A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Um guerreiro sabe que um anjo e um demônio disputam a mão que segura a espada.
Diz o demônio: "Você vai fraquejar. Você não vai saber o momento exato. Você está com medo.
Diz o anjo: "Você vai fraquejar. Você não vai saber o momento exato. Você está com medo.
O guerreiro fica surpreso. Ambos disseram a mesma coisa.
Então o demônio continua: "Deixa que eu te ajudo". E diz o anjo: "Eu te ajudo".
Nesta hora, o guerreiro percebe a diferença.
As palavras são as mesmas, mas os aliados são diferentes.
Então ele escolhe a mão de seu anjo.

* Paulo Coelho



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Confesso que demorei muito no banho, tanto que quando voltei Fiona dormia tranquilamente na poltrona, sorri enquanto jogava uma manta sob ela e me dirigia até o espelho. Desde que sai da America não tinha visto minha fisionomia, e bem, acho que deveria ter continuado assim, pois eu parecia um tanto acabada.

Minha pele poderia ser bonita, era translúcida mas que deixava em evidência as olheiras de insônia e pesadelos, algumas sardas errantes que salpicavam meu nariz, os olhos um tanto assustados que escondiam um pouco a coloração dourada, que no sol ficam âmbar. Os cabelos cobres enrolados até metade das minhas costas, que puxei de minha mãe e agora vejo que certamente da linhagem de tio Charles também, e naturalmente a boca avermelhada um pouco fina, traços do meu pai, que Tom também herdou.

Suspirei, enquanto fazia um coque mal feito e ajeitava meu vestido, saindo logo em seguida, para encontrar essa estranha Madame Lovelace. Sua casa era grande, e pelo que pude notar feita de pedras quase brancas com pilastras altas de mármore, com os mesmos desenhos de círculos e estrelas branco-azulado. Passei por pinturas elegantes, de construções de ferro altas como se tivessem vinda de um outro mundo, dirigíveis e pinturas de algumas pessoas.

Incluindo meus pais!

Sim, eles estavam ali. Minha mãe com um meio sorriso, trajando um vestido simples de pano escuro, com os cabelos cobre em um coque elegante e trazia em suas delicadas mãos um objeto estranho, como uma espada dourada com desenhos de asas logo acima. Meu pai ao seu lado sorria, com a cartola caindo para fora da cabeça, enquanto o vento fazia seu sobretudo se projetar como uma capa a sua volta, ele tinha em mãos o mesmo objeto que minha mãe.

Engoli em seco, levando minha mão até a pintura e notando que atrás dele, um edifício enorme, com janelas e estatuas ao lado. Eu nunca tinha visto nada igual. Eles não pareciam mães e pais, carinhosos e amorosos, pareciam dois jovens com sorrisos que escondia algo, olhos sombreados com mistério e uma boa dose de perigo

Abaixo da pintura, uma placa dourada dizia:

Taver  e Celestria Darrly: Mechanicis Angeli

Aquilo me parecia latim, eu não era muito boa em latim, então a pulga da curiosidade começou a coçar.

- Vejo que reconhece os jovens nessa foto -olhei para o lado, onde uma pessoa no mínimo...singular estava. Ela era alta, cabelos negros caindo até a cintura lisos como uma capa protetora envolta de si, usava um vestido preto de rendas que tinha uma gola alta, chegando até seu queixo, com um pequeno decote em V. Ela trazia nos lábios vermelhos um sorriso, os olhos verdes como esmeraldas piscando em minha direção, como se me observando de cima abaixo -Nora Darlly, pensei que nunca mais nos encontraríamos novamente.

Pigarreei de forma nervosa, enquanto enrolava meus dedos em um fio solto da minha blusa.

- Desculpe, mas nos conhecemos.

Ela sorriu se aproximando, passando os dedos finos e longos sob a pintura.

- Talvez você não se lembre de mim, mas já sim, quando era uma criança travessa. Mas seus pais, há doce Nora...-ela suspirou como se lembrando de algo bom e dolorido ao mesmo tempo, então se virou para mim -Sou Madame Lovelace, siga-me até meu escritório, precisamos conversar.

Essas palavras não soava muito bem, apenas suspirei de forma pesada enquanto a seguia.

- O que significa Mechanicis Angeli? -a palavra soava estranha em minha boca, quase amarga.

Ela não parou de andar, enquanto virava pelos corredores banhados pela luz da manhã.

- Como disse, precisamos conversar.

Fiquei em silêncio, pois em seu tom de voz consegui notar que ela não queria saber de perguntas. Andamos pelos corredores por tempo indeterminado, e fiquei aliviada quando vimos que de fato tínhamos um destino, a grande porta de carvalho branco estava aberta, deixando a mostra uma bonita escritório, de janelas amplas e cortinas esvoaçantes.

- Aconteceu novamente! -gritou alguém dentro da sala, pude notar ser Susan, que parecia agitada, enquanto amassava o jornal entre as mãos -Bastardo! Irei matá-lo com gosto quando encontrá-lo!

- Hó céus se acalme mulher -Madame Lovelace falou com desânimo, enquanto caminhava até sua mesa e enxotava com apenas um aceno de mão Ian de seu assento cor púrpura, ele não olhou em minha direção apenas se interessou por um pote, cheio de borboletas secas que pendia ao lado do abajur cor cobre -Mas alguém me diga o que ouve, ou então vão gritar em outro lugar.

- Ele atacou de novo, uma moça jovial que passeava pelo park Hinkston, era tarde e ninguém ouviu seus gritos, seu copo foi descoberto ontem em total decomposição.

- Algo a mais? -Madame Lovelace parecia despreocupada, Susan fechou os olhos, caminhando em passos largos pela sala larga.

- Seus órgãos foram retirados e seu sangue drenado -então seus olhos ficaram escuros, e ela sussurrou baixo -Você sabe onde isso vai dar?

- Um maníaco, talvez um idiota qualquer...como...como estão chamando-o mesmo -ela levou delicadamente o dedo fino até os lábios, mas quem respondeu fora Ian.

- Corvo negro ou Sr. da madrugada....nomes de fato sem criatividade, mas que enchem a cabeça dos poetas.

Madame Lovelace sorriu com algo que parecia carinho para Ian, que se silenciou e voltou a suas fajutas observações de borboletas em conserva. Susan abriu a boca mas som algum saiu, então jogou o jornal no chão.

- Vocês são loucos! Pirados! -ela apontou um dedo para mim e balançou a cabeça, fazendo seus cabelos selvagementes voarem para os lados -Espero que não fique desse tipo, seca de sentimentos!

- Susan...sempre a emotiva, sempre dando trabalho-Madame Lovelace olhou para suas unhas, então para Ian -Vá lá meu jovem, há trabalho a ser feito.

 Ian suspirou e marchou para fora, eu queria que ele se virasse para mim, eu lhe devia muitas coisas, mas Madame Lovelace apenas fez sinal para que eu me sentasse. E eu o fiz.

- Mais uma mulher morta, a quanto tempo isso tem acontecido? -perguntei pegando o jornal do chão e lendo a manchete, que não trazia muitas observações.

- A algum tempo, tempo até demais -ela então se aproximou, cerrando os olhos em minha direção -E isso minha jovem Nora, tem de acabar.

Assenti, feliz por ela perceber o óbvio.

- De fato, mas a Madame sabe algo? -sim eu desconfiava dessa onde de mistério que parecia emanar de sua pessoa, ela apenas riu, um som distante e parado.

- Apenas o necessário.

Fiquei um pouco alarmada, enquanto uma onda de medo e frio passava sobre mim.

- Ora, porque ainda não foi até a policia!

Ela sorriu, sem som, apenas me mostrando seus dentes afiados e brancos. Se levantou com a graça de uma das borboletas em seu jarro e caminhou até a janela, puxando as cortinas e proibindo a entrada de qualquer luz do sol.

- Você tem muito que aprender ainda...jovem e inocente Nora.

Algo atrás das minhas pálpebras pulsou, eu soltei um gemido alto enquanto cores dançavam em frente a meus olhos, e uma musica era tocada. A mesma musica que dançava em meus pesadelos, aquela sinfonia delicada e sombria, sendo misturada com os tique-taques insistentes do relógio, mas agora em meio as luzes que dançavam a minha frente, eu via asas...asas mecânicas se batendo de forma apressada, lançando em minha direção um vendo que trazia consigo o perfume de mil flores.

Ouvi de longe a voz de Madame Lovelace, mas ela parecia sorrir, enquanto dizia.

- Mechanicis Angeli...minha querida.... Mechanicis Angeli doce Nora.

Pisquei me sentindo atordoada e com náuseas, lagrimas quentes picavam o canto dos meus olhos, estava debruçada sobre sua mesa, enquanto a mesma brincava com um tipo de espada pálida, que tinha uma ponta afiada e brilhante, que reluzia uma luz azul estremecida.

- O que está acontecendo? -sussurrei de maneira dolorida, falar fazia minha garganta arranhar.

Ela não sorriu, apenas apontou a lamina afiada em minha direção, e começou a contar uma das histórias mais absurdas que já ouvi na vida:

- Que os anjos nos proteja e os mortos fiquem para sempre abaixo da terra.....


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Notas finais do capítulo

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