Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 26
A Lâmina que reflete o coração




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/420096/chapter/26

O monstro estava a três andares acima de nós, deslizando como uma cobra gigante pelos lados do edifício como se ele estivesse medindo nossas forças. Centauros congelavam de medo com o olhar do drakon.

Mais para o norte, o exército inimigo avançava na direção dos Pôneis de Festa, nossas armada se desfez. O drakon pulou, engolindo três centauros californianos em uma só bocada, antes mesmo de eu conseguir me aproximar.

Senhora O’Leary se jogou pelo ar – uma sombra negra mortal com dentes e garras. Normalmente, um cão infernal se jogando é uma visão horrível, mas perto do drakon, Sra O’Leary parecia uma bonequinha de dormir para crianças. Suas garras bateram inofensivamente nas escamas do drakon. Ela atingiu a garganta do monstro, mas não conseguiu fazer nem um arranhão. Entretanto, seu peso foi o suficiente para tirar o drakon da lateral do edifico. Eles caíram atrapalhadamente e bateram na calçada, cão infernal e serpente enroscaram-se. O drakon tentou morder Senhora O’Leary, mas ela estava muito perto da boca da serpente. Veneno espalhou-se por todo canto, levando centauros à sujeira e uns poucos monstros, mas Senhora O’Leary passou ao redor da cabeça da serpente, arranhando e mordendo.

- AAHHH! – eu cravei Anaklusmos bem no olho esquerdo do monstro. O holofote se apagou. O drakon sibilou, ele me parecia bem zangado comigo agora, ergueu-se e contratacou, mas eu simplesmente rolei para o lado.

Ele arrancou um pedaço do tamanho de uma piscina do asfalto. Ele se virou pra mim com seu olho bom. Até O’Leary fez seu melhor para conseguir distraí-lo. Ela pulou na cabeça do monstro arranhando-o como uma grande peruca preta irritada.

O restante da batalha não estava indo bem. Os centauros tinham entrado em pânico devido ao ataque dos gigantes e demônios. Uma camisa laranja do acampamento apareceu no meio do mar de batalha, e em seguida desapareceu. Flechas voavam. Ondas de fogo explodiam em ambos os exércitos, mas estavam se aproximando cada vez mais da entrada do Edifício Empire State. Estávamos perdendo terreno.

De repente Jake surgiu nas costas do drakon. Seu capuz caiu assim que ele cravou seu sabre de bronze celestial em uma fissura nas escamas da serpente.

O drakon rugiu. Ele cambaleou, derrubando Jake.

Eu o alcancei, antes que ele caísse no chão. Eu o tirei do caminho assim que a serpente rolou, esmagando um poste bem onde ela estava.

– Valeu – disse ele.

– Eu te disse pra tomar cuidado!

– É bem... ABAIXE-SE!

Foi a vez dele de me salvar. Ele me empurrou assim que os dentes do monstro assaram por cima de minha cabeça. Senhora O’Leary se jogou contra o rosto do drakon para chamar sua atenção, e nós fizemos questão de sair do caminho.

Enquanto isso, nossos aliados estavam recuados nas portas do Edifício Empire State. O exército inimigo inteiro os cercava.

Estávamos sem opção. Não tinha mais ajuda chegando. Jake e eu teríamos que recuar antes que fossemos isolados do Monte Olimpo, mas ele não parecia de acordo com isso.

- Eu vou tentar atacar de novo, você distrai ele pela frente.

- Não, espera! – já era tarde, o idiota já tinha ido com seu capuz sobre a cabeça.

Então eu ouvi um estrondo no norte. Não era um som que você costuma ouvir em Nova York, mas eu reconheci imediatamente: rodas de bigas.

A voz de um garoto gritou:

– Vamos lá, cabeças de Javali!

E uma dúzia de bigas de guerra entrou na batalha. Cada uma continha uma bandeira vermelha com o símbolo de uma cabeça de javali. Cada tinha um par de cavalos esqueletos às puxando com crinas de fogo. Trinta novos guerreiros no total, armaduras brilhantes e olhos cheios de ódio, baixaram suas lanças ao mesmo tempo – formando uma parede da morte.

– Os filhos de Ares? – uma das filhas de Afrodite, Ridley – O que eles estão fazendo aqui?... Espere, aquele é...

Ela não precisava terminar, por incrível que parecesse – e parecia mesmo – na liderança dos cabeças de javali estava um garoto loiro de doze anos com uma espada de lâmina curta em mãos e uma armadura um pouco grande demais para ele.

- Haley? – eu consegui dizer.

No final, Haley conseguira trazer os filhos de Ares, mas era estranho ele estar na liderança, ao seu lado estava Christian Armstrong com uma lança erguida para o ar, mas eu não via Clarisse em lugar nenhum entre eles.

Enquanto a metade das bigas atacava o exército de monstros, Haley liderou os outros seis direto pro drakon.

A serpente ergueu-se e tentou se livrar de Sra O’Leary. Meu pobre animalzinho atingiu a lateral do edifício com um ganido. Eu corri para ajudá-la, mas a serpente já tinha se recomposto para nova ameaça. Mesmo com um só olho, seu brilho foi suficiente pra paralisar dois condutores das bigas. Eles bateram numa fila de carros. As outras quatro bigas continuaram avançando. O monstro mostrou suas presas e teve sua boca preenchida por dardos de bronze celestial.

– SSSSSSSSS!!!! – gritou ele, o que provavelmente devia ser um AIIIIII! na língua do drakon.

- Ares! Comigo! – gritou Armstrong.

Do outro lado da rua, a chegada das seis bigas deu uma nova esperança aos Pôneis de Festa. Eles se reuniram nas portas do Edifício Empire State, e o exército inimigo ficou momentaneamente confuso.

Enquanto isso, as bigas de Haley cercaram o drakon. Lanças quebravam-se na pele do monstro. Cavalos esqueletos cuspiam fogo. Mais duas bigas foram derrubadas, mas os guerreiros simplesmente se colocavam de pé, sacavam suas espadas, e iam ao trabalho. Eles atacavam fissuras nas escamas da criatura. Eles se desviavam do veneno como se eles tivessem treinado por toda sua vida, que é claro, eles tinham.

- Vamos nessa! -gritou Ridley em animação tirando uma adaga de sua bainha e correndo para a batalha.

Ninguém poderia dizer que os campistas de Ares não eram corajosos ou que Haley era inútil. Haley estava à frente, atacando com sua espada o rosto do drakon, tentando cegar seu outro olho. Mas assim que olhei, algo começou a dar errado. O drakon engoliu um dos campistas de Ares em uma abocanhada. Ele jogou um para um lado e jogou veneno num terceiro, que entrou em pânico, com sua armadura derretendo.

*ROOOF*

Eu virei na direção do latido que me acordou para a realidade. Sra O’Leary tentou levantar, mas ganiu de novo. Uma de suas patas estava sangrando.

– Fique aí, garota – eu disse a ela. – Você já ajudou muito.

Eu queria saber aonde estava Jake, mas não o via em lugar nenhum, deveria estar invisível de novo. Eu subi nas costas do monstro e o golpeei tentando desviar sua atenção de Haley

Os filhos de Ares jogavam dardos, a maioria quebrava, mas algumas se alojavam nos dentes do monstro. Ele fechava sua mandíbula até sua boca estar cheia de sangue verde, um veneno amarelo espumante, e pedaços de armas.

- Haley! Isso não vai dar certo! - eu gritei – Uma criança de Ares está destinada a matá-lo! Onde está Clarisse?

Ele não teve tempo de responder. Haley foi lançado como uma mosca na direção de um beco.

- Não! -gritou a voz de Ridley.

Haley aterrissara em um monte de sacos de lixo, deve ter doído, mas ele estava bem, apenas atordoado. Ridley estava próxima, verificando se Haley estava bem, mas eu tinha meus próprios problemas.

- Cobra idiota! – ouvi Ridley gritar e tive a ligeira vontade de mandar ela calar a boca.

O drakon se virou para eles, completamente ofendido, pelo o que me parecia. Ele ergueu sua cabeça, me fazendo escorregar, mas eu cravei Anaklusmos em uma das fissuras em suas escamas e me pendurei ali mesmo, sabendo que uma hora ou outra eu ia cair. O drakon rugiu e sibilou ao mesmo tempo – o que era um barulho muito perturbador se querem saber... – e se virou para Ridley e Haley, Ridley tentava ajudar Haley a levantar, não havia ninguém por perto deles.

- Não... Você não vai! – eu disse para a cobra, mas o Drakon não me deu ouvidos. – ANDA! Olhe para mim sua lagartixa estú... Wow!

Eu escorreguei por completo para o chão, não tive tempo de gritar, apenas me concentrei no mar, uma brisa marinha de sei lá aonde bateu no meu rosto e quando eu vi eu tinha caído em uma espécie de mão humana – mais ou menos do meu tamanho - de água cintilante, a mesma se desfez em seguida me dando uma queda menos fatal, mesmo assim, doeu cara!

- NÃO! – ouvi um berro agudo.

Haley ainda estava atordoado entre o monte de lixo, porém já de pé e Ridley estava mais distante agora, tentando ajudar um de seus irmãos, tudo aconteceu rápido demais. O drakon investiu uma cabeçada em Haley que o jogaria para longe dali.

Mas isso não aconteceu... Graças a Ridley, eu só me lembro de ver a pequena filha de Afrodite empurrar Haley para longe antes que a cabeça o atingisse com uma dentada, o que Ridley não teria calculado era que ela receberia aquele golpe mortal.

Não ouvi nem um único grito, eu apenas observei enquanto tudo parecia acontecer em câmera lenta: Haley gritando, Ridley berrando enquanto era lançada pelo ar até encontrar o chão e ser arrastada até finalmente parar enquanto gemia de dor. Um dente de drakon fincado próximo aonde deveria estar seu coração.

Meus amigos tentavam se proteger do inimigo, Jake estava em algum lugar, talvez tentando acertar o drakon e eu...

- Eu quero... – murmurei com a voz rouca, uma parte de mim se inquietava e a outra estava assustada, aquela voz não era minha. - ... Matá-los.

Dois jatos de água surgiram do chão ao meu lado formando no ar mãos enormes que se fechavam em punhos. No reflexo da água eu via a mim mesma, o ódio no meu olhar afastava todos os monstros, mas não acho que isso era exatamente o que os fazia hesitar em me matar.

Meu olho direito permanecia normal, verde como o mar, mas o meu olho esquerdo, totalmente escuro e cheio de noite. O drakon investiu em mim, mas um dos punhos de água lhe deu um tapa que o fez cambalear, em seguida os dois punhos atacaram o exército inimigo e de repente eu já não me via hesitar tanto em matar semideuses inimigos, todos eram inimigos, todos eram monstros e eu tinha que matar todos.

Minha franja caia em meu rosto, eu estava exausta, mas cheia de energia e isso era bom e ruim ao mesmo tempo, porque alguma coisa me dizia que aquela energia assassina não era minha.

Finalmente... Algo riu dentro da minha cabeça. Há séculos eu não mato alguma coisa.

Eu quis responder, mas eu estava fora de controle, uma hora eu quase acertei um filho de Atena.

Chega disso... Minha voz era um zumbido em meu consciente.

- MORRAM! – minha voz rouca gritava.

Chega... Pare com isso... a parte firme em mim implorava e de repente só me lembro de ouvi o grito de Clarisse La Rue, e de alguma coisa grande e escamosa me acertar, e alguém, Jake gritar meu nome e depois ele acertar um golpe no olho do drakon.

Então tudo escureceu.

Eu estava de volta a aquele lugar, a sala grande e circular, atrás das barras estava o monstro mais horrível que eu já tinha visto, e só daquela vez eu conseguira vê-lo com clareza: Os olhos eram os mesmo, negros por completo, íris, pupila, tudo! Ele era grande demais e seu rosto era de algo antigo e poderoso, eu não sabia como explicar... Imagine um tipo de gárgula gigante e escura, com duas asas tipo de morcego, mas vinte vezes maiores, agora coloque orelhas grande e pontudas nessa coisa, algo que serviria como um chifre ereto e ao mesmo tempo como orelhas, se você conseguir coloque dez caudas escuras nessa coisa, sim, eu disse dez caudas, grandes e com pontas que poderiam furar você e te fazer de espetinho. Não posso esquecer-me das garras e nem dos dentes e presas – que por acaso eram enorme.

Se você juntar toda essa receita e deixar no forno por uns trinta e cinco minutos você terá o pesadelo que não te deixaria dormir por semanas. Mas eu continuava achando que os olhos eram as coisas mais assustadoras naquele ser.

- Cara... – minha voz ecoou e em seguida em vez de gritar de horror eu disse: - E eu achando que Equidna era a coisa mais feia que eu já tinha visto.

A coisa rosnou.

- Eu disse isso para ele também, mas ele não acredita em mim. – eu pulei de susto quando uma figura fantasmagórica surgiu atrás de mim.

Eu já estive antes no mundo inferior e poderia dizer que aquilo definitivamente era um fantasma, mas eu podia olhá-lo diretamente sem sua imagem tremular.

Você de novo... O monstro atrás das grades rugiu para o fantasma que riu.

- Também não é nada bom te ver novamente, monstrengo. – disse o fantasma se irando em seguida para mim e abrindo um simpático sorriso. – Olá, Meg.

Eu fiquei sem reação por um instante, não porque aquilo era um fantasma, mas porque me era tão familiar.

O fantasma riu.

- Você está grande. – disse ele o com o mesmo sorriso, eu o examinei, uma franja curta, cabelos negros, camiseta do acampamento meio-sangue, eu não podia ver a cor dos seus olhos, mas mesmo assim podia dizer que eram verdes com os meus. – Não me reconhece?

Eu balancei a cabeça.

- Não é isso... É só que... – eu murmurei, minha voz saiu em um sussurro, eu limpei a garganta. -... Você não mudou nada, Percy.

O Fantasma sorriu mais abertamente.

- Quando morremos o tempo morre junto com a gente. – explicou. – Como está Jake?

- O mesmo cabeça de Javali de sempre. – eu sorri com uma enorme vontade de abraçá-lo, mas sabia que se tentasse, eu o atravessaria.

Percy ergueu as sobrancelhas, como se soubesse de algo que eu não havia dito.

- Uhum... Sei. O mesmo, não é? – ele riu.

Meu irmão mais velho parecia que ia dizer alguma coisa, mas a terceira presença na sala o cortou:

Jackson... A voz grave da coisa transbordava de ódio, mas Percy não parecia temer.

- Ele é chato, não é mesmo? – reclamou. – Mas até os monstros tem coração, bem, pelo menos alguns...

O monstro atrás de mim rugiu.

- Megan... – Percy caminhou até as barras, o monstro tentou agarrá-lo, mas sua garra simplesmente atravessou a imagem do meu irmão. – Acho que você quer resposta, eu também ia querer.

Ele caminhou um pouco mais até o centro e apontou para o cadeado com as escritas “Selo” em grego antigo. Era estranho quando ele caminhava, porque ele andava um pouco acima da água que batia no meu tornozelo.

- Você só tem que saber... Isso não é um sonho.

Eu não sabia o que responder, eu o olhava com tantas expectativas, mais impressionada da sua presença.

- Como você pode estar aqui? – eu perguntei. – O que é... Aquilo?

O monstro atrás das grades não parecia ter gostado muito do chamado “Aquilo”.

- Eu não estou aqui. – disse Percy. – Eu sou apenas a parte viva dentro de você.

- A parte... – eu franzi a testa. – Viva?

Percy assentiu.

- Ninguém morre completamente enquanto o sentimento que temos por essa pessoa, permanece viva dentro de nós mesmos. – sorriu. – Mas a segunda pergunta... É hora da história, tempos atrás, uma criatura fenomenal passara de mentes em mentes livremente, torturando os homens com seus maus e bons incentivos, “o que você deve fazer” ou “o que você não deve fazer”...

Percy olhou com desgosto para o monstro como se o culpasse de alguma coisa.

- Foi então quando esse monstro construiu uma forma própria para navegar por ai, enlouquecendo monstros, mortais e até mesmo imortais... Com o passar do tempo esse monstro foi colocado como ameaça, não é atoa, até porque ele poderia destruir até mesmo o mundo ou ir até um pouco mais longe que isso...Foi quando um filho de Hécate, a deusa da magia, criou uma solução: O Selo.

Eu olhei para o cadeado lá no alto, as palavras em grego eram ainda estranhamente compreensíveis para mim.

- Selo... – eu repeti.

- Então... Você entende? – Perguntou, a forma de Percy ergueu as sobrancelhas para mim.

Eu sacudi a cabeça.

- Claro que não. – eu perguntei. – Está me dizendo que o monstro da história é... – eu virei para a coisa atrás das barras e acenei discretamente em sua direção.

Percy assentiu para mim.

- Exato.

- Mas isso não faz sentido! – eu disse – O que isso tem com a Mitologia Grega? Eu nunca ouvi falar...

- Exatamente isso – ele disse – Ninguém nunca ouviu falar, mesmo os deuses ignoraram a existência de tal coisa.

- Isso não explica...

- O que isso tudo tem haver com você?

Eu hesitei e em seguida assenti.

Percy suspirou.

- O Selo feito pelo filho de Hécate trancafiava o monstro dentro da mente de um mortal forte o suficiente mentalmente, este foi passando de gerações a gerações, aqueles que não podiam suportar quando o monstro acordasse dentro de si, morriam.E você é um dos que hospedaram esse monstro dentro da mente.

Engoli seco.

- Mas... Como isso? Eu não... Eu não pedi nada disso.

Percy sorriu tristemente.

- Infelizmente eu não tenho tempo para explicar tudo a você, com o tempo você vai descobrir isso sozinha. Apenas aguente firme enquanto puder, eu sei o que você passou por ser diferente...

Eu arregalei os olhos.

- Diferente? Você se refere as pessoas que diziam que eu era uma...

- Semideuses não são odiados por mortais, Megan, muitos deles se tornaram heróis lendários, mas um hospedeiro de algo como isto não pode ser facilmente aceito pelos mortais, eles podem não saber do fardo que você carrega em sua mente, mas eles sabem que tem algo errado em você.

Eu olhei para a água que tocava meu tornozelo. Lembrando das crianças que se mantinham distantes de mim no orfanato Dixon, eu achava que ser semideusa me tornava diferente e até mesmo um monstro, mas nunca foi isso, nunca...

Eu nunca fui uma garota normal, poucos me tratavam como uma garota normal, mas não era por eu ser filha dos três grandes, não por ser filha de um deus, simplesmente por causa daquela coisa que vivera em mim todos esses anos, adormecida, e eu nunca soube, nunca me lembrei das vozes, eu sempre ignorei.

- Você já foi um desses hospedeiros?

Percy abaixou a cabeça e assentiu para mim.

- Eu cometi o erro de tentar apagar todo o ódio que essa coisa tem, mas é difícil, quase perdi minha vida desse jeito, antes mesmo de você nascer.

Eu olhei para o monstro atrás das barras, nos olhando com ódio e vontade de nos matar.

- Mas vocês dois... – Percy se dirigiu a mim e o monstro – Vocês queiram ou não, desde que esse Selo foi colocado, vocês se tornaram um só.

A coisa rosnou, mas Percy voltou-se para mim.

- Creio que está é a última vez que nós nos veremos de novo, Meg. – ele sorriu para mim. – Vença essa guerra por mim, eu irei te esperar no Elísio, quando for a hora certa, até lá...Boa sorte.

Eu hesitei mais uma voz.

- Espere... Percy! Você não pode me deixar sozinha de novo, eu não tenho chance contra Cronos.

Percy me olhou como se soubesse algo sobre mim que eu não sabia.

- Eu acredito em você, lembre-se disso.

Então ele desapareceu e em um estalo, eu vi a luz novamente voltando para o mundo real.

Eu sentei em um salto, a guerra ainda acontecia ao meu redor, ao meu lado estava Malcolm do chalé de Atena.

- Você está viva! – exclamou ele com surpresa. – Como está...

Eu não perdi tempo, empurrei Malcolm do caminho e tirei Anaklusmos do meu bolso de novo, destampei-a. Eu me senti descansada, mais do que antes, imaginei que fosse uma forcinha que Percy havia me deixado. Quando acordei tudo aquilo que ele disse, e até mesmo ele, parecia apenas um sonho, mas no fundo eu sabia que não era.

- Maldito! – a voz de Clarisse La Rue soou, ela estava caída em algum lugar perto de mim, fraca demais para lutar. – Ei! Peixinha pare de me olhar e se mexa! Vá ajudar meu irmão!

Ainda atordoada em vez de responder rudemente Clarisse, eu assenti me perguntando quanto tempo eu fiquei desacordada e corri na direção do drakon que tentava inutilmente se livrar de Jake que insistia em golpea-lo de novo. O drakon estava totalmente cego, mas ainda firme. Jake estava com a lança elétrica de Clarissa nas mãos, tentando acertar o olho recém-danificado do monstro.

Eu tentei vencer a distância para ajudar, mas Jake era muito rápido, ele caiu de pé e voltou para atacar. Ele pulou para o lado assim que o monstro atacou, pulverizando o chão na frente dele. Foi quando ele pulou na cabeça da criatura. Enquanto ele se erguia, Jake cravou sua lança no olho bom da criatura com tanta força que ela partiu a ponta, libertando toda a mágica da arma.

Eletricidade percorreu a cabeça da criatura, causando um tremor em todo seu corpo. Jake pulou, rolando seguramente pela calçada, enquanto fumaça fervia em sua boca. A carne do drakon se dissolveu, e ele caiu em uma armadura escamosa vazia.

O restante de nós olhava para Jake em admiração. Eu nunca vi ninguém derrubar um monstro tão grande sozinho. Mas Jake não parecia se importar, ele continuou matando os monstros que ousavam se aproximar.

- Bem... Acho que ele tem tudo sob controle... – eu disse para mim mesma.

- Megan! – Haley surgiu atrás de mim me puxando pelo braço.

- Ei, devagar, isso dói. – eu disse e ele me largou, seu rosto cheio de fuligem e seus olhos aguados de lagrimas. – O que aconteceu?

- É Ridley... – disse ele – Ela... Ela... Ela está...

Ele não precisou terminar.

Me virei para ver Jake espantando os monstros e então eu corri na direção de um pequeno circulo de semideuses, eu empurrei a maioria do meu caminho.

- Saiam da frente... – eu pedia até que eu e Haley a alcançamos.

Uma garota de doze anos completamente sem cor. Ridley respirava com dificuldade, o dente de Drakon fora removido de seu corpo, mas o veneno ainda corria, eu podia dizer isso só de olhar para ela. Eu melhor do que ninguém sabia dizer que nenhum néctar ou ambrosia a salvaria.

- Ridley... – eu murmurei me sentando ao seu lado e acariciando seu rosto.

Ela abriu os lábios para falar, mas sua voz saiu incrivelmente rouca.

- Eu... Eu lutei como uma heroína? – perguntou ela.

Eu sorri.

- Você foi demais. – eu disse.

Ela sorriu parecendo satisfeita.

Algo ruim está prestes a acontecer. As palavras de Daniel soavam em meus ouvidos. Uma armadilha que termina em morte.

– Sua estúpida garota de Afrodite – Haley soluçou se sentando ao lado de Ridley. – Você enfrentou um drakon? Por quê? Por que você tinha entrar na minha frente, eu tinha que ter...

Mas o sorriso de Ridley o calou.

- Olhe só... Haley, você está chorando? – ela perguntou. – Sabe que eu adoro garotos que choram?

- Cale a boca... – murmurou o loirinho.

Ridley riu.

Ela abriu sua mão. Na palma estava uma pulseira de prata com um pingente de uma foice.

Um frio envolveu meu coração.

– Você era a espiã.

Ela assentiu lentamente.

- Eu não queria, mesmo. – Ela disse.

Ridley respirava pesado e dolorosamente.

- Me perdoe Megan... Luke me subornou, ele disse que Silena ficaria bem e iria voltar, mas eu tinha que traí-los.

Eu assenti.

- Não se sinta culpada de nada – eu disse – Você é uma heroína, Ridley.

Ela sorriu o que me pareceu doloroso para ela, mesmo assim ela abriu o maior sorriso que conseguiu, então virou o rosto para Haley.

- Pegue. – ela abaixou os olhos para sua mão aonde ela segurava firmemente uma adaga de bronze celestial.

Haley obedeceu e se inclinou para a arma revestida de couro preto.

- Seu nome é Katoptris, pode parecer um espelho, mas mostra muito mais do que seu próprio reflexo – disse Ridley em seguida virando para mim. – Megan, me faça um ultimo favor?

Eu segurei sua mão esperando para ouvir o que ela tinha a me dizer:

- Salve minha irmã. – disse ela.

- Ridley... – chamou Haley, suas lagrimas pingavam em sua nova arma. – Que história é essa de ultimo favor, você não vai morrer.

Ridley deu seu último sorriso.

- Até mais tarde, maninho, vou estar te observando do espelho... – e ela não falou mais.

Haley parecia confuso, cansado e deprimido, igual a todos ali. Então eu vi: O símbolo brilhando em rosado, uma pomba de asas abertas.

- Eu... – ele olhava para mim, mas eu estava mais chocada com sua aparência.

Seu rosto estava mais bronzeado, seu cabelo estava mais arrumado e a fuligem de seu rosto havia sumido, seus olhos azuis estavam com mais brilho, e por mais que ele estivesse chorando, seus olhos não estavam vermelhos ou inchados.

A pomba desapareceu em seguida, e todos olhavam para Haley que olhava-se na lâmina de Katoptris, observando seu reflexo pós-reclamação.

Haley era filho de Afrodite, a deusa do amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Chora, chora, chora coração.... T.T

Heeey o que acharam? Vamos lá, mereço coments?