The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 14
Capítulo 13 — Correndo


Notas iniciais do capítulo

OLÁ!
Demorou, mas postei. E, gente, esse capítulo é gigante!
Não sei se alguém aí gosta de Crash (shipper de Chris e Ash), mas enfim.
Espero que gostem (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419169/chapter/14

Correndo

DOIS MINUTOS FORAM NECESSÁRIOS para que eu conseguisse me mover após aquele choque. Minha atitude seguindo foi impulsiva e inesperada: Corri até a cozinha, me servi com uma dose se whiskey e engoli tudo de uma vez. Tenho uma ótima resistência para álcool, então a dose não surtirá nenhum efeito sobre mim.

Corri escadas acima, subindo os degraus de dois em dois, chegando ao quarto de Chris arfando. Sem sequer bater, empurrei a porta até esta se chocar contra a parede. Adentrei o quarto num tropeço, recebendo o olhar assustado de um Chris sem camisa. Mesmo com toda a situação desesperadora, fiz uma nota mental de que ele estava em forma, a julgar pelos músculos do tórax. Talvez esse não fosse um assunto realmente importante agora.

—Flores Silvestres é... —Puxei o ar pelo nariz. —Buscadora. —A frase não soou coerente, então a melhorei. —Ela é uma Buscadora, que se disfarçou de Confortadora todo esse tempo.

Chris abriu a boca, mas antes de proferir uma palavra, deu de costas e vestiu um moletom, cobrindo seu corpo. Ele enfiou a cabeça pela gola, bagunçando as mechas louras.

—Talvez para ficar de olho em Jamie. —Ele concluiu. —E suponho que você tenha a apagado e a jogado na lavanderia, certo?

Minhas bochechas coraram, e fingi coçar a testa para esconder o rubor.

—Hum... Não, ela... Fugiu.

Eu não precisava olha-lo para sentir seu olhar indignado sobre mim. Chris respirou fundo.

—Então acho que temos que correr para longe daqui.

—Mas não sem Jamie! —Um tom desesperado e amedrontado tomou conta de minha voz, e Chris percebe isso, pois se aproxima e afaga minha nuca para me tranquilizar.

—Tudo bem, vamos tentar dar um jeito de levarmos Jamie conosco, mas não acho que será de maneira passiva.

—Eu posso tentar. Ele pode aceitar dar uma volta comigo, não? —A nota de medo se tornou uma frágil esperança.

—Se Flores silvestres já não tê-lo alertado. —Responde Chris, estreitando um pouco os olhos como se eu estivesse prestes a explodir em chamas.

Enterrei o rosto nas mãos.

—Não podemos ir embora sem ele. —Minha voz está abafada pelas minhas palmas frias. —Não podemos abandoná-lo novamente.

Chris deve ter percebido que eu estava perdendo as estribeiras novamente, e meio que tenta trazer-me para perto com um dos braços. Esfrego o nariz em seu moletom cinza e procuro pensamentos lúcidos. Um toque hesitante no meio das minhas costas me faz perceber o quão estranho Chris está se portando, como se estivesse com medo de me tocar. Eu deveria já estar acostumada a despertar medo nas pessoas, e não sei por que a ação me magoa. Passo os dois braços pelas suas costas e o abraço.

Não quero que ele me tema. Há pessoas demais com medo de mim.

Esperei que sua reação fosse diferente, como se afastar ou simplesmente afagar minha nuca até nos separar, mas os braços de Chris se fecham ao meu redor com tanta força e suavidade, me prendendo, que quase perco o fôlego. Ele nos fecha totalmente, o rosto nos meus cabelos, e só há dois lugares onde posso deixar minha cabeça: na curva entre seu ombro e pescoço, ou jogada debilmente para trás. Opto pela primeira opção, e só depois de vários minutos, quando o calor dos nossos corpos dentro dos moletons era quase insuportável, o solto e me afasto.

—Temos que correr. —Falei, enquanto tentava lidar com o olhar cinza e pesado dele sobre mim.

—Sim. —Chris está focado em mim, mas é como se fosse cego. —Temos que correr.

Praticamente me arremessei para dentro do quarto de Peg e Ian, alertando-os, enquanto Chris avisava Sharon. Depois que Peg quase entrou em pânico e Ian começou a arrumar as coisas para partirmos, corri até o quarto de meu pai e quase pulei sobre ele.

—Temos que correr! —Essa era a frase do momento. —Buscadores!

Charles estava tirando uma soneca, e acordou como se tivesse levado um choque.

—Aonde? —Seus punhos gigantescos se fecharam mesmo antes de ele ficar de pé. —Onde estão os insetos?

—FS é uma deles, pai. —Expliquei. —Ele estava aqui há um tempo, e eu... Deixei-a escapar. Temos que correr. —Novamente a frase.

—Para onde? Não podemos simplesmente voltar para as cavernas, então, para onde vamos correr?

—Para o norte. —Respondeu a voz de Melanie as minhas costas. —Podemos tentar nos esconder pelas bandas no norte, e assim que os despista-los, nós voltaremos para as cavernas.

—Mas FS continuará a nossa busca. —Comentei. —Não há outra opção a não ser...

—Matá-la. —Concluiu meu pai.

Ficamos prontos para partir na velocidade da luz. Todos embarcaram em seus carros e partimos em direção ao norte.

Depois de muita insistência e uma boa dose de teimosia, todos se convenceram de que eu deveria tentar levar Matthew conosco. Chris se ofereceu para desacordá-lo com a meia de manteiga, mas recusei com um olhar zangado.

Com uma roupa confortável, meu moletom azul e calças jeans, corri até o café que o encontrei pela primeira vez. Ele não estava lá, para minha infelicidade, mas como eram cinco horas da tarde, supus que ele ainda não estava em casa. Matthew gostava de ficar até tarde fora. Embarquei no Troller e só tive consciência para onde estava indo quando estacionei ao lado da placa de entrada desgastada do Arizona State Fair.

Todos dentro do carro – Chris, Charles e Melanie – me olharam curiosos, mas apenas os ignorei e saí do carro.

As folhas secas do outono já estavam em decomposição, e esmaguei-as enquanto andava me enrolando com o moletom. Soprava uma brisa gelada.

Não precisei andar muito até vê-lo. Ali. Ali, parado. Ao lado da barraca abandonada de pipoca, os olhos fixos na montanha russa. Eu o conhecia, conhecia o corpo suficientemente bem para saber que ele estava triste. Devastado. Provavelmente FS já o tinha alertado sobre mim. Imagino qual teriam sido suas palavras. Talvez algo como: “Ela mentiu, ela te enganou. Ela é perigosa, Matthew. Não confie nela.”

Agora ele também tinha medo de mim.

Eu me aproximei em silêncio, parando alguns metros dele. E esperei. Apenas esperei.

Percebi que ele me notou, pois sua postura mudou um pouco. Ele não ficou assustado, sabia que eu não lhe faria nenhum mal.

—Eu confiei em você, sabe.

As palavras dele ficaram no ar e me perfuraram.

—Eu acreditei em você... Acreditei em tudo que me disse.

Continuei encarando o chão, envergonhada, preocupada, entorpecida, zangada.

—Eu nunca menti. —Sussurrei. —Cada palavra, cada sentimento foi verdadeiro. E também havia outras verdades que eu nem cheguei a mencionar.

—Que você é uma humana resistente? —Ele usou um tom desafiador, erguendo os olhos para mim. Apenas o observei pelo canto dos olhos.

—Que eu amo você.

Eu queria que a reação dele tivesse sido diferente. Que minhas palavras desencadeassem uma série de sentimentos nele, saudade, desejo, amor, lembranças. Ou que ele tivesse fugido, para me dar motivo que correr atrás dele e capturá-lo como uma presa inofensiva.

Mas Matthew apenas esfregou os cabelos e se remexeu sobre os pés.

—Então é esse o motivo. —Ele divagou.

Finalmente tive coragem de erguer meus olhos para ele.

—Tudo que eu fiz... Tudo que eu disse foi por você. Eu só queria... —Lágrimas covardes ameaçam brotar em meus olhos. —Só queria tê-lo de volta.

—Você fala como se fosse uma posse que você precisa tomar.

—Não. —Há uma tristeza desesperada em minha voz, parte pelo medo crescente de perdê-lo mais uma vez, parte pelo tempo que passa cada vez mais depressa. —Eu... Eu amo você. Seu corpo. Seu coração. Você e eu... Éramos parceiros. —Odeio essa palavra, mas talvez esse seja o único modo que ele compreenda.

—Entendo. —Outra reação inesperada. Queria que ele me tomasse nos braços e me beijasse. Ou que fugisse. Preciso de emoções mais explosivas para saber lidar com a situação. Preciso de extremos.

—Eu só quero pedir um último favor. —Ousei me aproximar o suficiente para sentir seu calor. —Antes que eu vá embora.

—Você vai fugir e se esconder novamente, Bruma? —Ele faz uma pausa inesperada. —Se esse é mesmo seu nome.

—Já foi, uma vez. —Minha voz alcança uma nota aguda e triste, como uma canção melancólica.

—Qual seu nome, de verdade?

Fecho os olhos para esconder as lentes brilhantes, e sinto seu braço tão próximo de mim que não consigo evitar tocá-lo. Puxá-lo para perto. Sentir sua mão enluvada envolta na minha fria. Neguei com a cabeça.

—Eu queria tanto poder lhe dizer. —Por motivos mais egoístas que se imagina. Queria apenas o prazer de ouvi-lo pronunciar meu apelido com tanto carinho.

Ele se solta de mim e se afasta.

—Bruma, ou seja lá qual for seu nome, eu realmente gosto de você... Mas você me enganou, e se tornou um perigo para mim.

Arquejo por causa do frio, que está ficando pior.

—Venha comigo. —Imploro.

Devagar, como se estivesse me apunhalando, ele nega com a cabeça.

—Não posso.

Seus pés se desiquilibram para trás, e ele começa a andar para longe.

—Por favor. —Meus gritos são súplicas. —Por favor, eu vou quebrar sem você!

Palavras tão perigosas, tão secretas e íntimas, que escapam da minha boca num momento de desespero. Mordo o lábio para evitar falar mais besteiras.

Matthew para, me olha por cima do ombro e diz, com voz alta e limpa:

—Não vou dizer a ninguém que vi você. Se me perguntarem, ficarei em silêncio. Não quero te prejudicar, mas não a quero por perto.

E ele se vai. Embora, e não há nada além do frio para mim.

—Almas não mentem.

Viro-me e vejo Chris de pé atrás de mim.

—Estamos seguros. —Sussurrei.

Ele se aproxima. Chris está usando um pesado casaco que o protege do frio, e antes que eu pudesse perguntar como o arranjou, vejo o jipe de Ian estacionado ao lado do Troller. Ele deve ter providenciado roupas quentes.

—Não estamos em segurança por muito tempo, Ashley. —Chris pega minhas mãos frias com suas mãos quentes e as aquece. —Nossas horas de vantagem estão se esgotando. Temos que ir.

—Vamos ter que seguir o plano inicial? —Que se constituía em fugir para o norte, ficarmos seguros e então voltarmos para buscar Matthew.

—Sim. —É tudo que ele disse.

Assenti com a cabeça e o segui até o carro, onde me foram oferecidos casacos e luvas quentes, que vesti com voracidade para garantir que não congelaria agarrada ao volante.

Horas depois, quando cruzamos as fronteiras de Arizona e Utah, e chegamos a Green River, uma cidade há 70km de Moah.

Parecia uma cidade tranquila para nos abastecermos e procurar algo que pudesse nos esconder.

Deixo os outros irem atrás de suplementos e fico jogada no banco do motorista, a cabeça no meio dos joelhos, remoendo minhas dores e repassando a conversa com Matthew na mente.

—Você está bem?

—Sim. —Eu sussurro. —Estou bem. Estou sempre bem. —Uma boa quantidade de ironia carrega a minha voz, e também a resposta que recebo.

—Por que eu tenho a leve impressão que isso não é verídico?

Dou uma risada triste para tentar espantar as crescentes lágrimas. Odeio chorar. Não quero fazer isso na frente de Ian. Não novamente.

Esfreguei o rosto.

—Isso tudo está acabando comigo.

—Ah, qual é. —Ian dá uma risada. —Você é muito mais forte que isso, Ashley.

Franzi as sobrancelhas.

—Não me superestime, O’Shea. Posso ficar a beira da loucura em instantes...

—Ah, não. —Ele beija o topo da minha cabeça. —Eu sei que consegue lidar com isso.

Afastei-o com o cotovelo, mas mesmo assim dei um sorriso. Pequeno e inseguro, mas mesmo assim um sorriso.

Voltamos para a estrada, e deixo Melanie ir ao volante. Charles se senta no banco de carona com o mapa e eu me encolho como uma bola no banco de trás, com um frio inexplicável. Não estamos em uma época de frio extremo, mas é como se cada célula do meu corpo estivesse sendo refrigerada. Meu queixo batia.

Chris passa o braço ao meu redor.

—Tudo bem?

Assenti com a cabeça, mas mesmo assim ele toma meu rosto entre as mãos e toca a face na minha testa, medindo minha temperatura.

—Você está fervendo, Ashley. Acho que está com febre.

—É possível, pelo fato de eu estar morrendo de frio.

—Aqui, pegue a minha jaqueta.

Impedi-o com um gesto.

—Você também vai ficar com frio. —Eu disse. —Não se preocupe, eu vou ficar bem.

—Ashley, você nunca soube muito bem lidar com frio. —Intromete-se meu pai. —Precisa ficar aquecida até encontrarmos uma farmácia.

O que iria demorar horas, a julgar pela estrada no meio do nada pela qual rodávamos.

—Certo, vamos dar um jeito nisso. —Meu pai tenta passar por cima dos bancos para se juntar a nós, mas é grande demais.

—Eu cuido disso. —Se oferece Chris, e tenta debilmente me abraçar para me aquecer.

—Não é por nada, Ashley, mas você não vai ficar aquecida assim. —Diz meu pai com os olhos estreitos. —Vocês precisam, sabe, ficar mais juntos.

Sei o que ele quer dizer, já como o vi realizar o procedimento diversas vezes com Alice. Chris também parece entender, pois abre um lado da jaqueta para que eu possa aproveitar do calor de seu corpo e ainda ganhar uma proteção extra.

Fui atada pela jaqueta, apertada pelo corpo de Chris, mas seu calor imutável deixava tudo menos estranho. Eu finalmente parara de tremer o queixo e os dedos, e relaxei. Meus membros rígidos estremeceram e descansaram. Um sono avassalador tomou conta de mim, e mal consigo pronunciar:

—Estou. Tão. Cansada.

—Durma um pouco. —Diz Chris, e sua voz está longe. —Eu lhe acordo assim que estivermos em segurança.

Acordo com um sobressalto do carro. Ainda estou atada a Chris, e um dos seus braços está em minha volta de forma protetora. Percebo por sua postura que há algo errado. Olho pelas janelas, pelo painel, e encontro o erro.

A estrada está bloqueada. Não há passagem, não há saída a não ser voltarmos. Para o sul, para as garras dos Buscadores.

—É uma armadilha. —Sussurra Chris, e sinto seu corpo estremecer.

Meu rosto está bem apertado contra seu peito, seu coração acelerado contra minha face.

—Temos que manter a calma. —Diz Melanie, com o tom firme. —Não acorde Ashley ainda.

Dei-me conta de que eles não sabiam que eu estava desperta, então fecho novamente os olhos.

—Como vamos sair dessa? —Pergunta meu pai, preocupado.

—Vou voltar e procurar outra via. —Responde Melanie.

Sinto o carro voltar a se mover e Chris relaxar um pouco, se movendo de modo que posso ficar meio deitada sobre ele, aconchegada. Seus dedos desenham padrões circulares inconscientemente na minha cintura, e tenho que me segurar para não me debater.

Depois de alguns minutos, uma exclamação violenta interrompe o silêncio.

—Merda! —É a voz de Melanie. —Todas as outras vias estão bloqueadas.

—Deve ser uma emboscada. —Comenta Chris. —Não podemos, de modo algum, voltar.

—E o que vamos fazer? —Pergunta Mel.

—Não temos como remover todo esse entulho do meio da estrada antes que os Buscadores nos alcancem. —Comentou meu pai.

—Então vamos para leste. —Decidiu Melanie, já acionando o motor. O Troller deslizou pela autoestrada, e finalmente fingi que estava acordando, dando um longo bocejo. Abro os olhos e encontro os de Chris.

—Onde estamos? —Fingi-me de inocente.

—Mudanças de planos. Vamos para leste.

—Por quê?

—Nada com que se preocupar. —Mentiroso. Ele desvia o assunto. —Está se sentindo melhor?

—Não sinto mais frio. —Comentei.

Chris abaixa o rosto para pressionar contra minha testa. Minha mãe também costumava medir minha temperatura desse modo.

—Não está tão quente. —Ele conclui, e afaga minha nuca. Já percebi que esse é um costume.

O carro dá uma freada brusca, e muda de direção abruptamente.

—O que aconteceu?

Melanie está com os olhos arregalados e o pé afundado no acelerador. Tento olhar pelo vidro traseiro, mas a jaqueta de Chris me prende.

—O que está acontecendo? Ian está atrás de nós?

—Está. —Diz Chris, olhando para trás. —Mas temos um problema.

—O quê? —Há desespero em minha voz.

—Desconfiamos que há Buscadores nos seguindo. —Mel manda brasa.

Estremeço.

—Temos que ir para norte, seguir a pé nos entulhos na estrada e se esconder na floresta. É o único modo.

—Como sabe dos entulhos na estrada? —Pergunta Charles.

—Eu estava acordada. —Admiti.

—Mas ficaremos muito vulneráveis sem os carros.

—Vamos escondê-los, e adentrar a floresta apenas para despistar os Buscadores. Eles não são tão bons quanto os humanos pra se vivarem na floresta. Sua busca não será muito longa.

—Se você diz. —Concorda Melanie. Ela volta a toda velocidade para norte, tentando ganhar tempo.

Abro zíper da jaqueta de Chris e me liberto, mas o frio quase me faz me meter lá novamente. Cerro os dentes.

Inclino-me sobre o banco para pegar as armas e munições no porta-malas, deixando a Gold Combat comigo, a Glock com Charles, um Calibre 38 com Chris e uma pistola 380 para Melanie. Sei que Ian tem duas espingardas e uma carabina com ele, e munição o suficiente para dizimar toda a população de Utah. Melanie chega ao limite, onde há terra, troncos e pedras cobrindo a autoestrada, e joga o Troller para dentro da mata. Cobrimo-lo apressadamente com folhas e galhos, até o considerarmos escondido o suficiente para que quem quer que não soubesse do esconderijo, jamais o encontraria no meio das duas altas pedras cobertas de musgo. Ian logo estaciona na frente do Troller, e mais uma cobertura de folhas e musgos é adicionada, até nossos carros se fundirem com as pedras e se tornarem uma pedreira invisível. Começamos a correr para dentro da mata, nos dividindo em três grupos: Melanie e Sharon para noroeste; Charles, Ian e Peg para norte e eu e Chris para nordeste. Voltaríamos a ficar unidos depois de dez quilômetros, juntando em um grupo e combatendo os Buscadores, se necessário.

O frio atrapalha um pouco meus movimentos, mas ainda consigo correr com uma ótima velocidade, e Chris me acompanha facilmente com suas longas passadas.

Depois de quase quinze minutos correndo, tenho que subir em uma árvore para descansar. Devo estar mesmo doente, pois estou desgastada. Chris me acompanha, e nos acomodamos há quase dez metros no chão, na forquilha de um carvalho.

Largo a Gold Combat no colo, aproveitando para secar minhas mãos suadas e frias. Chris percebe que estou tremendo, pois se aproxima com seu corpo quente e envolve minha mãos nas suas, mergulhando-as nos bolsos.

—Temos que voltar por Jamie. —Eu digo, de repente. —Nada disso valerá se não o recuperarmos.

—Não acredito que ele valha o risco que você está correndo.

Indignada, empurrei-o para o lado, para longe de mim, livrando minhas mãos.

—Você nunca amou ninguém? —Quase gritei.

—O amor é um grito no vácuo. —Disse Chris, encarando o chão há tantos metros abaixo. —Inútil.

—Você vai pensar assim até o dia que se apaixonar. —Falei. —Depois vai perceber que não existe nada mais importante.

—É mesmo? —A voz dele era sarcástica. —Você acha que eu nunca me apaixonei?

Abri a boca para protestar, mas a fechei.

—Eu já amei alguém. —Chris mantinha a mesma expressão neutra. —Foi isso que me levou a ruína.

—Não era o amor certo.

—Nenhum tipo de amor é certo. —Ele fez uma pausa, franzindo os lábios. —Principalmente esse que eu sinto por você.

Fiquei um minuto sem reação.

—Chris, o que você está dizendo?

—Você não entende. —Ele apertou os olhos. —Minha cabeça é barulhenta. O mundo é barulhento. Falas, ecos, palavras, gestos, passos, pensamentos e tiros. É um barulho constante, e nunca consigo focar em algo. É um caos. Mas isso não importa... —Seus olhos se abrem novamente, me encarando, cinzentos, as sobrancelhas tensas. —O que importa é que, quando estou com você, é como se todo o barulho parasse. É como se eu tivesse paz novamente.

Penso em responder, mas ruídos chamam minha atenção.

Um enxame de Buscadores há menos de um quilômetro, correndo desajeitadamente na mata, e eu sentia a arma mais pesada em minhas mãos.

Ainda sem coragem de encara-lo, sussurro:

—Tenho uma péssima notícia, Chris: O barulho não vai acabar tão cedo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar, por favor (sério, acho que a história tá decaindo, já que pouca gente comenta. Amo quem lê e comenta. E eu odiaria não ter para quem escrever, e, ocasionalmente, abandonar tudo).
Obrigada por ler ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Surviver 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.