Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 22
Eu pego uma carona com um amigo suino




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- RIIII!

O forte guincho penetrou Manhattan, semideuses e monstros congelaram e tudo ficou em silêncio, no ar apenas expectativas do que aquilo podia ser. Olhei para Hansel que me encarava e eu soube que estávamos pensando a mesma coisa.

- Engraçado... – ele riu nervoso – Esse som se parece com... Não pode ser.

Infelizmente, podia. Há dois anos antes nós recebemos o que Hansel chamou de “Bênção” de Pã – um javali gigante que nos carregou pacificamente pelo sudoeste... Depois de tentar nos matar, claro. O javali tinha um guincho bem parecido com aquele, mas o que nós estávamos ouvindo ali era bem mais forte e estridente, quase como... Como se o javali tivesse uma namorada bem aborrecida.

- RIIIIII!

Uma coisa enorme e rosa planou sobre o reservatório – um tipo de dirigível do dia de ação de graças com asas.

- Uma porca! – ouvi alguém gritar – Corram por suas vidas!

Meus amigos entraram em pânico enquanto a porca atacava. Alguns se safavam por pouco, outro nem tiveram chance de fugir.

- Nyssa! – ouvi Kim, do chalé 9 gritar para outra garota de pele morena e cabelos mal cortados na altura dos ombros, um dos irmãos de Kim a arrastou antes que ela fosse esmagada junto com Nyssa. – Não!

A imagem de uma porca voadora atacando semideuses podia ser engraçada, mas ali não parecia bem o caso. As asas da porca eram da cor de um flamingo, combinando perfeitamente com seu tom de pele, eu nunca conseguiria pensar naquilo como uma “bênção” enquanto seus cascos batiam no chão raspando em um dos irmãos de Kim. A porca pisou e destruiu a cerca de dois mil metros quadrados de árvore, arrotando uma nuvem de gases nocivos. Ela decolou mais uma vez, voando em círculos para um novo ataque.

- Vai dizer que aquilo é da mitologia grega! – eu gritei para Jake enquanto desviávamos de uma árvore que voara em nossa direção... Sim, eu disse isso mesmo.

- A porca Camoniana – disse ele – Ela aterrorizou cidades na Grécia Antiga.

- Certo... Vejamos, Hércules a derrotou, não é?

- Bem... – ele hesitou. – Até onde eu sei, nenhum herói conseguiu derrotar essa coisa.

Suspirei.

- Ótimo – murmurei. – Vamos ter que dar um jeito nisso.

O exército do inimigo estava se recuperando do choque, até eles pareceram bem surpresos. Acho que finalmente perceberam que a porca não estava dando a mínima para eles.

Nós tínhamos apenas alguns segundos até que o exército atacasse de novo, mas com aquela porca nosso lado não tinha a vantagem. Toda vez que a porca arrotava os espíritos da natureza de Hansel ganiam e retornavam para as florestas.

- Aquela coisa tem que cair fora – eu peguei um gancho de um dos irmãos de Hefesto, que não explodiu em chamas gregas para a minha sorte... Sorte, é, eu podia ter esse tipo de coisa mais vezes, deve funcionar. – Eu vou dar um jeito nela. Jake assuma o comando, vocês tem que empurrar o exército de volta.

- Megan... – Jake me puxou. – E se nós não dermos conta? Você vai morrer lá... E nós não temos chance.

Eu vi o quão cansado ele estava, não deveria ter sido fácil lutar com o ombro machucado. Hansel não estava melhor, ele parecia fazer o máximo para não se mostrar abalado pela morte de Emily, mas em seus olhos eu via o medo. O chão tremeu e eu me dei conta de que a porca ainda estava ali, eu tinha que ir rápido então eu agi.

Fiquei na ponta dos pés e beijei Jake que pareceu meio surpreso, claro... Não é meio que normal beijar sua namorada no meio de uma guerra – não é, Jake? – e a sensação é sempre a mesma: Como se fosse a primeira vez.

Eu me afastei e o fitei.

- Você dá conta, eu sei. – eu disse. – Tentem não morrer, recuem se precisar, eu volto quando puder.

- Espera... Megan! – ele gritou, mas eu já estava correndo.

Então eu os deixei. O flanco direito inimigo estava entre as caçadoras e nós, eu não sabia como elas estavam se saindo, mas de qualquer jeito eu não queria deixar meus amigos na pior, então eu tinha que deter aquela porca voadora maldita... Deuses, nunca pensei que fosse dizer isso algum dia.

De qualquer jeito, a porca codorna – Camoniana. Obrigada Jake, mas eu vou esquecer depois - destruía tudo pela frente: Edifícios, árvores, mortais adormecidos. Eu tinha que parar aquilo.

Antes que eu pudesse pensar duas vezes, eu já estava girando o gancho como um laço. Foi quando a porca investiu mais uma vez que não havia mais tempo de voltar atrás, eu arremessei o gancho com toda a força que me restara. O gancho se enroscou na base da asa da porca.

- RIIIIIII! – ela guinchou de raiva.

Para a sorte dos meus amigos a porca de afastou, e para a minha “sorte” ela me levou junto voando a céu aberto.

Se talvez algum dia você tenha que andar pelo Central Park, eu aconselho a pegar um metrô. Porcas voadoras mitológicas são bem rápidas, mas também você corre o risco de virar panqueca cada vez que passa perto de um prédio ou algo do tipo, mas se for uma situação grave como do tipo que seus amigos filhos de deuses estejam com graves problemas com um exército de monstros em uma guerra mortalmente mortal... Acho que não tem problema.

A porca sobrevoou o Plaza Hotel, indo direto até o cânion da quinta avenida. Meu plano de gênio era subir na corta até a porca e montar heroicamente em suas costas.

Infelizmente isso meio que não aconteceu, pois eu estava meio ocupada balançando e desviando dos postes e laterais de prédios e evitando como já disse, virar panqueca.

Lição do dia: O lado ruim disso é que quando você tenta subir em uma corda balançando presa na asa de uma porca enquanto você voa a 160 km por hora é que quando é tarde você percebe que é uma péssima ideia. E ainda que é uma coisa completamente diferente do que subir em uma corda na aula de Educação física.

Ziguezagueamos por milhares de quarteirões e continuamos indo na direção sul sobre o Park Avenue quando eu ouvi um... Relincho familiar?

Ei Chefinha, se queria uma carona era só pedir... Meu pégaso, Blackjack entrou no campo de visão tentando se aproximar e tomando cuidado para não acertar as asas da porca.

- Cuidado! – eu avisei.

Wow! Blackjack desviou antes que a asa da porca o estapeasse para longe como uma mosca. Solte! Eu pego você... Eu acho.

Aquilo não foi muito tranquilizador. O terminal Grand Central estava logo à frente. Na entrada, a gigantesca estátua de Hermes, que eu acreditava não ter sido ativada pela altura. Eu estava voando na direção dela em uma velocidade de esmagar um semideus – se você tiver uma maldição de Aquiles pode facilitar as coisas e evitar esse terrível desastre.

- Fique alerta – eu falei para Blackjack – Eu tive uma ideia.

Oh, eu odeio suas ideias...

Ignorando o lamento do pégaso, eu me joguei para o lado com toda a força. E ao invés de me esmagar contra a estátua eu girei ao redor dela, enrolando a corda nos braços dela. Parece ser algo simples de se dizer, mas como dizem “falar é fácil”. O que havia previsto era que a Porca seria impedida de voar mais além daquilo estando ela presa em uma estátua daquelas, mas eu subestimei a força cinética de um jantar de ação de graças de trinta toneladas em pelo voo. Para meu espanto, a porca arrancou a estátua do pedestal, eu a deixei ir. Hermes havia ido dar uma voltinha, tomando meu lugar como carona da porca e eu cai em queda livre até a rua e eu pensei em como seria ruim terminar como uma massa estatelada no asfalto.

Então minhas esperanças voltaram quando eu aterrissei confortavelmente em um borrão preto que passou por mim... Tá, essa parte é mentira, outro aviso: Se você tiver sorte nunca vai ter que aterrissar de uma queda livre até um cavalo voador, dói muito mesmo. Não foi meio que o pouso mais suave... Na verdade quando eu gritei “AI!” minha voz saiu uma nona acima do normal.

Foi mal, chefinha. Murmurou Blackjack.

- Sem problemas... – eu disse com a voz rouca, limpei a garganta e apontei – Siga aquela porca!

A porca virou na direita na 42 Leste e estava voando de volta para a Quinta Avenida. Quando ela passou pelos telhados eu pude ver alguns incêndios aqui e ali na cidade. Meus amigos estavam realmente com problemas. Cronos estava atacando de vários lugares, mas eu tinha meus próprios trintas toneladas para cuidar.

A estátua de Hermes ainda estava amarrada. Batendo em prédios e balançando de um lado para o outro. A porca passou por uma oficina, e Hermes bateu numa caixa d’água no telhado, esparramando água e madeira pra todo lado. Então me ocorreu algo.

– Chegue mais perto – eu falei pro Blackjack.

Ele relinchou em protesto.

– Só a uma distância média – eu disse. – Eu preciso falar com a estátua.

Agora confirmo que você está realmente louca, chefinha. Blackjack disse, mas fez o que eu pedi. Quando eu estava perto o suficiente para olhar o rosto da estátua, eu disse:

- Hã... Ei, Olá! Hermes... Sequência de comando: Dédalo Vinte e três. Matar Porcos voadores. Ativar!

Quase que imediatamente a estátua começou a mexer as pernas. Ela parecia confusa ao perceber que não estava mais no Terminal Grand Central. Ao Inês disso, ela estava presa a uma corda puxada por uma grande, grande e grande porca voadora. A estátua de Hermes chocou-se contra uma parede de tijolos, o que eu acho que a deixou meio nervosa. Ela balançou a cabeça e começou a subir na corda.

Eu olhei para a rua. Estávamos ficando mais perto da biblioteca municipal, onde havia grandes leões de mármore flanqueando as entradas. Então eu pensei: E se as estátuas de pedra fossem autômatos também? Parecia meio... Louco. Mas não me diga isso, nunca diga que algo é louco para a adolescente que está perseguindo um porco voador.

- Mais rápido – eu disse ao Blackjack – Fique na frente dela! Tente irrita-la!

Hum... Chefe...

– Confie em mim – eu disse. – Eu posso fazer isso... eu acho.

Oh, claro. Engane o cavalo.

Blackjack explodiu adiante pelo ar. Ele podia voar realmente rápido quando precisava. Ele chegou à frente da porca, que tinha um Hermes de metal nas costas. Blackjack relinchou.

Você fede como presunto! Ele deu um coice no focinho da porca com seu casco traseiro e mergulhou. A porca rugiu de raiva e seguiu.

Nós paramos a alguns passos da biblioteca. Blackjack diminuiu o suficiente para eu saltar dele, depois continuou em direção a porta.

Eu gritei:

– Leões! Sequência de comando: Dédalo Vinte e Três. Matar Porcos Voadores. Ativar!

Os leões de pedra me fitaram como se eu tivesse enlouquecido. Então veio aquele horrível som que me faria ter pesadelos com porcos voadores pelo resto da minha vida:

- RIIIIIIII!

O enorme alado monstro cor-de-rosa pousou com um banque, rachando a calçada e me fazendo cambalear e cair sentada exclamando um ligeiro “Ou!”. Os leões encararam o porco gigante e voador – eu adoro dizer isso – não acreditando em sua sorte, eles investiram nela. Naquele momento, um Hermes muito furioso pulou na cabeça da porca e começou a bater sem piedade nela com um caduceu. Os leões tinham garras bem antipáticas.

Eu me levantei do chão batendo minhas mãos uma contra outra limpando as fagulhas de asfalto delas, afundei a mão no bolso e agarrei Anaklusmos, mas não havia muito a fazer. A porca virou pó diante dos meus olhos. Primeiro eu senti uma estranha vontade de comer carne suína e depois me senti culpada pela porca, desejei que ela encontrasse o Javali dos seus sonhos no Tártaro.

Quando a porca se foi totalmente em areia, a estátua de Hermes e os leões de pedra ficaram confusos.

-Ei! – eu chamei – Vocês podem defender Manhattan agora.

Mas eles não ligaram muito para mim e começaram a correr pela Park Avenue, provavelmente atrás de mais porcos alados até que alguém os desativasse.

- Tudo bem... - eu murmurei.

Um relincho soou atrás de mim.

Ei, chefinha! Podemos fazer uma pausa para Donuts agora?

Eu fiz careta, eu meio que não era muito fã de Donuts, mas ainda era gostoso por mais que não me trouxesse boas lembranças – oferecimento Donuts Monstro! Uma monstruosidade a mais no seu dia!

Eu limpei o suor da testa.

- Eu ia adorar, cara... Mas a luta continua. – eu disse

Na verdade, eu podia sentir a luta chegando mais perto. Meus amigos precisavam de mim, então eu montei em Blackjack e nós voamos na direção das explosões.

O centro da cidade era uma verdadeira zona de guerra. Pequenas batalhas se espalhavam por toda a parte, não era algo bonito de se ver. Um gigante arrancava árvores em Bryant Park com tanta violência que as dríades eram atiradas longe como nozes. Fora do Waldorf Astoria, uma estátua de bronze de Benjamin Franklin foi fatiada por um enorme cão infernal como se fosse um rolo de jornal. Um trio de campistas de Apolo combatia um esquadrão de dracaenae no meio do Rockfeller Center.

Eu fiquei tentada em parar e ajudar, mas soube que a partir da fumaça e do barulho, a verdadeira ação estava mais ao sul. As nossas defesas estavam desmoronando. O inimigo estava nos cercando ao redor do Empire State Building.

Voamos fazendo uma rápida varredura ao redor daquela área. Caçadoras criavam uma linha defensiva na Rua 37, apenas três quadras ao norte do Olimpo. Mais para o leste da Park Avenue, alguns outros campistas de Hefesto, levavam um exército de estátuas contra o inimigo. Mais ao oeste, campistas de Demeter e os espíritos da natureza liderados por Hansel, haviam transformado a Sexta Avenida em uma floresta atrasando um esquadrão de semideuses de Cronos. O sul estava limpo por enquanto, mas os flancos do exército inimigo já estavam se movimentando para lá. Em alguns minutos estaríamos totalmente cercados.

- Precisamos descer aonde mais precisam de nós – eu disse.

Traduzindo... Qualquer lugar serve, chefe.

Na Rua 33 com o túnel da Park Avenue, eu avistei Jake, e dois irmãos de Hefesto travando uma feroz batalha contra um gigante do norte.

- Ali! – apontei para Blackjack.

O pégaso mergulhou como um borrão preto na direção da batalha. Quando ele se aproximou o suficiente eu saltei na cabeça do gigante. Quando o gigante olhou para cima com sua cara de idiota e seu “Hã?”, eu deslizei pelo seu rosto, destampando Anaklusmos e rasgando seu nariz no caminho para baixo.

- RÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! – o gigante recuou, sangue azul escorria de suas narinas.

Enquanto isso eu pousava no pavimento, então corri. O gigante soprou uma nuvem branca de neblina, a temperatura caiu e eu estremeci de frio quase que imediatamente. O local onde eu havia caído há poucos segundos estava agora revestido por gelo e eu parecia uma rosquinha de açúcar coberta por flocos brancos.

- Ei, feioso! – Jake gritou para o gigante azul.

O hiperbóreo gritou e se virou para Jake, expondo as partes desprotegidas de suas pernas. Eu avancei enquanto gritava “AHHHHH!” e o espetei bem atrás do joelho.

- AAAAAAH! – o hiperbóreo se inclinou levemente para frente.

Eu esperei que ele virasse para mim, mas ele congelou virando um bloco sólido de gelo. Eu investi lhe dando outro golpe, e apareceram mais fissuras em seu corpo. Lentas e com estalos leves elas foram se expandindo até que o gigante se despedaçou em uma enorme montanha de cascos azuis

- Valeu – disse Jake se contraindo, tentando recuperar o fôlego – E como foi com a porca?

Dei de ombros.

- Virou carne suína para churrasco.

- Isso é bom... – ele flexionou seu ombro. Obviamente a ferida estava incomodando, eu me aproximei.

- Você está...

- Estou bem – disse ele levantando seus olhos – Vamos, tem outros campistas com problemas.

- Contando que não haja mais porcas voadoras, sabia que elas realmente dão trabalho? – eu lhe contei.

Jake deu uma curta risada.

- Acho que tem coisas piores pela frente – disse ele perdendo o olhar mais a frente, mas logo recuperando a postura e abrindo um sorriso confiante. – Vamos, cabeça de alga? Vamos rolar algumas cabeças.


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