Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 11
Meu mergulho no rio de sonhos perdidos




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Minha cela não tinha barras, nem janelas e nem mesmo uma porta. Os guardas esqueletos me jogaram com força contra uma parede, e a cela se tornou sólida ao meu redor. Eu não tinha certeza se o quarto não permitia a entrada de ar. Bem provável.

As masmorras de Hades foram feitas para gente morta, e eles não precisam respirar. Então esqueça cinquenta ou sessenta anos. Eu estaria morto em cinquenta ou sessenta minutos. Enquanto isso, se Hades não estivesse mentindo, alguma grande armadilha iria acontecer em Nova York até o final do dia e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.

Eu .sinto um familiar peso no meu bolso, a caneta-espada Anaklusmos voltara ao meu bolso, eu a agarro de frente ao meu rosto.

- Você está atrasada. - digo para a caneta.

O lado bom é que eu podia atacar as paredes o quanto quisesse, me sentindo idiota por ter caído em um truque tão baixo. 

Eu sentei no chão de pedra, me sentindo infeliz.

Eu não me lembro de apagar. Deveria ser por volta das sete da manhã, horário mortal, e eu passara por muita coisa.

Eu não sabia exatamente aonde eu estava, não reconhecia aquele corredor. O chão estava inundado por água que roçava levemente nos meus pés descalços. Eu não via um teto, apenas escuridão, imaginei que eu estava em algum lugar do mundo inferior, já que lá não tinha teto, mas eu não estava tão certa disso.

- Olá? - minha voz ecoou.

Eu não estava muito nervosa e nem estava temendo nada, depois de todos os monstros que enfrentei por toda a vida, eu acho que a falta de uma lanterna era a ultima coisa que eu deveria ter medo.

Foi quando eu ouvi uma resposta:

Olá? - era como um eco atrasado meu.

Eu parei por um instante em alerta, olhando ou redor em busca do dono da voz, mas eu estava sozinha - pelo menos, era o que parecia.

Eu engoli seco e dei um passo, e desejei meu pé seco e até tentei controlar aquela água para que se afasta-se, não conseguiria pegar ninguém de surpresa com ela. Mas não surgia nenhum efeito. 

Eu suspirei e continuei andando.

Alguém ai? - eu chamei, mas ninguém me respondia.

Enquanto eu andava por aquele correr eu via portas duplas em toda parte, pareciam bem antigas, todas escuras pintadas com uma cor verde escura, quase preto e todas tinham um acabamento em prata.

Vá... - disse uma voz familiar, mas não era a minha. Eu olhei ao redor, pronta para retirar Anaklusmos do meu bolso e atacar. - É perigoso...

Quem está ai? - minha voz ecoara.

Eu jurei ter visto um vulto prateado como um fantasma. Eu fiquei um bom tempo olhando para a escuridão vazia, até que me convenci que deveria ter sido só uma ilusão e continuei andando - ainda não sei como eu poderia ter sido tão idiota... - enquanto andava agora eu ouvia sussurros, as vozes eram muito parecidas, então quando se juntavam eu não conseguia deixa-las entrar na minha mente.

Quando eu finalmente chego até a última porta, percebo que a água está roçando abaixo do meu joelho agora. A última porta no final do corredor era a mais sinistra de todas.

Como a maioria, era verde escuro com acabamento em prata, apenas se diferenciando por dois corpos humanos com expressões perturbadoras no rosto. Uma das mãos do primeiro corpo estava enterrada na porta, como se atravessa-se está, e a outra se estendia para mim. A posição da segunda estátua não era diferente. Reconheci o material: Bronze celestial. (Filhos de Apolo: RIMOU *-*) (Megan : Isso não é hora...) 

A posição das esculturas... Como se elas estivessem fugindo de algo atrás daquela porta. Eu estava pronta para abri-la quando os sussurros se agitaram ficando mais alto. 

Corram... 

Fuja...

Era como se eu estivesse hipnotizada, eu agarrei a mão estendida para mim, que servia como maçaneta e puxei. Com um leve rangido, as portas se abriram para mim e com a caneta Anaklusmos na mão, eu adentrei - Nada como uma caneta mágica nessas horas...

Primeiramente eu só vi mais água, e quando as portas atras de mim se fecharam em um estalo, os sussurros viraram gritos e se calaram. A água batia agora abaixo dos meus joelhos, e eu andei como um zumbi para a frente.

Uma sala circular e no final dela dois enormes portões com barras de ferro, através deles, não havia nada de muito diferente: Escuridão.

Deveria ter ouvido... - disse a minha voz... Mas não saíra de minha boca. - Você deveria ter corrido... Por que não correu... Atrás dela?

Eu destampei Anaklusmos, esperando um ataque surpresa. Mas isso não parecia fazer parte dos planos do dono da voz.

Você... Você vive com suas palavras de "não vou desistir"... Então porque não correu? - provocou a voz.

- Do que está falando? - eu finalmente argumentei. - Quem é você?

A voz ri, uma risada fria e áspera como a de Cronos e essa característica já não me fez gostar muito do dono da voz. Eu dei um passo para frente.

 - Apareça! - eu exigi.

Então eu me arrependi depois de ter dito isso. Há cinco metros a frente, a água se ergueu tomando a forma de um corpo humano, longos cabelos negros, uma mecha cobria metade do rosto, um sorriso cruel se exibia no rosto pálido como o de um fantasma e os olhos eram da cor da terra. Um marrom bem escuro quase chegando ao negro e eu não sei o que você pensa quando digo "olhos castanhos", lembram de Briareu? Então, os olhos do meu inimigo eram como os dele, castanho por completo, porém muito mais escuros, e sem nenhum brilho.

O meu inimigo era eu.

O que... - eu comecei meio perturbada, aquela coisa era idêntica a mim, exceto pelos olhos. - O que você é?

- Eu?Eu sou você o que você é. - disse "minha" voz roubada.

Um centímano com duas mãos? - eu hesitei.

O "meu" sorriso se dissolveu.

Você é tão idiota... 

- É... Eu já to sabendo disso. - eu disse irônica. - Mas o que você é... exatamente? Um monstro? Uma... Ilusão?

A coisa riu.

- Tudo aquilo que você não pode controlar... - sibilou. - Tudo aquilo que você precisa para vencer... Eu sou seu ódio.

- Você é um pesadelo. - eu disse. - Eu não preciso de você.

- Me libere... Eu te ajudarei a fugir. - "eu" ergui minha mão na minha direção... Deu para entender isso?

O único lugar para qual eu vou te liberar, é o Tártaro. - ameacei.

Mas a coisa não deixava de sorrir. daquele jeito maligno.

Então... MORRA!

A coisa veio na minha direção, eu estava pronta para defender, mas Anaklusmos simplesmente voara da minha mão, garras crescerão na falsa "eu" e quando ela estava a ponto de me atacar uma voz sibilou:

– Megan!

Eu me levantei rápida e cegamente. Antes de estar completamente acordada, eu tinha Nico pregado no chão da cela com a ponta da minha espada na garganta dele.

– Queria... resgatar... – ele engasgou.

A raiva me acordou depressa.

– Ah, é? E por que eu deveria confiar em você?

– Sem... escolha? – ele gaguejou.

Eu queria que ele não dissesse algo tão lógico como aquilo. Eu o deixei ir. Nico se enroscou numa bola e fez sons de vômito enquanto sua garganta se recuperava. Finalmente ele ficou de pé, olhando minha espada desconfiadamente. A própria lâmina dele estava embainhada. Eu supus que se ele quisesse me matar, ele teria feito isso enquanto eu dormia. Mesmo assim, eu ainda não confiava nele.

– Nós temos que sair daqui – ele disse.

– Por quê? – eu disse. – O seu pai quer conversar comigo de novo?

Ele prendeu a respiração.

– Megan, eu juro pelo rio Estige, eu não sabia o que ele estava planejando.

– Você sabe como seu pai é!

– Ele me enganou. Ele prometeu... – Nico estendeu as mãos.

– Ouça... agora mesmo, nós temos que ir. Eu pus os guardas para dormir, mas isso não vai durar muito.

Eu quis estrangulá-lo de novo, mas infelizmente, ele estava certo. Nós não tínhamos tempo para discutir, e eu não poderia escapar sozinha. Ele apontou para a parede. Uma seção inteira desapareceu, revelando um corredor.

– Vamos lá – Nico me guiou.

Eu quis muito ter o casaco preto da invisibilidade de Jake naquelas horas, mas eu não precisei dele.

Toda vez que um guarda-esqueleto entrou no nosso caminho, Nico só apontava para eles, e seus olhos brilhantes se ofuscavam. Infelizmente, quanto mais Nico fazia isso, mais cansado ele aparentava ficar. Nós andamos por um labirinto de corredores cheio de guardas. Quando chegamos numa cozinha cheia de cozinheiros e empregados esqueleto, eu estava praticamente carregando Nico. Ele conseguiu pôr todos os mortos para dormir, mas ele mesmo quase desmaiou. Eu o arrastei para fora da entrada dos empregados e dentro dos Campos dos Asfódelos.

Eu quase me senti aliviada quando ouvi o som de gongos de bronze vindos do castelo.

– Alarmes – Nico murmurou sonolento.

– O que faremos agora?

Ele bocejou e então franziu as sobrancelhas como se tentasse se lembrar.

- O que acha de... Correr?

- Grande gênio... - resmunguei.

Correr com um filho inerte de Hades era mais como participar de uma corrida de três pernas com uma boneca de pano de tamanho natural. Lembrando que Nico é meio que mais pesado que eu, mas eu o carreguei sem escolha, segurando minha espada na minha frente. Os espíritos dos mortos abriram caminho como se o bronze celestial fosse fogo.

O som de gongos soou por todo o campo. Adiante elevavam-se os muros do Érebo, mas quanto mais andávamos, mais longe elas pareciam. Eu estava quase desmaiando de exaustão quando ouvi um familiar “WOOOOOF!

Sra. O’Leary surgiu de lugar nenhum e corria em círculos ao nosso redor, pronta para brincar.
– Boa garota! – Eu disse. – Você pode nos dar uma carona até o Estige?

A palavra Estige a fez ficar excitada. Ela provavelmente pensou que eu quis dizer gravetos. Ela pulou algumas vezes, caçou a própria cauda só para nos ensinar quem era o chefe, e então se acalmou o suficiente para que eu conseguisse empurrar Nico para as costas dela.

Eu subi a bordo, e ela correu na direção dos portões. Ela passou diretamente pela fila de Morte Expressa, mandando os guardas pelos ares e fazendo mais alarmes dispararem. Cérbero latiu, mas ele soou mais alegre do que zangado, como:Posso brincar também?

Felizmente, ele não nos seguiu, e a Sra. O’Leary continuou correndo. Ela não parou até que estivéssemos distantes rio acima e os fogos de Érebo tivessem desaparecido na névoa.

Nico deslizou de cima das costas da Sra. O’Leary e tropeçou para dentro de um monte de areia escura.

Eu peguei um quadrado de ambrosia – parte da comida divina de emergência que eu sempre levava comigo. Estava um pouco amassado, mas Nico mastigou.

– Hmm – ele resmungou. – Melhor.

– Seus poderes parecem te desgastar muito – eu notei.

Ele concordou sonolentamente.

– Com grande poder... vem grande necessidade de tirar uma soneca. - disse ele. - Me acorde daqui a alguns dias...

- Ei, Nico! Cabeça de... Ah, depois eu invento alguma coisa. - Eu o segurei antes que ele desmaiasse de novo. - Nós já estamos aqui no rio, você tem que me dizer o que fazer.

Eu dei a ele meu último pedaço de ambrosia, o que era um pouco perigoso. O troço pode curar semideuses, mas também pode nos reduzir a cinzas se comermos demais. Felizmente, pareceu funcionar. Nico balançou a cabeça algumas vezes e ergueu-se com esforço.

- Meu pai vai vir logo. - disse ele. - Nós temos que ser rápidos.

A correnteza do Estige rodopiou com objetos estranhos – brinquedos quebrados, diplomas rasgados, buquês murchos – todos os sonhos que as pessoas tinham jogado fora quando passaram da vida para a morte. Olhando para a água negra, eu podia pensar em mais ou menos três milhões de lugares onde eu preferiria nadar.

Eu assenti.

- Certo, o que fazemos?

- Bem, você tem que mergulhar no rio, mas tem que se preparar antes...

- Você está dizendo algo como, boias de braço, roupa de banho, boia de patinho... Pode ser azul? - eu perguntei.

- Não foi isso que eu quis dizer. - disse ele. - Se você não se preparar adequadamente o rio vai destruir você, vai queimar seu corpo e alma.

- Hm... - eu disse lentamente. - Parece ser divertido, deveria fazer isso mais vezes. 

– Isso não é brincadeira – Nico alertou. – Só há uma maneira de você ficar conectado a sua vida mortal. Você tem que...

Ele olhou para trás de mim e seus olhos se arregalaram. Eu me virei e me encontrei cara-a-cara com um guerreiro grego.

Por um segundo eu pensei que fosse Ares, porque esse cara parecia exatamente com o deus da guerra – alto e moreno, com uma cara cruel e cheia de cicatrizes e cabelo escuro cortado rente à cabeça. Ele vestia uma túnica branca e armadura de bronze. Ele segurava um elmo de guerra com uma pluma em cima embaixo do grasso. Mas os olhos dele eram humanos – um verde pálido, como um mar raso – e uma flecha coberta de sangue saindo da panturrilha esquerda dele, logo acima do tornozelo.

Eu era horrível com nomes gregos, mas até eu conhecia o maior guerreiro de todos os tempos, que tinha morrido de um calcanhar ferido.

– Aquiles? – eu disse.

O fantasma concordou com a cabeça.

– Eu avisei ao outro para não seguir meu caminho. Agora aviso você.

– Luke? Você falou com Luke?

– Não faça isso – ele disse. – A tornará poderosa. Mas também o tornará fraca. A sua perícia em combate vai ser maior do que a dos mortais, mas as suas fraquezas, as suas falhas, crescerão também.

– Você quer dizer que eu terei um calcanhar ruim? – Eu disse.

– Eu não poderia, tipo, usar algo além de sandálias e chinelos? Sem ofensa.

Ele olhou para o seu pé sangrento.

– O calcanhar é somente minha fraqueza física, jovem semideusa. Minha mãe, Tétis, me segurou por aqui quando me afundou no Estige. O que me matou realmente foi a minha própria arrogância. Cuidado! Volte!

Ele quis dizer realmente aquilo. Eu podia ouvir o arrependimento e a amargura na voz dele. Ele estava tentando de verdade me livrar de um destino terrível. Então de novo, Luke tinha estado aqui, e ele não tinha ido embora.

Era por isso que Luke foi capaz de receber o espírito de Cronos sem ter seu corpo desintegrado. Foi assim que ele preparara a si mesmo, e o motivo pelo qual ele parecia impossível de matar. Ele tinha se banhado no Rio Estige e tomado os poderes do maior guerreiro humano, Aquiles. Ele era invencível.

– Eu tenho que fazer isso – eu disse. – Não tenho escolha.

Aquiles abaixou a cabeça.

– Que os deuses saibam que eu tentei. Jovem guerreira, se você tem de fazer isso, concentre-se no seu ponto mortal. Imagine um ponto em seu corpo onde restará vulnerabilidade. Esse é o lugar onde a sua alma vai ancorar o seu corpo ao mundo. Será sua maior fraqueza, mas também sua única esperança. Nenhum homem deve ser completamente invulnerável. Perca a visão do que a mantém mortal e o Rio Estige vai queimá-la até cinzas. Você não mais existirá.

– Eu não acho que você possa me dizer o ponto mortal de Luke?

Ele me olhou impaciente.

– Prepare-se, garota tola. Quer você sobreviva ou não, você selou seu destino!

Com esse pensamento feliz, ele desapareceu.

– Megan... - disse Nico hesitando. - Talvez ele esteja certo.

- Mas a ideia foi sua!

- Eu sei disso! Mas agora...

- Apenas espere-me na margem, certo? - eu disse. - Se alguma coisa acontecer a mim... Bem, talvez Hades vá ter o desejo concedido, e você será a criança da profecia no fim das contas.

Ele não parecia muito feliz com isso, mesmo assim eu não liguei.

Antes que eu pudesse mudar de ideia, eu já estava concentrada na base da minha coluna – um pequeno ponto oposto ao meu umbigo. Ele era bem protegido quando eu usava armadura. Seria difícil atingir por acidente, e poucos inimigos iriam mirar ali de propósito. Nenhum lugar era perfeito, mas esse pareceu certo para mim, e muito mais digno do que, tipo, minha axila ou algo assim.

Eu imaginei uma corda, uma corda de bungee-jumping me conectando ao mundo por esse pequeno lugar em minhas costas.

E mergulhei no rio.

Imagine pular dentro de um fosso cheio de ácido fervente. Agora multiplique essa dor por cinquenta. Você ainda não estará perto de entender como é nadar no Estige. Eu planejei andar devagar e corajosamente como um herói de verdade. Assim que a água tocou minhas pernas, meus músculos viraram geleia e eu caí de cara na correnteza.

Eu submergi completamente. Pela primeira vez na vida, eu não podia respirar debaixo d’água. Eu finalmente entendi o pânico de se afogar. Cada nervo do meu corpo queimava. Eu estava dissolvendo na água. Eu vi rostos – Hansel, Tyler, Silena, Srta. Sophie... Percy – mas eles desbotaram assim que surgiram.

"Eu lhe dou minha bênção" disse a voz de Srta. Sophie.

"Considere-se Megan Jackson, tá?" disse Percy.

"Pastel de queijo!" disse Hansel, Eu não tinha certeza de onde isso tinha vindo, mas não pareceu ajudou muito.

Eu estava perdendo a briga. A dor era muita. Minhas mãos e pés estavam derretendo na água, minha alma estava sendo retirada do meu corpo. Eu não conseguia lembrar de quem era. A dor que a foice de Cronos me causara não era nada comparada com isso.

A corda, uma voz familiar disse. Lembre-se da sua corda salva da vida, idiota!

De repente eu senti um puxão na parte inferior de minhas costas. A correnteza me puxava, mas não me levava mais para longe. Eu imaginei um fio em minhas costas amarrando-me a margem.

- Aguente firme, cabeça de alga. - finalmente era a voz de Jake. - Você não morre antes de mim.

A corda ficou mais forte.

Eu podia vê-lo agora - O capuz de seu casaco mágico estava sobre sua cabeça, mas ele estava bem visível para mim. E ele também estava descalço acima de mim no píer da lagoa das canoas. Eu tinha caído da minha canoa. Era isso. Ele estava estendendo a mão para me ajudar a subir, e estava tentando não rir. Vestia a camisa laranja do acampamento e jeans de sempre.

- Sabe, você é meio idiota as vezes. - disse ele com um sorriso. - Mas vamos, pegue minha mão.

Memórias vieram flutuando de volta para mim – afiadas e mais coloridas. Eu parei de dissolver e me lembrando de quem eu realmente era.

Meu nome é Megan Jackson, e eu perdia memória de tudo e todos quando eu tinha dez anos de idade, sou uma semideusa filha do deus dos mares e eu estou... viva.

Eu me levantei e peguei a mão de Jake.

De repente eu saltei para fora do rio. Eu desmoronei na areia, e Nico se moveu para trás em surpresa.

- Megan! Você está viva, você está bem? - perguntou ele ansioso. - Deuses, você está toda machucada.

Eu recuperava o ar enquanto isso, até que eu disse:

- Estou?

Meus braços estavam vermelhos, brilhantes. Eu sentia que cada centímetro do meu corpo tinha sido fervido em fogo baixo. Olhei ao redor procurando por Jake, mesmo sabendo que ele não estava lá... Tão real.

- Você está viva. - disse Nico.

- É... Acho que estou. - eu disse me sentando.  -Eu estou bem... Acho.

- Então? Se sente mais forte? - perguntou Nico.

A cor da minha pele voltara ao normal. A dor diminuíra. Sra. O’Leary apareceu e me cheirou com preocupação. Aparentemente, meu cheiro era realmente interessante.

Antes que eu pudesse decidir como me sentia, uma voz explodiu:

– ALI!

Um exército de mortos marchou em nossa direção. Uma centena de esqueletos de legionários romanos liderava o caminho com escudos e lanças. Atrás deles vieram o mesmo números de casacos-vermelhos britânicos com baionetas fixas. No meio da tropa, o próprio Hades dirigia uma carruagem negra e dourada puxada por cavalos de pesadelos, com olhos e crinas que ardiam em chamas.

- Megan Jackson!  - ele berrou meu nome. To falando que o tio suquinho me ama. - Você não escapará dessa vez!

- Pai, não! - gritou Nico.

- Saia da frente, Nico! - gritou Hades.

A linha de frente de romanos zumbis abaixaram as lanças e avançaram.

Sra. O’Leary rosnou e ficou pronta para bater. Talvez foi isso que me “acordou”. Eu não queria que eles machucassem minha cadela monstruosa de estimação. Além disso, eu estava cansada de Hades bancar como um valentão. Se eu fosse morrer, eu ia cair lutando.

Eu berrei, e o Rio Estige explodiu. Uma gigantesca onda negra esmagou todos os legionários. Lanças e escudos voaram por todo canto. Zumbis romanos começaram a dissolver, fumaça subindo de seus elmos de bronze.

Os soldados britânicos baixaram as baionetas, mas eu não esperei por eles. Eu investi. Foi a coisa mais estúpida que eu fiz. Cem mosquetes atiraram contra mim, perto demais. Todos erraram. Eu entrei na linha deles e comecei a atacar com Anaklusmos. Baionetas investiram. Espadas cortaram. Armas recarregaram e atiraram. Nada conseguia me atingir.

Eu girei através das fileiras, transformando os casacos-vermelhos em poeira, um depois do outro. Minha mente entrou em piloto automático: apunhalar, cortar, desviar, rolar. Anaklusmos não era mais uma espada. Era um arco de pura destruição.

Eu abri caminho através da linha inimiga e saltei para dentro da carruagem. Hades ergueu seu bastão. Um raio de energia escura veio em minha direção, mas eu o desviei com minha lâmina e golpeei-o. Ambos, o deus e eu, tombamos para fora da carruagem.

A próxima coisa que eu soube foi que meu joelho estava plantado no peito de Hades. Eu estava segurando o colarinho de seus robes reais em um pulso, e a ponta da minha espada estava posicionada direto sobre o rosto dele.

Silêncio. O exército não fez nada para defender seu mestre. Eu olhei para trás e percebi porque. Nada havia sobrado deles a não ser armas na areia e pilhas de uniformes fumarentos, vazios. Eu havia destruído todos eles.

Hades engoliu em seco.

- Agora, Jackson, escute bem... 

Ele era imortal. Não havia como eu matá-lo, mas deuses podem ser feridos. Eu sabia disso em primeira mão, e eu tinha calculado que uma espada no rosto não deveria ser tão bom.

- Cale a boca. - eu disse. - Eu só não te transformo em luz agora, porque eu sou uma pessoa de bom coração... Eu te deixar ir, mas antes me diga da tal armadilha de Cronos.

Hades derreteu em nada, me deixando segurando robes pretos vazios.

Eu xinguei e me levantei, respirando pesadamente. Agora que o perigo passara, eu percebi o quão cansado estava. Todos os músculos do meu corpo doíam. Eu olhei para baixo, para minhas roupas. Elas estavam cortadas em pedaços e cheias de buracos de balas, mas eu estava bem. Nenhuma marca em mim.

- Megan? - começou Nico hesitando ao vir em minha direção.

- Relaxa priminho, não vou te fatiar.

- Com uma espada... Com uma única espada você derrubou um exército? E encurralou Hades?!

- Eu... Bem, é quase isso ai que você disse. - eu disse indiferente. - Acho que sua ideia funcionou.

- Ah, você acha mesmo?

Sra. O’Leary ladrou feliz e balançou a cauda. Ela pulou em volta, farejando uniformes vazios e caçando ossos. Eu levantei o robe de Hades. Eu ainda podia ver faces atormentadas brilhando na luz trêmula do tecido.

Eu andei até a beirada do rio.

– Eu os liberto.

Eu soltei o robe na água e assisti enquanto ele rodopiava, dissolvendo na correnteza.

– Volte para seu pai – eu disse a Nico. – Diga ele que me deve há tempos por eu ter devolvido seu elmo uma vez. Descubra o que está acontecendo no Monte Olimpo e o convença a ajudar.

Nico olhou para mim.

– Eu... eu não posso. Ele vai me odiar agora. Quero dizer... ainda mais.

– Você tem que fazer isso – eu disse segurando-o pelos ombros. – Você me deve também.

As orelhas dele ficaram vermelhas.

– Megan, eu disse a você que sentia muito. Por favor... me deixe ir com você. Eu quero lutar.

– Você ajudará mais aqui embaixo.

- Você não confia mais em mim, não é? - disse ele tristemente.

Não, não faz assim Nico... Ele está tentando atingir meu coração de manteiga, mas não vai funcionar. Eu estava muito atordoada ainda pelo o que eu tinha acabado de fazer para pensar com clareza.

- Eu sinto muito. - eu disse. - Mesmo por não ter acreditado em você antes. Mas Nico, só você pode fazer isso. Fale com seu pai e tente convencê-lo... Eu sei que você pode fazer isso.

– Esse é um pensamento deprimente – Nico suspirou. – Tudo bem. Eu vou fazer meu melhor. Além disso, ele também está escondendo algo de mim sobre minha mãe. Talvez eu consiga descobrir o que é.

– Boa sorte. Agora eu e Sra. O’Leary temos que ir.

– Onde? – Nico perguntou.

Eu olhei para a entrada da caverna e pensei sobra a longa subida até voltar ao mundo dos vivos.

- Bem... - eu cocei a cabeça. - Digamos que tem um Olimpo precisando ser salvo e uma guerra por ai, sabe? E até porque, tem um titã esperando por mim.

Ele assentiu.

- Boa sorte.

Eu sorri para ele.

- Pra você também. 

Então eu subi em Sra. O'Leary e disse:

- Ei, garota. Vamos lá?

Ela deu um gemido alegre, até esquecendo de como era desagradável a viagem nas sombras, de qualquer jeito, eu segurei firme e deixei Sra. O'Leary me levar através das sombras.


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