Sorrindo

TODOS VIBRARAM DE FELICIDADE COM MAIS UMA VITÓRIA.

Doc sorria abertamente enquanto terminava de curar o corpo e Peg estava tão feliz que ria enquanto trancava o criotanque. Eu admito que não esteja sendo muito útil naquele salvamento, mas a atmosfera era tão iluminada e carregada de ternura que me recusava a ficar fora.

Ian abraçou Peg com um sorriso, a felicidade transbordando de todos os rostos.

Eu também sorria abertamente, e não havia nada no mundo que eu adorasse mais do que sorrir.

Ou, quase nada.

Senti uma mão quente tocar de leve meu quadril e me puxar abruptamente ao encontro de um corpo alto e esguio, rígido de músculos e com uma pele extremamente macia e quente. Ainda estava sorrindo quando seus lábios cobriram os meus, aproveitando cada oportunidade para me beijar.

Deixei meus dedos deslizarem livremente entre seus cabelos negros e me deleitei dentro de seus braços fortes enquanto murmurava seu nome sussurrando.

Jamie.

Ele me beijou o melhor possível com nossas circunstancias e logo se afastou, sorrindo.

Eu também sorri, passando a língua nos lábios.

Jamie passou os braços apertados pela minha cintura e me puxou para muito perto, colando os lábios na minha testa.

Repousei alguns segundos contra ele, os olhos fechados, e suspirei alegremente.

Logo ouvimos resmungos e me afastei.

Eu tomei a mão dele e a segurei apertado enquanto observava mais um milagre.

O corpo, antes tomado por um pequeno alienígena prateado – uma Alma – agora despertava independente, o verdadeiro humano usufruindo do seu corpo.

Era um garoto pouco mais velho do que Jamie. Ele tinha dezenove, um ano a mais do que eu, e o garoto que despertara talvez estivesse com vinte anos.

—Eu voltei. —Vibrou o garoto. —Esse é meu corpo.

—Sim. —Disse Peg. —Ele é todo seu agora.

—Obrigado. Eu estava preso lá dentro há tanto tempo.

Melanie afagou o ombro dele.

—Lembra-se do seu nome?

—É Chris. Eu me chamo Chris.

—Exatamente. —Disse Mel. —Chris. Você era meu vizinho, lembra? Sabe quem eu sou?

—Melanie. —Chris respondeu automaticamente. —Melanie Stryder. Onde está Jamie?

Todos nós trocamos olhares alegres, surpresos com a recuperação imediata de Chris. Jamie soltou minha mão e caminhou até ele.

—Aqui estou. Olá, Chris.

—Jamie. Você cresceu.

Algumas gargalhadas, e Jamie gesticulou para que eu me aproximasse. O fiz com cuidado, temendo que meus movimentos pudessem assustar Chris de alguma forma. Os humanos costumam ficar traumatizados depois de terem uma Alma inserida dentro de si.

Eu tive uma Alma dentro de mim há um ano – Bruma. Porém nunca ficara traumatizada. Bruma era como uma irmã para mim, e me fortaleceu como nada mais poderia. Ela havia partido, e eu tinha que lidar com uma saudade imensa diariamente.

Cheguei perto de Jamie e me acomodei na lateral do seu corpo enquanto ele passava um braço a minha volta.

—Olá Chris. —Falei com a voz mais macia que consegui. —Bem-vindo de volta.

Chris estreitou os olhos, me encarando.

Ele tinha cabelos loiro-escuros encaracolados curtos que moldavam seu rosto triangular. Possuía um par de olhos cinzentos profundos e inebriantes e também era alto, porém não maior que Jamie.

—Quem seria essa beldade? —Ele perguntou, sério.

Eu mordi o lábio para evitar corar e dei uma risada, olhando para Jamie, tentando dizer com os olhos “caramba, ele acabou de me elogiar, faça alguma coisa antes que eu me enterre no chão”.

—Essa é a Ashley. —Respondeu Jamie, sem tirar os olhos dos meus. —Ela é minha.

Namorada? Mulher? Garota? Não importava. Eu era dele, e apenas isso.

Eu desviei os olhos dos dele depois de alguns segundos, e nos afastamos para que Doc pudesse avaliar Chris com cautela, garantindo que ele estava bem.

Eu via no rosto de todos os presentes os quão contentes estavam.

Agora, depois do fim do mundo, em que as Almas tomaram nosso planeta e possuíram nossos corpos, cada conquista é uma vitória.

Lutávamos arduamente para resistir.

Éramos eternos sobreviventes.