Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 20
Sobre a (Quase) Morte de May Castellan




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Eu estava de volta ao palácio de Poseidon e as coisas não estavam melhores do que a última vez em que estive lá. O exército do inimigo estava mais próximo agora. As fortalezas estavam em ruínas, completamente destruídas. O templo que meu pai usava como quartel general queimava em fogo grego.

Em seguida eu via a sala de armas, onde meu irmão Tyler e outros ciclopes estavam em seu intervalo para o almoço, imagine as maiores jarras do mundo com vários cookies com manteiga de amendoim – e eu não queria saber o gosto daquelas coisas embaixo da água...

Como previsto eu não estava ali apenas para ver meus irmãos devorando cookies como se fossem os últimos do mundo submarino – eu não tenho muita certeza de que haja muitos cookies com manteiga de amendoim no oceano... -, coforme eu observava a cena, a parede exterior explodir. Um guerreiro ciclope cambaleou para dentro tendo colapsos na mesa do almoço. Tyler, meu irmão mais novo, ajoelhou-se para ajudar, mas já era tarde demais. O ciclope havia se dissolvido em areia marinha.

Gigantes inimigos tentavam entrar pelo buraco na parede. Tyler sacara o porrete do guerreiro ciclope caído. Então ele gritou para meus outros irmãos... Bem, eu acho que era algo como “Por Poseidon!”, mas sua boca estava cheia de farelos de cookies e manteiga de amendoim ficou algo parecido com “HÃ ENDOM” então seus outros irmãos pegaram martelos e formões, gritando: “MANTEIGA DE AMENDOIM!” e seguiram Tyler na direção da guerra submarina.

Então a cena se dissolveu para outra. Eu me vi ao lado de Nakamura sendo minha imagem invisível para ele, estávamos no campo inimigo. O que eu vi não era uma cena mais bonita que a anterior em partes pelo exército imenso e em parte porque eu conhecia aquele lugar infelizmente.

Estávamos na região rural Nova Jersey, em uma estrada desintegrada, repleta de empresas velhas e outdoors largados. Uma cerca pisoteada cercava um grande jardim cheio de estátuas de cimento, o pior de tudo é que aquelas estátuas um dia já foram pessoas e outro lado macabro disso seria as expressões delas: Pavor. Mas com um exército de monstros e semideuses como aquele, eu não podia culpa-las.

O letreiro do outdoor no armazém era difícil de ler para minha mente dislexa, até porque letras cursivas e luminosas não são muito amigáveis com meus olhos, mas eu sabia o que estava escrito:

Empório de Anões de Jardim da Tia Eme.

A primeira e única vez que eu havia estado naquele lugar era quando eu tinha doze anos e estava na minha primeira missão com Hansel, Jake e Silena quando ela ainda era ajuizada. O lugar estava claramente abandonado. As estatuas estavam quebradas e pichadas de preto. Um sátiro de cimento tinha perdido um dos chifres. Parte do telhado tinha cavidades. Letras vermelhas como o sangue – eu não queria saber de quem era... Não mesmo. – avisavam na porta dizendo:

CONDENADO

Incontáveis números de barracas e fogueiras se estendiam ao longo da propriedade. Na maior parte monstros, mas também havia mercenários mortais e outros meio-sangues. Uma bandeira preta e roxa estava hasteada fora do empório, sendo guardada por dois daqueles gigantes azuis, Hiperbóreos. Eu vi Ethan Nakamura agachado próximo da primeira fogueira, e me senti feliz de ter deixado uma marca amassada em seu nariz pelo nosso último encontro na batalha da ponte. Outros semideuses sentavam-se com ele, amolando suas espadas. A porta do armazém se abriu e de lá saiu Prometeu.

- Nakamura – ele chamou – O mestre está o convocando agora.

Ethan se levantou de modo cauteloso, eu via o medo em seus olhos.

- Algo errado?

Prometeu sorriu.

- Isso você terá que ver com o mestre.

Um dos outros semideuses abafou um riso.

- A ê, Ethan... Foi bom ter conhecido você.

Ethan arrumou sua bainha e murmurou algo como:

- Vão se ferrar...

O outro semideus deu um meio sorriso.

- Depois de você. – disse formalmente.

- Nakamura. – Prometeu o apressou.

E então Ethan entrou no armazém.

O lugar não estava tão diferente de como eu me lembrava, exceto pelo enorme buraco no telhado. Mas me lembro das estátuas com expressões de horror, congeladas no centro, logo atrás um tipo de labirinto com paredes de folhas. Na lanchonete, mesas de piquenique foram arrastadas de lado. E entre a máquina de refrigerantes e o aquecedor de pretzels havia um trono dourado. – era um lugar estranho para por um trono como aquele... – Cronos estava sentado naquele trono, com sua foice no colo.

Ele mantinha os olhos fechados e a palma no rosto, assim com sua camiseta Pollo e sua expressão, ele parecia quase que humano – como a versão de Luke mais jovem da visão, discutindo com Hermes. Então ele abriu os olhos para ver Ethan, um largo sorriso bem inumano surgiu em sua face. Seus olhos dourados brilharam.

A porta do armazém se abriu em um pequeno vão, uma cabeleira ruiva adentrou o local.

Silena Beauregard mantinha seus cabelos ruivos meio rosados presos em uma trança espinha-de-peixe, ela usava uma armadura diferente agora: Escura com detalhes na cor roxa. Era bem feminino de modo que usar armadura poderia até entrar na moda – não é todo mundo que fica bem em uma armadura. – sua longa franja se estendia até o queixo, quase que cobrindo seu olho esquerdo.

- Disseram que estava me chamando, Lorde Cronos – disse ela.

Cronos se endireitou em seu trono.

- Sim... – ele assentiu lentamente. – Silena... Gostaria de saber como foi sua missão diplomática.

Não demorei em perceber que Silena não estava realmente ali, ela olhava distraída para o chão, distante demais para responder.

- Silena! – exclamou Cronos.

Minha amiga deu um pequeno pulinho de susto, olhando para Cronos, mas quando se deu conta daqueles olhos dourados, ela afastou o olhar e murmurou:

- Eu... Eu acho que o senhor Prometeu poderia responder melhor.

- Eu perguntei a você. – enfatizou o senhor do tempo.

O olho bom de Ethan disparou para frente e para trás como se ele fizesse a contagem de quantos guardas havia ali, ao lado dele Silena engolia seco.

- Bem... Eu... Eu não acho que Jackson se renderá. Jamais. – disse Silena - Ela é muito teimosa quanto a isso. Ela não desistiria de seus amigos... Nunca.

- Porque está hesitando... Silena? – perguntou Cronos.

- E-Eu não estou... Mestre. – gaguejou ela.

- Espero não me deparar com uma traição sua, Silena, eu realmente lamentaria perder uma aliada tão fiel para a morte. – disse o titã do tempo.

Silena suava.

- Não se preocupe. Senhor. – assegurou. – Não vou fracassar.

Cronos assentiu.

- O que eu queria ouvir... Nakamura! – rosnou Cronos.

Foi à vez de Ethan pular, me perguntei se Cronos precisava mesmo gritar, já que até sussurrando eu tenho que admitir: Ele é assustador.

- Senhor. – gaguejou Ethan, ele tremia mais que Silena.

- Tem alguma coisa para me dizer?

- N-não, mestre. – gaguejou.

- Você me parece nervoso, Ethan.

– Não, senhor. É só que... Eu ouvi falar que este era o covil da...
– Medusa? Sim, verdade. Lugar adorável, não é? Infelizmente, Medusa não se reformou desde que Jackson a matou, então não se preocupe em se juntar à coleção dela. Além disso, há forças muito mais perigosas nesta sala.

Cronos virou seu rosto para um gigante lestrigão que mantinha em uma de suas... Patas gigantes? Garras? Sei lá, mas a questão é que em uma de suas mãos nada humanas permanecia um pacote de Ruffles de churrasco, ele mastigava ruidosamente algumas delas. Cronos acenou com a mão e o lestrigão congelou com uma Ruffles suspensa a meio caminho de sua boca.

- Para que transforma-los em pedra? Se você pode para-los no tempo... – disse o titã.

Seus olhos dourados fitaram o rosto de Ethan.

– Agora, me conte outra coisa. O que aconteceu ontem à noite na ponte Williamsburg?

Ethan tremeu. Gotas de suor brotavam em sua testa.

– Eu... Eu não sei do que está falando, mestre. – tremeu Ethan.

– Sim, você sabe – Cronos levantou de seu trono. – Quando você atacou Jackson, algo aconteceu. O garoto, filho de Ares, Jake Turner pulou na frente.

- Bem, ele é n-namorado dela, não? Deveria estar tentando salva-la.

- Mas ela é invulnerável. – disse Cronos baixinho. – Você mesmo viu.

- T-Talvez ele tenha esquecido... – gaguejou.

- Ele se esqueceu... – repetiu Cronos. – Talvez... Oh, eu esqueci que minha namorada é invulnerável e levei uma faca por ele, ops! Diga-me, Ethan, onde você estava mirando quando o atacou?

Ethan franziu a sobrancelha. Ele fechou o punho como se estivesse segurando uma lâmina, e fingiu uma estocada.

Silena olhava para Ethan indiretamente, como se quisesse fuzila-lo.

- Sinto muito, mestre. Eu não me lembro, tudo aconteceu rápido demais. Eu não mirei em um local específico.

Cronos tamborilou sua foice com os dedos.

- Entendo. – disse o titã com a voz gélida.

- Senhor... – chamou Silena.

- Sim?

Silena hesitou.

- A alma de Luke... Ainda está lutando?

Então sua expressão endureceu. Ele esticou as mãos e flexionou os dedos vagarosamente, como se estivesse forçando-os a obedecê-lo.

– Tolice – Cronos cuspiu. – A alma de Luke Castellan... Não existe mais. Ainda estou me acostumando a esse corpo.

– Como... Como quiser meu senhor. – disse Silena, mas não parecia muito satisfeita.

- Você! – Cronos apontou sua foice na direção de uma dracaenae com armadura e uma coroa verde. – Rainha Sess, não é?

- Ssssssim, mestre.

– A nossa surpresinha está pronta?

A dracaenae mostrou as presas.

– Oh, ssssssim, meu lorde. É uma linda sssssurpresssa.

– Excelente – Cronos disse. – Diga ao meu irmão Hyperíon para mover nossas forças ao sul até o Central Park. Os meio-sangues ficarão tão confusos que não saberão como se defender. Vão vocês dois. Ethan trabalhe sua memória. Conversaremos de novo quando tivermos tomado Manhattan.

Ethan e Silena se curvaram e meu sonho mudou novamente. Eu estava na Casa Grande do acampamento, mas era uma época diferente. A casa em vez de azul era vermelha. Os campistas na quadra de vôlei tinham cabelos do inicio dos anos 90, o que deveria servir para afastar os monstros.

Quiron estava no porão, diante de Hermes e uma mulher com um bebê enrolado em um pano azul no seu colo. O cabelo de Quiron era curto e escuro. Hermes usava sua habitual roupa de corrida e seu tênis alado – o que me fez estremecer. Eu passei maus momentos com uma réplica como aquela.

A Mulher era alta, familiar e bonita. O cabelo loiro caia em suas costas, os olhos eram brilhantes e seu sorriso amigável. O bebê em seus braços se contorcia como se a última coisa que ele quisesse era estar no Acampamento Meio-sangue.

- É uma honra tê-la aqui – Quiron disse gentilmente para a mulher, porém ele parecia inquieto – Faz anos que não permitem a entrada de uma mortal no Acampamento.

- Quiron, não a encoraje... – resmungou Hermes. – May, querida, você não pode fazer isso, eu não posso...

Ela não se parecia nem um pouco com a velha que eu conheci. Ela parecia cheia de vida – o tipo de pessoa que poderia sorrir e fazer todos a sua volta se sentirem bem e isso me deixou mal, o que aconteceu? O que matou essa May?

- Não se preocupe tanto... – May disse, enquanto estava balançando o bebê. – Você precisa de um Oráculo, não precisa? O último está morto há, vejamos, vinte anos?

- Mais – corrigiu Quiron gravemente.

Hermes esticou os braços, tão inquieto quanto Quiron, mas diferente do homem-cavalo, Hermes não conseguia disfarçar.

- Não lhe contei está história para que você pudesse se candidatar – disse o deus mensageiro – É um grande risco, Quiron, diga para ela.

- Exato... – disse Quiron – Por muitos anos eu proibi qualquer um de tentar. Nós não sabemos exatamente o que aconteceu. Os humanos vêm perdendo a capacidade de hospedar o Oráculo.

- Eu sei que posso fazer isso – disse May insistindo – Hermes, acredite em mim. Esta é a minha chance de fazer algo bom. Eu recebi o dom da visão por algum motivo.

Então eu finalmente percebi o que havia acontecido a May Castellan.

- Não... – eu murmurei. – Não faça isso!

Mas minha voz não era nada mais que um ruído de vento. Eu sabia o que estava para acontecer. Eu finalmente percebi porque sua vida tinha sido destruída. E somente ao pensar me dava calafrios.

- Se você se tornar o oráculo... – Hermes parecia machucado. – Você não poderá se casar... Não poderá me ver mais.

May pós sua mão gentilmente no braço do deus.

- Não posso tê-lo para sempre – disse gentilmente. – Você é imortal, eu não sou. Em breve você irá seguir seu caminho.

Hermes parecia querer protestar, mas May o cortou:

- Você sabe que é verdade! Não tente poupar meus sentimentos. Além do mais, nós temos uma criança linda. Eu ainda posso cuidar do Luke se eu for o Oráculo, certo?

Quiron tossiu.

- Bem, não vejo como isso iria interferir no oráculo... Ma suma mulher que já deu a luz uma vez, não sei se o Oráculo irá aceitar...

- Ele vai. – insistiu May.

- Não – eu disse – Não vai...

Mas a minha voz nunca chegaria até eles. Foi quando May beijou o bebê entregando-o nos braços de Hermes.

- Eu já volto.

Ela deu um último sorriso confiante a eles e subiu as escadas.

Quíron e Hermes permaneceram em silêncio. O bebê se mexia freneticamente.

Eu não sabia o que estava vendo, um brilho verde cegou toda a minha visão sobre o sonho, saindo pelas janelas da casa. Os campistas pararam de jogar vôlei, a bola quicou solitária no chão. Toda Long Island parecera parar para ver o que tinha acontecido. Um vento frio soprou pelos campos de morangos.

Então eu ouvi o grito de Hermes:

- Não... NÃO!

Ele entregou o bebê nas mãos de Quiron e saiu correndo até o portão.

- MAY!

Mas antes que ele alcançasse a porta, a tarde ensolarada fora cortada pelo terrível grito de uma mulher, o grito de May Castellan.

Eu me sentei com tanta urgência que bati a cabeça no escudo de alguém.

- Ai! – eu esfreguei a testa.

- Desculpe Meg. – disse Jake parado em frente a mim. – Tudo bem? Você está pálida.

Eu estava suando, tremula com as visões de agora pouco, mas eu apenas assenti.

- Estou bem. – eu disse.

- Bem... Eu vim aqui para acordar você mesmo. – disse ele colocando uma mexa teimosa atrás da minha orelha. – Tem certeza de que está bem.

Eu esfreguei minha cabeça, tentando limpar as visões perturbadoras. De repente muitas coisas fizeram sentido para mim: May Castellan havia tentado se tornar o Oráculo. Ela não sabia da maldição de Hades que impedia o espírito de Delfos de se hospedar em outra pessoa. Nem Quíron nem Hermes. Eles não perceberam que, ao tentar conseguir o fardo, May ficaria pirada, atormentada com colapsos onde seus olhos brilhariam em verde e ela vislumbraria pedaços do futuro de seu filho. Em resumo: Ela estaria inconsciente enquanto parte do Oráculo vivia nela, e mesmo que pequena. Foi suficiente para mudar de fato sua vida mortal.

- Megan... – ele se sentou na cama. – Me diga o que há de errado.

- Nada – menti - O que... o que você está fazendo nesta armadura? Você deveria estar descansando.

Ele sorriu para mim.

- Bom, é incrível o que um pouco de néctar e ambrósia fazem por você – disse, mas ele ainda parecia pálido. – Mesmo, estou bem.

- Você mal consegue mover seu braço – eu disse.

– Hã-hã. Sério, você não pode ir lá fora e lutar, eu não vou deixar.

Ele suspirou sem vontade de discutir, mas isso não era problema para Jake Turner. Ele se ergueu me ofereceu a mão e me ajudou a levantar.

- Você vai precisar de cada pessoa que tiver – justificou - – Eu acabei de olhar no meu escudo. Há um exército...

–... Seguindo para o sul, marchando em direção ao Central Park – eu disse. – Sim, eu sei.

Jake me olhou torto.

- Como...

- Apenas escute... Eu tive um sonho, certo? – eu disse - Palácio de Poseidon, manteiga de amendoim, ciclopes e problema. Depois eu vi o exército de Cronos, ele estava suspeitando de Silena, e Cronos acha que Ethan sabe do meu ponto fraco, o que se deve a você por entrar no meu caminho.

Ele assoviou.

- Certo... Desculpe por você estar viva, mas... Você disse manteiga de amendoim?

– Ele não disse nada a Cronos, mas se ele descobrir...

– Nós não podemos deixar.

– Vou bater mais forte na cabeça dele da próxima vez – eu sugeri.

Jake deu de ombros.

- Normalmente funciona...

– Alguma ideia sobre o que seria a “surpresa” de Cronos?

Ele balançou a cabeça.

- Não vi nada, mas não gosto nem um pouco desse termo, normalmente quando os vilões dizem “surpresa”, não tem anda haver com uma festa, um bolo ou algo do tipo.

- Idem. – eu disse.

– Então – ele disse – você vai discutir sobre eu me juntar a vocês?

Eu o encarei.

- Você ia achar um jeito de me convencer e eu perderia – eu disse – Então, Nah.

Ele riu, o que foi bom de ouvir.

- É assim que se fala Cabeça de Alga.

- Ainda não estou feliz com isso, Cabeça de Javali.

Eu peguei minha espada e fomos nos juntar às tropas.

- Vamos? Temos alguns monstros para pulverizar.


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