The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 7
Capítulo 6 — Lembrando


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, loves. Estou sem tempo para escrever por causa das provas.
Mas aí está. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419169/chapter/7

Lembrando

QUANDO RETOMEI OS SENTIDOS, senti meus pulsos presos. Não abri os olhos, para que quem quer que fosse que me apagou não soubesse que eu havia voltado. Apenas respirei fundo e me concentrei em meus ouvidos.

—Você não precisava ter batido com tanta força. —Sussurrou uma voz longe.

—Aposto que ela não teria desmaiado se fosse uma batida fraca.

—Mas ela está desacordada há horas.

Horas? E quanto a Jamie?

Tentei não me remexer e continuar escutando, mas meu coração bateu descompassado pela ansiedade.

—Será que ela sabe de alguma coisa?

—Ashley não iria desistir.

Paralisei ao ouvir meu nome, e a voz que o disse. Abri meus olhos imediatamente, e fiquei cega pela luz.

—O’Shea? Cadê você? Como chegaram aqui?

Algumas cabeças fizeram sombra, e pude enxergar Sharon, Peg, Ian, Melanie, Chris e Charles – meu pai.

—O que todos vocês fazem aqui?

—Viemos resgatar Jamie. —Respondeu Melanie.

—Achei que você tinha desistido dele. —Referi-me a Melanie, sussurrando.

—Ashley, ele é meu irmão. Eu não desistiria dele.

Dei um meio sorriso, mas fechei a cara ao ver meu pai.

—E o que você está fazendo aqui, pai?

—Ora, Ashley, que pergunta tola. Eu não deixaria minha filha se arriscar desse jeito sozinha.

—A questão é que eu já sobrevivi, ao contrário de você. —Minha voz soou ácida. —Por isso que foi levado as cavernas, para que ficasse seguro, e não para correr em direção as Almas.

—Ashley...

—Não diga nada. —Interrompi-o. Tentei levantar, mas meus pulsos estavam presos. —Alguém me solte, sim?

Senti meus pulsos se afrouxando e me sentei. Minha cabeça latejou sem dó, e senti uma pancada perto da nuca.

—Argh. Quem deu aquela pancada?

—Chris. —Respondeu Ian, com desgosto. —Com uma meia cheia de manteiga.

—Acho que foi desnecessária. —Resmunguei.

—Você iria surtar se nos visse. —Disse Chris.

—Fique quieto. Aliás, você me bateu com uma meia de manteiga?

Chris deu de ombros.

Esfreguei a nuca e estreitei os olhos. Melanie empurrou as pessoas, se aproximando, nervosa.

—Você descobriu alguma coisa sobre ele, Ashley? Qualquer coisa que seja?

—Descobri bastante coisas, na verdade. Já há uma alma dentro dele, e ele está sendo adaptado. Aqui na região, eu acho. Não foi levado para longe. E a Alma dentro dele atende pelo nome de... —Não consegui falar.

—De? —Insistiu Mel.

—Matthew. —Sussurrei.

Ela baixou os olhos, abalada. As outras pessoas simplesmente se entreolharam, não entendendo nada.

Chris estava com as sobrancelhas baixas sobre os olhos, tensas como sempre.

—Você esteve fora por um dia. Como conseguiu descobrir tanta coisa?

Estreitei os olhos, incomodada com a luz.

—Não há nada mais capaz que uma garota determinada, Chris.

—Isso não importa agora...

—Não importa? Eu descobri praticamente tudo!

—Porém não o mais importante. Não sabemos a localização de Jamie.

—Mas vamos descobrir. E estamos perdendo tempo.

—Espere aí, Ashley, a pancada foi muito forte...

—Que bom que você reconhece. —Murmurei.

—... E você precisa ficar quieta pelo menos um dia.

—Não podemos esperar um dia! Não podemos esperar um minuto sequer.

—Eu vou lhe amarrar de novo, Mayfleet. —Ameaçou Chris.

—Cale a boca, Hudson.

—Ashley... —Interrompeu meu pai. —Eu acho que Chris está certo.

—Mas, pai!

—Ashley. —A voz de Ian me sobressaltou. —Vamos descansar e planejar por um dia, então ir atrás dele, tudo bem?

Encarei bem dentro dos seus olhos, as chamas azuis, o gelo calcinante. Eles estavam duros e pesarosos, e eu sabia o quão duro era para Ian trazer Peg para tão perto da civilização. Ele estava arriscando muito por mim, e por mais que eu não gostasse de Peg, ele era meu melhor amigo.

—Tudo bem.

—Alugamos o outro apartamento na cobertura. Chris, Charles, Melanie e Sharon ficarão lá, e eu e Peg ficaremos aqui... Se não for incômodo.

—Pode ser. —Resmunguei. —Tanto faz.

Rolei de um lado para o outro no colchão. Contrariada, aceitei dar minha king-size para Peg e Ian e fiquei com o colchão de solteiro no chão. Eu já estava acordada a quase 48 horas, mas a adrenalina incessante não me deixava dormir. Era como se meu sangue tivesse sido substituído por Ritalina.

A verdade é que eu sentia falta do conforto de dormir nos braços de Jamie, e no momento estava tão desesperada que até pensava na possibilidade de me jogar entre Ian e Peg apenas para ter algum contato humano.

Para uma garota que não gostava de ser abraçada, minha situação atual era deprimente. Eu estava agindo como uma pobre solitária.

Acabei pegando no sono depois de algumas horas, graças a Deus, e dormi até o meio dia da manhã seguinte. A noite foi perturbada e caí no chão algumas vezes. Os sonhos eram péssimos. Na verdade, os sonhos eram maravilhosos – sonhos, em seu melhor significado.

Eu estou correndo. Lembro-me bem de identificar vários creosotos e chollas, e tropecei em várias pedras pontiagudas e elevações de areia marfim. Estou no deserto, e sinto a aproximação de alguém pelas minhas costas. Paro de correr, por que a ação parece sem sentido, e me viro.

Vejo uma figura alta se aproximar. Tem cabelos negros cheios, que caem sobre seus olhos escuros como chocolate, em uma perfeita harmonia entre as sombras e a luz. Sobrancelhas cheias, cílios espessos, malares acentuados, pele bronzeada e lábios estendidos num sorriso aberto. Braços fortes se estendem, e não hesito em me abrigar neles. Descanso a cabeça na curva quente do seu pescoço e prendo os braços ao redor de sua cintura – não vou deixa-lo se afastar novamente.

— Fique comigo. —Sussurro. —Não quero ficar só.

—Não vou te deixar sozinha. —A voz dele me afeta de modo único, e me sinto confortada. —Eu nunca deixaria você, Ash.

Pareciam infinitos, um sonho intercalando as dolorosas lembranças, como socos sem perdão.

Boa pergunta, eu penso. Estou confusa ali, tão perto dele, porém tão longe do seu toque. É o dia em que ele me beijou pela primeira vez, e não sei ao certo como agir. Digo a primeira coisa que me vez na cabeça.

­—O tempo muda as pessoas. —Digo, me referindo a como estou mudada, entorpecida pelas cicatrizes do tempo.

—Não, Ash. —Ele nega com a cabeça, enfatizando. Aproxima-se de mim e roça os nós dos dedos no meu rosto. A delicadeza do seu toque me arrepia. —O amor muda as pessoas.

Abro os olhos sobressaltada, querendo voltar a realidade. Lembranças doem. Eu o queria de volta.

Porém eram três horas da manhã, e meu corpo exausto não se mantinha desperto. Afundava em mais uma névoa de tristeza.

Por acaso se esqueceu de quem ama você?

Ele vai morrer, penso. Sei que vai. Vai ser tirado de mim, outro ser amado afastado do meu doentio coração, e não posso permitir. A arma presa em seus dedos emana o cheiro da morte, e não quero que ele a toque.

Quero gritar “amo você!”, mas meus lábios pronunciam palavras diferentes.

—Eu te odeio.

Quero explicar o significado das palavras, mas ele desaparece antes que o faça.

Ele vai morrer, ele vai morrer.

Preciso dizer a ele que não o odeio – que o amo, na verdade – antes que seja tarde.

Meus olhos estão escuros, minhas mãos não encontram nada.

Ele se foi, penso. Ele se foi para sempre.

Era horrível. Porém, o pesadelo começava assim que eu abria os olhos. Como agora.

Acordei toda suada e enrolada nos lençóis. Sabia que havia pelo menos um de olhos cravado nas minhas costas, mas não o encarei. Não queria que Peg ou Ian descobrissem o quão abatida estava.

Levantei-me e caminhei calmamente até o banheiro. Tomei uma chuveirada, vesti uma camisa leve de malha branca, uma calça jeans clara e um cardigã escuro. Calcei sapatos estilo boneca. Com uma toalha ao redor dos ombros, passei a tinta negra solúvel em água nos meus cabelos.

Assim que a tintura fez efeito, me encarei no espelho.

—Aqui morre Ashley Mayfleet, e nasce Sol Poente. —Murmurei.

Terminei de me transformar, deformei um sorriso doce e um olhar curioso no rosto. Sentia minha raiva queimando na garganta.

Saí do banheiro em silêncio, me esforçando para manter a expressão montada no rosto.

—E aí, Ashley. —Cumprimentou Ian, sussurrando.

Peg ainda dormia, encolhida feito uma bola na beirada do colchão.

—E aí, O’Shea. —Resmunguei.

Ele se sentou, tomando cuidado para não esbarrar em Peg. Vestia uma calça jeans surrada e uma blusa justa de malha batida. Ele precisava de roupas novas, alguma coisa que conseguisse disfarçar os músculos de sobreviventes. Seria uma tarefa difícil.

—Espero que hoje consigamos algo. —Ele murmurou.

—É. —Concordei. —Vamos conseguir algo.

Não queria dizer que eu “esperava” por algo, o que seria uma mentira. Eu não iria esperar coisa nenhuma. Iria à luta com unhas e dentes, e ninguém me impediria. Nem mesmo Ian, sua voz gentil, seus olhos vibrantes e seus músculos definidos por baixo da blusa.

—Prefiro seu cabelo como é. —ele apontou com o queixo para minha cabeça.

Puxei uma mecha de cabelo negra para frente dos olhos e enrolei-a no indicador.

—é uma garantia a mais de que eu não serei facilmente reconhecida.

—Acho que todos nós devemos tomar precauções desse tipo. —Ele divagou. —Mas, bem, confesso que prefiro colocar um chapéu.

—É fácil para os homens. Mas avise para Peg e ela terá que colorir suas mechas loiras.

—A tinta sai facilmente?

—Não se preocupe. —Murmurei. —Você não vai perder sua loirinha.

Extremamente arrogante, na melhor versão de humana. Eu precisava ensaiar mais minha doçura de Alma.

Saí do quarto em direção ao restaurante, ansiando por um café da manhã; o sono que me faltava era substituído por fome. Encontrei Chris sozinho em uma mesa do canto. Ele tentava passar despercebido, mas as sobrancelhas douradas tensas sobre os olhos não eram nada parecidas com as outras poucas Almas presentes.

—Se quiser evitar outra inserção, desfaça essa carranca.

Chris ergueu os olhos para meu rosto, e sua expressão suavizou.

—O mesmo para você.

Sentei-me na cadeira de frente para ele e fechei os olhos por um segundo, concentrando-me em manter uma boa expressão na face. Abri os olhos.

—Melhor?

—Um pouco.

—Sua vez, então.

Chris me ignorou. Ele estava picando um pedaço de guardanapo no pires manchado de café preto.

Avaliei-o um momento, reparando nas manchas negras ao redor de seus olhos cinzentos, contrastando na pele pálida. Seus cabelos pálidos estavam demasiadamente desordenados, e ele estava com uma postura inclinada para frente. Parecia que não dormia a semanas.

Nem precisei perguntar para descobrir o que acontecera.

—Passei a noite inteira pensando em uma solução. —Ele disse de repente.

—Obteve algo útil?

—Busque alguma bebida, antes que desconfiem.

—Eu perguntei se...

—Busque a porcaria da bebida. —Ele sibilou. —Que eu lhe conto o que quiser.

Bufei e me levantou, fazendo questão de empurrar a mesa levemente sobre ele, sem causar ruídos.

Caminhei até os balcões recheados de comidas e me servi de um pedaço de cheesecake e um copo alto e fino de mate de limão. Juntei alguns pãezinhos gratinados com queijo ao lado do bolo e voltei para a mesa o mais calmamente que pude.

—Então?

—A questão é que Jamie pode estar em qualquer lugar em uma ampla região. Quando você disse “aqui na região”, abriu um leque muito grande de opções. Pode ser no estado, no país ou até mesmo num conjunto reservado de cidades, porém...

—Não temos informações suficientes. —Concluí.

—Esse é o problema. E o único modo de obter tais informações seria por meio de observação.

Precisei de uns segundos para processar.

—Espere aí, você quer dizer observar no sentido de ficar olhando?

—Não, Ashley. Quero dizer observar no sentido de adotar um cachorrinho. —Odiei o tom sarcástico na voz dele.

—Bem, talvez adotar um cachorrinho seja uma opção mais eficiente que esse seu discurso de nerd. Como vamos conseguir as informações que queremos olhando para as caras das Almas que passarem por nós?

Chris coçou o queixo enquanto falava.

—Precisamos definir pontos de encontro, postos de observações e turnos para todos. Também devemos decidir um local específico para reunião do grupo e outro para servir de esconderijo. Há também os carros, e não podemos ficar muito tempo no mesmo local para evitar o reconhecimento fácil.

—Não há como tecer um plano mais simples?

—Não há como simplesmente deixar Jamie para trás?

—Não se você ainda quiser respirar, babaca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Talvez o próximo capítulo demore um pouquinho, mas quando eu entrar em férias - o que vai acontecer em pouco tempo, graças a Odin - prometo compensar.
Não me abandonem, sweethearts ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Surviver 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.