A Vida (caótica) De Uma Adolescente Em Crise. escrita por Helena


Capítulo 46
Capítulo 46: Planos maquiavélicos de um velho Valdez; Part dois


Notas iniciais do capítulo

Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaano, como estou feliz! But, antes de responder o porquê de tanta felicidade, aquela que está enchendo cada centímetro do meu ser agora, vou começar com; Olá, postei antes do combinado. Palmas pra eu! Sim, eu postaria só amanhã, mas, como descobri (assim, do nada) que vou viajar, tive de fazer isso hoje. A cá estou com o capítulo mais longo e cheio de histórias cruzadas que já escrevi na vida! É o meu favorito, também. Pras vocês terem ideia, esse capítulo estava quase pronto muito antes da fic toda existir. Esse bebezinho foi uma das minhas primordiais ideias para cada casal e tals e estou realmente SURTANDO por estar postado, enfim. Sim, esse é um dos motivos para minha estupenda felicidade hoje. O outro é que muitas muitas muitas pessoas acessaram a fic ontem e isso me deixou pra lá de feliz! Quase nas nuvens estou!
SEM MAIS DELONGAS, PELO AMOR DE NOSSO AMADO DEUS, AQUI VÓS ENTREGO MEU FILHO PRIMOGÊNITO!
ENJOY E, POR FAVOR, COMENTEM!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419727/chapter/46

– Está tudo tão – Laila prendeu a respiração e a soltou com um sorriso – lindo.

Nico sorriu ao seu lado e deu-lhe passagem para o quarto que, definitivamente, não se parecia nem um pouco com o mesmo que Laila se lembrava.

O ambiente, apesar de todas as mudanças óbvias, continuava o mesmo. Uma cômoda, logo ao lado da porta, a cama de casal no meio do quarto com os criados-mudos paralelos. A porta do banheiro, fechada à esquerda. Ignorando tudo o que parecia normal, Laila deixou-se encantar pelas mudanças. Estava tudo à meia luz, com o ar perfumado pelas velas aromáticas que cobriam os móveis. Pelo chão, uma trilha, do quê pareciam pétalas, levava até a cama, onde repousava uma bandeja de prata com um prato largo e coberto por redoma do mesmo material. Estava tudo tão lindo e minuciosamente ajeitado em seus lugares que Laila se permitiu rir e rir alto em pleno contentamento. Olhou sobre o ombro para Nico, um passo atrás dela, e não pôde deixar de expandir o sorriso, quase ao ponto de suas bochechas rasgarem. Nunca ninguém havia feito nada assim por ela e, tudo o quê Laila conseguia naquele momento, era sorrir feito uma maníaca até que seus lábios saltassem do rosto.

– Surpresa! – Nico murmurou, sacudindo as mãos e exibindo um sorriso tão belo que Laila desejou poder arrancar de seu rosto para guardar com ela.

Ele fechou a porta e deu um passo. Sem deixar que seus olhos se desgrudassem dos brilhantes de Laila, se aproximou, deslizando as mãos lentamente até que envolvessem sua cintura. Laila permitiu à seu corpo as mesmas reações que sempre teve apenas com aquele toque, como a leve aceleração de seus batimentos cardíacos.

– Preparou tudo isso usando uma festa de fachada? - ela indagou, subindo as mãos pelos braços depois pelos ombros de Nico, até descansa-las em seu pescoço. - Muito esperto, Parker.

Como uma resposta imediata de seu corpo, Nico sentiu como se fosse uma explosão em seu peito, fazendo com que algo agradável e quente o aquecesse por dentro. Ele a puxou para perto, torcendo para que ela não ouvisse as marteladas de seu coração arrítmico se chocando contra sua caixa toráxica. Batia tão alto e forte que ele se surpreendeu por Laila também não ouvir.

Nico pigarreou.

– E você nem viu nada – ele soprou contra os lábios de Laila, que o tempo todo lhe pareciam extremamente convidativos.

E se beijaram. Foi um beijo intenso e profundo, cercado de desejos não tão escondidos dos dois que ansiavam por uma chance de se libertarem. O beijo ganhou calor e pressão e Nico sentiu que devia interromper, antes que começassem alguma coisa antes de toda a surpresa. Laila o encarava meio perdida, com os lábios entreabertos e inchados, e seu peito descia e subia rapidamente, numa vão tentativa de empurrar oxigênio para seus pulmões. Ela o encarava confusa e, depois de certo tempo, até mesmo embaraçada, coisa que deixou Nico com um sentimento desagradável e reprimido de culpa e borboletas no estômago – exatamente nessa ordem.

– Vamos. Tenho que fazer esses dois quilos de velas valerem a pena – ele disse, pressionando os lábios demoradamente contra os de Laila, que só se fez sorrir.

Nico tomou a dianteira, pegando Laila pela mão direita para guiá-la até a cama, onde a deixou passar na frente para que se sentasse. Laila observava tudo com um brilho atencioso nos olhos, que deixava Nico totalmente cativado a continuar. Ele contornou a cama e sentou-se de frente para a garota, mantendo a bandeja coberta pela cúpula de prata no meio dos dois.

Laila ergueu lentamente uma sobrancelha, enquanto Nico a fitava rapidamente nos olhos antes de direcioná-los a forma redonda e prateada que os separava.

– Nosso jantar. – ele pronunciou do modo mais formal que conseguiu, que causou alguns risinhos contidos de Laila. Ergueu a mão e retirou a cúpula – Vóila!

Os risos de Laila só cresceram quando ela se aproximou e mirou o conteúdo, que exalava um cheiro ótimo e familiar.

– Pizza?

– Achei que seria uma boa – Nico deu de ombros, fazendo as risadas de Laila crescerem e crescerem como gargalhadas que logo o contagiaram.

Ele se levantou quando foi servir uma fatia para cada um, colocando-as em dois pratos descartáveis que Laila sequer notou ali ao lado. Ainda sorria quando se juntou a Nico para comer, sentados lado a lado, ambos encostados na cabeceira da cama. Entre conversas, risadas e até beijos rápidos e roubados, foi-se a primeira fatia. Tanto Laila quanto Nico não repetiram. Laila sentiu que não era aquele o clímax da noite, sabia que tinha mais por vir e aquilo só fez uma ansiedade demoníaca pulsar em suas veias. Nico não conseguiria comer nem se tentasse. Estava tão nervoso pelo que faria a seguir que só de pensar em colocar outra fatia de pizza garganta abaixo embrulhava seu estômago.

Engolindo em seco, Nico recolheu os pratos de plástico e guardou o que sobrou da pizza – diga-se de passagem, quase toda ela.

– Laila, sei que não é boba nem nada, então, acho que já sabe que não é apenas por isso que te trouxe aqui – ele disse, agradecendo aos céus por não ter engasgado ou tido um colapso nervoso.

Laila, ao contrário, sentiu como se o sangue houvesse congelado em suas veias por um instante, e, logo em seguida, voltado a correr por elas como nunca antes havia feito, subindo por seu corpo até a cabeça e corando-a até a testa.

Como prova de sua incapacidade mental instantânea, o máximo que conseguiu se forçar a fazer foi um leve movimento para baixo e para cima com a cabeça.

As palmas das mãos de Nico soavam frio.

É agora , suspirou uma versão mais calma dele em sua cabeça.

Por favor, não estrague tudo , completou.

Tomou todo fôlego que cabia em seus pulmões antes de falar.

– Algo veio me incomodando nas últimas semanas – começou – E eu me senti um idiota por ter demorado tanto a notar.

Pronto , alguém suspirou no cérebro de Laila.

É agora que ele percebe que foi tudo um engano e chuta nós duas!

A expressão compreensiva de Laila ameaçou vacilar, principalmente com a pausa angustiante que Nico deixou pairando no ar logo em seguida.

Ele tomou mais fôlego, suficiente para soltar uma risadinha curta.

– As pessoas vieram me perguntar há quanto tempo estávamos namorando, e, foi aí que me toquei – e ele sorriu ao encarar Laila, que observava tudo com uma grande cara de nada – Eu nunca a pedi em namoro.

E a ficha caiu, não como uma luva, mas como um tijolo na consciência de Laila, permitindo-a arregalar lentamente os olhos.

– Nico? - ela soltou o nome como um sopro – Está dizendo que isso... – ela apontou dele pra ela simultâneas vezes, e depois para todo o quarto – É... Isso é um pedido?

Ele encolheu os ombros e, por um segundo, Laila pensou o ter visto ruborizar.

– Um fiasco de pedido, mas sim – murmurou – Você, Laila, quer... er... ser minha namorada?

Laila arregalou os olhos completamente, jurando que, a qualquer segundo, os mesmos saltariam das órbitas. Nico a encarava atônito.

– Eu sei que foi horrível – ele começou, quase desesperado demais - Mas agradeceria se você respondesse alg...

Algo melhor que as palavra despertou em Laila, fazendo impulsionar todo seu peso em um salto sobre Nico. Ele a abraçou pela cintura e ela agarrou seu pescoço.

– Se essa é sua maneira de dizer não – Nico disse, rolando para o lado, fazendo com que Laila ficasse por baixo de seu corpo. Ele imobilizou seus braços – Vai ter que fazer melhor que isso.

Laila deitou a cabeça e revirou os olhos, soprando uma risada leve e alta. Três segundos mais tarde e era ela quem rolava para o lado e derrubava Nico na cama, pegando-o desprevenido. Ela sorriu, quase travessa demais, e deslizou as mãos lentamente para os pulsos do garoto, que a encarava surpreso e fascinado. Ela levantou os joelhos, deixando um de cada lado do quadril de Nico. Laila desceu o rosto até centímetros do rosto do garoto, mordeu seu lábio inferior e riu baixo.

– Foi a maneira que encontrei de dizer sim – sussurrou tão baixo que Nico poderia muito bem ter imaginado.

Ele subiu os olhos para Laila e teve tremeliques ao, imediatamente, recordar da Laila – aquela Laila – que ele encontrou certa vez em um lavabo minúsculo. Pela mera lembrança àquele mesmo olhar, felino e que o provocava de maneiras místicas, Nico a desejou mais que qualquer garota que já desejou na vida. Era uma Laila diferente que estava sobre ele, mas, de algum jeito, a mesma Laila de sempre - a sua Laila de sempre. Aquele raro momento onde ambas eram uma só deixou Nico extasiado de uma maneira intensa que, de repente, tudo o quê ele conseguia pensar era o quanto a queria toda para si.

Sem medir esforços para imobilizá-la novamente, Nico o fez. Instantaneamente, tudo lhe pareceu um estranho deja vú, o quê o permitiu abrir um amplo sorriso, que foi muito bem notado por Laila.

– Se lembrou do mesmo que eu, imagino – ela riu e Nico assentiu.

– Acha que naquele dia algo a mais poderia ter acontecido se Nora não tivesse chegado? - Nico se pegou perguntando, enquanto acariciava o rosto de Laila com a mão direita, mantendo a esquerda plantada ao lado da cabeça da garota.

Esta deu de ombros. Ergueu as mãos e enrolou-as no pescoço de Nico, puxando-o para perto.

– Não tenho certeza, mas, sabe, na época eu já me sentia estranhamente atraída por você – ela completou, baixando a voz a um quase sussurro.

– Mas que coincidência essa, Wigon – Nico riu e Laila acompanhou.

Os lábios colaram novamente e permaneceram assim quase pela noite toda, enquanto peças e mais peças de roupa se perdiam pelo quarto, que foi inundado de pequenos risos, sussurros, murmúrios e gemidos compartilhados. O mundo podia se incendiar - como quase aconteceu ao sutiã de Laila, arremessado por Nico que, por um triz, não alcançou uma das velas – que eles nem notariam. Podia estar acontecendo o apocalipse nesse exato momento e os gritos felizes das pessoas no andar de baixo fossem, na verdade, de desespero, mas eles nem sequer reparariam. O mundo poderia colidir com um asteroide e Nico acabaria por justificar mentalmente como, nada mais, nada menos, a sensação maravilhosa de ter o corpo de Laila contra o seu.

Enfim. O mundo poderia estar desmoronando, caindo e sacudindo. Poderia se tornar o próprio Caos e Laila e Nico não perceberiam. Afinal, o mundo que precisavam era eles mesmos, naquele quarto. Nada além disso.

XXXX

Talvez, em algum futuro não tão próximo, algum especialista nos explique, em uma teoria bem elaborada, cheia de números e esse tipo de enrolação, o quê leva aos jovens associarem pegação à lugares pequenos. Como banheiros, por exemplos.

Naquele mesmo andar, sem se dar conta do que acontecia algumas portas a frente no corredor, encontrava-se dois jovens e suas pilhas de hormônios, trocando beijos e amassos escorados a pia polida de granito. A garota, muitos centímetros menor que o garoto, sorria entre os beijos, lembrando da amiga que largou no andar de baixo. Aquela que a mataria na primeira oportunidade que tivesse.

Carly, uma parte suspirou em sua mente.

Espero que me perdoe.

– Do quê tanto você ri, doidinha? - o garoto perguntou, ainda com as bocas coladas.

Claire separou os lábios dos dele por um instante.

– Estava aqui mentalizando nos milhões de planos cruéis que Carly deve estar bolando para nos matar – disse encondendo um risinho. - Sua irmã vai nos comer vivos e você sabe.

Derick mordeu os lábios vermelhos e deixou uma risada escapar. Pegando Claire distraída, abraçou a garota e a sentou sobre a pia.

– Então devemos aproveitar a vida antes de morrer. O quê acha?

Claire torceu o nariz, na tentativa de uma expressão pensativa, enquanto deslizava os braços ao redor do pescoço de Derick.

– Acho que está coberto de razão, Wigon.

Eles sorriram um para o outro antes de se envolverem em outro beijo.

– O quê os nossos irmãos fariam se descobrissem de nós? - Claire perguntou baixo contra os lábios do garoto, numa pausa que fizeram para respirar. Derick afastou-se o suficiente para encarar Claire nos olhos.

– Bom, minha irmã ficaria chocada no princípio, eu acho – ele disse – Ela sempre soube que sou a fim de você, mas não sei como reagiria se soubesse do namoro. Provavelmente, depois de alguns minutos engolindo a ideia, ela começaria a gritar como histérica e nos abraçaria.

Claire riu alto, já que sabia que era a mais pura verdade. Conhecia os ataques de histeria de Carly muito bem e colocava a mão no fogo apostando que, se ela soubesse dos dois, estouraria os tímpanos alheios gritando de alegria.

Um segundo após as risadas cessarem, encontrou os olhos de Derick e suspirou.

– Leo ficaria surtado se descobrisse – disse.

O clima no banheiro parecer esfriar alguns graus e até o ar risonho de Derick oscilou.

– Eu sei – ele murmurou.

– Odeio fazer isso em segredo – Claire disse, como se já não fosse a primeira vez.

Derick, notando a aflição que, de repente brilhava nos olhos da namorada, acariciou suas bochechas.

– Eu também – murmurou – Não se preocupe. Quando chegar o momento certo, nós contamos e não terá Leonard que me impeça de continuar com você.

Claire se permitiu rir e assentiu, logo sentindo os lábios quentes e conhecidos de Derick sobre os seus.

XXXX

Fazer acordos com o Valdez sempre tem uma grande e tremenda brecha e Daniel se amaldiçoou por não ter notado antes. Ele, simplesmente, foi jogado no colo de Samantha por Leo, o quê era, de longe, constrangedor à beça. Mas precisava fazer algo. Mesmo sendo um idiota ás vezes, Leo tinha razão. Estava na hora dele encarar Sam e dizer algo a ela, algo que, de preferência, não incluísse gaguejos.

Meia hora se passou desde que ela havia chegado e eles estavam juntos, sem trocar muitas palavras. A festa estar incrivelmente entediante não ajudava em muita coisa.

– Só eu estou achando isso muito aqui muito chato? - ela perguntou, virando para Daniel. Estavam ambos no canto extremo do salão, numa tentativa de se isolarem perto do bar.

Dan se permitiu abrir um sorriso mínimo.

– Concordamos em algo, então – disse.

Ela riu e, como de costume, algo amoleceu as pernas do rapaz. Mas ele não podia deixar por assim mesmo. Sua conversa mais duradoura com Samantha não poderia se resumir em uma pergunta e uma resposta.

Duas mísera frases? , indagou uma voz debochada em sua mente.

Vamos lá, Daniel. Você pode fazer melhor!

– Escuta, Sam, quer ir dar uma volta lá fora? - ele perguntou de uma vez.

Sam o encarou e, por um segundo, ele pensou em retirar a proposta e se misturar à massa de pessoas, dando-lhe uma desculpa esfarrapada, mas a resposta que recebeu fez uma chama engraçada pinicar seu estômago.

– É claro.

Ele estendeu o braço e a guiou pelo meio das pessoas, tomando a devida decência de não se perder também. Chegaram à porta juntos, sãos, salvos e, por incrível que pareça, sem sinal de vômito nos pés de nenhum dos loucos bêbados em que esbarraram pela pista de dança.

A porta se mantinha aberta, já que a festa, tecnicamente, havia acabado de começar. Mas, quando Sam passou por ela, a fechou.

Eles atravessaram aquele curto caminho até o portão escancarado, deixando-o para trás ao alcançarem a calçada. A noite não estava fria, mas também não era uma noite apropriada para a roupa leve que Sam trajava, o quê fez Daniel se sentir estupidamente culpado pela garota ter de andar ao seu lado abraçando os próprios braços.

– Me desculpe. Não tinha ideia desse friozinho quando a convidei para caminhar... – ele começou, interrompendo seus passos até estar de frente para a garota. Pensando rápido, Daniel despiu o casaco que usava e estendeu para Sam.

– Dan, você não precisa...

– Está tudo bem. Faço questão – ele sorriu, fitando os olhos verdes solenes de Sam e depois os próprios pés.

Ela pensou por alguns segundos antes de aceitar, jogando alguns “obrigadas” para ele. Assim que passou o casaco pelos braços, Sam sentiu que poderia desmaiar ali mesmo. O cheiro de Daniel, impregnado no tecido de tal forma como se ele ainda estivesse em seu corpo, deixava Sam tonta.

Imagina a sensação de sentir o cheiro direto dele, uma parte maluca dela sussurrou, fazendo-a corar, não só por dentro como por fora no mesmo instante.

Para sua eterna má sorte, Daniel notou.

– Está tudo bem? - ele perguntou e tudo o quê Sam quis naquele momento foi se jogar de corpo e alma dentro de um bueiro.

– Sim, sim, sim, sim. É claro, é claro. – ela respondeu, xingando-se mentalmente logo após.

Logo eles estavam caminhando lado a lado, deixando que a noite permanecesse silenciosa entre os dois. Sam mantinha as mãos nos bolsos do casaco de Dan em seu corpo – que, mesmo depois de alguns minutos de caminhada, não deixou de fazê-la se sentir nas nuvens – e Daniel permanecia com as suas enfiadas nos da calça. Era tão engraçado e estranho se alguém os observasse de fora. Dois jovens, uma garota e um garoto, andando lado a lado em silêncio na calçada ao quê seria quase onze horas da noite. Um mal olhava diretamente nos olhos do outro. Rápidas olhadas de esguelha para o parceiro era o que dizia a eles mesmos que o outro ainda estava ali. Era ridiculamente cômico.

Algo dentro de Dan estava a ponta de explodir e ele realmente agradecia a Deus por Sam não estar ouvindo seus pensamentos pela quantidade de xingamentos por minuto que ele estava recebendo de seu eu interior.

De repente, as palavras ditas por Leo a ele, quando fecharam o trato mais cedo, se fizeram lembradas.

– Você não está cansado de observá-la de fora? - perguntou Leo, de repente.

– O quê disse? - a voz de Daniel saiu mais urgente do que o esperado.

– Samantha – Leo disse como se fosse óbvio – Não está cansada de olhar para ela como se fosse intocável? De falar com ela como se ela nunca, realmente, fosse se interessar?

Daniel se calou e encarou os sapatos, incapaz de olhar mais fundo nos olhos castanhos de Leo. Este o fez erguer a cabeça novamente, colocando as mãos em seus ombros.

– Abra os olhos, Daniel – ele disse – Ela já está interessada. Só falta você tomar alguma atitude, mané.

Dan engoliu em seco as trilhões de negações que viriam a seguir, pois sabia que Leo falava a crua verdade.

– Acha mesmo isso? - perguntou baixinho, quase que com medo.

– É claro! Nota-se isso à quilômetros e quilômetros de distância! Há uma conexão, uma ligação entre vocês tão forte que me surpreende não ter dado um choque em nenhum dos dois ainda.

Daniel riu e coçou a nuca.

– Você não pode mais observar a Sam de fora, como uma paixonite que nunca vai evoluir ou passar. Tem que entrar de cabeça no mundo daquela garota e botar pra quebrar, meu chapa.

Daniel riu outra vez, dessa vez sendo acompanhado por Leo.

– Então. Espero que isso entre na sua cabeça. Assim como você está me ajudando com a sua irmã, espero muito poder te ajudar com a Sam – Leo suspirou e ergueu a mão - Temos um acordo? - ele propôs a Daniel.

O garoto nunca fechou um aperto de mãos com mais certeza do que aquele em toda sua vida.

– Sim, temos.”

Ele precisava fazer alguma coisa. Estava decidido. Alguma coisa, qualquer que fosse. Por mais idiota que pudesse parecer.

Daniel fincou os pés no chão, fazendo Sam abrir uma expressão curiosa. Ele a segurou pelos braços e parou à sua frente. Enfiou o máximo de oxigênio que cabia dentro de si e a encarou com intensidade, bem nos olhos, como nunca tinha feito antes.

– Dan, está tudo... - ela começou.

– Olha, Samantha, acho que isso não é mais uma novidade, mas, eu gosto você, profunda e imensamente – disse sem rodeios – Eu gosto de você, gosto muito de você. Sei que já deve estar na cara, porque sou um idiota e não sei disfarçar, mas, preciso dizer isso em voz alta. Preciso que isso saia e que você ouça de mim.

– Dan...

– Eu estou apaixonado por você – e ele grunhiu – Eu sou apaixonado por você há... Uau! Mais tempo que posso me lembrar! Talvez desde o segundo em que você apareceu na porta da minha sala, no final da minha aula de matemática, quando tínhamos treze, procurando pelo “irmão de Cloe” para “devolver um lápis que pertence a ela” - e ele fez aspas com os dedos e tomou ar – Talvez seja desde esse momento, quando olhei em seus olhos e achei que talvez me perderia no brilho deles. Também pode ter sido nas semanas seguintes, quando eu a via para cima e para baixo com minha irmã e Alison e meu interesse por você só aumentava. Também pode ter sido quando descobri que dividiríamos algumas aulas, logo no nono ano, e eu ansiava por você sentada próxima de mim. - ele fez uma pausa breve e puxou por mais oxigênio. Não podia parar agora.

– Posso ter me apaixonado por você em algum desses, ou em muitos outros, ou me apaixonado um pouquinho mais em cada um. A questão é que, mesmo que eu esteja divagando sobre o caso, a verdadeira questão é que sou um completo idiota por você. – Dan se permitiu soltar uma risada fraca – Tão, mais tão idiota ao ponto de esquecer uma coisa que deveria ser automática, como respirar. Eu já esqueci, certa vez, quando percebi que a encarava há algum tempo e você me flagrou. Tão idiota. Um idiota que não se lembrava qual pé colocar na frente do outro... Uau! Um grande idiota! O maior de todos e, só fiz esse discurso para deixar claro o quanto sou um idiota, Sam, um total bobão. Um completo palerma apaixonado por você...

E, finalmente ele se calou, mas foi a força. Sam estava tão estática, absorvendo cada pedaço do que saiu da boca de Daniel e não pode se conter em deixar a vista se embaçar pelas lágrimas doidas de alegria. Não o deixou terminar ao forçar seus lábios contra os dele, numa declaração silenciosa de que ela sentia o mesmo, que era tudo o quê precisava ouvir para, enfim, declarar-se uma boba apaixonada.

Daniel abraçou a cintura da garota do jeito que sempre quis fazer, enquanto sentia os dedos dela subindo por sua nuca. Era o beijo que os dois esperavam há tanto tempo que seria injusto se durasse menos que para sempre.

– Fico feliz que tenha me feito calar a boca – ele ofegou, ainda com os lábios quase colados aos de Sam – Não sei o quê mais poderia ser dito.

Ela riu.

– Foi meu modo prático de dizer que correspondo – ela murmurou.

– Corresponde?

– Sim.

– Desde o lápis emprestado há quatro anos? - ele perguntou, sentindo o corpo de Samantha sacudir com uma risada.

– Provavelmente.

Daniel não queria ouvir mais, não queria falar mais. Só queria eternizar cada beijo seguinte que trocaram.

XXXX

Não foi apenas constrangedor. Foi quase cruel.

Carly mantinha uma paixão secreta por Patrick desde o fundamental. Ela nunca, nunquinha se viu em uma situação em que eles dois estavam total e completamente sozinhos. E ainda com Patrick assumindo que era embaraçoso em voz alta, que só foi útil em fazer com que o coração de Carly desmanchasse em farelos em seu peito.

Ah, mais se ela cruzasse, nem que fosse um mísero segundo, olhos com o irmão ou com Claire, os dois estariam terminantemente mortos!

Carly não queria conversar com Patrick e isso a machucava em assumir. Ela quase podia sentir um pânico vindo dele, ao seu lado, um pânico de quem quer sair logo de perto dela. Aquilo partiu seu coração pela segunda vez na noite, de uma maneira quase óbvia demais e dolorosa que Carly impressionou-se por Patrick não ter notado. Precisava sair dali e, de preferência, sobre as próprias pernas. Podia estar arrasada por dentro, mas não queria isso aparecendo por fora.

Lançando um olhar de esguelha em Patrick, Carly pigarreou.

– Bom, - disse alto, finalmente, atraindo a atenção do garoto para ela - Essa não-conversa me parece ótima, mas, eu vou... Andar.

Carly já se preparava para virar-se e, quem sabe, se afogar no meio de todas aquelas pessoas, quando Patrick a segurou pelo cotovelo. Não de um modo rude, mas delicado o suficiente para chocá-la e fazê-la encará-lo. Os lábios separados do garoto significavam obviamente que ele tinha algo a dizer, mas estava entretido demais gaguejando. De repente, foi como levar um soco nos pulmões, fazendo com que todo o ar de Carly saísse de uma vez. Se em nenhuma vez na vida ela ficou apenas a sós com Patrick, quem dirá assim, tão perto. Aquilo fazia seu cérebro ir contra toda a lógica do mundo e não buscar por oxigênio, deixando Carly com sua melhor cara de confusão encarando um Patrick mais confuso ainda.

– E-eu... Eu não quero que vá – ele conseguiu dizer. Era tão novo pro garoto falar com Carly sozinho que ainda o chocava – e envergonhava – o fato dele não saber fazer isso direito.

– Para quê? - Carly se ouviu perguntar. Logo pigarreou e pôde olhar nos olhos de Patrick – Para continuarmos sentados, lado a lado, como totais estranhos?

Falando sério, ela não sabia de onde toda aquela coragem havia surgido para dizer tais palavras, mas era a verdade. Carly sempre pensou assim. Quando eles não estavam trocando olhares tímidos de esguelha, estavam parados e calados juntos. Não fazia sentido. Era irritante e precisava mudar.

Patrick mordeu o interior da bochecha, gesto que Carly poderia ter se permitido arfar se não estivesse tão compenetrada em encará-lo à espera de sua resposta. Vendo que, talvez, não obteria nenhuma, ela fez menção de novamente se afastar.

– Talvez – ouviu Patrick dizer à suas costas – Nós pudéssemos mudar isso.

Carly parou e girou lentamente para trás, dando de cara com um sorrisinho de Patrick que, claramente, não passava de um adorável por favor. Ela o fitou e se permitir rir um pouco, voltando a sentar-se no lugar de antes no bar.

– Então – começou, mirando-o ao seu lado – Sobre o quê quer conversar?

– Sobre tudo.

Carly ergueu as sobrancelhas, num gesto perfeito de descrença.

– Tudo, você diz.

Patrick riu e ela acompanhou.

– Sim, é claro – ele continuou – Nunca conversamos sem alguém por perto. Vejo, agora, uma boa oportunidade.

– Quer saber tudo sobre mim?

– Tudo o quê quiser me contar.

Ela o encarou, com algo quente dançando em seu peito. De repente, não se sentia desconfortável ali. Talvez – apenas um talvez – fosse bem ali que ela deveria estar.

Isso lhe foi suficiente para abrir o maior dos sorrisos.

– Espero que me desculpe, então, pois acho que vou roubar sua noite toda – ela declarou, dando um gole na cerveja que ainda repousava sobre o balcão.

– Eu já contava com isso – Patrick disse ao abrir um sorrisinho.

E eles desengataram uma conversa, ainda de um jeito sem graça que, ao longo dos minutos seguintes, foi ganhando intensidade.

XXXX

Simplesmente não podia ser.

Cloe inspirou e inspirou, numa tentativa de tomar coragem para dizer algo a Leo – qualquer coisa – que o desencorajasse a mexer com ela naquela noite. Estava tudo indo por água abaixo e ela não queria que ele notasse isso e aproveitasse para fazer uma de suas milhões de brincadeiras estúpidas.

A coragem não foi suficiente, pois logo ele estava ao seu lado e tudo o que ela realmente quis, ali, naquele instante, foi um coração que tivesse um ritmo mais próximo do normal. O seu estava longe de ser assim.

– O quê você quer? - ela perguntou apertando os olhos, dando graças pela música alta disfarçar as marteladas em seu peito.

– Saber o porquê da dama mais linda da festa estar sozinha – ele disse, dando de ombros e um motivo para Cloe engolir em seco.

Coração. Coração. Coração.

Ela engoliu em seco mais uma vez, antes de juntar um restinho de força de vontade, fazendo o possível para desviar os olhos dos castanhos de Leo e olhar para frente.

– Estou tendo uma noite péssima, Valdez – confessou num suspiro.

– Me permita ajudá-la a melhorá-la então, milady.

Cloe soltou um riso fraco, permitindo olhar para o lado, para ele. Leo estava lindo como sempre esteve, mas, esta noite, havia algo diferente. Talvez fosse o cabelo, mais despenteado que o normal, ou suas roupas, um pouco amarrotadas. Talvez não fosse isso, mas ela sabia que tinha algo estranho, ou muito errado, ou muito certo. Estava tão ocupada procurando o quê era que nem notou que ainda encarava Leo como uma idiota.

– Cloe? - Leo murmurou depois de um tempo. Ela sobressaltou-se e Leo agradeceu os céus por ter desviado os olhos dele. Talvez, se ela continuasse encarando por mais alguns segundos, notasse o quão sem graça ele ficou. Aquilo o deixaria embaraçado e atrapalhado, tudo o quê ele não podia se deixar ser. Não naquela noite, com tanta coisa em jogo.

– Desculpe, e-eu... - ela gaguejava – Me... distrai.

– Bom, não respondeu minha pergunta.

– Que pergunta?

Leo aproximou-se.

– Me permite ajudá-la a melhorar essa noite que, abre aspas, está sendo péssima para mim, Leo! - ele exclamou, imitando uma voz afetada de garota - Fecha aspas.

Cloe riu alto e voltou a encará-lo.

– Ignorando o fato de quê minha voz não é assim – ela começou, erguendo uma sobrancelha lentamente – O quê pretende fazer?

– Não posso estragar a surpresa, loirinha, mas proponho uma aventura.

– Aventura?

– Sim – e ele aproximou-se do rosto de Cloe – Você estaria interessada em fazer algo estúpido, porém aventureiro, esta noite?

Cloe parecia totalmente confusa agora, mas, ainda assim, muito intrigada e tentada. Nunca a propuseram nada parecido com isso antes e talvez fosse o motivo dela gostar de Leo. Ele vivia e respirava para surpreende-la. Era sempre uma grande aventura ver que burrice ele faria a seguir, e isso a impressionava. Cloe nunca foi de não pensar antes de fazer. A única vez na vida que fez isso foi quando resolveu matar as aulas para ir a uma festa estranha, cheia de pessoas bêbadas e estranhas. Não contou aos seus amigos, mas fora a melhor coisa que fez em sua vida pois foi a única vez que deixou a impulsividade falar mais alto que seu cérebro. Ela queria aquilo de novo e com quem mais ela arrumaria isso?

Portanto, com uma certeza que ela nunca pensou que teria, virou-se para Leo, exibindo o melhor de seus sorrisos.

– Eu adoraria fazer algo estúpido com você.

Foi como trilhões de luzinhas pisca-pisca iluminando o estômago de Leonard. Ele sentiu que poderia voar, ali, naquele exato momento. Sem ter palavras, ele apenas ergueu a mão e Cloe entrelaçou seus dedos e eles partiram pelo meio das pessoas, na tentativa de alcançar a porta.

Quando assim o fizeram, outra surpresa fez algo explosivo preencher o interior de Leo. O garoto sentiu Cloe congelar ao seu lado e teve de olhar para ela para se garantir de que a garota estava tão feliz quanto ele pela cena que viam.

– Aqueles são...? - ela sussurrou. - Eles estão...?

– Sim e sim – ele confirmou no mesmo tom.

Trocando um olhar cúmplice, Cloe e Leo correram, tentando ao máximo serem silenciosos, até o portão, escondendo a felicidade do que acabaram de presenciar até que chegassem à calçada.

– Meu Deus – Cloe sussurrou, virando para Leo com a mão sobre a boca – Meu Deus, meu Deus, meu Deus!

Nada segurava a alegria da garota agora, que começou a pular como doida.

– Você viu o quê eu vi? Você viu? Você viu? - ela gritava, agarrando Leo pelos ombros.

– Se está se referindo ao nosso casal preferido, Alison e Chase, no maior beijo de cinema, sim, eu vi – ele declarou e Cloe só se deixou gargalhar – Eu estava com você há dois segundos lá. Não se lembra?

Ela revirou os olhos e marcou um tapa fraco no braço de Leo, que sorriu. Não só por isso, ou por seus amigos no quintal de Nico que pareciam ter se ajeitado, mas por notar uma coisa alheia a tudo. Um detalhe quase bobo demais.

Cloe ainda segurava sua mão e, parecia tão distraída tagarelando sobre Alison e Chase, que não ameaçava soltá-la tão cedo.

– Eu sempre soube, sempre soube! - ele a ouviu dizer pela quinta vez.

– Então acho que devia me agradecer, sabe...

Ela franziu as sobrancelhas ao encara-lo.

– E por quê?

Ele a mirou.

– Digamos que eu tenha dado um tapinha no destino para que aquela cena acontecesse.

– Como?

– Não posso dizer, loirinha. Um mágico nunca revela seus segredos. Entenda bem.

Cloe sorriu e outra coisa chamou a atenção de Leo de tal maneira que ele não se conteve em perguntar.

– Você não me corrige mais quando a chamo de loirinha – disse e ela o olhou – O quê aconteceu?

Cloe deu de ombros.

– Percebi que você não ia parar de qualquer jeito, mesmo se eu me zangasse.

E também notei o quanto amo quando me chama assim, continuou a voz em sua mente.

Mas disso você não precisa saber.

– Decidi simplesmente desencanar.

– Sábio da sua parte notar que eu não deixarei de te chamar assim. É a mais pura verdade, de qualquer modo.

– Sei disso.

Eles riram um pouco e continuaram a caminhar pela calçada, passando por dezenas de carros estacionados em fileira, até pararem eu lado de um em especial. Leo o destravou com o botão no chaveiro, contornou-o e abriu a porta do passageiro para Cloe, que observava tudo perplexa e encantada ao mesmo tempo.

– Por favor, me convença de quê isso – Cloe disse, apontando dela para o carro – Não é um sequestro.

Leo revirou os olhos, ao mesmo tempo em que abriu um sorriso.

– Confie em mim, Cloe.

– Por que eu deveria?

– Apenas – ele a encarou – Confie.

Os olhos de Leonard nunca pareceram tão bonitos e sinceros. Lindos e brilhantes ao ponto de deixarem o coração de Cloe batendo de forma louca novamente e sua respiração acelerada. Com o medo de ser notada quase desmaiando apenas por receber um olhar daqueles de Leo, Cloe entrou no carro, logo ajeitando-se no banco do carona. Demorou meio segundo, mas logo Leo estava à seu lado, atrás do volante. Lançando um último olhar a ela, enfiou a chave na ignição e ligou o carro.

Dirigindo para o desconhecido. Era para onde eles estavam indo, segundo Cloe. A garota se desesperou um pouco ao notar que eles estavam deixando a cidade, ou seja, um desconhecido maior ainda. Por que Leo não podia ser como qualquer cara normal, que a leva ao cinema e eles racham a pipoca? Por que ele tinha que ser o tipo que te leva para um lugar perdido no meio do nada, longe de civilização, o tipo perfeito para um assassino em série?

Porque, se ele fosse diferente, você não ia gostar tanto dele.

A hipótese de quê Leo, na verdade, fosse um serial killer só cresceu no peito de Cloe quando ele virou a direita, subindo por uma ladeira até quase seu topo, parando no acostamento. Ela o viu sorrir de lado antes de desligar o carro e se voltar para ela.

– Chegamos.

Novamente, engolindo em seco perto de Leo.

Isso nunca vai parar?

Cloe desafivelou o cinto tão devagar que foi o tempo que o garoto precisou para dar a volta no carro e abrir a porta para ela. Ainda com certa timidez, ele tomou sua mão.

– Anda. Acho que vai querer ver isso.

A hipótese de serial killer só morreu totalmente quando Leo a puxou para longe do carro, só para apresentá-la à vista mais linda que ela já viu.

– Uau! - se ouviu sussurrar.

A pequena colina onde estavam dava para a cidade iluminada naquela madrugada. Os pontinhos de luz dos prédios e casas lá embaixo só não eram tão bonitos quanto o céu estrelado, que os tornava quase insignificantes. Parecia um tapete escuro onde vários e vários pontinhos luminosos estavam presos. Estrelas e mais estrelas. Cloe não se lembrava de uma única vez onde havia visto tantas.

– É maravilhoso – ela disse baixinho. Olhou para o lado, percebendo como Leo também as admirava, tão maravilhado quanto ela – É lindo.

Dessa vez ela não teve certeza se falava do céu ou do garoto. Leo a encarou por alguns minutos antes de sorrir um pouco.

– Viu? Se eu tivesse dito para onde viríamos, teria estragado a surpresa – ele disse, sacudindo os cabelos com uma mão, em meio um sorriso que Cloe jurou ser... tímido.

– Fico feliz que não tenha me contado, então – ela fez o mesmo, dando um passo para perto do garoto.

Leo engasgou com a proximidade de Cloe, que o deixou instantaneamente atordoado.

– N-não pense que acabou a surpresa – ele gaguejou, dando dois passos atrapalhados para perto do carro. Algo em seu cérebro o repreendeu por tal tolice. Não podia vacilar agora, não quando tinha conquistado a confiança dela à tão longe.

– Tem mais? - ela perguntou, claramente entusiasmada.

Leo assentiu e abriu uma das portas de trás do carro. Demorou alguns instantes, mas logo apareceu, carregando duas sacolas de papel pardo. Uma música suave tocava de dentro do carro que fez Cloe arregalar os olhos ao reconhecer.

– Está tocando...

– Sim. Imagine Dragons. Sua banda favorita, pelo quê soube – Leo completou, se aproximando.

– Soube por uma boa fonte então – Cloe sorriu, cantarolando baixinho a versão acústica de “It's time”. Logo encarou Leo e seus dois pacotes, com uma singela cara de interrogação.

– Trouxe um lanche.

E ele entregou o pacote. O sorriso, que se estendeu dos lábios de Cloe para seus olhos, quase deixou Leo embriagado de satisfação. Pelo jeito, havia acertado na comida também. Com um maneio de cabeça, convidou-a para sentar-se junto a ele no capô do carro. Enfiando a mão dentro da sacola e buscando uma batata frita de lá, Cloe riu.

– Então, sua fonte também disse que gosto de fast food.

– Ela estava certa? - Leo perguntou. Pela satisfação que passou pelos olhos de Cloe ao comer a batata, ele sabia a resposta.

– Absoluta e inegavelmente certa – afirmou. - Foi Alison, não foi? - perguntou depois de um instante – Ela é a pessoa mais indicada para dar a qualquer um informações sobre mim.

Leo a encarou. Cloe observava o conteúdo do pacote com uma atenção necessária demais.

– Sim – ele suspirou, fazendo Cloe finalmente erguer o olhar para ele – Foi Alison.

– Por isso passavam tanto tempo juntos?

– Sim, ela estava me ajudando.

Algo chamuscou sob a pele da garota, algo como vergonha. Tratou a amiga à base de humilhação por uma semana por absolutamente nada. De repente, lembrou da conversa que ouviu de Leo com Chase e a curiosidade gritou em seu cérebro.

– Por um tempo – ela começou, voltando a atenção para um ponto a sua frente – Eu realmente pensei que você estivesse a fim dela. E isso... Bom, isso me magoou.

Leo voltou-se para ela, quase rápido demais.

– Por que pensou isso? - perguntou, de um modo urgente que não conseguiu evitar.

Você já falou de mais pra se acovardar agora, a garota pensou.

Com um longo puxão de ar com coragem, Cloe o encarou.

– Certa vez, ouvi uma conversa sua com Chase no corredor. Não foi intencional, eu juro – apressou-se em dizer – Só estava passando e... peguei parte do assunto. Não sei se você se lembra de qual conversa estou falando...

– Sim, acho que me lembro – Leo murmurou.

– Enfim, na conversa você dizia de uma garota. Uma garota pela qual – e ela parou, quase negando-se em continuar, com medo do quanto aquelas palavras doeriam em seu coração depois – Você era apaixonado há muito, muito tempo – continuou, baixando a voz. - Na mesma conversa, você citou Alison várias vezes, como se ela fosse algum anjo ou algo assim. Quando Chase perguntou se a chamaria para sair... Bom, logo associei com a Ally.

Aquilo doeu exatamente o tanto que Cloe suspeitou que doeria. Não podia se permitir continuar ali, mal conseguia olhar para Leo sem se sentir mal e traída. Precisava sair, precisava respirar e, quem sabe, chorar um pouco.

– Fiz mal em pensar isso? - ela sussurrou quase de modo inaudível.

Leo estava mudo e aquilo a incomodava. Precisava que ele dissesse qualquer coisa, por mais curta que fosse. Ele só precisava dizer algo e ela sairia dali para sempre. Ponto.

– Na verdade, fez sim – ele suspirou.

Para rotação.

Para translação.

Para tudo.

– O quê? - Cloe tinha os olhos levemente esbugalhados.

Leo saltou do capô e a ajudou a fazer o mesmo. Seus lábios guardavam um sorriso curto e cheio de sentimentos. Ele a olhou bem nos olhos e Cloe sentiu que poderia derreter bem ali, em seus braços. Sem dizer nada, ele a envolveu pela cintura, puxando-a para uma dança ao som de “On the top of the world” em sua versão acústica.

Ela estava sem entender nada. Seu cérebro havia dado um nó completo e não se impressionaria caso seus neurônios começassem a escorrer pelas orelhas. Nada nesse mundo fazia sentido mais, Cloe tinha certeza.

– Leonard? - ela balbuciou.

– Sim?

– Você gostaria de me explicar alguma coisa?

Ele gargalhou.

– Há, na verdade, um milhão de coisas que eu gostaria de explicar agora. Está preparada?

– Estou, acho.

Ele a encarou, solene, e eles dançaram por mais alguns instantes.

– Não vai começar? - ela indagou.

– Me desculpe, é que sua expressão de quem não está entendendo nada me diverte – ele riu. Cloe ergueu as sobrancelhas e franziu levemente os lábios.

– Bom saber que minha confusão lhe diverte.

– Sim, não é ótimo?

– Vai falar ou não? - ela revirou os olhos.

– Okay, o quê quer saber primeiro?

– Sobre tudo, eu acho.

– Preciso que seja mais específica, loirinha.

Cloe mordeu os lábios e encarou as estrelas por um momento antes de voltar a falar.

– Se não falavam da Ally, de quem era?

– De você – ele respondeu sem rodeios – Próxima pergunta.

– O quê disse? - ela engasgou, forçando os pés no chão.

– Eu disse próxima pergunta.

Cloe se permitiu soltar um riso fraco.

– Antes disso – ela disse baixo.

Os olhos castanhos de Leo nunca a encararam com tanta intensidade antes. Era quase doloroso olhar por muito tempo, mas um doloroso bom. Um doloroso de paixão contida que Cloe nunca pensou que veria refletido ali.

– Falávamos de você – ele murmurou – Você. Minha paixão desde a sexta série. Você, Cloe, a garota que me fez namorar aquele ser sem cérebro numa tentativa de te esquecer. É você, Cloe. Sempre foi.

Se antes a rotação havia parado, agora voltava com toda a força possível. Cloe podia jurar que seus pés sairiam do chão a qualquer momento.

– Eu não... - ela começou, rindo ao terminar – Eu não entendo. Isso não tem sentido.

– Nunca algo fez mais sentido para mim em toda minha vida.

Coração. Coração. Coração.

Agora não havia música para disfarçar as batidas dele.

– Meu Deus! - ela murmurou tapando a boca e rindo alto através dela.

– Eu sei. Estou apaixonado por você, não é hilário? - indagou Leo, mantendo humor e uma ansiedade disfarçada com ar de seriedade.

Cloe gargalhou enfim.

– Sim, sim. Eu sei disso – ela declarou – Sei disso porque me encontro na mesma situação. Uau! Eu estou apaixonada por você, Leo.

Foi a vez de Leo chocar-se.

– Como disse? - perguntou.

– Sou e continuo sendo, desde muito tempo atrás – ela disse – Uma total apaixonada por você.

– Cloe Marie Aster, não brinque com meu coração – Leo sorriu nervoso, fazendo-a gargalhar outra vez.

– Não estou fazendo isso.

– Isso significa que posso te beijar agora sem levar um tapa? - Leo ergueu uma das sobrancelhas ao perguntar.

– Acho que pode tentar.

Não foi um pedido, nem um convite. Não foi sim, como não foi não. Mas foi mais do quê o suficiente para fazer Leo abraçá-la pela cintura novamente, não para que dançassem, mas para algo que ele sempre quis fazer. Cloe não notou o quão ansiosa estava para abraçar o pescoço de Leo e trazer seu rosto para tão perto, mas assim o fez. O coração dos dois batia em sincronia um com o outro e de um jeito totalmente anormal para o resto do mundo. Nem as estrelas daquela noite puderam brilhar mais que a alegria dos dois, da vontade que tiveram de engarrafar aquele momento.

O mundo nunca os pareceu tão certo antes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero comentários, ameaças, abraços, beijos, tapas e essas coisas que, provavelmente, vocês devem ter sentido vontade enquanto liam. Ou sei lá, apenas um "oi, estou viva e amei" ou qualquer coisa. Esse capítulo é realmente muito importante para mime eu adoraria que comentassem, nem que fosse uma palavra.
ESPERO QUE TENHAM GOSTADO, JÁ QUE NÃO FAÇO IDEIA DE QUANDO POSTO O PRÓXIMO!
AMO-TES , MEUS UNICÓRNIOS COLORIDOS
XOXO



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Vida (caótica) De Uma Adolescente Em Crise." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.