Laura não tinha coragem para olhar para Igor, com toda certeza ele deveria estar se sentindo desnorteado. Ela preferiu olhar para o outro lado ao invés de olhar para ele. O conteúdo daquele livro era extremamente assustador e revelava absolutamente tudo que estava acontecendo com Igor.

Igor é extremamente parecido com Bruno Maciel, o namorado de Patrícia a tempos atrás. Não bastando isso, Igor mora na mesma casa em que Bruno morou, na qual, no passado, ele e Patrícia eram vizinhos. Essas informações rodavam na cabeça de Laura como se fosse um cubo de gelo, deslisava friamente e lentamente.

Oposto a Laura estava Igor ainda segurando o livro em suas mãos. Seus olhos ainda estavam cravados, incrédulo, na legenda que carregava a foto. Naquele momento sua mente estava completamente vazia, não havia nada que ele pudesse pensar naquele momento, apenas observar a foto... Tentando absorver aquela informação absurda.

Seu corpo estava tão inerte que mal conseguia sentir qualquer membro que fosse. A vontade de sair correndo dali era monstruosa, de abandonar a cidade e culpar a mãe dele por terem se mudado para aquela cidade afastada de tudo e de todos, porém ele não tinha domínio de suas pernas. Elas não o obedeciam.

Laura virou-se para ele, sabia que tinha que ajudá-lo, mesmo sem saber como. Ela o viu ainda parado agarrado com o livro. Seus olhos estavam congelados no tempo e via os músculos tenso de seu pescoço. As veias de suas mãos estavam mais expostas, na qual segurava o livro com muita força. Laura estava certa de que se uma gota de água caísse sobre Igor, ele explodiria.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas as palavras não chegaram a sua garganta. O ar gélido a fez parar no meio do ato. O que poderia dizer a ele naquele momento? Iria ficar tudo bem? Que iriam resolver aquilo? Esse tipo de consolo não funcionava mais na gravidade que se encontravam. Laura aproximou-se de Igor, o máximo que pode para que ele percebesse que ela estava ali para apoiá-lo até onde ela poderia.

Laura segurou no ombro de Igor e com a sua mão livre tirou o livro das mãos dele sem dificuldades. Andou em direção a prateleira que estava o livro e o pôs no lugar. Em seguida fez os mesmo com as pastas. Igor permanecia parado no mesmo lugar e aquilo estava fazendo com que Laura ficasse preocupada.

– Igor...

– O que devo fazer agora? – falou ele cortando Laura.

As palavras novamente sumiram da garganta de Laura. Ela se questionava a mesma coisa. O que iria fazer com um espirito apaixonado por um humano? Laura segurou a mão fria de Igor. Não tinha resposta para aquilo, apenas tinha o apoio e a boa vontade de ajudá-lo.

Igor virou-se lentamente para Laura e olhou para os seus olhos heterocromáticos. Viu neles a mesma insegurança que ele também deveria carregar no olhar, mas também percebeu que os olhos de Laura diziam que não iria desistir dele e que iria ficar ali até onde ela podia.

Ainda com os olhos conectados, Igor colou a sua mão na cintura de Laura e a puxou para mais perto, deixando os seus rostos separando apenas por alguns centímetros. Ele sentia a respiração quente dela acariciar o seu rosto frio. Aquilo o fez relaxar, o fez se sentir bem diante daquela situação confusa. Seu coração começou a bater forte a a bombear sangue quente. Os olhos de Laura mudaram, agora eles estavam rendidos a Igor.

Os olhos goram não eram mais vistos com clareza e deixaram de ser o foco. Os olhos de Igor agora visavam a pequena boca rosada de Laura. Ele apertou a cintura de Laura com mais força e, como resposta, Laura apertou o seu ombro. A distancia entre os seus lábios era mínima, até eles ouvirem algum barulho e se afastarem repentinamente.

Igor entrou na frente de Laura e jogou a luz em direção a entrada da sala, mas a porta continuava fechada. Estava tudo escuro e só era possível ver os gaveteiros inertes na sala. Laura passeou a sua lanterna pelo comodo até encontrar um gaveteiro, longe deles, com uma gaveta aberta. Ela parou a luz ali e achou curioso. Igor desviou a sua atenção da porta de entrada e viu o gaveteiro aberto.

– Estranho... – sussurrou ela.

Nesse momento mais um barulho. Era como se algo enferrujado estivesse sendo forçado. Quando menos perceberam, se tratava da gaveta aberta, que assombrosamente se fechava sozinha lentamente.

Igor e Laura ficaram em estado de alerta. Eles não estavam mais sozinhos naquele aposento. Laura grudou nas costas de Igor e ele segurou a sua mão com força. Estava assustado, mas tinha que transparecer um pouco de segurança para ela.

Novamente eles ouviram algo, mas dessa vez foi próximo deles. Alguma coisa tinha caído no chão. Igor desviou a sua lanterna em direção a prateleira de livros, não muito longe onde estavam. Ele passeou a sua luz em toda a prateleira até perceber que faltava um livro entre os livros. Ao apontar a luz no chão encontrou um livro aberto, na qual a pagina mostrava a foto de Bruno e Patrícia.

Nem Igor e nem Laura tiveram tempo para pensar direito, pois os livros que estava na estante começaram a voar em cima deles, como se alguém estivesse jogando contra eles.

– Corre! – gritou Igor segurando no pulso de Laura e a conduzindo no caminho.

O comodo agora havia se tornado um grande labirinto. Na adrenalina de fugir, Igor não sabia ao certo por onde estava indo, mas continuava correndo. A visão que tinha era apenas das luzes tremulas de suas lanternas. Os livros pararam de ser jogados, mas isso não os fizeram parar. Igor ainda corria, quando dois gaveteiros saíram do lugar e se encontraram, fazendo bloquear o caminho, ele deu meia volta a procura de outro.

Naquele momento ele viu que todos os gaveteiros estavam tremendo, como se estivesse acontecendo um terremoto. Alguns deles saiam do lugar com violência para que impedisse a sua passagem ou apenas para machucá-lo.

– Por aqui! – gritou ela puxando para o outro lado, conseguindo ver a porta de entrada. Os dois correram em direção a ela, mas alguns gaveteiros surgiram nas suas frentes impedindo a passagem, porém aquilo foi inútil. Laura foi mais esperta e passou por cima do gaveteiro e Igor fez o mesmo.

Após feito aquele movimento ousado de Laura, os gaveteiros entraram em fúria e começaram a voar em direção deles sem dor e nem piedade. Aquilo poderia matar eles esmagados como se fossem formigas. Barulhos estrondosos percorreu na sala, os pesados gaveteiros se chocavam com violência e amassavam, mostrando o poder da força que estava sendo aplicado.

Faltava poucos metros para a saída, quando Laura foi atingida por uma gaveta na cabeça com força.

Igor sentiu a sua mão escorregar dela. Virou-se para trás e encontrou a lanterna dela rolando no chão. Laura estava jogada no chão, com uma fina linha de sangue escorregando em sua testa. Ela estava acordada, porém estava desnorteada. Naquele exato momento ele viu um gaveteiro pronto para cair em cima dela. Com um movimento rápido, Igor segurou a sua mão e a puxou, por pouco o gaveteiro não esmagava a perna de Laura.

– Vamos! – gritou ele perto de seu ouvido e segurando firme na sua cintura.

Os gaveteiros continuavam a se chocar com força, porém, Igor so olhava para frente, focado apenas na saída. Laura corria com dificuldades, mas Igor a segurava com firmeza e não iria deixá-la cair novamente. Faltavam pouco passos para a saída e os gaveteiros se agitaram com mais violência. Igor estivou o braço e abriu a porta, olhou para trás e viu o caos total que estava dentro daquele comodo.

Ao sair, Igor fechou a porta com força, porém a porta se fechou e abriu novamente. Quando ele apontou a lanterna para o comodo tudo estava no seu devido lugar, como se nada tivesse acontecido ali.

Laura avançou para a porta e atrancou, colocando a chave de volta no gato oco de porcelana. Os dois ficaram olhando para a porta, esperando que algo acontecesse, mas felizmente nada aconteceu.

– Vamos, temos que nos juntar aos outros alunos. Com certeza devem estar reunindo todos no refeitório. – falou Laura já pronta para sair da biblioteca.

– Espere! – disse Igor segurando em seu braço. – Melhor vermos esse ferimento – falou já deslizando o seu dedo limpando a lista de sangue que ainda escorregava em seu rosto.

Laura fez uma pequena careta quando ele tocou em sua ferida, mas abriu um leve sorriso por ele estar preocupada com ela, além dele mesmo. Igor sorriu junto.

A troca de olhares durou pouco pois alguma coisa puxou Laura para trás. Igor assustou-se com o movimento brusco. Alguma coisa puxou o cabelo de Laura e ela se sentiu confusa. Novamente seu cabelo foi puxado, fazendo-a cair no chão e ser arrastada até a escadaria, que levava para o andar superior da biblioteca.

Algo invisível puxava os cabelos de Laura e arrastava escadaria a cima sem a menor piedade. Igor corria logo atrás tentando agarrar no pé de Laura, mas ela agitava de mais as suas pernas e seu braços gesticulavam no ar, tentando soltar o seu cabelo de quem a puxava.

Eles entraram em um corredor onde o numero de estantes era maior. Igor viu que Laura ia em direção a janela que era quase do piso ao teto. Laura foi arrastada com mais velocidade e Igor percebeu o que estava prestes a acontecer.

– Não! – gritou ele acelerando os passos.

Laura gritava desesperadamente e tentava se livrar de quem a puxava, mas quem? Não havia ninguém ali. Ela estava mais próxima da janela e quando estava faltando apenas alguns metros, Laura foi jogada em direção a janela. Igor quase que instantaneamente jogou-se no ar e conseguiu abraçar-se com Laura. Ainda no ar ele virou e jogou Laura para o corredor.

– IGOR! – gritou ela ao cair no chão, enquanto o via quebrando e caindo pela janela.