The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 13
Capítulo 12 — Desafiando


Notas iniciais do capítulo

OOOI
Oito dias é um atrado bem grandinho, e eu estive fora do ar por um tempo - me perdoem.
Mas esse capítulo é longo e cheio de emoções (uau) e eu particularmente gostei dele. Espero que gostem.
Enjoy it



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419169/chapter/13

Desafiando

O DIA COMEÇOU ERRADO. Fazia mais de um dia desde o passeio no parque. Não havia dito a ninguém sobre minha conversa com Flores silvestres, e não havia visto ninguém desde então também. Eram cinco da manhã quando acordei com um grito agudo e estridente, que sacudiu meus ossos. Pressionei os punhos contra os ouvidos até sentir um ardor forte na garganta. Indicando que o grito era meu.

Tapei a boca no exato momento que a porta do meu quarto foi aberta.

—O que aconteceu?

Abri os olhos e vejo Ian. Tenho vontade de correr para abraçá-lo e cuspir todo o episódio com FS, mas só engulo em seco.

—Pesadelos.

Ele abriu a boca para responder, porém mais pessoas adentram o quarto. Melanie, enrolada num roupão; Peg com seus olhos esbugalhados; Chris e suas sobrancelhas tensas; e meu Pai, que não hesita em se ajoelhar do meu lado e me abraçar.

—Pai. —Minha voz é abafada por seu ombro. —Está tudo bem. Pode me largar agora.

Charles segura meu rosto entre as mãos, e desvio os olhos de todos para evitar constrangimento.

—O que foi, minha garotinha? O que aconteceu?

Obrigada por isso, papai.

—Não foi nada. —Insisto. —Podem voltar a dormir. Desculpem o grito.

—Os gritos. —Corrigiu Ian, docemente.

—Tudo bem. —Começo a dispensar a todos com gestos. —Já podem ir.

Relutantes, eles saem do quarto. Ian hesita um segundo antes de apertar meu ombro e sair. Afundo o rosto no travesseiro e escuto os dois corpos restantes saírem do cômodo. Apenas um sai.

Ergui meus olhos apenas o suficiente para ver os pálidos pés descalços de Chris contra o assoalho.

—Alguém já disse o quanto você mente mal?

—Já. —Resmunguei. —Várias e várias vezes. Mas as pessoas tem o bom senso de acreditar.

Bom senso. —Ele caçoou.

Resolvi não dar mais atenção a ele e fechei os olhos.

O colchão afundou e abri os olhos rapidamente, e dei uma guinada tão forte que quase caí ao me deparar com Chris meio jogado sobre meu colchão, as mãos atrás da cabeça e um olhar brincalhão que eu jamais vi em seu rosto.

—O que está fazendo? —Tentei não falar muito alto para não acordar novamente os outros.

—Eu sei que você não quer ficar sozinha, ser deixada em paz e todo o resto. Como eu disse você mente e disfarça mal o que realmente quer.

—Não quero você aqui.

—Mentiu de novo.

Traiçoeiro. Eu não queria ficar sozinha – isso era verdade – e estava tão sedenta por contato humano que até mesmo Chris era uma boa companhia naquele momento.

—Então. —Ele se apoiou no cotovelo. —O que você sonhou?

Péssima pergunta. Revivi o sonho.

Jamie está segurando minhas mãos entre as dele, e não tiro os olhos delas. O tom de pele bronzeado dele contrasta com minha pele claríssima, e o modo como ele entrelaça nossos dedos faz um mosaico de tons de pele insubstituível. Ergo os olhos para dentro dos dele, procurando a sombra e o doce escuro que me refugia, mas encontro um brilho metálico e sombrio. Aos poucos, seu rosto sereno se deforma para uma careta horrorosa, e não estou de pé na frente de Jamie, mas sim de um Buscador sanguinário e cruel que veste o corpo do meu amado.

Só consigo gritar.

— Ashley? —Chris estralou os dedos na minha frente e pisco assustada. Percebi que estava com os olhos vidrados no rosto dele e não respondi sua pergunta.

—Foi só um pesadelo, Chris. —Minha voz saiu macia e amargurada. —Não é nada com que se preocupar.

Chris baixou os olhos.

—Mentiu de novo. —Sussurrou.

—Sim. —Concordei, tola de sono e rendida por sua esperteza. —Menti de novo.

—Pode dormir agora. —Sob a penumbra seus olhos cinzentos ficavam quase negros.

—E você, não dorme nunca? —Desafiei-o. Não conseguia perder uma oportunidade sequer.

—Não consigo dormir mais de cinco horas por noite. —Um tom entorpecido em sua voz faz com que eu me cale.

Sem me dar ao luxo de mostrar que me importo, dou as costas para ele, enfio a cara no travesseiro e me obrigo a adormecer.

Tento inutilmente alcançar Jamie, mas poucos instantes antes de tocá-lo FS me joga para o lado e pula em seus braços, onde deveria ser meu lugar. Eles se beijam, me ignorando veemente, e sempre que tento alcançá-los alguém me empurra violentamente. Estou toda machucada, a ponto de mal conseguir ficar de pé, quando dou minha ultima tentativa, pulando sobre os dois a fim de separa-los. Mas caio com precisão na lâmina afiada que FS segura, afundando-a em meu coração. A dor que se irrompe em meu peito não é maior que a dor que meu próprio coração sentia antes. Sinto a vida se esvaziando de mim, e me sinto agradecida. Não terei que sofrer mais. O mundo para mim será sereno. Porém, o universo sendo impiedoso como é, a morte me escapa e me sinto caindo, caindo, tentando sem sucesso alcançar algo que possa me segurar, e sinto pedaços invisíveis e pontiagudos se enterrando em minha carne, deixando a dor ainda mais intensa e insuportável.

—Acorde, Ashley. —Grito para mim mesma, a fim de acabar com o sofrimento. —Acorde!

Mas apenas caio, num precipício sem fim, num buraco negro e obscuro que sei que nunca conseguirei sair.

Acordo com meus gritos, e não consigo separar a dor do sonho com a dor real.

—Ashley! —Sinto meus pulsos serem firmemente presos. —Pare!

Abro meus olhos encharcados de lágrimas e a primeira visão que tenho é sangue. Sangue, vermelho-vivo, manchando minhas mãos, minhas roupas, meus braços, a cama.

Depois, sinto a dor.

O sangue corre das feridas abertas em formatos de meia-lua em meus antebraços, e me assusto com elas. Procuro um rosto conhecido e encontro Chris. Olho desnorteada para ele.

—O que aconteceu comigo? —Não tenho voz. Ela sai num sussurro. —Quem me atacou?

Vejo no relógio que são sete horas, e não volto a encarar Chris até ele responder.

—Você, Ashley. Você se atacou.

Então sinto minhas mãos duras e presas, e sacudo-as para soltá-las. Minhas unhas estão revestidas com uma camada de sangue seco e recente, e são de tamanhos correspondentes às marcas em meus pulsos.

—Eu me automutilei? —Perguntei, e por mais que eu pigarreasse não consegui me livrar da falta de voz.

—Bem, eu... —Chris pensa por um momento, e é nesse momento que avaliei minha própria situação.

Estou meio sentada meio deitada, apoiada sobre Chris, manchada de sangue até as pernas e confusa. Extrema e desconfortavelmente confusa.

—Despertei com seus gritos. —Explicou Chris. —Você estava berrando, inconsciente de sono, e afundando suas unhas contra seus próprios pulsos como se quisesse matar-se.

Matar-se. A palavra dança na frente dos meus olhos. Pergunto-me se estou ficando louca. Estive subestimando e desafiando minha própria sanidade. Talvez eu tenha chegado ao meu limite. Talvez eu tenha me entregado de braços abertos à extrema loucura em meus sonhos.

Queria saber se Doc pode curar algo assim, mas duvido que haja salvação para mim.

Penso em responder alguma coisa, mas só encarei os olhos cinza de Chris e deixei-me tombar, sem forças, e tolerei seu auxílio.

Chris me apoia contra si e me abraça parcialmente com um dos braços, enquanto o outro tira meus cabelos manchados de sangue de perto dos meus braços.

—Vamos cuidar disso. —Ele se refere aos meus pulsos ou a minha mente? —Vou chamar os outros.

Ele ameaçou se levantar, mas não quero ficar sozinha. E se eu quiser me matar novamente? Quero pedir para Chris ficar aqui, mas minha boca está selada.

Chris sai, e fico entorpecida em minha cama manchada de sangue, agarrando meus pulsos, tentando inutilmente parar o sangue.

Em menos de um minuto todo mundo está no meu quarto.

Peg é a primeira a me alcançar, e segura meus pulsos entre as mãos, manchando sua pálida pele de lua com meu sangue. Ela me puxa delicadamente para fora da cama, mas estou travada como ferro enferrujado.

Meu pai se oferece para me carregar para o banheiro, mas dispenso o contato dele me encolhendo para longe, e apenas deixo Ian me tocar, passar os braços ao meu redor e me reerguer. Sharon e Charles tiram os lençóis e cobertores sujos de sangue, Chris vai se lavar em sua suíte, já como seu rosto e braços também estão encardidos, enquanto Melanie, Peg e Ian me escoltam para o banheiro. Fico sozinha com Melanie, que dispensa os outros dois com um olhar. Ela enche a banheira de água quente, e enquanto a água flui pela torneira, o sangue é retirado dos meus braços com uma toalha úmida. Mel prende meus cabelos e limpa minhas faces. Quero agradecer a ela, agradecer a todos por ainda se importarem comigo, mesmo sendo a insana que sou, mas minha boca parece costurada.

Apenas observo todos os movimentos de Mel, enquanto ela me ajuda a me despir e me afunda na banheira.

Fico observando o teto do banheiro dentro da água, que turva minha visão e provoca um comichão nos meus olhos. Fico lá um tempão, até meu peito ficar tão dolorido por causa da falta de oxigênio que me jogo com força para cima. Esfrego bem os meus cabelos e meus braços doloridos, em seguida meu rosto. Só me sinto realmente limpa depois de me esfregar até retirar a primeira camada de pele. Rosada e fresca, saio da banheira, enrolo uma toalha no meu cabelo e enxugo meu corpo. Finalmente pronta, vestida com um pijama de flanela e cabelo úmido, eu empurro a porta do banheiro, que se abre num rangido.

Fiquei aliviada em encontrar apenas Ian com curativos, Peg ajeitando a cama e Chris, limpo, sentado em um canto.

Ian se aproximou, me sentou na cama e tratou de enrolar meus pulsos com gaze e algodão.

—Melhor? —Ele perguntou.

—Melhor. —Concordei.

Ele afagou meu cabelo e saiu. Peg se aproximou e se certificou se eu estava bem.

—Estou. —Fico arrependida de não gostar muito dela. —Obrigada.

Deito e cubro minha cabeça com o cobertor. Escuto as vozes sussurradas de Peregrina e Chris conversando.

—O que aconteceu com ela? Ontem Ashley parecia bem. —Sussurrou Peg.

—Acho que é uma espécie de depressão paralisante e agressiva. E muito instável. Às vezes ela está bem, às vezes se afunda.

—Espero que ela fique bem.

—Eu também.

Continuei em silêncio, apenas escutando.

—Você devia falar com ela. —Sussurra Peg.

—Eu? —Chris soou irônico. —Ela prefere Ian.

Um minuto de silêncio, e Peg parece ter um milhão de anos quando diz.

—Ashley precisa de uma dose de brutalidade real. É a única coisa que a trará de volta.

Chris parece concordar, pois escuto Peg sair e fechar a porta e sinto o colchão afundar.

—E aí, Ashley?

Não consigo responder. Não encontro palavras nem para uma resposta tão simples. Jogo o cobertor para o lado e meio que avanço sobre Chris. Ele nota o desespero nos meus olhos.

—Ei, tudo bem. Tudo bem. —Ele coloca a mão no meu ombro, um gesto de consolo e autodefesa. —Tudo bem.

Tudo bem? Tenho vontade de perguntar. Enfie seu “tudo bem” onde o sol não bate!

Mas não consegui produzir nenhum som, só um ruído rouco com a garganta.

Chris franziu as sobrancelhas.

—Você só vai ficar nessa? Silvando como um gato assustado?

Estreitei os olhos para ele, o máximo de expressão que consigo produzir além da careta medrosa que dominava meu rosto.

—Jamie não vai se salvar sozinho!

O argumento me atingiu como um tapa. Baixei os olhos e franzi os lábios.

Chris percebeu que atingiu um ponto delicado e afagou minha nuca. Ele tentou se afastar, mas segurei seu braço, desesperada por contato.

—Não quero ficar sozinha. —Um sussurro surdo. Minha voz se recusava a sair, e pigarreio diversas vezes.

Chris aperta os lábios enquanto pensa no quer fazer comigo. Ele decido, por fim, estender um braço hesitante, e mergulho no abraço.

Tenho vontade de rir com a ironia, já como Chris – provavelmente o que menos gosto dos presentes – é o único que pode me ajudar. Realmente tenho vontade de rir, e meu corpo se sacode enquanto tranco o riso na garganta, produzindo uns ruídos feios com os lábios. Senti que Chris me encarava, decerto imaginando que pirei de vez. Rindo de tola, dessa vez.

—Algo errado?

Neguei com a cabeça e cobri a boca com a mão, sem conseguir as risadas de escaparem. Deixo uma sair livremente, e isso ajuda. A graça parece minguar, e fecho os olhos. Odeio me sentir tão desgastada, já que não fiz praticamente nada hoje além de surtar, e só são dez horas da manhã.

Fiquei debruçada contra Chris por vários minutos, e senti que meus músculos relaxaram.

—Era só disso que você carecia, não é?

Olhei para Chris e ergui uma sobrancelha questionadora.

—Contato físico. —Ele respondeu.

Suspirei fundo e concordei com a cabeça.

—Você não quer se ajeitar?

—Por quê? —Minha voz voltou, rouca e desgastada, mas está aqui. Parece que estou voltando ao que era antes.

—Vamos almoçar com Matthew hoje, pelo que me lembro.

Faço um barulho qualquer com a garganta, bocejo preguiçosamente e apenas fecho os olhos novamente.

—Não é você que precisa tanto dele?

Abri os olhos novamente, encarando o chão.

—Eu preciso dele mais do que preciso de ar. —Desabafei, num sussurro mudo.

—É perigoso precisar tanto de alguém.

Prendi meu cabelo de qualquer jeito, num coque frouxo no meio da cabeça, sem ter vontade de deixá-lo melhor. Vesti um jeans azul e meu adorado moletom azul, e nos pés um par de coturnos novos. Enfiei as mãos nos bolsos e saí do quarto.

Peregrina estava lá, do outro lado da porta, me esperando sem nenhum motivo aparente. Ela sorriu quando me viu e se juntou a mim, seu tamanho diminuto e quebrável ao lado da minha estrutura alta e larga. Peg parecia tão frágil, mas tão forte comparado ao pássaro assustado que eu me tornara naquele momento.

—Matthew já está aqui. —Ela disse rapidamente, com sua voz aguda. —E...

A hesitação na sua voz me fez parar, já que eu estava pronta para descer escorregando pelo corrimão até Jamie.

—E o que?

—E Flores Silvestres. —Ela sussurrou.

Automaticamente fiz um ruído desgostoso com a garganta, como um arranhão. Preferia me afogar em uma piscina de cobras venenosas do que ter que ver aquela megera.

Joguei os ombros para trás, deixei as mãos caídas e queixo erguido, e segui Peg até a sala de jantar.

Qualquer um poderia ter visto a diferença. No lugar de uma garota entorpecida e desgastada, surgiu um sorriso largo e olhos brilhantes. Eu sabia disso. Sabia o efeito que ele me causava, e não podia evitar.

Felizmente, eu também exercia certo interesse da parte dele, e Matthew ficou de pé e sorriu assim que me viu.

—Bruma.

—Oi, Matthew.

Então, o inesperado. Ele jogou os braços ao meu redor e me abraçou com tamanha força e afeição que fiquei sem reação um minuto, antes de segurar minhas mãos atrás de suas costas e afundar o rosto na curva quente do seu pescoço.

—Como é bom ver você. —Ele sussurrou. Suas palavras acalentaram minhas dores.

—Também é bom ver você. E não que eu esteja reclamando, mas... —Afasto-me um pouco, para ver seu rosto. —Não deveríamos nos encontrar em algum restaurante?

Matthew passa a mão e esfrega os cabelos, desviando os olhos.

—É que, veja bem, eu não vi necessidade em você precisar sair de casa... E não é um trabalho tão grande assim vir até aqui. —Ergui uma sobrancelha e ele continuou se explicando. —E eu realmente gosto de ficar em lugares reservados... Mas sem intenções estranhas. Só coisas boas, só coisas boas.

Sem tentar parecer muito desdenhosa, eu disse:

—Quando mais você tenta explicar, mais se incrimina.

Ele sorriu, já como não havia mais nada a ser feito.

Decidi acabar com aquele clima afetuoso entre nós dois, já como havia mais pessoas na sala, aparentemente constrangidas.

—Então... —Os olhares se voltaram para mim. —Vamos almoçar.

—O que você preparou hoje? —Perguntou Matthew, enquanto os outros se sentavam.

—Hum... —Droga, droga, droga, droga. —Eu...

—Ashley preparou Macarrão com Atum. —Melanie me salvou. —Ela disse que é uma receita muito apreciada.

Dei um sorriso agradecido e concordei, mesmo que eu nunca teria preparado esse prato.

Mesmo que o nome fosse estranho e um pouco repelente, o prato era delicioso. Não via a hora de abraçar Melanie e agradecer.

Enquanto eu saboreava “meu” prato, Matthew me puxou para perto e sussurrou.

—Acho que deveríamos sair mais vezes.

Quase cuspi a comida que estava mastigando, mas me concentrei em engolir e passar a língua nos dentes para evitar qualquer incômodo.

Relembro do pôr-do-sol, da roda gigante e do abraço.

—Sim. —Concordo. —Com toda certeza temos que marcar algo.

Ele sorriu, e quase me esqueço de que devo ter um pedaço de atum nos dentes se sorrir para ele.

O espaço de tempo que Matthew permaneceu conosco foi muito pequeno, apenas um segundo, mesmo que na verdade fossem duas horas.

Ele se despede de todos, e os levo até a porta. Flores silvestres me manda um olhar quase agressivo, mas apenas ergo o queixo e desvio os olhos dela. Matthew beija a minha bochecha antes de sair, fechando a porta atrás de si.

Fiz uma corrida até o sofá e me joguei sobre as almofadas de barriga para cima, respirei fundo e sorri.

—Você tem que perder essa mania. —Eu disse, erguendo os olhos para a parede oposta a escada. —Faz você parecer um maníaco.

Mesmo com as sobrancelhas tensas, Chris deu uma risada assoprada, que logo se extinguiu.

—É inacreditável o seu estado agora comparado a antes. Aquele cara sabe como lidar com você.

Aquele cara já salvou minha vida. Tipo, algumas vezes.

Aquele cara te cativou, só isso. —Ele se sentou ao meu lado. —Como estão os pulsos?

—Bem, eu acho. —Ergo as mangas do meu moletom, revelando os curativos. —Não dói, se não tocar.

Chris estava olhando tão fixamente para meu rosto que, quando ergo os olhos para ele, me assusto. Ele estica a mão, a me afasto num pulo.

—Espere Ashley. —Ele segura minha nuca com uma mão enquanto a outra alisa suavemente minha face.

—O que foi? —Pergunto, e me questiono o porquê estou enrubescida.

—Havia pasta de dente no seu rosto.

—Ah. —Apertei meus olhos. —Esse tempo todo.

Chris começou a rir da minha cara.

—Não se preocupe, ninguém deve ter notado. Era mínima.

—Não ajudou muito. —Admiti, e franzi os lábios.

Chris deu mais uma risada, baixa e rouca, e foi apenas por esse momento que suas sobrancelhas deixaram de ser tensas a ponto de sombrear os olhos e se alongaram em ângulos altos e louros.

Percebi que estava reparando demais em suas sobrancelhas, então deixei minha cabeça tombar no sofá e encarei o teto.

—Vou ajudar Charles na cozinha. —Disse Chris, se levantando.

—Eu também deveria...

—Não. —Ele me interrompeu. —Todos concordaram que você precisa de um dia de descanso. Fique aí e tente relaxar um pouco sua mente.

Não entendi as palavras dele por algum tempo, mas assim que Chris saiu e o lugar ficou silencioso percebi a quantidade de pensamentos que assombravam minha cabeça. Fechei os olhos e respirei fundo, prendi o ar nos pulmões e contei os segundos. Vinte e sete. Soltei o ar e me senti relaxando.

Fiquei jogada naquele sofá por minutos, horas, até sentir meu membros travados. Fiquei de pé e me alonguei, estalando os braços. A campainha soou. Corri até a porta, gritando.

—Eu atendo!

Torci que fosse Matthew, que ele tivesse esquecido algo, como me dar um beijo repentino ao algo assim, mas quando abri a porta me deparei com Flores Silvestres, a meretriz.

—Você. —Silvei.

—Eu. —Sibilou.

—O que está fazendo aqui?

—Temos assuntos inacabados, Bruma.

—Está falando daquele dia do parque? Bem, eu acho que é um assunto bem...

Sem que eu pudesse terminar, ela entrou e trombou contra mim. Com toda a força. Não pensei que uma pessoinha daquela pudesse me jogar com tanta força no chão.

—Sua... —Mordi o lábio.

Ela se inclinou sobre mim, arqueando as sobrancelhas.

—Você está bem?

—Estou. —Rosnei.

—Ótimo.

Ela chutou minhas costelas com o bico da botina.

—Desgraçada...! —Chiei e rolei para o lado, me pondo de pé. —Qual seu problema?

FS avançou, tentando acertar um gancho em mim, mas segurei seu braço e o girei. Ela conseguiu se soltar e procurou segurar meus cabelos. Golpe baixo. Passei a perna nela, desequilibrando-a, e a soquei no queixo.

—Você não é raio de Confortadora nenhuma, sua biscate.

Flores Silvestres sorriu, e a visão me fez lembrar de uma cobra sibilando.

—Não seja tão idiota, garota. É claro que eu não sou uma Confortadora.

—Então, você é...

—Exatamente. —Ela me interrompeu, conseguiu se soltar de mim e saiu porta a fora. Antes de fugir, esfregou a mão no queixo e complementou.

—Sou uma Buscadora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TCHARAM
Muito suspense.
Muito drama.
Muito sofrimento.
Adoro.
Vou abusar da sorte e já vou avisando que o próximo capítulo pode demorar um pouquinho - vou tentar postar o mais rápido possível, mas não quero desapontar ninguém.
Aguentem firme.
Baisers



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Surviver 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.