Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 34
Dias Sombrios


Notas iniciais do capítulo

"Mãe, ouça meu coração..."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/420096/chapter/34

– Ele vai ficar bem? – foi à primeira coisa que eu disse para Will Solace assim que ele saiu da enfermaria parecendo extremamente cansado.

Ele suspirou.

– Ele quer falar com você. – disse ele sem olhar para mim.

Quando eu adentrei haviam centenas de semideuses, todos eram familiares, todos eles descansavam, imaginei eu no lugar deles. Após uma guerra como aquela, eu deitar em uma cama e dormir sendo atormentada pelas mesmas imagens que tinha acabado de presenciar. Sangue, mortes, monstros... A fraca luz da tarde adentrava o cômodo tornando o lugar mais pacifico e agradável.

Eu vi Daniel Kane enrolado em cobertas, ele era o único que não dormia ali, seu cabelo estava emaranhado e seus olhos pareciam tristes perdidos no nada, olhando para o teto. Eu me aproximei.

– Ei, Dan – eu sorri para. – Você está melhor?

Ele me encarou.

– Eu sou um inútil mesmo – disse simplesmente.

Eu me sentei em um espaço mínimo em sua maca.

– Seu namorado não vai ficar zangado de você ter vindo aqui só por minha causa? – perguntou provocador.

Eu revirei os olhos.

– Não, para a sua informação. – eu disse. – Você não deixa de ser irritante mesmo quando está ai morrendo.

Eu ri da minha própria piada, mas quando vi que Daniel não estava rindo fiquei séria.

Ele suspirou.

– Você sai dessa – eu disse. – Onde está o garoto que atacou o Titã do tempo com um MP4 Player azul?

Ele riu fraco.

– Acho que o esqueci em algum lugar no caminho para cá.

Eu sorri para ele, ele não retribui dessa vez, ele me olhava como se olhasse para minha lápide. Eu brinquei com meus próprios dedos me sentindo desconfortável de repente. Daniel abriu a boca para falar alguma coisa, mas fechou-a imediatamente então ele disse alguma coisa, tão baixo como um sussurro.

Eu franzi as sobrancelhas.

– Leucemia – disse ele por final olhando para as próprias mãos. – Um monstro que não se mata com bronze celestial, não é mesmo?

– Existem vários... – eu hesitei. – Espera... Eu li o que?

Daniel riu, mas sua expressão se tornou vazia de novo.

– É câncer do sangue – disse ele.

Eu me endireitei e sacudi a cabeça.

– Você está dizendo...

– Eu sempre soube Megan... – ele disse com seus olhos cheios de água. – Você entende não é? O que é que a gente sente quando alguém nos diz que vamos morrer.

Eu hesitei. Meu estômago deu uma reviravolta e eu engoli seco. Daniel fez esforço para se sentar, ele virou o rosto e olhou pela janela. Seus olhos se iluminaram na luz alaranjada do pôr do sol. Ele sorriu, suas lagrimas descendo pelo seu rosto brilhavam na claridade da tarde. Então eu o abracei.

– Você está brincando, não é? – eu comecei. – Você não... Você não pode ser mais um... Mais um... Você não pode morrer.

Dan riu fraco.

– Eu queria que fosse uma brincadeira – disse ele se deitando mais uma vez, ele agarrou minha mão e meu instinto foi afastá-la, mas eu não o fiz.

Ficamos assim então, eu estremecia no pensamento de perder mais um amigo. Dessa vez a única diferença era que não era a batalha que tiraria um amigo de mim, era simplesmente a mortalidade.

Daniel fechou os olhos.

– Cante pra mim... – ele disse.

– O que? – eu disse incrédula – Eu não sei cantar, eu não vou...

Daniel apertou minha mão.

– Cante para eu dormir... Por favor.

Eu hesitei. O que Hades eu ia cantar? Eu não conseguia lembrar de nenhuma musica, então eu lembrei, quando eu era menor, antes mesmo de eu conhecer Jake Turner. Quando eu acordava com pesadelos – típicos de uma semideusa – Percy cantava aquela musica pra mim, eu fechei os olhos e esperava não cantar tão mal quanto eu imaginava que eu cantava.

Mãe, ouça meu coração... – eu cantei – Mãe, ouça o meu coração. Assim como uma batida termina, outra começa. Você pode ouvir, não importa onde esteja...

Abri os olhos, esperando Daniel pedir para eu parar porque eu pareço um galo com a voz rouca. Mas ele simplesmente continuava segurando minha mão, um mínimo sorriso nos lábios.

– Irmã, esconda o nosso amor, longe do mal que nós dois conhecemos. – Prossegui - Ele pode nos iluminar desses dias sombrio.

“Embora, eles pareçam eles pareçam ficar mais escuros enquanto eu caminho.

Nosso amor vai nos iluminar desses dias sombrios Irmã,

Até que ele ilumine nosso caminho para casa...

Irmã... Esconda nosso amor longe.”

No momento em que eu terminei, a respiração de Daniel parou e dessa vez, ele não estava simplesmente desmaiado. Sua mão escorregou da minha, eu deveria ter chorado, mas eu sorri estranhamente eu não me sentia triste, acho que é por que eu cantei aquela musica e ela nunca me Fez chorar antes, e aquela não seria a primeira vez.

O resto do dia foi tão estranho quanto no começo.

Para os mortos foram dados os ritos fúnebres na fogueira. A Mortalha de Ridley era cor de rosa, mas com um bordado de uma lança elétrica. Os Chalés de Ares e Afrodite a proclamaram com uma heroína, e acenderam a mortalha juntos. Ninguém mencionou a palavra espiã. Esse segredo queimou junto com sua mortalha à medida que a fumaça com perfume de grife subia aos céus.

Mesmo Ethan Nakamura recebeu uma mortalha de seda preta com um logotipo de espadas cruzadas sob um conjunto de setas em escala. Sua mortalha pegou fogo, e eu esperava que Ethan soubesse que havia feito diferença no final. Ele pagou com muito mais do que um olho, mas os deuses menores finalmente dariam a ele o respeito merecido.

Fizemos até uma mortalha para Daniel, era azul e branca e eu a queimei. Fiquei ali parada observando enquanto as chamas engoliam a mortalha. Aonde quer que Daniel esteja eu esperava que ele estivesse bem.

O jantar foi silencioso.

Sra. O’ Leary brincava ao redor feliz da vida, comendo todos os restos de comida de cima das mesas. Nico sentou à mesa principal, com Quíron e Sr. D, e ninguém pareceu achar que algo estava fora de lugar. Todo mundo dava tapinhas nas costas de Nico, cumprimentando-o pela sua luta. Até as crianças de Ares estavam muito legais. Apareça com um exército de guerreiros mortos-vivos para salvar o dia e de repente você é o melhor amigo de todos.

Lentamente, a turma do jantar foi se dissipando. Alguns foram para a fogueira para cantar. Outros foram para a cama. Sentei-me sozinha na mesa de Poseidon e fiquei vendo o luar e ouvindo os barulhos de Long Island.

Foi quando Jake escorregou para o banco ao meu lado.

– Ei... – ele disse delicadamente. – Feliz aniversário.

Ele trazia uma forminha com um cupcake disforme cheio de açúcar azul por cima.

Olhei para ela.

– O que?

– Hoje é 6 de agosto – disse ele. – Seu aniversário, não é?

Fiquei espantada. Nem tinha lembrado, mas ele estava certo. – que novidade... - Eu fiz dezesseis anos nesta manhã, a mesma que eu havia feito a escolha de confiar em Luke e perdoar Silena. A profecia havia se realizado pontualmente, e eu não tinha sequer pensado no fato de ser meu aniversário.

– Vamos, faça um pedido. – ele disse.

– Foi você quem fez? – eu perguntei.

– Tyler fez a maior parte – disse ele.

– Isso explica porque ele se parece com um tijolo de chocolate – eu disse – com cimento azul extra.

Jake riu.

Eu pensei por um segundo, depois apaguei a vela.

Dividimos no meio e comemos com as mãos. Jake sentou mais perto e ficamos olhando o mar. Grilos e monstros estavam a fazendo barulho na mata, mas fora isto, estava silencioso.

– Você salvou o mundo – ele disse.

Nós salvamos o mundo.

– Octavian é o novo Oráculo e Daniel... Bem... Ele não era tão idiota.

Eu assenti.

– Ele era sim. – eu disse. – Mas ele não seria o Daniel se não fosse.

Jake riu.

– Ele gostava mesmo de você. – disse ele. – Não posso culpá-lo.

Eu lhe dei um pequeno empurrão.

Limpei o resto de bolo das minhas mãos.

– Sabe... Quando eu estava no rio Estige, me tornando invulnerável... Nico disse que eu tinha de se concentrar em uma coisa que me mantivesse preso a este mundo, que me fizesse querer permanecer mortal.

Jake permanecia com seus olhos no horizonte.

– Então, lá no Olimpo, quando eles queriam me transformar em deusa e tal, eu pensei um pouco...

– Ah, então você queria.

– Bem, talvez um pouco. Mas eu não quis, porque pensei... Eu não queria que as coisas continuassem as mesmas para toda a eternidade, porque sabe, sempre pode melhorar. E eu fiquei pensando... – Minha garganta estava ficando seca.

– Em alguém em particular? – Jake perguntou com uma voz macia.

Eu olhei e vi que ele estava tentando não sorrir.

– Você está rindo de mim! – eu reclamei.

– Não estou.

– Você não está facilitando as coisas.

Então ele riu de verdade, e pegou o meu rosto com as mãos.

– Eu nunca, nunca vou fazer as coisas ficarem mais fáceis para você, Cabeça de Alga. Acostume-se com isso.

Quando ele me beijou, eu tinha a sensação de meu cérebro estava derretendo dentro de mim.

Eu poderia ter ficado ali para sempre, mas uma voz atrás de nós resmungou:

– Aleluia, vamos glorificar irmãos!

– Achei que iam ficar falando, falando... Estavam demorando já, viu?

De repente, o pavilhão estava cheio de tochas e campistas. Clarisse liderando os bisbilhoteiros que nos cercaram e nos colocaram em seus ombros.

– Wow! – exclamei.

– Ah, qual é... – reclamou Jake. – Não existe mais privacidade no mundo?

– Acho que os pombinhos estão precisando se refrescar – cantarolou Clarisse com alegria.

– Rumo ao lago de canoagem! – gritou Connor Stoll.

Com uma alegria enorme, eles nos levaram morro abaixo, mas nos mantiveram perto o suficiente para darmos as mãos. Jakenão parava de sorrir e eu não pude deixar de rir também, mesmo que o meu rosto estivesse completamente vermelho.

Demos as mãos até o momento em que eles nos jogaram na água.

Depois, quem riu por último fui eu. Fiz uma grande bolha de ar no fundo do lago. Nossos amigos ficaram esperando por nós, mas hey, quando você é a filha de Poseidon, não precisa ter pressa.

E foi o melhor beijo submarino de todos os tempos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O nome da musica que a Megan cantou se chama "Dark Days" (Dias sombrios) e é da banda Punch Brothers, a musica faz parte da trilha sonora do filme "Jogos Vorazes" e eu sempre escuto ela antes de dormir no meu MP4 da Sony (Da Sony, de onde acham que veio o MP4 do Daniel? Só que o meu é vermelho...Me arrependi de não ter escolhido o azul)
Essa musica sempre me acalma, não é atoa que eu a escolhi.
Musica + Tradução + Lyrics > http://www.youtube.com/watch?v=AkC_Kq6WZ_A

PS: Ainda não acabou, tem mais um capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.