, que acontecerá dez horas do dia 15 de maio, na igreja de Lakewood, Graz, Carolina do Norte.

Sam colocou o convite na cama e ficou olhando para ele durante algum tempo. Noah ainda a olhava sem saber o que dizer. Ele sabia o que Graz significava para ela, mas também sabia que ela nunca faltaria ao casamento de dois amigos. Pelo que ela contava Rob e Daisy foram feitos um para o outro. Depois de um tempo, ela se virou para ele e sorriu.

- Você irá comigo? Aqui diz que eu posso levar um acompanhante.

- Tem certeza?

- Tenho. Você agora é meu namorado lembra? E isso não é uma pressão para que você conheça meu pai, eu apenas preciso de alguém que me apoie.

- Tudo bem. - ele respondeu e a garota sorriu ainda mais. Era impressionante como ficara mais fácil sorrir depois que ela deu uma chance para Noah.

Na semana seguinte, os dois foram a Graz. A cada quilômetro que andava o coração de Sam batia mais rápido. Quando finalmente parou a porta da casa dos pais e a viu do mesmo jeito que estava há quatro anos, suas pernas viraram gelatina. Buscando uma coragem que não sabia que tinha saiu do carro sendo seguida por Noah e bateu a campainha da casa dos pais. Pode ouvir o grito de sua mãe lá dentro e em seguida a porta foi escancarada.

- Samantha! - a mãe gritou abraçando-a forte. - Estava com saudades minha filha.

- Eu também mamãe. - respondeu com os olhos marejados. Havia se esquecido do quão bom poderia ser o abraço de sua mãe.

- Não acredito que foi preciso que Daisy desencalhasse para que você viesse nos ver.

- Oh mamãe não exagere. Você sabe que eu amo a senhora.

- Pois não parece.

Sam rolou os olhos. Sua mãe podia ser tão dramática quando queria.

- Mãe, esse é o Noah, meu namorado. Lembra que te falei dele?

- Você não mencionou que ele era tão bonito Samantha. - a mãe provocou fazendo a garota corar, porém Noah apenas sorriu, pegou a mão dela e deu um beijo.

- Muito prazer senhora Clark. A senhora também é muito bonita.

- Oh e também muito cortês. Você está relapsa demais para quem quer ser uma jornalista. - respondeu dirigindo-se a filha. Depois, virou-se para o genro e com um sorriso tão radiante quanto o dele respondeu:

- E, por favor, me chame de Ingrid. Senhora me faz parecer velha.

Os três entraram na casa e sem se importar com boas maneiras, a garota subiu as escadas correndo e foi até o quarto de Dan, o pentelho estava com dez anos agora e nunca saía do quarto. Sem se importar em bater na porta, a garota entrou no quarto e foi recebida por um grito.

- Sammy!

- Ei irmãozinho, como você está? - perguntou abrindo os braços e recebendo um abraço.

- Muito bem. Joanne parece finalmente estar se interessando por mim graças aquele seu conselho.

- Que bom. Agora venha, vou te apresentar uma pessoa. Você não vai acreditar, mas o melhor amigo dele é um boi.

- Jura? Que estranho.

Samantha riu e os dois desceram as escadas pulando os degraus exatamente como nos velhos tempos.

- Noah, esse é o meu irmão Daniel.

O garotinho ruivo apertou a mão de Noah sério, olhando bem nos olhos dele, mas depois abriu um sorriso de criança e perguntou animado:

- É verdade que o seu melhor amigo é um boi?

Noah riu e começou a conversar com ele sobre Paco. Samantha e a mãe foram para cozinha preparar um lanche.

- Onde está papai?

- Na igreja finalizando os últimos detalhes do casamento. Ele não deve demorar.

As duas levaram os petiscos para a sala e depois de uns cinco minutos de conversa, James Clark chegou a casa. Ele abraçou a filha com vontade e ficou feliz por vê-la feliz. Apesar de tudo, ele sabia que deixá-la ir embora tinha sido a melhor solução. James gostou de Noah. Ele parecia um cara sério, centrado e acima de tudo fazia a filha feliz. O grupo passou horas conversando até que resolveram ir dormir, afinal amanhã eles tinham um casamento para ir.

No dia seguinte, todos acordaram cedo para começarem a se arrumar. Ingrid e Sam foram ao salão fazer o cabelo e enquanto a matriarca optou por um coque elaborado, a mais nova preferiu um meio rabo e anelou as pontas. Às dez horas, todos estavam na igreja e Sam não deixou de reparar no quão bonito o namorado ficava de terno.

- Você está linda. - ele disse beijando-a na bochecha.

Sam olhou para o altar e viu Rob. Ele tinha mudado. Estava mais encorpado, com mais músculos, mas ainda conservava o rosto de menino. Ele usava a farda cerimonial e olhava ansioso para a porta da igreja. Por um breve momento seus olhares se cruzaram e ela distinguiu um que bom, estou feliz que você veio sair dos lábios dele sem som algum, ela balançou a cabeça e respondeu um eu também. Logo em seguida, a marcha nupcial começou a tocar e Daisy começou a entrar. Ela estava tão feliz que parecia brilhar. Os cabelos presos e o vestido branco a faziam parecer um anjo.

James realizou uma cerimônia simples e linda que levou todos os presentes as lágrimas. Todos ali sabiam que agora que ele já era formado, sua convocação estava próxima e quando o próprio Rob mencionou isso em seus votos, todos puderam ouvir a senhora Jones fungar alto. Outro fato que não passou despercebido foi a ausência do padrinho. Todos tentaram convencê-lo a escolher alguém, mas Rob insistiu que a única pessoa que ele queria para padrinho estava no Vietnã e se ele não podia comparecer ninguém poderia substituí-lo e Daisy parecia não se importar com isso.

Depois do casamento, todos foram para a festa que aconteceu no clube de Graz. Todas as mesas estavam enfeitadas com rosas brancas e café e com toalhas bege. Tudo de muito bom gosto. Samantha sorriu de verdade durante toda a festa. A alegria dos presentes pareceu contagiá-la e ela não se lembrou nenhuma vez do porquê de ter ido embora. Ela também não reclamou quando Daisy praticamente a empurrou para o grupo de mulheres que esperava o buquê.

- Um... Dois... Três! - a noiva jogou o buquê que caiu direto nas mãos de uma prima dela. Todas as mulheres gritaram eufóricas afinal, parecia que a garota estava noiva há oito anos.

Aproveitando-se da confusão, Sam se esgueirou para fora do salão e caminhou até o parquinho onde se sentou em um balanço. Ficou ali um tempo lembrando da época de criança quando corria por ali sem se preocupar com nada. Estava tão distraída que só percebeu Rob quando ele se sentou ao seu lado.

- Ei Rob. Parabéns pelo casamento. Estava tudo lindo.

- Obrigado. - respondeu e ficou olhando para o horizonte. O sol estava alto indicando que deveria ser quase quatro da tarde. - Fico feliz que tenha seguido com a sua vida. - continuou após um tempo.

- Eu não estou aqui para ser julgada, Rob. - respondeu ácida.

- Eu não estou te julgando, nem fui irônico. Realmente estou feliz por você. Ele parece ser um cara legal.

Sam sorriu.

- Ele realmente é.

- O comandante recebeu uma carta de Alex semana passada. - ele comentou como quem diz que o céu é azul e os olhos de Samantha se arregalaram.

- Vocês têm recebido cartas dele durante todo esse tempo e não me falaram nada? - perguntou com raiva.

- Não. Na verdade, foi o primeiro contato que a base teve com ele. Ele diz lá que está bem e que até agora o máximo que aconteceu com ele foi um tiro de raspão e uma facada na coxa, mas tirando isso, continua saudável como um touro aquele bastardo. Mas, ele não escreveu para isso. O assunto principal da carta era a condecoração dele. Ele agora é capitão, comanda sua própria equipe.

- E o que isso significa?

- Significa que ele não tem data para voltar. Quando esse turno acabar, ele será designado para outro lugar. Não existirá tempo de folga ou casa para voltar. Siga sua vida Sam, é o melhor que você tem a fazer. Agora se me dá licença, tenho um casamento para voltar.

Ele levantou do balanço deixando Sam sozinha. Quando já estava distante, Rob a chamou.

- Sam! - a garota voltou a cabeça para ele. - A equipe dele tem o seu nome, ou melhor, sobrenome. Acho que Equipe Samantha ia fiar muito grande então ficou Equipe Clark.

Os olhos da garota estavam cheios de lágrimas que ela lutava para que não descessem.

- Por que está me contando isso?

- Achei que deveria saber.

Rob estacionou o carro da família no mesmo lugar em que seis anos antes o carro da base havia ficado na despedida de Alex. Não fora algo premeditado, o homem só reparou nisso quando saiu do carro e percebeu a paisagem do porto.

- Isso é realmente necessário amor? - Daisy perguntou ao mesmo tempo em que tirava o bebê da cadeirinha. - Sua filha só tem um ano.

- Eu também não quero ir amor. Eu preferia que isso só acontecesse quando ela tivesse mais velha, pra que ela pudesse se lembrar do meu rosto quando você lesse as minhas cartas.

- Não fale assim, por favor. Você vai voltar mais rápido do que pensa.

- Assim espero amor.

Ele pegou a criança que dormia dos braços de Daisy e beijou o topo de sua cabeça.

- Charlotte eu vou sentir sua falta bebê.

Dando um beijo em sua esposa e devolvendo a filha para ela, Rob seguiu caminho até o navio com o coração apertado desejando que pudesse vê-la crescer.

Uma semana depois, Rob descia no aeroporto improvisado no Camboja. Oficialmente, os Estados Unidos não estavam participando da guerra, então todas as operações ocorriam no completo sigilo. Um comboio levava a equipe de apoio até a base norte americana no Vietnã do Sul. À medida que chegava mais perto da zona de guerra, ele viu cenas que desejava poder apagar da memória. Crianças, mulheres e homens mutilados definhando à beira da estrada, pessoas morrendo de fome e o descaso. Ninguém parecia se importar, todos continuavam o caminho sem se importar com as súplicas. Aquilo não era para ele, Rob era um pesquisador, não um soldado de campo. Não tinha ficado claro para ele qual era a sua função naquele lugar. Alguns soldados avisaram que seria melhor fechar os olhos e tentar dormir, já que depois que estivessem no campo, não haveria tempo para isso, mas ele não conseguia. A cada vez que fechava os olhos, os rostos de Daisy e Charlie invadiam sua mente e aumentava sua vontade de fugir dali.

Depois de mais um dia de viagem, o carro finalmente chegou até a base. Rob pegou sua mochila e seguiu o fluxo de soldados que andava até uma tenda enorme. Lá, um homem com aproximadamente 60 anos esperava em pé.

- Soldados, sentido! - disse assim que todos estavam presentes. - Como vocês sabem nós não estamos oficialmente em guerra portanto, cada movimento nosso tem que ser vigiado, calculado e perfeito. E infelizmente, não é isso que vem ocorrendo. Nós, os americanos, estamos chamando atenção e é por isso que vocês estão aqui. Para desenvolver métodos de ataque silenciosos e eficientes capaz de acabar com o inimigo sem que ele saiba para onde correr. Nós precisávamos de vocês aqui. A partir de amanhã vocês serão divididos em equipes menores e irão fazer o reconhecimento do terreno.

Robert olhou os quase 20 soldados que ouviam atentamente as palavras do homem a sua frente. Estava ali para aumentar a mortalidade de uma guerra já mortal. Sete anos após seu alistamento, ele não tinha a certeza se aquela fora a escolha certa. Depois de dispensado, ele caminhou até os dormitórios, que não passavam de grandes tendas com vários colchões espalhados pelo chão, cada um com um nome. Descobriu um vazio perto da parede e colocou suas coisas lá marcando aquele como seu canto. A primeira coisa que fez foi tirar uma foto sua com Daisy e Charlie logo após o nascimento da criança e colocá-la debaixo do travesseiro. Depois, tirou uma foto com Daisy no casamento e outra onde ele segurava os bracinhos da filha para que ela pudesse andar e as prendeu na parede. Finalmente, pegou uma foto com Alex e a colocou entre as outras. Sentia falta do seu irmão, o cara que o ajudou a conquistar a atual esposa. De acordo com as últimas informações ele estava ali no Vietnã, mas provavelmente em outra base. Como era possível estar mais perto do que nunca de uma pessoa e mesmo assim tão longe?

Levantou de sua cama e foi até o refeitório. Não que estivesse com fome, mas precisava socializar. Qualquer um deles poderia ser sua equipe amanhã. Entrou ali olhando os rostos cansados dos soldados e percebeu que nenhum deles estava feliz por estar ali. A guerra é diferente daquilo que anunciam. Todos têm uma ideia utópica do alistamento, de servir ao país que é destruída no momento em que se vê o que realmente terá de ser feito. Andou lentamente por entre fileiras de mesas onde alguns conversavam baixo, olhavam para fotos ou escreviam cartas. Ele podia entender porque Alex havia escrito apenas uma única carta desde que chegara. Não havia nada ali que pessoas como Sam e Daisy mereciam saber.

- Rob! - uma voz conhecida gritou e ele levantou a cabeça sem acreditar. Deve ser uma alucinação, pensou. Porém, a voz gritou de novo e quando ele virou a cabeça na direção dela reconheceu seu amigo. Ele estava diferente, o cabelo havia crescido nas laterais e a franja havia sido cortada torta apenas para impedir que caísse no olho, a barba estava por fazer, profundas olheiras marcavam seus olhos, sua pele estava pálida, um reflexo do tempo sem tomar sol, e seus braços estavam visivelmente maiores. Rob podia ver tatuagens em seu pescoço e braço.

- Alex! Realmente é você cara?

Os olhares de todo mundo estavam neles. Alguns sorriam como se achassem graça do fato de dois amigos se reencontrarem em uma instalação militar outros estavam chocados com o fato de Mason ter um amigo, que ele pudesse sorrir e que alguém o chamava por um apelido.

Rob caminhou até ele se segurando para não correr e o abraçou assim como fez no dia de sua ida.

- Seis anos seu filho da mãe! Porque não deu notícias? - perguntou socando o braço dele.

Alex deu de ombros se desculpando e andou até uma mesa sendo seguido por Rob.

- Rob, esses são Cory, Josh e Andrew meus soldados, guys esse é o meu amigo, Rob.

Os soldados acenaram para ele e abriram espaço para que se sentasse. Em cima da mesa havia um mapa do terreno que eles analisavam antes de Alex avistar o amigo.

- Essa é a sua área de batalha? - Rob perguntou após reparar no mapa.

- Sim.

- Bom, você não deveria seguir esse caminho cara. - Alex o olhou por um momento e Rob continuou. - Estou apenas fazendo o que fui designado: elaborar meios de ataque rápidos e eficientes. Você sempre foi um bom com o rifle Alex, mas estratégias nunca foram o seu forte, a não ser quando eram para conquistar mulheres.

Os soldados riram da ousadia do novato e esperaram que o seu capitão reclamasse, mas ele apenas abaixou os ombros, sentou-se e disse:

- Tudo bem, faça sua mágica.

Rob passou a mão pelo mapa analisando cada declividade e inclinações do terreno.

- Aqui. - apontou com o dedo um lugar no mapa. - Esse é o melhor lugar para posicionar a equipe Clark.

- Como você sabe? - Alex perguntou ríspido e Robert sabia que ele não se referia ao ponto de ataque.

- Eu li sua carta ao comandante. Eu o atormentava tanto que depois que ele leu me entregou a carta.

- Ela sabe?

- Eu contei. Mas não se preocupe, ela está mantendo a promessa. O nome dele é Noah Hudson, nasceu em Houston, Texas. Ela o conheceu na faculdade de jornalismo.

Uma expressão de dor passou pelo rosto do capitão, mas ele logo a escondeu.

- Ótimo.

- Alex, você não precisa fingir que está tudo bem, você pode sofrer. Você é humano.

Mason tirou a corrente de dentro da blusa e segurou a cruz em seus dedos. Seus subordinados estavam acostumados com seus gestos, mas Robert se surpreendeu.

- Ela vai ficar feliz em saber que você a usa.

- Ele faz isso o tempo todo. Acho que é o ateu mais religioso daqui. - Cory comentou recebendo um olhar mortal do capitão logo em seguida.

- Monteith se você não calar a sua boca vai ter punição. - Alex sussurrou com uma voz tão cortante que fez os três abaixarem a cabeça, mas que só fez Rob gargalhar.

- Isso se chama amor, soldados. Esse cara aqui é simplesmente louco por uma ruiva que não sabe a hora de calar a boca. E acreditem ela é filha de um pastor. A cruz foi um presente dela. - disse aos soldados que abriram um sorriso. Capitão Alexander Mason tinha um coração.

- Cala a boca Jones. Você também não consegue largar a Daisy.

- Nunca neguei isso. - comentou e apontou para a aliança no dedo esquerdo.

- Você se casou? Filho da mãe! Parabéns cara. - disse pulando do banco e lhe dando um abraço de homem. - Quando foi isso?

- Dois anos atrás. Na verdade, uma semana depois que a sua carta chegou. Você não estava lá man, então eu não tive um padrinho. Mas, isso não vai acontecer de novo. Eu, Robert Eduard James nomeio você Alexander Aaron Mason, padrinho de Charlotte Rose James e foda-se que você não vai poder batizá-la.

- Rob, você já é pai?

- Ela tem um ano, Alex.

- Eu não acredito! Eu tenho uma afilhada?

- Eu tenho uma foto dela aqui. - disse pegando o cordão que usava e abrindo o pingente. - Essa é a Charlie.

Alex olhou para a foto e sorriu. A criança era a cópia exata de Daisy; os cabelos claros, os olhos azuis e os traços delicados. Apenas uma coisa fazia alguém dizer que aquela garotnha era filha de Rob, o sorriso.

- Ela é linda Rob. Agradeça por ela ser uma margaridinha.

- Você é tão engraçado Alex. Eu queria poder vê-la crescer, mas eu não faço ideia de como funcionará minhas missões.

- Fica tranquilo tá bom? Você tem uma esposa e filha. Eles não vão te manter por muito tempo aqui. Agora me conte mais sobre essa garotinha.

- Ela é tudo Alex. No dia em que eu a segurei pela primeira vez, o mundo pareceu certo, como se nada mais faltasse. Já perdi a conta de quantas vezes eu não dormi por causa dela, mas quando Charlie sorri tudo fica bem.

Alex divagava enquanto o melhor amigo anunciava as maravilhas de ser pai. Ele sabia que nunca teria um filho. Agora que fora nomeado capitão era impossível se envolver com uma mulher. Mas Rob lhe dera uma filha de presente. Ser padrinho de Charlotte seria como ter um filho. Ele faria questão de escrever para ela sempre e já podia ver seu canto na parede endeitado com desenhos infantis.

- Odeio interromper o papo de reencontro capitão, mas nós temos uma rota para traçar. - Cory chamou.

- Certo. Depois nós terminamos essa conversa agora é hora de trabalhar.

Durante dez anos, Rob foi e voltou do Vietnã mais vezes do que pode contar. Ao final, Alex estava certo, ele sempre ficava poucos meses e a cada vez que voltava para casa levava consigo uma carta de Alex para a afilhada e quando chegava ao Vietnã trazia desenhos e mais tarde cartas escritas pela própria Charlie todas começando com "Querido tio Alex, espero poder te conhecer um dia".

Por mais que se recusasse a admitir, Alex tinha se encantado por aquela bonequinha que agora completava onze anos. Ele sofreu junto com o melhor amigo quando esse estava em missão no dia do aniversário dela ou quando uma carta de Daisy chegou dizendo que ela tinha quebrado o braço. É por isso que ele decidira fazer mais do que escrever uma carta para Charlie. De acordo com Rob ela estava fissurada em uma tal Boneca Barbie, então, ele mandou um dinheiro para que pudessem comprar uma para ela. Ele fez isso escondido do melhor amigo já que Rob era completamente contra mimá-la demais e de acordo com o próprio era isso que Alex fazia. Ele também enviou um casaco camuflado que pertencia a ele, ela havia pedido um na última carta ele não havia conseguido um do tamanho dela. Rob chegaria na próxima semana para mais uma de suas missões relâmpagos e até lá, os presentes teriam chegado.

Na semana seguinte, Alex foi em um dos carros do comboio buscar Rob. A equipe de snipers nunca era designada para missões de recolhimento, mas já havia algum tempo que ele fazia isso, principalmente quando era Rob que viria. A guerra tinha sido deflagrada há cindo anos e desde lá os vietcongs estavam cada vez mais violentos. Além disso, todos concordavam que o Terceiro Sargento Jones era uma peça essencial nas táticas e ninguém queria perdê-lo.

O comboio ficou esperando no aeroporto algumas horas até que o avião pousou com os quinze integrantes da equipe tática.

- Rob! Como você está? - Alex perguntou dando-lhe um abraço de homem e um tapinha nas costas.

- Alex! Charlie sentu sua falta na festa dela. Toma. - ele tirou uma foto do bolso e uma carta da mochila e entregou a ele. - Ela me pediu para ressaltar que essa é a melhor foto dela e que espera ansiosamente o seu presente. Algo me diz que eu não vou gostar muito.

Alex riu. Charlotte tinha personalidade própria e não conseguia se controlar quando se tratava de presentes e beleza.

- Ela é apenas uma criança. Qual o problema de uma boneca?

- Você mandou dinheiro para uma Barbie? Cara, eu vou te matar. Aquela boneca me dá arrepios. Espero que você não tenha mandado o casaco militar que ela queria.

- Bom, quanto a isso, eu só enviei um casaco meu. Eles não tinham do tamanho dela.

- Daisy vai te matar. E é claro, vai sobrar para mim também.

- Relaxa. Até você voltar ela já esqueceu de tudo isso.

Os dois caminharam tranquilamente pelo campo em direção aos comboios. A equipe Clark ocupava um deles apenas esperando pelo seu capitão e pelo terceiro sargento.

- Preparados? - Monteith perguntou quando ambos entraram rindo no banco de trás.

O capitão fez um aceho com a cabeça e o carro foi ligado.

- Você conhece as regras. Durma, porque na base talvez não haja chance.

Rob fechou os olhos. Parecia impressionante que em sua primeira missão tudo aquilo o apavorasse. Ele continuava não concordando com aquilo que via ou a guerra, mas agora não havia mais a surpresa, era comum. Ele não julgava mais Alex por ter endurecido e se tornado tão sem emoção. Em áreas como aquelas, ess tipo de atitude era mais do que necessário. Podia sentir seu sono vindo. Aquele topor inicial estava indo, preparando a mente para um completo blackout, sem sonhos ou lembranças.

Estava dormindo quando um barulho de explosão e o som de vários carros freiando fez com que ele acordasse de súbito. Olhou para o lado e viu que Alex já montava o rifle sendo seguido por toda a equipe. Assim que acabou, o entregou a Rob claramente ordenando que seguisse o resto da equipe. Em seguida, começou a montar outra arma, maior que a anterior e deu um sorrisinho quando Rob o olhou espantado.

- Essa é a Claire. Esse bebezinho consegue fazer um estrago gigantesco.

- Onde está Sam? - perguntou enquanto saía do carro e ficava abaixado ao lado da capotaria.

- Não há uma Sam. Ela não consegue fazer estragos. - respondeu fazendo o mesmo caminho do amigo.

- Isso foi você sendo romântico? Acho que a guerra está te deixando destreinado.

- Cala a boca Jones! - repreendeu. - É o seguinte, Cory você vem comigo. Josh e Andrew vocês cobrem a nossa retaguarda junto com Rob.

Os quatro acenaram e Alex começou a andar por entre os carros em direção as árvores seguido por Cory. Ele gostava daquele garoto, ele era determinado e audacioso, características essenciais para um sniper.

- Cory, vê aquelas montanhas? - o garoto acenou. - Os vietcongs estão provavelmente ali apenas esperando. Vai ser muito difícil atingi-los.

- O que você sugere capitão?

- Qual a única regra dos snipers?

- Não erre o tiro. - o garoto anunciou.

Alex sorriu de lado. Colocando Claire nas costas, ele subiu em uma das árvores indo até o topo. Quando chegou lá, posicionou-se de forma a ficar sentado e colocou Claire em posição. Conseguia ver os alvos claramente.

- Em posição. Quando eu atirar, abra fogo. Vamos fazer essas formigas saírem do formigueiro.

Cory concordou e Alex mirou pela segunda vez. Conseguia ver o que deveria ser o chefe deles segurando uma arma. Respirando fundo, ele apertou o gatilho e ainda olhando pela mira viu o projétil atingir em cheio o cara com a arma causando um rebuliço de soldados.

- Alvo abatido. É hora de abrir fogo.

Cory começou a atirar fazendo com que os inimigos corressem desesperadamente.

- Capitão, eu vou andar. Ver se consigo atingi-los melhor mais de perto.

- Tenha cuidado. A fronteira é famosa por suas minas terrestres.

Cory apenas acenou concordando e começou a avançar saindo da proteção das árvores. Alex desceu da árvore e foi andando atrás de Cory. Podia ouvir os tiros sendo disparados pela sua retaguarda. Ele andou calmamente até que ouviu um barulho de bomba se armando e Cory congelar.

- Capitão, corre. - Alex travou. - Você sabe. Minas são imprevisíveis. Não tinha como prever. Desculpa. Eu deveria ter prestado mais atenção.

- Não se culpe. Quer dizer alguma coisa para alguém?

- Só diga pra minha mãe que eu a amo. E que ela não fez nada errado. Eu fui um burro por me envolver com drogas e tive sorte da minha pena ter sido mandado para cá. Foram essas pessoas que me fizeram mudar. Só as deixe saber disso.

Alex acenou e deu as costas. Uma lágrima escorreu de seu rosto, e pela primeira vez ele não se importou em deixar as emoções fluírem. Estava a dez metros de Cory quando ouviu uma explosão nos comboios.

- Rob! - gritou desesperado.

Começou a correr quando um barulho de tiro perto dele o fez parar. Ele não havia sido atingido, mas foi só olhar para trás que viu sangue encharcar a farda de Cory. Sem que ele pudesse segurar, seu corpo pendeu para o lado e um segundo barulho de explosão tomou o ambiente. Alex sentiu seu corpo ser projetado para o alto e uma dor lancinante tomar conta de seu ombro direito. Antes mesmo de tocar o chão, ele já havia desmaiado.

Alex acordou com a dor que perfurava seu braço. Havia uma intraventosa em seu braço esquerdo, mas não era de lá que a dor vinha. Reparou em seu braço direito e ofegou pesadamente. Havia vários cortes de estilhaço marcando seu braço e o ombro estava enfaixado. Tentou se levantar, mas a dor o atingiu mais forte e ele desistiu deixando o corpo cair com um baque pesado. Uma enfermeira olhou e para ele e abriu um sorriso.

- Que bom que acordou capitão. Estávamos ficando preocupados. Você ficou desacordado por dois dias. - completou respondendo a pergunta silenciosa.

- Onde está Rob? - forçou-se a perguntar. Sua garganta estava dolorida e ardeu quando falou.

- Não se preocupe. O senhor deve descansar e evitar emoções fortes.

- Onde está o meu amigo? - sua voz ainda estava rouca, mas a fúria que colocou naquelas palavras fez com que a enfermeira tremesse.

- Eu vou chamar o comandante.

Ela saiu correndo e Alex suspirou. A mente voltou ao fatídico dia. Sabia que se tivesse sobrevivido, Rob estaria em estado crítico. A explosão havia sido forte e ainda sentia um zumbido em seu ouvido direito.

O comandante surgiu a sua frente e bateu continência.

- Eu responderia, mas meu braço está temporariamente inutilizado.

- Não se preocupe com isso agora. Nós temos que acertar algumas coisas. Alexander, eu sinto muito, mas seu braço, ele ficará assim permanentemente. Os estilhaços da mina cortaram seu plexo braquial direito. Por mais que você volte a mexer o braço, segurar uma arma está fora de cogitação.

Alex abaixou a cabeça e começou a balançá-la em negativa. Ser um soldado era tudo que ele sempre quis ser, e agora seu sonho estava destruído.

- O que resta para mim agora? - perguntou tentando não soar rude.

- Há uma vaga como comandante de uma Academia Militar. Basicamente, você iria comandar e treinar novos soldados passando a eles sua experiência.

- Você ainda não me disse o que houve com Rob e o resto da minha equipe.

- Sinto muito Mason, mas nenhum deles sobreviveu. A bomba atingiu o motor e a explosão fez com que todos eles fossem carbonizados. O mesmo com o cabo Monteith. Ficamos surpresos quando você foi encontrado vivo.

Pela segunda vez na vida, Alex deixou as emoções tomarem conta. Ele chorou como nunca havia feito antes, deixando que elas expressassem toda a sua dor, todo seu sofrimento. Ele já havia enterrado um pai e uma mãe e agora iria enterrar um irmão.

- A mulher dele já sabe?

- Não. Queríamos que você fizesse isso. Sabemos o quanto ele era importante para você.

Depois, ele saiu, deixando o capitão Alexander Mason sozinho em sua dor.


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