Finalmente as aulas haviam acabado, Igor e Laura lançavam-se olhares um paro outro em todas as aulas. Estava claro nos olhos de cada um que estavam doidos para falar um com o outro. Quando saíram da área do colégio, mantiveram-se em silencio, como se algum constrangimento tivesse batido neles. O sol voltou ao seu esconderijo. As nuvens carregadas reapareceram. A temperatura baixou.

– O que vai fazer a respeito? – perguntou Laura querendo quebrar aquele silencio, enquanto caminhavam pela rua lentamente.

A rua ainda estava movimentada, carros paravam para buscar os alunos. A deles voltavam para as suas casas a pé.

– Não sei ainda. Ainda tenho que descobrir como tudo começou e porque – respondeu Igor caminhando de cabeça para baixo, olhando para os seus sapatos All Star não muito novos.

– Provavelmente o cemitério – falou Laura olhando para frente, percebendo que o numero de alunos por ali diminuía – Percebeu que as coisas estranhas começaram depois que você entrou lá? Por algum motivo um espírito esta o perseguindo – falou ela concluindo.

Igor se arrepiou. Queria crer que Laura estivesse enganada, mas ela estava certa. Tudo começou quando ele entrou lá. Certamente ele deve ter deixado um espirito enfurecido. Alguma coisa de errado Igor fez para estar sofrendo aquela perseguição, mas o que foi que ele fez? Essa pergunta atropelou-o.

– Talvez – respondeu ele sabendo muito bem que o que Laura falou era a única explicação.

O silencio voltou a reinar sobre eles e não foi preciso olhar para cima para que Igor percebesse que algo de errado estava acontecendo. Percebeu que tudo ao seu redor estava quieto de mais. Ao olhar para cima seus olhos se chocaram com uma grande imagem branca bem a sua frente. Um monstruoso nevoeiro a frente avançava. Apenas sobras das casas, que pareciam monstros, eram visíveis. Laura pegou no seu braço, impedindo que ele avançasse mais a rua.

– Temos que voltar – disse ela com os olhos impressionados.

Ao darem meia-volta, perceberam que o nevoeiro vinha logo atrás também. Igor e Laura estavam cercados. Laura segurou na mão de Igor, enquanto ambos assistiram o nevoeiro se aproximando deles e os engolindo.

O silencio era tão absoluto que se tornava ensurdecedor. Eles olharam a sua volta e só encontravam sombras, que pareciam poucos confiáveis. A temperatura caiu mais ainda, fazendo com que eles esticassem as mangas de seus moletons e colocando o capuz. Eles se mantiveram imóveis no local.

– O que está acontecendo? – perguntou Igor num sussurro, atento a rua no caso de que algo surgisse.

– Estamos na época do Nevoeiro, lembra? Fomos pegos por uma de surpresa – disse ela respondendo num sussurro.

– Temos que ir para casa, então – disse Igor pronto para dar o primeiro passo.

– Não! – exclamou ela contida e baixo – Recebemos ordens que se no caso de pegarmos uma tempestade dessa no meio do nevoeiro, devemos ficar no local e emitirmos alguma luz para que nos localizem. “Uma medida de segurança” – falou ela em um sussurro, enquanto vasculhava algo em sua bolsa.

Igor olhou para uma das casas próximas e viu um gato preto andando paralela a parede, ele parecia tão perdido quanto eles e se guiava como podia. O gato deu uma pausa em sua caminhada e encarou a dupla, seus olhos amarelos eram desta no meio daquele mundo branco. O gato rosnou, como se tivesse prestes a ataca-los, Igor ficou observando.

– Ah, achei! – falou Laura estendendo um bastão de luz – Vou acender e fazer sinal de socorro. Quando vir esse sinal, alguém, com uma luz azul acenderá. Nós chamamos de Anjos do Nevoeiro, são do corpo de bombeiros, na verdade. Eles acendem um bastão de luz azul para indicar que nos viu e vem nos resgatar – explicou Laura rapidamente.

Laura torceu o bastão e ele ganhou uma luz amarelada. Ela estendeu o bastão e balançou freneticamente no ar. Igor olhou ao redor, na curiosidade de encontrar alguém na mesma situação deles. Não havia ninguém. Nenhum sinal de luz nem amarela e nem azul.

O gato miou raivoso e saiu a passos acelerados, como se tivesse assustado. Igor conseguiu ver o gato avançando até certa distancia dentro do nevoeiro, ele apenas sumiu quando entrou numa rua bem mais adiante. Igor voltou a olhar ao seu redor e não viu nenhum sinal de luz azul. Laura também parecia decepcionada e confusa, mas não deixou de balançar o bastão.

De repente eles ouviram o som do gato mais adiante. Ele tinha dato miado alto e assustado. O seu miado ecoou pelo espaço e fez com que Igor e Laura congelassem e se assustassem. O som se propagou no ar até sumir, depois de alguns instantes, uma sombra surgiu na rua que o gato tinha entrado. Um sorriso apareceu no rosto de Laura. Um temor invadiu o rosto de Igor.

– Estamos aq... – tentou gritar Laura, mas Igor tapou a sua boca. Ela tentou arrancar a mão de sua boca, mas ele tinha mais força.

– Fique quieta – disse ele sussurrando – você não sabe quem é. Aquele com certeza não é o Anjo do Nevoeiro. Onde esta a luz azul dele? – falou ele dando explicações para Laura.

Laura aquietou-se e percebeu que Igor poderia estar certo. Porém, se aquele não era um Anjo do Nevoeiro... Quem era?

A sombra se moveu e parecia ser humana. Ela caminhava lentamente em direção a eles e em poucos segundo já estava com passos acelerados. Igor não pensou duas vezes: pegou a mão de Laura e saiu correndo por uma rua qualquer. A corrida deles foi as cegas, pois não viam nada que tinha pela frente. Igor se guiava pelos muros das casas. Achando que tinha despistado a estranha sombra, ele e Laura se esconderam atrás de uma arvore, onde estava um muro em forma de um V.

– Você está louco? Poderia ser alguém precisando de ajuda – sussurrou ela nervosamente.

– Talvez não fosse – comentou ele assustado, percorrendo seus olhos do que conseguia ver da rua.

A sombra surgiu na rua mais adiante. Igor e Laura congelaram, porém estavam bem escondidos. A sombra entrou na rua andando bem devagar, eles não conseguiram distinguir se era um homem ou uma mulher. Igor tapou a boca de Laura, pois ela estava muito assustada e começou a chorar. A sombra passou muito perto deles e pareceu não ter os vistos. Igor sentia as lágrimas quentes de Laura deslizar em sua mão. Sua respiração estava ofegante.

A sombra tinha sumido, mas Igor não ousou soltar a boca de Laura.

Uma luz azul surgiu não muito longe dali. Laura arrancou a mão de Igor de sua boca e saiu correndo em direção a luz.

– Laura! – gritou Igor correndo atrás dela.

Ele correu o mais rápido que pode, mas não a alcançou. Quando chegou perto ele a viu abraçando o homem que estendia o bastão de luz azul com força. Só quando ele viu que tratava de um homem do bombeiro, tranquilizou-se.

– Vocês estão bem, jovens? – perguntou ele se aproximando de Igor.

– Sim, estamos bem. O nevoeiro nos pegou de surpresa – explicou ele brevemente.

– Vamos para o carro. Vamos deixar vocês em casa. Suas famílias devem estar preocupadas.

Ele os guiou para o carro, onde dentro estava mais quente. O carro ganhou vida e os faróis acenderam-se, tornando as ruas mais visíveis. Só havia eles dois e mais dois bombeiros na frente, Laura inclinou-se para o lado e falou em segredo com Igor:

– Amanhã vamos dar início no que está acontecendo. Aquela sombra não era normal... Estava nos seguindo – disse ela seria.

Igor concordou mentalmente com ela.