Os dois ainda estavam na estufa. Passaram-se poucos minutos e ainda pensavam no que poderia ter acontecido, porém seus pensamentos foram interrompidos por passos vindos do lado de fora. Igor e Laura ficaram em estado de alerta, por um momento imaginaram que fosse o vendo varrendo as folhas secas, mas o barulho tinha pausas sincronizadas e crescentes.

Eles não poderiam sair dali, quem estivesse chegando saberia que havia alguém dentro, mas devido ao vidro embaçado não descobriria quem era. Ambos ficaram olhando para todas as direções, olhando a paisagem embaçada. O sol se escondeu entre as nuvens carregas, deixando o lugar mais estranho e assustador.

– Vamos – disse Laura pegando em sua mão e conduzindo para as pequenas arquibancadas. Ela se escondeu em baixo da mesa de concreto que havia ali, Igor também se escondeu. O ambiente escureceu repentinamente.

O som dos passos era nítido agora, não havia possibilidade de se confundir com outra coisa. Os passos eram lentos, como se estivesse andando com cuidado em um campo minado. Igor estava assustado, seu coração batia tão forte que fazia seu peito doer. Sentiu seu sangue esfriar e um suor gelado deslizar em seu rosto. Ele olhou para trás e viu que Laura tinha sua cabeça parcialmente do lado de fora, curiosa para ver se conseguia ver algo entre os vidros embaçados.

Ela tinha seus olhos assustados também, percebia que a sua respiração estava um pouco alterada. Voltou sua atenção para frente e se atreveu a olhar a paisagem borrada e escura. Não tardou muito e ele conseguiu ver que havia alguma luz dançando entre as plantas. A luz parecia vir de alguma lanterna. Igor contraiu seus músculos, afim de não começar a tremer.

Logo um vulto era visível do lado de fora e a estranha figura fez com que ele e Laura voltassem a se esconder totalmente em baixo da mesa. Quem entrasse na sala não poderia vê-los, pois as arquibancadas eram feitas de concreto, só existia um pequeno espaço entre elas para que colocasse as pernas, ou seja, quem entrasse na sala não via as pernas do individuo, apenas o tronco para cima.

A porta da estufa foi aberta. Naquele momento Igor prendeu sua respiração e sentiu a sala mergulhar num profundo silencio. Ele viu a luz percorrer a sala, rezou para que, seja lá quem fosse, fechasse a porta e fosse embora, mas isso não aconteceu. Ouviu-se os passos entrando na sala. Uma bota pesada, talvez. Aquilo foi péssimo. Igor não ouvia a respiração de Laura, talvez ela também estivesse prendendo a sua respiração.

Os passos se aproximavam, Igor podia ouvir claramente. Estava próximo deles, no mesmo corredor das mesas de concreto que estavam. Os passos entrou no corredor, Igor encostou-se no mais fundo que podia. Ele viu as botas passar por ele e a luz que o acompanhava. Não ousou mexer um músculo. Os passos continuaram a passear pela sala, era claro que ele estava procurando alguém. Percebendo que não havia nada ali, foi embora.

Ambos ainda ficaram escondidos, dando um tempo mais seguro para fugir.

– Acho que já foi – sussurrou Laura.

– Também acho – sussurrou ele de volta, olhando ainda para o lado de fora. Estava mais escuro do que antes.

– Vamos – falou ela saindo de baixo da mesa.

Igor saiu e olhou a sua volta, quase não conseguia ver alguma coisa. Laura ficou perto dele para que não se perdesse, principalmente Igor que não conhecia o caminho de volta.

– Quem era? – perguntou curioso.

– Talvez um zelador para ver se tinha alguém aqui. Já que aqui normalmente o pessoal gosta de se encontrar para transar e estamos numa aula vaga, creio que veio da uma verificada – comentou ela segurando a sua mão e se aproximando da porta de saída.

Ela abriu a porta o mais devagar possível para que ela não fizesse barulho. Eles colocaram a cabeça do lado de fora para verificar se havia alguém por perto, eles julgaram que não. Ali estava frio agora, Igor olhou para cima, mas não viu o céu, pois estava coberto com os galhos das arvores.

– Nós vamos ter que correr. Vai ser impossível andar sem fazer barulho com essas folhas – falou ela segurando na mão de Igor.

– Ok – respondeu ele nervosamente.

Eles respiraram fundos e correram.

O ar frio do ambiente lhe cortaram o rosto. As arvores passavam rapidamente por eles, seus vultos formavam desenhos assustadores. Se o zelador estivesse por ali, com certeza estava ouvindo os sons de seus passos nas folhas, mas Igor não conseguiu ver a luz da lanterna em parte alguma. Cada vez que eles se afastavam dali, mas o ambiente ia ficando mais claro. Quando estavam quase chegando perto ao colégio, Igor viu uma garota entre as arvores. Ele parou bruscamente, quase fazendo Laura cair.

– Ai! O que houve? – perguntou ela espantada com sua parada brusca.

– Eu vi alguém ali... Uma garota – disse ele apontando entre as arvores.

– Claro que viu, o pessoal adora vir para cá para fazer o que não deve. Vamos! – disse ela dando mais um puxão.

Igor ignorou o que viu, certamente Laura estava com razão. Ela conhecia aquele lugar mais do que ninguém. Talvez ele estivesse muito impressionado com as coisas que haviam acontecido. Ele precisava desviar aqueles pensamentos e focar no que deveriam fazer naquele momento.

Eles entraram no colégio em tempo hábil para o inicio da próxima aula. Laura sentou em sua carteira e Igor na sua. Ficaram em silencio e não voltaram a comentar sobre aquele assunto, não no colégio, não com tanta gente ao redor correndo risco de ouvir.