Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 9
Em busca de uma bênção... O Legado desperta!




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Nós queríamos entrar sem sermos percebidos, sendo que Sra. O'Leary teve que ficar do lado de fora, ela não protestou, apenas andou em círculos antes de se deitar voltar ao seu cochilo. 

O orfanato não estava tão diferente de antes, exceto que tinham pintados as paredes interiores e as coisas estavam mais limpas, haviam faxineiras sorridentes aqui e ali. Crianças risonhas brincavam escondendo dentro de si mágoa pelos pais e mães que as abandonaram, eu olhava para elas e me lembrava que eu era como elas, a diferença era que eu não sorria muito naquela época, não tanto quanto elas. E aprontava muito e chamava muita atenção... E no final eu ficava de castigo.

A zeladora, que antes era uma fúria que se passava por uma senhora rabugenta na qual chamávamos de Madame Prince (Lembranças, sua fúria fofa... Só que não).

Eu e Nico tivemos que nos arrastar pelas sombras, eu perguntei se isso não gastaria muita energia, mas ele disse quando eram lugares tão próximos, não havia problema.

Eu guiei Nico até os jardins interiores aonde algumas poucas crianças brincavam, nenhuma delas nos deu atenção. Havia todos os tipos de flores por ali, tulipas, rosas, algumas do tipo Frésias e eu só lembrava o nome dessas pois a Srta. Sophie me mostrava algumas... Lembro também daquele pequeno lago em que crescia poucas flores de lótus - essas eu tentei manter distância... Mesmo que fossem flroes normais. 

A Srta. Sophie era magra de cabelos grisalhos presos em um coque, e um vestino cinzento de mangas longas e folgadas, a pele era pálida e ela agora deveria estar por volta dos setenta e cinco anos, eu nunca perguntei sua idade, mas não fazia diferença, seu sorriso era jovem e cheio de vida como o de uma criança.

- Senhorita Sophie? - eu chamei a senhora que cantarolava alegremente enquanto recolhia umas plantas medicinais... Pelo menos eu acho que eram.

A senhora se virou para mim, seu rosto estava cheio de rugas e ela estava muito mais velha do que eu me lembrava, mas seu olhar era o mesmo. Olhos castanhos e bondosos.

- Sim? - disse ela, ela me examinou dos pés a cabeça com o olhar e depois repetiu o gesto para o Nico. - Quem são vocês? Não são daqui, são?

- Ah... - eu olhei para o Nico, lembrando que não pensamos nessa parte do plano. Me virei para a senhora. - Sou eu, Srta. Sophie... Megan.

Srta. Sophie parecera confusa por um instante, mas quando seus olhos brilharam, eu soube que ela ainda tinha alguma lembrança minha.

- Estou velha demais para ser chamada de senhorita. - disse ela como no dia em que eu acordei sem nenhuma lembrança.- Olá Megan... Você cresceu muito, mas continua uma anã!

Ela me olhou divertido e eu sorri marotamente.

- O que quer dizer com isso? Vovó? - provoquei.

Ela riu, e eu acompanhei. Ela largou o regador e me deu um de seus calorosos abraços de vó. Quando nos separamos ela tocou meu rosto.

- Ah, olhe para você. - disse ela. - Se tornou uma jovem muito bonita. Mas...

Ela bateu na minha testa e eu gemi, ela podia ser idosa e magra, mas isso não a impedir de vencer Anteu em uma queda de braço.

- Onde esteve todos esses anos, menina! Achava que estivesse morta há tempos... Imagine só, eu sempre soube que você tinha uma vida cheia de perigos, com aqueles malditos monstrengos e sei lá mais o que... Me deixou preocupada!

- Eu entendi. - eu disse esfregando a testa. - Mas... Espere um instante... Como sabe sobre os monstros?

Nico limpou a garganta atrás de nós.

- Ah, Megan... Ela pode ver através da névoa. - disse ele. - E é por isso que estamos aqui.

Eu fiquei confusa de repente. Srta. Sophie olhou para Nico.

- Você deve ser um filho de Hades.

Nico pareceu surpreso.

- Como sabe disso?

- Não subestime minha sabedoria, pentelho. - disse ela. - Mas seu estilo me diz tudo. 

- Srta. Sophie... - comecei a adverti-la, eu não tinha problemas com o processo de aprovação da Srta. Sophie, mas ela acabaria espantando Nico dizendo os defeitos e qualidades na cara do meu amigo.

- Vejamos esse cabelo... Muito grande, tem que cortar! E essas roupas... 

Nico olhou para si próprio

- O que tem elas? - perguntou ele. 

- São muito... Como dizem... Emos, isso. Mas apesar de tudo, eu gostei de você, meu garoto. - disse a senhorita Sophie.

Nico parecia meio ofendido.

- Mas de qualquer jeito, Megan... Por que está aqui? Não é apenas para matar saudade, não é? - começou a Srta. Sophie com aquele olhar detectador de mentiras.

Eu suspirei.

- Bem...

- Megan, não subestime minha sabedoria. - disse ela severamente. - Posso estar um pouco acima da idade, mas você não me engana. 

- Emo? - questionou Nico indignado.

Eu comecei a pensar que aquilo ia ser longo.

- Bom, nós podemos tomar um café? - perguntei.  - A história é longa.

- Pode ser. - disse Srta. Sophie. - Mas para você é com leite, mocinha. 

- Qual é, velha! - eu reclamei. - Eu já estou crescida.

- Para mim você ainda é uma pirralha que não sabe de nada. - disse ela. - E cafeina faz muito mal aos jovens como você.

- Mas eu amo cafeina! - insisti.

- Só um pouco de leite, a cafeina não vai sair correndo do copo. - justificou.

- Ela me chamou de emo. - insistia Nico vindo logo atrás de nós.

... Ignorem ele.

Nós caminhamos até o outro lado do jardim aonde estavam as velhas mesas circulares de pedra, nós nos sentamos ao redor dessa em banquinhos feitos do mesmo material enquanto Srta. Sophie nos servia café com leite e uma "porção não muito exagerada de açúcar, pois açúcar demais faz mal a saúde."  enquanto isso Nico contava toda a história, que uma guerra estava prestes a começar, e minha épica luta contra Cronos, o plano super-ultra-mega-perigoso-e-mortal e blá blá blá.

Eu nunca soube que a Srta. Sophie poderia ver através da Névoa, isso era novidade para mim, e quando terminamos a história, ela olhou para mim e não disse nada que mostrasse sua surpresa e horror:

- Vocês jovens, sempre buscando encrenca. 

Ok, eu estava esperando algo como: "Você não pode Megan, é muito perigoso!" ou "E no final morrer lutando?!", mas não foi nada disso.

- Então você quer minha bênção? - terminou ela por fim. - Não isso tudo meio... exagerado demais? Eu tenho que admitir, não sou filha de deuses porém, eu consigo ver o tamanho perigo que te espera, você consegue ver isso, Megan?

Eu fechei os olhos por um momento, então os abri.

- Sim. Eu poderia morrer. Nico me explicou isso. Mas se nós não tentarmos...

– Todos morreremos – Nico disse. Nico não tinha tocado em seu café com leite. - Sra. Sophie, não teremos chance contra uma invasão. E haverá uma invasão.

- Eu não me surpreenderia se houvesse. - disse ela. - Mas em toda Nova York?

- E Cronos pretende ir mais além. - acrescentou Nico.

Srta. Sophie suspirou cansada, e eu imediatamente me senti culpada por colocar aquela decisão nas costas dela.

Tifão está atravessando o país agora mesmo. - eu completei. - Os mortais pensam que ele é um conjunto de tempestades.

- Megan precisa de sua benção. - insistiu Nico. - O processo tem que começar desse jeito. Eu não tinha certeza antes de conhecer a mãe de Luke, mas agora estou certo. Isso já foi feito com sucesso duas vezes. A mãe de Luke vê através da Névoa assim como a senhora...

– Você quer que eu abençoe, isso? - ela disse lentamente para mim. - E se eu me negar?

- Eu não consigo fazer isso sem você.

– E se você sobreviver esse... esse processo?

– Então eu irei para guerra – eu disse. – Eu contra Cronos. E só um de nós sobreviverá. 

Eu não disse a profecia completa – sobre a minha alma ser cortada ao meio e ser o fim de meus dias. Ela não precisava saber que eu estava provavelmente amaldiçoado. Eu só podia esperar que eu fosse capaz de parar Cronos e salvar o resto do mundo antes de eu morrer.

Ela parecia muito abalada.

- Ei. - eu chamei. - Não vou ser subestimada por uma vovó que passou da idade de ter fé em sua nova geração. 

Ela me olhou ameaçadora. 

- Me de um exemplo de sua conquista, e veremos. Pirralha. - disse ela com um brilho maroto no olhar.

- Vejamos. - eu fiz pose de quem está pensando. - Eu venci o deus da guerra, recuperei o raio-mestre de Zeus, eu fui e voltei do mundo dos mortos, eu lutei contra um ciclope, naveguei em um mar cheio de monstros, eu viajei em um labirinto cheio de segredos, eu lutei em uma batalha contra monstros! Mas nenhum desses feitos eu fiz sozinha... Bem, exceto sobre lutar com o deus da guerra, mas eu preciso de você.

Srta. Sophie olhou para seu café. Ela parecia estar tentando não chorar. Eu pensei no que Héstia havia dito, sobre o quão difícil era ceder, e eu percebi que talvez ela estivesse descobrindo isso agora.

- Megan. - ela me encarou. - Eu lhe dou minha bênção.

Eu não senti nada de diferente. Nenhum brilho mágico encheu o lugar, nem nada disso.

Eu olhei para Nico.

Ele parecia mais ansioso do que nunca e parecia ter esquecido o lance de ser chamado de emo, ele acenou com a cabeça.

– Está na hora. - disse ele.

- Megan... - chamou ela quando nós nos levantamos. 

A Srta. Sophie olhou para mim, ela era muito baixinha - eu não posso falar nada. - mas ela segurou-me pelos ombros e disse:

- Cuidado com suas decisões, menina.  - disse ela. - E não se encha de açúcar, ou seus dentes irão cair.

Eu sorri.

- Pode deixar.

E esse foi o jeito dela me dizer "Boa Sorte". Ela me deu um último abraço, e eu tentei não me sentir como se fosse uma despedida.

Quando nós demos as costas, prontos para sermos engolidos pelas sombras. Ouvi ela murmurar: "Vá, pequena heroína."

Eu e Nico desaparecemos na escuridão e finalmente voltamos para a caçada diante do orfanato. A Sra. O' Leary recuperara as energias, e olhava alegremente para mim.

Eu olhei para trás, para o orfanato. Engoli seco com a sensação de que era a última vez que eu veria aquele lugar. E era isso o que eu sempre quis, mas deixaria um laço muito, muito forte lá.

- Megan? - Nico chamou desviando minha atenção. - Vamos?

- Claro. - eu disse. 

Olhei para Sra. O'Leary.

- Desculpe garota. - eu disse. - Hora da viagem pelas sombras de novo.

Ela gemeu e cruzou suas patas em cima de seu focinho.

– Pra onde agora? – perguntei a Nico. – Los Angeles?

– Não precisa – ele disse. – Existe uma entrada mais perto pra o Mundo Inferior.

Nós surgimos no Central Park, logo ao norte da Lagoa. Sra. O’Leary parecia bem cansada enquanto ela caminhava com dificuldade em direção à um aglomerado de rochas. Ela começou a farejar em volta, e eu estava com medo que ela marcasse seu território, mas Nico disse:

- Está tudo bem. Ela apenas sente o cheiro do caminho de casa.

Eu franzi a testa.

– Através das rochas?

– O Mundo Inferior tem duas entradas principais – Nico disse. – Você conhece a que fica em Los Angeles.

– O barco de Caronte.
Nico concordou com a cabeça.

– A maioria das almas vai por aquele caminho, mas há uma passagem menor, mais difícil de encontrar. A Porta de Orfeu.

– O cara com a harpa?

– Cara com a lira – corrigiu Nico – mas sim, ele mesmo. Ele usou sua música para encantar a terra e abrir uma nova passagem para o Mundo Inferior. Abriu caminho cantando até o palácio de Hades e quase escapou com a alma de sua esposa.

Eu me lembrava da história. Orfeu não deveria olhar para trás quando estava guiando sua esposa de volta para o mundo, mas é claro que ele fez isso. Era uma daquelas típicas histórias: “Então eles morreram. Fim” que sempre faziam nós, semideuses, nos sentirmos emotivos e confusos.

– Então esta é a Porta de Orfeu? – tentei ficar impressionado, mas ainda parecia uma pilha de pedras para mim. – Como se abre isso?

– Precisamos de música – Nico disse. – Você canta bem?

- Eu tenho cara de filho de Apolo? - perguntei. - Você não pode... Sei lá, dizer um "Abra de sésamo" ou simplesmente falar para a pedra abrir?! Você é o filho de Hades e tudo mais.

– Não é tão fácil. Precisamos de música.

Eu estava certo de que se eu tentasse cantar, tudo que causaria seria uma avalanche.

– Tenho uma ideia melhor – me virei e chamei: – HANSEL!

Nós esperamos um longo tempo. Sra. O’Leary se enrolou e tirou uma soneca. Eu podia ouvir os grilos no bosque e uma coruja piando. O trânsito zunia ao longo da Central Park West. Cascos de cavalo galopavam numa passagem próxima, talvez uma patrulha da cavalaria policial. Eu tinha certeza que eles iam amar achar duas crianças passando o tempo no parque à uma da madrugada.

– Não deu certo – Nico disse finalmente.

Mas eu tive um pressentimento. Minha conexão empática estava realmente formigando pela primeira vez em meses, o que significava que um bocado de gente tinha mudado de repente para o Nature Channel, ou Hansel estava próximo.

- Não.. - murmurei. - Espere.

Fechei meus olhos e me concentrei.

Hansel.

Eu sabia que ele estava em algum lugar no parque. Porque eu não podia sentir suas emoções? Tudo que eu tinha era um zumbido fraco na base do meu crânio.

Hansel! eu pensei mais insistentemente.

Hmm-hmmmm, alguma coisa falou.

Uma imagem veio à minha cabeça. Vi um olmo gigante bem no meio do bosque, afastado das trilhas principais. Raízes nodosas envolviam o solo, fazendo uma espécie de cama. Deitado com seus braços cruzados e seus olhos fechados estava um sátiro. De primeira eu não pude ter certeza que era Hansel. Ele estava coberto de ramos e folhas, como se ele estivesse dormindo lá há um bom tempo. As raízes pareciam estar se modelando ao redor dele, vagarosamente puxando ele para dentro da terra.

Hansel, eu disse. Acorde.

Annnh... zzzzz.

Ah, cara, você está coberto de sujeira. Acorde!

Com sono, sua mente murmurou.

COMIDA! sugeri. PASTEIS DE QUEIJO!

Seus olhos se abriram. Um borrão de pensamentos preencheu minha cabeça como se ele estivesse de repente no modo acelerado. A imagem se dispersou, e eu quase caí.

– O que foi? – Nico perguntou.

– Consegui contato com ele. Ele está... Ele está vindo.

Um minuto depois a árvore ao nosso lado estremeceu. Hansel caiu de cabeça dos galhos.

- WOW! - gritei. - Você quer me matar do coração, garoto-jegue, tenho uma profecia para cumprir!

“Woof!” Sra. O’Leary olhou para cima, provavelmente imaginando se íamos brincar de pegar com o sátiro.

– Béé-éé-éé! – Hansel baliu.

– Você está bem, cara?

– Oh, estou ótimo – ele esfregou a testa. Seus chifres tinham crescido tanto que saíam quase dois centímetros acima de seu cabelo enrolado. – Eu estava no outro lado do parque. As dríades tiveram essa grande ideia de me passar através das árvores para eu chegar até aqui. Elas não entendem muito bem essa coisa de altura.

Ele sorriu e ficou em pé – bem, em cascos, na verdade. Desde o último verão, Hansel tinha parado de tentar se disfarçar como humano. Ele nunca mais tinha usado boné ou pés falsos. Ele nem ao menos usava jeans, já que ele tinha pernas peludas de bode da cintura para baixo. Sua camisa tinha uma imagem do livro Onde estão as coisas selvagens. Estava coberta de sujeira e seiva de árvore. Sua barbicha parecia mais cheia, quase a de um homem adulto (ou bode?) e ele estava tão alto quanto eu agora.

- Mééééééégan! - ele baliu. - Senti saudades de você! Senti saudade do acampamento. Eles não servem pasteis de queijo muitos bons nos territórios selvagens.

Eu ri e o abracei.

- Estou feliz em ver você, menino-jegue, mas onde Hades você esteve nos últimos dois meses?

– Os últimos dois... – o sorriso de Hansel desapareceu – os últimos dois meses? Do que você está falando?

– Nós não ouvimos nada de você – eu disse – Emily está preocupada. Nós mandamos mensagens de Íris, mas...

– Espere um pouco – ele olhou para as estrelas acima como se estivesse tentando calcular sua posição – em que mês estamos?

- Agosto!

A cor foi sugada de seu rosto.

– Isso é impossível. É junho. Eu apenas deitei para tirar um cochilo e… – ele agarrou meus braços – Eu lembro agora! Ele me nocauteou. Megan, nós temos que pará-lo!

- Ei! Calma. - eu disse. - Me conte o que houve.

Ele respirou fundo.

– Eu estava... Estava andando na floresta perto do lago Harlem Meer. E eu senti esse tremor na terra como se algo poderoso estivesse por perto.

– Você pode sentir coisas assim? – perguntou Nico.

Hansel concordou.

– Desde a morte de Pã, quando ele me declarou legado, eu posso sentir quando algo está errado com a natureza. É como se meus ouvidos e olhos fossem mais aguçados quando estou na Natureza. Em todo caso, comecei a seguir o cheiro. Esse homem com um longo casaco preto estava andando pelo parque, e percebi que ele não criava nenhuma sombra. Ele meio que tremeluzia enquanto se mexia.

– Como uma miragem? – perguntou Nico.

– Sim – disse Hansel – e toda vez que ele passava por humanos...

– Os humanos desmaiavam – disse Nico – se curvavam e iam dormir.

– Isso mesmo! Então depois que ele ia embora, eles se levantavam e continuavam seus afazeres como se nada tivesse acontecido.

Eu olhei fixamente para Nico.

- Conhece o cara de preto?

– Temo que sim – disse Nico – Hansel, o que aconteceu?

– Eu segui o cara. Ele ficou olhando para os prédios em volta do parque como se estivesse fazendo estimativas ou algo assim. Uma garota atleta passou correndo, e se curvou na calçada e começou a roncar. O homem de preto pôs sua mão na testa dela como se estivesse medindo sua temperatura. Então ele continuou andando. Nesse momento, eu sabia que ele era um monstro ou algo ainda pior. Eu o segui até dentro deste bosque, até a base de um grande olmo. Eu estava prestes a convocar algumas dríades para me ajudar a capturá-lo quando ele se virou e...

Hansel engoliu em seco.

– Megan, o rosto dele. Eu não podia decifrar o rosto dele porque ficava mudando. Só de olhar para ele fiquei sonolento. Eu perguntei: “O que você está fazendo?” e ele respondeu: “Apenas dando uma olhada ao redor. Você deve sempre fazer o reconhecimento do campo de batalha antes da guerra.” Eu disse algo realmente inteligente, como: “Essa floresta está sob minha proteção. Você não vai começar nenhuma batalha aqui!” E ele gargalhou. Ele disse: “Você tem sorte que eu esteja guardando minha energia para o evento principal, pequeno sátiro. Vou apenas garantir a você uma curta soneca. Bons sonhos.” E essa é a última coisa que eu me lembro.

Nico expirou.

– Hansel, o homem era Morfeu, o Deus dos Sonhos. Você tem sorte de ter acordado.

Dois meses. – Hansel gemeu. – Ele me pôs para dormir por dois meses.

Tentei envolver minha mente com o significado disso. Agora fazia sentido porque nós não tínhamos conseguido entrar em contato com Hansel todo esse tempo.

– Porque as ninfas não tentaram acordar você? – perguntei.

Hansel deu de ombros.

– A maioria das ninfas não são muito boas com o tempo. Dois meses para uma árvore não é nada. Elas provavelmente pensaram que não havia nada errado.

– Nós temos que descobrir o que Morfeu estava tramando no parque – eu disse. – Eu não gosto dessa coisa de “evento principal” que ele mencionou.

– Ele está trabalhando para Cronos – Nico disse. – Nós já sabemos disso. Uma grande parte dos deuses menores está. Isso apenas prova que haverá uma invasão. Megan, temos que continuar com o nosso plano.

- Esperem ai... – disse Hansel. – Que plano?

Nós contamos a ele, e Hansel começou a puxar com força os pelos de sua perna.

– Vocês não estão falando sério – disse ele. – O Mundo Inferior de novo, não.

– Não estou pedindo para você vir, cara – eu falei – sei que você acabou de acordar. Mas precisamos de alguma música para abrir a porta. Você pode fazer isso?

Hansel pegou sua flauta de bambu.

– Acho que posso tentar. Eu sei algumas músicas do Nirvana que podem separar pedras. Mas, Megan, você tem certeza que quer fazer isso?

– Por favor, menino-jegue – eu disse – significaria muito. Pelos velhos tempos?

Ele choramingou.

– Pelo que eu me lembro, nos velhos tempos nós quase morremos várias vezes. Mas tudo bem, vamos lá.

Ele botou a flauta nos lábios e tocou uma música penetrante, animada. As rochas tremeram. Mais algumas estrofes, e elas se abriram tortuosamente, revelando uma fenda triangular. Eu espiei para dentro. Degraus conduziam para baixo, dentro da escuridão. O ar cheirava a mofo e morte. Trouxe de volta memórias ruins da minha viagem pelo Labirinto no ano passado, mas este túnel parecia ainda mais perigoso. Ele levava direto para a terra de Hades, e isso era quase sempre uma viagem só de ida.

Virei para Hansel.

– Obrigada... Eu acho.

– Então, Cronos realmente vai invadir?

– Eu queria poder lhe dar outra resposta, mas sim. Ele vai.

Pensei que Hansel ia mastigar de ansiedade sua flauta de bambu, mas ele se endireitou e arrumou a camisa. Eu não pude evitar pensar no quanto ele era diferente do velho e gordo Leneu.

– Devo convocar os espíritos da natureza, então. Talvez nós possamos ajudar. Vou ver se nós conseguimos achar esse Morfeu.

– Também é melhor contar para Emily que você está bem ou vai se meter em encrenca.

Os olhos dele se arregalaram.

– Oh, ela vai me matar!

Ele tinha começado a correr, mas voltou desengonçado e me deu mais um abraço.

– Tenha cuidado lá embaixo! Volte viva, viu!

Assim que ele fora embora, Nico e eu acordamos Sra. O’Leary de seu cochilo. Quando ela farejou o túnel, ficou animada e liderou o caminho escada abaixo. Era um túnel bem apertado. Esperava que ela não ficasse entalada. Não imaginava quantos desentupidores nós precisaríamos para desentalar um cão infernal espremido no meio de um túnel que leva ao Mundo Inferior.

– Pronta? – Nico me perguntou. – Vai ficar tudo bem. Não se preocupe.

Ele soava como se estivesse tentando convencer a si mesmo.

Olhei de relance para as estrelas, imaginando se alguma vez eu as veria de novo. Então nós mergulhamos na escuridão.
 


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