Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 24
O coração que procura a morte


Notas iniciais do capítulo

Hey, galera, alguém aqui sentiu falta de Daniel Kane?



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No momento seguinte eu me encontrei parada em um bar de segunda, enorme e imundo, as paredes eram pretas, havia luzes de neon em todo canto, e um monte de adultos bêbados e festejando. Um banner atrás do bar dizia: “Feliz Aniversário, Bobby Earl”. Musica sertaneja tocava dos autos falantes. Caras enormes de jeans e camisas de trabalho lotavam o lugar. Garçonetes levando tabuleiros de bebidas e gritando umas para as outras. Era exatamente o lugar que minha mãe nunca me deixaria ir, é claro, se ela estivesse viva.

Eu estava bem perto ao fundo da sala, junto aos banheiros (que não cheiravam tão bem) perto de um par de máquinas antigas de fliperama.

– Ah ótimo, você está aqui – disse o homem, na máquina de Pac-Man. – Eu vou pegar uma Coca Diet.

Ele era um homem atarracado, em uma camisa havaiana parecida com pele de leopardo, shorts roxo, tênis vermelho, meias pretas, que não faziam ele se misturar com a multidão. Seu nariz era vermelho brilhante. Uma bandagem estava em torno de sua cabeça sobre os cabelos pretos e curtos, como se ele estivesse recuperando de uma concussão.

Eu pisquei.

– Senhor D?

Ele suspirou, sem tirar os olhos do jogo.

– Realmente, Maria Johansson, quanto tempo vai demorar a me reconhecer logo de cara?

– O tempo que demorar a o senhor acertar meu nome – eu murmurei. – Onde Hades estamos?

– O que você acha? Na festa de aniversário de Bobby Earl – disse Dionísio obviamente. – Algum adorável lugar rural da América.

– Eu pensei que Tifão tinha te abatido do céu. Eles disseram que você se arrebentou na aterrissagem.

– Sua preocupação é comovente, Milena. Arrebentei-me mesmo e bem feio. Muito doloroso, acredite. Na realidade, parte de mim ainda está enterrado sob uns cem metros de escombros em uma mina de carvão abandonada. Ainda vai levar muitas horas para eu ter força suficiente para me curar. Apesar disso, parte da minha consciência está aqui.

- Em um bar de segunda jogando PAC-man? – eu questionei.

- Hora da diversão! – ele estalou os dedos – Bem, você já deve te ouvido falar que sempre que há uma festa, minha presença é invocada. Por causa disto, eu posso existir em muitos locais diferentes de uma só vez. O único problema foi encontrar uma festa. Não sei se você está ciente de quão sérias as coisas estão fora de sua pequena e segura bolha em Nova York...

Segura?

–... Mas acredite em mim, os mortais aqui fora, no coração da América estão em pânico total. Tifão tem aterrorizado eles. Muito poucos estão festejando. Aparentemente Bobby Earl e seus amigos, foram abençoados por um tempo. Eles ainda não descobriram que o mundo está acabando.

– Então isso significa que eu não estou realmente aqui?

– Não. Em um momento vou lhe enviar de volta a sua normal e insignificante vida, e será como se nada tivesse acontecido.

– Então porque estou aqui sem estar exatamente aqui?

Dionísio suspirou.

– Eu não queria você em particular. Qualquer um de seus amigos heróis idiotas serviria. Até o garoto Junior.

– Jake.

– Não interessa, a questão é que – ele disse – eu trouxe você aqui para uma advertência. Estamos em perigo.

– Uau... – eu disse – Puxa, eu não tinha percebido isso ainda, valeu por me avisar.

Ele olhou para mim e esqueceu momentaneamente o seu jogo. O Pac-Man foi comido pelo fantasma vermelhinho.

Erre es korakas, Blinky! – praguejou Dionísio. – Eu vou ter sua alma!

– Sr. D... Ele é só um personagem.

– Você é só uma personagem, Mariana! Está estragando o jogo!

– Megan.

– Que seja! Agora ouça, a situação é mais grave do que você imagina. Se o Olimpo cair, não só os deuses que desaparecerão. Mas tudo que estiver conectado ao nosso legado também irá desaparecer! A estrutura de sua pequena e fraca civilização.

O jogo emitiu um som e o Senhor D passou para o nível 254.

– Ha! – gritou. – Tome isto, seu pixel maldito!

– Estrutura da nossa civilização? – repeti.

– Sim, sua sociedade irá se dissolver. Talvez não logo, mas anote o que estou dizendo, o caos dos Titãs significará o fim da civilização ocidental. Arte, Direito, degustação de vinho, música, vídeo, camisas de seda, calcinhas de veludo preto, todas as coisas que fazem a vida valer à pena irão desaparecer!

– Então, porque os deuses não vêm nos ajudar? – Eu disse. – Devemos juntar nossas forças no Olimpo. Esquecer Tifão.

Ele batia os dedos impacientemente.

– Você esqueceu-se da minha Coca Diet.

– Deuses, você é irritante. – Consegui a atenção de uma garçonete. – Pode trazer uma Coca Diet? Coloque na conta de Bobby Earl.

O senhor D bebeu um longo gole. Seus olhos nunca deixando o vídeo game.

– A verdade, Johnson...

– Jackson.

– ... Os deuses nunca irão admitir, mas realmente precisamos de vocês mortais para salvar o Olimpo. Percebe, nos somos manifestações de sua cultura. Se vocês não se importarem o suficiente para salvar o Olimpo...

– Como Pã – eu disse – dependendo dos sátiros para salvar a natureza.

– Sim, isso mesmo. Vou negar que eu te disse, naturalmente, mas os deuses precisam dos heróis. Eles sempre precisaram. Caso contrário porque nos manteríamos crianças chatas como você no acampamento?

– Isso foi tão fofo, obrigada.

– Use o treinamento que te ensinei.

Que treinamento?

– Você sabe. Todas essas técnicas de herói e... Não! – Senhor D bateu no videogame. – Na pari i eychi! O último nível!

Ele olhou para mim, e um fogo púrpuro bruxuleou em seus olhos.

– E previ uma vez que você iria revelar-se tão egoísta como todos os outros heróis humanos. Bem, aqui está a sua oportunidade de provar que eu estava errado.

– Certo, fazer você ficar orgulhoso está no topo de minha lista.

– Você deve salvar o Olimpo, Melody! Deixe Tifão para os olimpianos e salve os nossos tronos. Deve ser assim!

– Ótimo. Foi uma boa conversa. Agora, se você não se importa, meus amigos estão me esperando...

– Não, ainda tem mais – O senhor D. alertou – Cronos ainda não alcançou sua força plena. O corpo do mortal era apenas uma medida temporária.

– Nós meio que presumimos isto.

– E você também deve presumir que dentro de um dia no máximo, Cronos vai queimar o corpo do mortal e assumir sua verdadeira forma de rei Titã?

– E isso significaria...

Dionísio pareceu misericordioso.

– Você conhece as verdadeiras formas dos deuses.

– Sim. Você não pode olhar para eles sem se fritar.

– Cronos ficará dez vezes mais poderoso. Sua simples presença incineraria você, e uma vez que ele esteja de volta, vai dar mais poder aos outro Titãs. – ele contou – Eles estão fracos agora, em comparação com o que logo se tornarão, a menos que você possa detê-los. O mundo cairá, os deuses morrerão, e eu nunca baterei o Recorde dessa estúpida máquina.

Talvez eu devesse ter ficado petrificado, mas honestamente, já estava tão assustada quanto podia aguentar.

– Certo, mas alguma coisa? – Perguntei.

- Ah, sim... – disse ele como se tentasse se lembrar de algo – Não confie nos seus próprios incentivos.

Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas eu assenti.

- Tudo bem, posso ir agora?

– Uma última pergunta. Meu filho Pólux. Ele está vivo?

Pisquei.

– Sim, ele está.

– Eu apreciaria muito se você pudesse protegê-lo para mim. Perdi seu irmão Castor no ano passado...

– Eu me lembro.

Fiquei olhando para Dionísio com a ideia de que ele poderia ser um bom pai. Eu pensei em quantos olimpianos pensavam em seus filhos semideuses neste momento.

– Eu farei o meu melhor.

– O seu melhor – murmurou Dionísio. – Bem, não me conforta muito. Vá agora. Você tem algumas surpresas bastante desagradáveis pela frente, e eu preciso derrotar Blinky!

– Surpresas? O que você...

Ele agitou a mão, e o bar desapareceu.

Eu voltei à Quinta Avenida, Jake não tinha se movido, mas me olhava de modo curioso. Elw não deu nenhum sinal de que algo estranho havia acontecido.

Ele me viu olhando-o e franziu o cenho.

– O quê foi?

– Nada... – murmurei. – Eu acho...

Eu olhei a avenida, me perguntando o que o Senhor D. queria dizer com surpresas bastantes desagradáveis. Eu tenho que dizer, eu já estava cansada de surpresas.

Meus olhos pousaram sobre um carro preto arruinado. O capô estava amassado, como se alguém tivesse tentado abrir algumas crateras nele. Minha pele formigou. Porque esse carro parecia familiar? Então eu percebi os dizeres em letras brancas quase apagadas: Orfanato Dixon.

Disparei rua abaixo.

– Megan! – Jake chamou – O que aconteceu?

No banco do motorista estava uma senhora vestida de preto, Srta. Sophie roncava. Minha mente parecia mingau. Como eu não tinha visto isso antes? Ela devia estar aqui, sentada no meio do trânsito por mais de um dia, e nós batalhando ao seu redor, e nem sequer notei. Mas afinal, o que uma velha de cem anos estava fazendo dirigindo um carro?

– Essa vovó... – eu murmurei. –Ela deve ter visto as luzes azuis... Talvez tenha pensado que havia algo errado.

Eu puxei as portas, mas estavam bloqueadas.

– Eu preciso tirá-la daí...

– Megan... – começou Jake de modo suave,

- Não posso deixa-la aqui! – eu parecia uma louca batendo nos para-brisas. – Tenho que tirá-la... Tenho que...

- Megan, chega... Chega... – Jake acenou para Quiron, que estava conversando com alguns centauros uma quadra abaixo. – Nós podemos empurrar o carro para outra rua. Ela vai ficar bem.

Minhas mãos tremiam. Depois de tudo que eu tinha passado ao longo desses últimos dias, sentindo-me tão estúpida e fraca, mas vendo a senhora que havia cuidado de mim todos esses anos sob o encantamento de Morfeu, daquele jeito, me fez querer quebrar tudo.

Quíron galopou até nós.

– O que... Sophie.

– Ela estava atrás de mim – eu disse nem ao menos estranhando o fato de Quiron saber quem era a senhora – Ela deve ter sentido algo errado... Tenho que tira-la daqui.

– Ela sempre foi forte – disse Quiron – Ela vai ficar bem, Megan. A melhor coisa que podemos fazer por Sophie é manter-nos concentrados em nosso trabalho.

Então, eu notei uma coisa no banco traseiro, o meu coração disparou. Afivelado com o cinto de segurança, no banco estava uma jarra grega preta e branca com cerca de três pés de altura. Sua tampa estava embrulhada em um arnês de couro.

– Sem chance – eu murmurei.

Jake colocou sua mão na janela para enxergar melhor.

– Isto é impossível! Eu pensei que você tinha deixado no Plaza.

– Fechado em um cofre – eu concordei.

Quíron viu a jarra e arregalou os olhos.

– Isso não é...

– A jarra de Pandora. – eu acrescentei – Um presentinho de Prometeu, ele pediu que eu me rende-se, me deu a jarra para libertar a esperança caso eu desistisse.

– Então, o jarro é seu – disse Quíron sombriamente. – Ele seguirá você e vai tentá-la a abri-lo, não importa onde você o abandone. Ela irá aparecer quando você estiver mais fraca.

Como agora, eu pensei. Olhando para a Srta. Sophie, completamente vulnerável.

Eu imaginei Prometeu rindo, tão ansioso para ajudar a nós pobres mortais. Abra mão da Esperança e eu saberei quando você estiver se rendendo. Eu prometo que Cronos será indulgente.

Subiu uma raiva dentro de mim. Puxei Anaklusmos e atravessei a janela do lado do motorista como se estivesse cortando plástico.

– Vou colocar o carro em ponto morto. – Eu disse. – Vamos tirar ele da rua. E levar esta estúpida jarra para o Olimpo.

Quíron assentiu.

– Um bom plano. Mas, Megan...

Seja o que for que fosse dizer, ele hesitou. Um rufar mecânico foi crescendo à distância – o vap-vap-vap de um helicóptero.

Em uma normal segunda-feira pela manhã em Nova York, isto não teria sido grande coisa, mas após dois dias de silêncio, um helicóptero mortal, era a coisa mais esquisita que eu estava ouvindo. A poucas quadras a leste, os monstros do exército de Cronos, gritaram zombarias quando o helicóptero entrou em vista. Era um modelo civil pintado de vermelho escuro, com um logo “E.K.” brilhando em verde ao lado. As palavras sob o logotipo eram demasiado pequenas para ler, mas eu sabia que elas diziam: EMPREENDIMENTOS KANE.

Fiquei emudecido. Olhei Jake e poderia dizer que ele reconheceu o logotipo também. Seu rosto estava tão vermelho como o helicóptero.

– O que é que aquele idiota está fazendo aqui? – Jake quis saber. – Como foi que ele passou da barreira?

– Quem? – Quíron parecia confuso. – Que mortal seria louco o suficiente...

De repente, o helicóptero inclinou em nossa frente.

– O encanto de Morfeu! – Quíron disse. – O tolo do piloto mortal esta dormindo.

Eu assisti com horror quando o helicóptero adernava para o lado, caindo na direção de uma fila de edifícios de escritórios. Mesmo que ele não batesse, o deus do ar provavelmente o derrubaria por estar tão perto do Empire State Building. Não sabia o que fazer, mas Jake assobiou, e o pégaso Guido surgiu do nada.

Alguém chamou um cavalo bonitão?, ele perguntou.

– Vamos, Megan! – Jake me puxou – temos que salvar seu amigo.

Eis a minha definição de nem um pouco divertido. Voar em um pégaso direto para um helicóptero descontrolado. Se Guido não fosse um excelente piloto, teríamos virado confete.

Eu podia ouvir Daniel gritando lá dentro. De algum jeito, ele não tinha caído no sono, mas eu podia ver o piloto deitado sobre os controles, balançando pra frente e pra trás, enquanto o avião ia direto para um edifício empresarial.

– Algum plano maluco? – eu perguntei esperançosa para Jake.

– Você terá que pegar o Guido e sair – ele disse.

– Emas e você?

Em resposta, ele gritou:

– Iáá! – E Guido mergulhou.

– Se abaixe! – gritou Jake.

Passamos tão perto das hélices, que senti as lâminas cortando um pequeno tufo de cabelo meu. Voamos pelo lado do helicóptero, e Jake segurou a porta.

Foi então que as coisas deram errado.

A asa de Guido bateram contra o helicóptero. Ele despencou comigo em suas costas, deixando Jake pendurada na aeronave.

Eu estava tão aterrorizada que mal conseguia pensar, mas enquanto Guido rodopiava, pude ter um lampejo de Daniel puxando Jake para dentro.

– Pouse aqui! – Eu gritei para Guido.

Minha asa ele gemeu. Está quebrada.

– Você consegue! – Eu tentei me lembrar desesperadamente do que Beatrice Rossetti dizia para os Pégasos na aula de equitação. – Apenas relaxe a asa. Estique-a e plane.

Caíamos feito uma pedra – direto para o asfalto, noventa metros abaixo. Na última hora, Guido estendeu suas asas. Eu vi os rostos boquiabertos dos centauros, olhando para nós. Então interrompemos nosso mergulho, planamos uns cinquenta metros, e caímos sobre o asfalto – pégaso sobre semideus.

Ai! Guido gemeu. Minhas pernas. Minha cabeça. Minhas asas.

Quíron galopou com sua mala de primeiros socorros, e começou a trabalhar no pégaso.

Eu levantei. Quando olhei para cima, meu coração foi pra minha garganta. O helicóptero estava a segundos de bater no lado do edifício.

- Jake! – eu berrei em pânico.

Então, por milagre, o helicóptero desviou sozinho. Ele girou em um circulo e planou. Lentamente, ele começou a descer.

Pareceu demorar anos, mas finalmente o helicóptero pousou no meio da Quinta Avenida. Eu olhei para o para-brisa, e não podia consegui acreditar no que eu estava vendo. Jake estava no comando do helicóptero.

Eu corri enquanto as hélices paravam de rodar. Daniel abriu a porta lateral e arrastou o piloto para fora.

Ela ainda estava vestida como nas férias, com shorts de praia, uma camiseta, e sandálias. Seu cabelo estava embaraçado e seu rosto estava verde devido à corrida de helicóptero.

Jake saiu por último.

Eu olhei para ele com admiração e alivio. Sem pensar eu o abracei.

– Eu não sabia que você pilotava helicópteros. – e me afastei.

– E nem eu – ele disse. – Dédalo tinha algumas anotações sobre máquinas voadoras. Eu só dei o meu melhor nos controles.

– Você salvou minha vida – Daniel disse.

Jake flexionou seu ombro machucado.

– É... Mas não vamos fazer disso um hábito. O que você está fazendo aqui, Kane? Você sabe de nada melhor do que voar numa zona de guerra?

– Eu – Daniel olhou para mim. = Precisava ver Megan, sabia que estava em problemas. Tinha que falar com ela.

– Estava certo – Jake grunhiu. – Bem, se vocês me desculparem, eu tenho alguns amigos feridos para cuidar. Ainda bem que tenha dado uma passadinha por aqui, Daniel.

– Jake, por favor... – eu chamei.

Ele desapareceu. Mas que hora pra me deixar sozinha...

Daniel sentou no meio fio, e colocou sua cabeça entre as mãos.

– Desculpe Megan...

Era meio difícil discutir com ele, embora eu estivesse feliz que ele estivesse a salvo. Eu olhei na direção onde Jake tinha ido, desaparecido no meio da multidão. Eu não conseguia acreditar no que ele tinha feito – salvado a vida de Daniel, aterrissado um helicóptero, e ido embora como se não houvesse nada demais.

– Tudo bem – eu disse a Daniel, mas minhas palavras pareciam vazias. – Então, qual era a mensagem que você queria me contar?

Ele congelou.

– Como você sabe disso?

– Sonhos.

Daniel não parecia surpreso. Ele puxou seus shorts de praia. Eles estavam cobertos por desenhos, que não eram o de costume dele, mas estes símbolos eu reconhecia: Letras gregas, imagens de contas de campistas, desenhos de monstros e rostos de deuses. Eu não entendia como ele podia saber sobre isso. Ele nunca esteve no Olimpo ou no Acampamento Meio Sangue.

– Eu tenho visto coisas também – ele murmurou. – Digo, não através da Névoa. Isso é diferente. Eu tenho desenhado imagens, escrito textos... Coisas que eu não entendo...

– Em grego antigo – eu disse. – Você sabe o que elas significam?

– Era sobre isso que eu queria falar com você. Eu esperava que... Bem, se você tivesse vindo nas férias com a gente, eu esperava que você pudesse me ajudar a descobrir o que estava acontecendo comigo.

Ele olhou para mim suplicadamente. Seu rosto estava bronzeado pela praia. Eu ainda não conseguia superar o choque de ele estar aqui em pessoa. Ele forçou sua família a encurtar suas férias, concordado em entrar em uma escola militar, e voado em um helicóptero direto para uma batalha de monstros só para me ver. Do seu modo, ele era tão corajoso quanto Jake.

Mas o que estava acontecendo com ele e essas suas visões, realmente estavam me enlouquecendo. Talvez fosse algo que acontece com todos os mortais que podem ver pela Névoa. E as palavras de Héstia sobre a mãe de Luke continuavam voltando a minha cabeça: May Castellan foi longe demais. Ela tentou ver demais.

– Dan... – falei. – Bem que eu queria saber. Talvez pudéssemos perguntar a Quíron...

Ele se encolheu como se tivesse levado um choque.

– Uma armadilha que termina em morte – ele estremeceu.

Eu não pude deixar de notar como ele estava diferente, seu cabelo castanho havia crescido mais e o corto estava se desfazendo, olheiras abaixo de seus olhos verdes quase acastanhados, que permaneciam sem brilho como o de um homem morto. Isso me perturbava, ele não parecia o mesmo Daniel Kane que eu havia conhecido antes.

– Como assim? Morte de quem?

– Eu não sei – ele olhou para os lados nervosamente. – Você não sente?

– Essa era a mensagem que você queria me contar?

– Não. – Ele hesitou. – Desculpe-me. Eu não estou sendo claro o suficiente, mas esse pensamento veio até mim. A mensagem que escrevi na praia era diferente.

- Simplesmente veio até você?

Daniel concordou.

– Eu não sei o que significa. Mas eu sei que é importante. Ela dizia... – ele engoliu seco – A morte acolhe aqueles que a procuram, conhecida Megan Jackson.

Eu o fitei.

- Hã?

– É importante – ele insistiu. – Isso vai influenciar o que você fizer.

- Influenciar? Isso parece bem obvio para mim. – eu disse. – Eu estou procurando a morte lutando contra Cronos? O que você está querendo dizer? Que eu vou morrer? Nossa, que bom saber, porque é isso o que todo mundo está acreditando!

– Eu... Desculpe-me, Meg. Isso é tudo o que sei. Eu tinha que te dizer por quê...

– Bem! – Quíron veio galopando. – Esse deve ser o Sr. Kane.

Eu queria gritar para ele ir embora, mas é claro que eu não poderia. Eu tentei manter meu controle. Senti-me como se tivesse outro furacão pessoal rodando ao meu redor.

– Quíron, Daniel Kane – eu disse. – Daniel, esse é o meu professor Quíron.

– Olá – Daniel disse melancolicamente. Ele não parecia muito surpresa por Quíron ser um centauro.

– Você não esta adormecido Senhor Kane – ele percebeu. – E no entanto, você é um mortal...

– Eu sou um mortal – ele concordou como se fosse uma conclusão óbvia. – O piloto adormeceu assim que passamos pelo rio. Eu não sei por que eu não dormi. Eu só sabia que eu tinha que estar aqui, para avisar Megan.

– Avisar Megan?

– Ele tem visto coisas – eu disse. – Escrevendo textos e fazendo desenhos.

Quíron levantou uma sobrancelha.

– Verdade? Conte-me.

Ele disse a ele o mesmo que tinha me dito.

Quíron acariciou sua barba.

–Senhor Kane... Talvez devêssemos conversar.

– Quíron – falei sem pensar. - Eu tive uma horrível visão do Acampamento Meio Sangue na década de noventa, e os gritos de May Castellan vindos do sótão. Você... Você ajudará Daniel, não é? Digo... você a avisará que ele tem que tomar cuidado com essa coisa. Sem ir muito longe.

Sua cauda balançou como quando ele fica muito ansioso.

– Sim, Megan. Eu darei o meu melhor para entender o que está acontecendo e aconselhar o senhor Kane, mas isso deverá levar um tempo. Enquanto isso, você deve descansar. Nós colocamos o carro de Sophie em segurança. O inimigo parece estar aguardando por enquanto. Nós espalhamos camas pelo Empire State Bulding. Descanse um pouco.

– Todo mundo continua me falando pra descansar – eu lamentei. – Eu não preciso dormir.

Quíron forçou um sorriso.

– Você já se olhou recentemente, Megan?

Eu olhei para minhas roupas, que estavam queimadas, despedaçadas, em farrapos, devido a minha ultima noite de batalhas.

– Estou horrível – admiti – mas você acha que eu consigo dormir depois de tudo o que aconteceu?

– Você pode ser invulnerável em combate – Quíron censurou – mas isso só deixa seu corpo cansado mais rápido. Eu me lembro de Aquiles. Sempre que aquele garoto não estava lutando, ele estava dormindo. Ele devia tirar umas vinte sonecas por dia. Você, Megan, precisa de seu descanso. Você pode ser nossa única esperança.

Eu queria dizer que eu não era a única esperança deles. De acordo com Daniel eu morreria, e tenho certeza de que não vou servir morta . Mas o olhar nos olhos de Quíron deixava claro que ele não levaria um não como resposta.

– Claro – eu lamentei. – Conversem.

Eu me arrastei para o Edifício Empire State. Quando eu olhei para trás, Daniel e Quíron estavam conversando sério, como se eles estivessem discutindo os preparativos do funeral e isso me deixou mais deprimida.

Dentro do saguão, eu encontrei uma cama vazia e caí, certa de que eu não seria capaz de dormir. Um segundo depois, meus olhos se fecharam.


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Notas finais do capítulo

Beijos azuis! ♥



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