The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 27
Capítulo 26 — Morrendo


Notas iniciais do capítulo

Tá, tá, vamos deixar uma coisa bem clara:
Tá, não sei exatamente o que eu quero deixar bem claro aqui.
Tcharam, postei. Surpresa. E bônus: Little Jamie cute cute amor da minha vida que narra o capítulo. Eee, chega de enrolação, boa sorte aí
PS.: Se houver algum erro de gramática, mesmo que absurdo, peço perdão. Escrevi esse capítulo cega de dor.



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Morrendo

Jamie

ALTO E ECOANTE, o som começou vibrando no fundo dos meus ouvidos, com uma paciência quase irritante. Procurei os músculos para erguer minhas pálpebras, e a luz queimou minhas retinas como sempre fazia quando eu abria os olhos. O maldito som continuava ecoando, como se fosse o único som do mundo inteiro. Suspirei e o som mudou, indicando que era minha própria respiração. O resto era silêncio.

Minha mente enevoada se firmou no momento que meus olhos reconheceram o que viam: o consultório. Eu já estava cansado de abrir os olhos e dar de cara com aquele teto demasiadamente iluminado. Só, que, dessa vez, outra coisa surgiu. Não medo. Ou aborrecimento. Mas uma angústia lancinante, perfurando as costelas, e precisei de alguns segundos para jogar meu tronco para cima.

—Ashley!

—Jamie. —Peg correu ao meu encontro. Pôs sua pequena mão no meu rosto. Seu rosto límpido já entrega tudo: Há algo errado.

—Onde ela está? —Perguntei, com um tom alvoroçado.

—Você está sentindo alguma dor?

—Não. Onde está Ashley? Ela está bem?

—Tem certeza que nada dói? Seus músculos já estão devidamente recuperados?

—Pro inferno com isso, Peg! Cadê a Ashley?

Ela engole em seco, os olhos imediatamente úmidos, e funga.

—Ela está... Dormindo. Ainda.

Jogo os pés pra fora do catre e fico de pé. Uma tontura entorpece a minha mente e quase caio, sentindo tudo que tenho no estômago querendo subir.

Consigo me apoiar em alguma coisa e focar novamente os olhos. Vejo Doc, com aquele semblante focado e quase insano, obsessivamente determinado a salvar alguém, e ao seu lado Ian, om uma angústia tão grande que encrespava seu rosto. E Ashley, deitada sobre o catre, com um braço pendurado para o lado de fora, o moletom azul mal cobrindo as coxas, olhos fechados e lábios selados. Sua respiração era tão fraca que seu corpo mal se mexia. Era como se ela estivesse...

Dou alguns passos vacilantes até ela. Minhas pernas berram de dor, os músculos se enchendo de nódulos e cãibras horríveis, do tempo que meu corpo ficou parado, acumulando mais e mais ácido nas fibras musculares e me matando de dor por dentro.

—Ashley. —Jogo bruscamente Ian para o lado, sem muito sucesso, e caio com os cotovelos dos dois lados da cabeça dela. —Ashley, acorda. —Puxo sua franja para trás do rosto. —Acorda. Eu estou aqui. Estou bem aqui.

—Jamie. —A mão de Doc se aperta ao redor no meu antebraço. —Volte para o seu catre.

Sacudo o braço com força para me livrar dele e o ignoro.

—Ashley... —Passo o nós dos dedos pela face dela. —Vamos lá. Abra os olhos.

Ian tenta se aproximar, mas novamente o empurro. Estou fraco ainda, mas tenho um bom tamanho, o que faz com que ele quase caia.

—Jamie...

—Sai de perto dela. —Murmuro.

—Estou tentando ajudar.

Eu posso ajudar. —Olho para Doc. —Diga, no que você quer ajuda?

—Jamie, volte para seu catre e deixe que Ian e eu cuidemos que Ashley.

—Ian não vai tocar nela! —Rebato. Queria que meu ciúme fosse menos devastador, mas odiava quando Ian chegava perto de Ash. Era insuportável.

—Jamie! —Ian grita as minhas costas. —Você não está ajudando em nada agindo feito uma criança.

—Cala a boca!

As narinas de Ian se dilatam de raiva, mas ele morde o lábio e não responde, desviando sua atenção para a mão de Peg que tocou seu braço.

Olho para Doc com a respiração quase ofegante. Meus membros gritam por eu estar tanto tempo de pé e pelo gasto energético que uma briga, mas não me importo.

—Doc. —Respiro fundo. —O que... O que aconteceu?

Ele coça a sobrancelha e belisca o nariz, mas não responde. A voz sussurrante de Peg é minha única resposta.

—O teto foi explodido por alguém. —Ela murmura. —Gracie... Ela encontrou os explosivos guardados no depósito e estudou a estrutura das cavernas para explodir o quarto de vocês.

Sinto a umidade atrás dos olhos, mas me concentro em engolir todos os sentimentos; a angústia e a raiva.

—Por quê?

Peg dá de ombros.

—Acho que nunca saberemos o porquê, Jamie.

—Havia algo entre Ashley e Gracie, isso é claro. —Doc finalmente se pronuncia. —Algum conflito que somente ambas conheciam.

—Ashley não sabia de nada. —Retruquei. —Quero dizer... Ela teria me dito.

—Qual é, Jamie, desde quando Ashley é do tipo que compartilha preocupações? —Ian sibila. —Ela deve ter feito alguma coisa no passado, algo que ela considerou irrelevante, mas que prejudicou a vida de Gracie de algum modo.

—Já falei pra você calar a droga da sua boca! —Rosnei.

—Jamie... —Peg se aproxima, elevando a mão para tocar minha face, mas desvio. Ela baixa a mão. —Sabemos que você está nervoso. Qualquer um estaria. Mas, por favor, mantenha a calma. Ter um acesso de raiva não vai salvar Ashley.

Puxo o ar pelo nariz suavemente. Peg está certa. Não sou irracional. Consigo ver o lado bom. Positividade. Otimismo. Manter a calma.

Isso costuma funcionar melhor antes da incursão. Mas agora, apenas uma fagulha é capaz de virar meu cérebro do avesso e me desordenar os pensamentos. Agora entendo um pouco a excessiva e explosiva raiva de Ashley, mesmo que provenha de muito antes de Bruma.

—Desculpe. —Murmurei.

—Tudo bem. —Peg acaricia meu rosto. Ela me olha como se eu ainda tivesse treze anos e estivesse prestes a começar a chorar, para então ela me pegar no colo e me consolar. Na prática, isso seria um pouco difícil agora, já que seu tamanho é tão reduzido em comparação ao meu, mas gostaria de ter esse tipo de consolo agora. Desejei que Mel estivesse aqui também.

—Como Gracie sabia que eu e Ashley estaríamos no quarto?

—Bem, todos nós sabíamos. —Ela deu um leve sorriso.

—Peg quer dizer que, todos nós escutamos.

—Ah. —Mordo o lábio por puro impulso, para não sorrir com as memórias que cutucaram minha mente. —Bem, desculpe. Pode ter sido minha culpa.

Peg dá um sorrisinho, mas a pequena alegria logo se esvai quando volto a me apoiar sobre o catre, os cotovelos ao redor da cabeça de Ashley e meus lábios prensados em sua testa.

—Ela costumava ficar debruçada sobre você assim. —Murmurou Doc, as sobrancelhas juntas demais e um semblante perturbado. Olho para ele.

—Todo dia?

—Todo segundo de cada hora de cada dia que você ficou aí.

O tom de voz dele é sufocante, como se ele estivesse prestes a chorar.

—Doc, ela vai ficar bem, não vai?

Ele não me responde.

—Doc?

O doutor abre a boca para responder, mas seus olhos desviam de mim para o corpo de Ashley. Então ele me empurra e se debruça sobre Ash. Ele agarra o pulso fino dela e segura entre as mãos, fechando os olhos para se concentrar. Então arregala-se e olha para trás de mim, desesperado.

—Ian, os batimentos!

Sou jogado para o lado como lixo e Ian voa em direção ao corpo de Ashley, sem sequer hesitar antes de afundar os lábios nos dela.

—Não! —Eu berro, segurando o catre atrás de mim para me manter estável. —Solte-a, seu canalha miserável!

—Jamie. —Peg segura meu braço, apertando-o com mais força do que eu pensei que ela possuía. —Deixe-os.

Tento me esquivar do apertão dela, indo em direção a Ash.

—Deixe-os. —Ela repetiu.

A visão de Ian com os lábios ainda fundidos nos dela fez meus olhos encurecerem, e contorço para poder chegar perto dele e espancá-lo. Mas Peg se segura com as duas mãos no meu braço e me puxa para ela, baixando meu rosto na altura do seu.

—Jamie. —Seus grandes olhos cinza estão cheios de lágrimas. —Ashley está morrendo.

Ashley está morrendo.

Senti um punho apertar a boca do meu estômago, e ao olhar para baixo, descobri que era o meu próprio.

—Não. —Olhei para Peg, desnorteado. —Não, Peg, não não não! Ela não pode morrer.

Mas Peg apenas mordeu o lábio e chorou ainda mais.

Ashley não pode morrer.

Ela era uma chama flamejante e dançante, agonizada sobre a luz da lua. Ashley era energia pura. Ela não podia morrer. Não assim, não daquele jeito, não tão longe de mim.

Doc estava fazendo pressão sobre seu peito, de um jeito que seu corpo sacudia me modo estranho e sem vida, e Ian continuava com a boca afundada na dela.

Por que ela estava morrendo.

—Ashley não pode morrer. —Sussurro, inaudível. —Ela é uma sobrevivente.

Senti-me ruindo. Alguém me segurou; mas não para me sustentar, apenas para me manter onde estava.

Gritos altos e graves, desesperados e selvagens, enquanto eu lutava com a pouca força que me restava para alcançá-la. Ela estava morrendo. Sozinha. Deitada naquele catre inútil que eu sempre odiei, jogada flacidamente sobre ele como lixo descartado.

Tento ficar de pé, mas meus joelhos são chumbo, magnetizados no chão. Peg me abraça, e eu a abraço, mas ela é pequena demais, fraca demais, magra demais. Eu precisava do carinho bruto, da língua de fogo que balançava sob as omoplatas, da força desesperada. Eu precisava.

—Ashley! —A voz estridente de Alice rachou meus tímpanos, ecoando pelos corredores. —Ashley, não! Você prometeu! —Gritos infantis e entrecortados pelo choro. —Você prometeu que eu não perderia mais ninguém. Como pôde?

Incapaz de continuar, ela começou a solução, agarrada as pernas da mãe. Jane, por sua vez, encarava o corpo de Ashley a sua frente, a mulher que perdera coisas demais, cujos olhos embaçados indicavam que ela jamais se recuperaria. Talvez eu estivesse daquele modo também.

Doc continuava gritando ordens e aplicando massagens cardíacas, e Ian tentava em vão fazer o coração de Ash voltar a bater, com lágrimas molhando toda a extensão da sua gola. Tudo ao meu redor escurecia como se uma nuvem estivesse cobrindo o sol, deixando-me focar em apenas uma coisa: Minha Ashley, em seus lábios rubros e suas faces pálidas, nas delicadas sardas que se acomodavam sob seus olhos e a suave curva dos seus cílios e o cabelo de fogo cobrindo todo o resto; o catre, suas faces, seu peito murcho.

Ashley estava morrendo.

Talvez uma chama que brilhasse com tamanha intensidade não fosse feita para durar.


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Notas finais do capítulo

Eu sei
Eu também me odeio
EU JURO QUE ME ODEIO
Mas Deus sabe o quanto eu estou tentando fazer isso direito.
Por favor, não escrevam uma ameaça de morte. Já tive mortes demais pro meu coração.



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