Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 25
Uma conversa em meu interior e mais surpresas!




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Nos meus sonhos, eu estava novamente no jardim de Hades. O Senhor dos Mortos andava de um lado para o outro, tapando seus ouvidos enquanto Nico o seguia, balançando os braços.

- Você não entende! – exclamou Nico – Você precisa fazer isso!

Demeter e Perséfone sentavam atrás deles na mesa de café da manhã. Ambas pareciam entediadas. Demeter despejava pedaços molhados de trigo em quatro grandes tigelas. Perséfone estava mudando os arranjos de flores magicamente na mesa, mudando as flores de vermelho para amarelo com bolinhas.

– Eu não tenho que fazer nada! – Os olhos de Hades brilharam. – Eu sou um deus!

- Isso não significa que tem que ficar sentado aqui enquanto nós morremos – disse Nico - Se o Olimpo cair, a segurança de seu palácio não vai adiantar. Você cai junto.

– Eu não sou um Olimpiano! – Ele gritou. – Minha família já deixou isso bem claro.

- Você é sim – insistiu – Querendo ou não, eles queiram ou não.

– Você viu o que eles fizeram com sua mãe – Hades disse. – Zeus a matou. E você quer que eu os ajude? Eles merecem o que está por vir.

Perséfone suspirou. Ela passou seus dedos pela mesa, transformando, distraidamente, o faqueiro em rosas.

– Poderíamos não falar dessa mulher na minha presença, por favor?

– Você sabe o que ajudaria esse garoto? – Demeter meditou. – Agricultura.

Perséfone rolou os olhos.

– Mãe... Não comece com isso de novo.

– Seis meses atrás de um arado. Excelente para a formação de caráter e cereais também ajudariam, ele está muito magrelo. Veja, parece um palito.

Nico ignorou, ele se pôs diante de seu pai, forçando Hades a encará-lo.

– Minha mãe sabia sobre família. Foi por isso que ela não quis nos deixar. Você não pode abandonar sua família porque eles fizeram algo horrível. Você causou coisas horríveis a eles também.

– Maria está morta – Hades lembrou a ele. – Eles mataram sua mãe e você quer que eu os ajude com o rabo entre as patas?

– Você não pode se excluir dos outros deuses!

– Fiz isso muito bem durante milhares de anos.

– E isso o fez sentir melhor? – Nico disse. – Aquela maldição que lançou ao Oráculo te ajudou de alguma forma? Guardar rancor é um defeito fatal para os filhos de Hades, acha que seria diferente com o próprio Hades? Bianca me falou sobre isso... E tinha razão.

– Eu sou imortal, todo-poderoso! Eu não ajudaria os outros deuses nem que eles me implorassem, nem se Megan Jackson implorasse...

– Você é tão rejeitado quanto eu sou! – Nico gritou.

-... Se você entende tão bem, porque quer ajudar os deuses? Eles mataram sua mãe... Você é tão ingênuo...

- Pare de guardar rancor por isso e faça algo de útil uma vez na vida. Esse será o único jeito de eles te respeitarem!

A palma da mão de Hades se encheu com fogo negro.

– Vá em frente – Nico disse. – Me mate. É o que os outros deuses esperam de você mesmo. Prove a eles que estão certos se esse é o único jeito.

– Sim, por favor – Demeter pediu. – Acabe com ele.

Perséfone suspirou.

– Ah, eu não sei. Eu preferiria lutar em uma guerra a comer outra tigela de cereal. Isso é um tédio.

Hades uivou em ódio. Sua bola de fogo atingiu uma árvore prateada bem do lado de Nico, derretendo-a em uma poça de um liquido de metal.

E meus sonhos mudaram.

Eu estava em uma grande e circular sala escura, ajoelhada diante de grandes barras – como a prisão de um gigante – de bronze celestial. Atrás dessas barras, estava a escuridão. Eu me lembro daquele lugar, tão familiar. Água batia na minha cintura. O ambiente era tão frio que neblina fluía da minha respiração. Eu poderia facilmente passar entre aquelas barras, até que eu percebi que não era eu quem estava presa.

Mais acima, pendurado em uma grande fechadura, estava um grande cadeado, eu não conseguia ver a entrada para uma chave, mas conseguia ver as escritas gravadas em grego: Σφραγίστε. Que deveria significar algo como “Selo”. Eu não tinha notado da última vez que descrevi aquele lugar e na última vez eu estava aqui, quer dizer, não era exatamente eu... Era alguma outra coisa.

Eu tentei me levantar, mas meus joelhos pesavam e eu estava molhada, quer dizer, obvio que eu estava molhada, não tem como um ser não tocar na água e não ficar molhado, mas comigo era diferente, bem, vocês sabem...

Eu segurei na barra de bronze celestial e senti um choque repentino se estabilizar pela minha mão, eu me afastei rapidamente da barra e cai para trás sentada, apoiada apenas com as mãos no chão, foi quando eu vi.

Tão claramente pela primeira vez, eu vi um grande olho, quase no formato de uma folha, escuro, completamente preto. Somente não se camuflando na escuridão pelo seu brilho: Cruel e maligno.

- O que... – minha voz ecoou sendo cortada por uma grossa risada.

Eu congelei, nem mesmo a risada de Cronos me faria sentir desse jeito. De repente eu tive uma enorme vontade de lutar com aquela coisa, quebrar aquele cadeado lá em cima com Anaklusmos – sendo que eu não poderia alcança-lo – e enfrentar a coisa... Seja lá o que fosse.

Então... A voz era familiar. Você finalmente veio até a mim.

Eu rastejei para trás, um pouco chocada demais. Era aquela voz que vinha me atormentando em batalha. Com sua voz convidativa me oferecendo poder...

Você diz muito, Megan Jackson... Disse a voz de modo sonolento como alguém que acaba de acordar. Às vezes eu acho que você fala demais com seus inimigos, isso vai te derrubar um dia.

- Como... – engoli seco. – Como você sabe meu nome? O que é você?

A coisa riu.

É sempre a mesma pergunta... “O que é você?”, “O que você quer?” ou “Me deixe em paz” disse. Eu realmente acho divertido isso, vocês mortais, tão ingênuos e medrosos...

Eu tomei força e me levantei.

- O que você é?! – minha voz ecoou em um grito. – Por que fica falando comigo?

A criatura riu de novo, como se eu fosse muito adorável e imprevisível.

Eu sou... Seu ódio, sua morte, sua vida, eu sou você.

Eu recuei.

- O que quer dizer? Isso... Isso está acontecendo na minha cabeça, não é?

É o que eles acham, pequena, e isso sempre os derruba... Disse. E isso é sua desvantagem, não existe arma contra a própria mente.

- O que você quer de mim?

Sua guarda está baixa, pequena heroína... O jeito como ele me chamou de “pequena heroína” me fez lembrar Cronos. E foi ai que eu soube que não deveria confiar naquela coisa. Liberte o selo, você pode fazer isso, eu te darei todo o meu poder.

Eu me forcei a rir, mas estava com medo.

- Pode guardar seu poder para si mesmo.

Os dois grandes e temíveis olhos escuros se arregalaram com um brilho cruelmente divertido, até mesmo psicopata.

Estive dentro de você desde o dia em que nasceu, estive sempre te observando, Megan Jackson... Se for assim como a chamam... Sei quando você precisa de poder, e quando você precisar, só precisa vir até a mim.

- Porque quer me ajudar?

A coisa hesitou.

Estou entediado...

Eu olhei para trás, não havia mais a sinistra porta dupla de antes, não havia saída.

- Certo, se está entediado, não posso fazer nada, como saio daqui? – eu perguntei.

O monstro, coisa, sei lá o que era aquilo, riu de mim.

Você vai precisar de mim, você verá...

E mais uma vez, a cena se dissolveu.

Eu me vi parada diante das Nações Unidas, cerca de meio quilômetro a oeste do Edifício Empire State. Os exércitos do Titã tinham armado um exército ao redor do complexo da ONU. Os mastros estavam levantados com troféus horríveis – capacetes e partes de armaduras de campistas derrotados. Ao longo da Quinta Avenida, gigantes afiavam seus machados. Telquines reparavam suas armaduras improvisadas.

Cronos andava no topo do Plaza, segurando sua foice, assim suas dracaenae guardas mantinham distância. Ethan Nakamura, Silena e Prometeu estavam perto, fora de alcance. Ethan estava agitado com as correias de seu escudo, mas Prometeu parecia tão calmo e sereno quanto jamais foi em seu smoking. Silena permanecia parada no canto da sala, sem expressão, nem nervosa e nem calma, pálida como uma escultura de gelo, seus cabelos agora batiam na cintura.

– Detesto esse lugar – Cronos grunhiu. – Nações Unidas. Como se a humanidade pudesse se unir. Lembre-me de pôr a baixo esse edifício depois de destruirmos o Olimpo.

– Sim senhor. – Prometeu sorriu como se a raiva de seu senhor o tivesse acalmado. – Destruiremos os estábulos no Central Park também? Eu sei o quanto os cavalos o aborrecem.

– Não deboche de mim, Prometeu! Esses malditos centauros vão lamentar ter se intrometido. Eles servirão de alimento pros cães infernais, começando por aquele meu filho... O fracote do Quíron.

Prometeu deu de ombros.

– Aquele fracote destruiu um exercito de telquines com suas flechas.

Cronos levantou sua foice e cortou um mastro ao meio. As cores nacionais do Brasil caíram sobre o exército, amassando uma dracaenae.

– Nós o destruiremos – Cronos berrou. – Essa é a hora de libertar o drakon. Silena, você fará isso.

– Sim, senhor. Ao pôr do sol?

– Não – Cronos disse. – Agora. Os defensores do Olimpo estão feridos seriamente. Eles não esperam um ataque rápido. Além do mais, sabemos que esse drakon eles não podem matar.

Silena franziu as sobrancelhas.

– Senhor?

– Não se preocupe Silena. Apenas cumpra minha ordem. Eu quero o Olimpo em ruínas na hora em que Tifão chegar à Nova York. Acabaremos com os deuses completamente!

– Meu senhor – Silena disse calmamente, sua voz me dava vontade de dormir. – Sua regeneração.

Cronos apontou para ela, mas Silena não reagiu.

– Parece – Cronos disse – que eu preciso de regeneração?

Silena não respondeu, apenas encarou Cronos com seus olhos azuis-gelo. Ela não parecia assustada, diferente de Ethan que tremia até os joelhos.

Cronos estalou os dedos e Silena caiu com um gemido.

– Em breve – o Titã grunhiu – esse corpo em breve será desnecessário. Não descansaremos com a vitória tão perto. Agora, vá Silena, e não me desaponte.

Silena se ergueu com dificuldade e disse com a voz rouca:

- Sim, senhor. – disse – Farei isso.

Então ela saiu.

- Nakamura – rugiu Cronos.

Ethan deu um pulinho de susto.

- Acompanhe-a – ordenou - fique de olho em Silena, seria desastroso se ela sair de linha, aqueles olhos nos serão úteis futuramente.

Ethan assentiu, acho que ele ficou feliz em finalmente sair.

– Isso é perigoso, senhor – Prometeu avisou. – Não seja apressado.

Apressado? Eu definhei por três mil anos nas profundezas do Tártaro, e você me chama de apressado? Eu cortarei Megan Jackson em milhares de pedacinhos.

– Vocês já se encontraram três vezes – Prometeu lembrou. – E você ainda diz que isso está alem da dignidade de um Titã lutar com um mero mortal. Eu me pergunto se esse seu corpo mortal está influenciando você, fraquejando seu julgamento.

Cronos virou seus olhos brilhantes para o outro Titã.

– Você está me chamando de fraco?

– Não, meu senhor. Eu só disse que...

– Sua lealdade está dividida? Devo lembrar que Megan Jackson não é apenas uma mera mortal – Cronos perguntou. – Mas eu ainda sou um titã... Talvez você sinta falta de seus velhos amigos, os deuses. Você quer se juntar a eles?

Prometeu empalideceu.

– Eu retiro o que disse meu senhor. Suas ordens serão cumpridas. – Ele se virou para os exércitos e gritou: – PREPAREM-SE PARA A BATALHA!

As tropas começaram a se agitar.

De algum lugar atrás do complexo da ONU, um rugido de raiva chacoalhou a cidade – um som de um drakon acordando. O barulho era tão horrível que me acordou, e eu percebi que ainda podia ouvi-lo a quilômetros de distância.

Eu acordei na parte de cima do beliche, Hansel estava na parte de baixo me encarando.

- O que foi isso?

- É aquilo... – eu murmurei.

- Aquilo o que?

Eu hesitei antes de responder.

- Outro presentinho de Cronos. – lamentei pulando da cama.

O chalé de Hefesto estava sem fogo grego. O chalé de Apolo e as Caçadoras estavam catando suas flechas. A maioria de nós já havia tomado tanta ambrosia e néctar que não aguentávamos mais.

Tínhamos dezesseis campistas, quinze Caçadoras, e meia dúzia de sátiros estavam na área de combate. O resto tinha se refugiado no Olimpo. Os Pôneis de Festa estavam tentando se alinhar, mas eles estavam rindo e brincando e todos eles cheiravam a root beer. Os Texanos estavam enfrentando os do Colorado. Os Missouri estavam dividindo terreno com os Illinois. As chances eram bem grandes de que o exército acabaria lutando entre si do que com o inimigo.

Quíron galopou com Daniel em suas costas. Eu senti uma pontada de raiva, porque Quíron quase nunca dá uma carona a alguém, e nunca a um mortal.

– Seu amigo aqui nos deu algumas informações bem úteis, Megan. – disse ele.

Daniel mordeu o lábio.

– São algumas coisas que andei vendo.

– Um drakon – Quíron disse. – Um drakon de Lídia, para ser exato. O tipo de monstro mais antigo e perigoso.

Eu olhei para ele.

– Como você sabe disso?

– Eu não tenho certeza – Daniel admitiu. – Mas esse drakon tem um destino particular. Ele será morto por uma criança de Ares.

Jake se aproximou.

– Como você pode ter certeza?

– Eu só vi. Não sei explicar.

– Bem, vamos rezar para que você esteja errada. – Eu disse. – Porque estamos um tanto carentes de crianças de Ares, do chalé cinco só temos Jake e... - Uma lembrança horrível me correu - Di immortales.

– O quê? – Jake perguntou.

– O espião – eu disse a ele. – Cronos disse: Sabemos que eles não podem derrotar esse drakon. O espião tem o mantido informado. Cronos sabe que o chalé de Ares não esta conosco. Ele pegou de propósito um monstro que não podemos matar.

Thalia fechou a cara.

– Se eu por acaso por as mãos nesse espião, ele vai se arrepender amargamente. Talvez possamos mandar outro mensageiro para o acampamento...

– Eu já fiz isso – Quíron disse. – Blackjack está a caminho. Mas se Haley não for capaz de convencer Clarisse, Eu duvido que Blackjack consiga...

Eu pensei o mesmo.

- Jake... – disse Quiron.

- Sim?

- Parece que teremos que contar com você por agora.

- Mas... – ele hesitou. – Quiron, se aquilo lá é mesmo um drakon da Lídia, como acha que eu possa...

- Você não vai estar sozinho, cabeça de Javali. – eu disse destampando Anaklusmos. – Eu estarei na sua cola.

Antes que ele pudesse responder um rugido fez o chão tremer. Parecia bem perto.

– Dan! – eu disse. – Entre no edifício.

– Eu quero ficar.

Uma sombra bloqueou o sol. Do outro lado da rua, o drakon deslizava ao lado de um arranha-céu. Ele rugiu, e milhares de janelas despedaçaram-se.

– Pensando melhor – Daniel disse baixinho. – Vou entrar.

Deixe-me explicar: existem dragões e existem drakons.

Drakons são muitos milênios mais antigos do que dragões. A maioria não tem asas. A maioria não cospe fogo (embora alguns cuspam). Todos são venenosos. Todos são imensamente fortes, com escamas mais fortes que titânio. Seus olhos podem te paralisar; não paralisia do tipo você-vai-virar-pedra da Medusa, mas paralisia tipo, oh-meus-deuses-aquela-cobra-gigante-vai-me-comer, que é bem pior.

Nós tínhamos tido aulas de lutas contra drakons, mas não tinha como se preparar para uma serpente de sessenta metros, tão larga quanto um ônibus escolar descendo pelo lado de um edifício, seus olhos como faróis e sua boca cheia de dentes bem afiados, grandes como presas de elefante.

Eu quase senti falta da porca voadora e do titã maluco da armadura diva.

O exército inimigo avançava pela Quinta Avenida. Fizemos o melhor para tirar os carros do caminho, para manter os mortais a salvo, mas isso só facilitou a aproximação do inimigo. Os Pôneis de Festa balançavam suas caudas nervosamente. Quíron galopava de cima para baixo em seus territórios, encorajando-os para ficarem firmes e pensarem na vitória e cervejas amanteigadas, mas eu percebi que a qualquer segundo eles entrariam em pânico e fugiriam.

– Deixem o drakon comigo. – Minha voz suou como um pequeno guincho. Depois eu gritei mais alto: – DEIXEM O DRAKON COMIGO! Todos os outros se alinhem contra o exército inimigo!

Jake veio para perto de mim.

– Você vai me ajudar? – Eu perguntei.

– É isso o que eu faço – ele disse. – Eu ajudo meus amigos. Além do mais, sou uma criança de Ares, acho que devo servir para alguma coisa.

Eu me senti uma tremenda idiota. Eu queria puxá-lo para um canto e dizer a ele que eu não queria que Daniel estivesse ali, que essa não foi minha ideia, mas eu não tinha tempo.

– Fique invisível – eu disse. – Procure por aberturas em suas escamas, enquanto eu o mantenho ocupado.

- Certo, fique viva. – disse ele.

- Idem.

Eu assoviei.

Sra O’Leary, junto!

“ROOF!”

Meu cão infernal correu por entre as frotas de centauros e me deu uma lambida que suspeitamente cheirava a pizza de presunto.

Então, saquei minha espada e fomos de encontro ao monstro.


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