A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

O mundo é mesmo assustador; você acredita mas o que você vê
Você consegue ouvir o imortal, suas lagrimas brancas como a neve
Sorria, e seja bem vindo a terra do vapor
No final, pouco conseguimos fazer sozinhos.

George Pirip



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Eu deveria estar assustada, eu deveria estar chorando, no mínimo eu deveria estar histérica, enquanto era erguida pelos céus, com um enorme e apertado braço mecânico me elevando do chão. Mas eu apenas permaneci em silêncio, sentindo o vento da madrugada, passar por mim como lâminas afiadas, a adrenalina me mantendo de olhos arregalados, enquanto meus pés flutuavam no nada logo abaixo de mim.

Estava sendo levada em direção a dirigível, eu nunca tinha visto um assim tão de perto, mas posso dizer que é bem assustador. Ele era todo negro, se misturado com as brumas da noite, um tanto discreto de janelas marrons redondas, exalando um vapor branco, as mesmas se misturando com nuvens que pousavam delicadamente pelo céu noturno.

O braço que me guiava até lá, saia de uma das janelas, eu conseguia ouvir- agora que estava mais perto- seu mecanismo girando lá dentro com força total. Olhei de relance para baixo, a adrenalina dando lugar a um medo que fazia minha respiração vir em lufadas irregulares. Estava alto, extremamente alto, as luzes da rua eram quase como pontinhos sem importância.

Gritei novamente, sem muita idéia do que fazer ou do que esperar.

- Isso é muito mais divertido quando se faz a noite! -gritou alguém, na mesma hora tentei olhar para os lados, de forma que vi apenas um vulto vindo em minha direção. Gritei enquanto alguma coisa se chocou com o ferro do braço enorme e fez tudo tremer, pisquei tentando pegar foco das coisas, mas tudo que consegui em meio a bagunça, fora um flash de luz dourada, que dilacerava o braço mecânico em fatias finas e douradas.

Isso não era bom!

Um barulho horrível fez meus ouvidos arderem, era como as engrenagens de um trem desenfreado, enquanto eu sentia os dedos cada vez mais frágeis a minha cintura. Olhei para direção do dirigível, onde poucas coisas erma visíveis pela pequena janela, mas o que vi me fez gritar, tanto de alivio quanto por medo; seu cabelo era cintilante na luz opaca e branca que vinha de dentro do dirigível, algo brilhante rodava seu pescoço, mas sua fisionomia era a mesma.

- Tom! -gritei, enquanto por fim o braço que me sustentava se desfez em pequenas peças, até se tornar absolutamente nada e cair ao chão, assim como eu, que caia em pura queda livre. Era estranho, e talvez patético já que estava de camisola, mas mesmo assim a visão das estrelas me fazia sonhar.

Mas antes que eu atingisse aquela rua de pedras macilentas e parcialmente sujas, senti mãos me agarrarem, em um solavanco agarrei as mangas da pessoa, me segurando ali como se minha vida dependesse disso, e bem, de fato dependia.

- Você não grita muito -era Ian, ele sorria como se estivesse se divertindo, enquanto suas mãos agarravam meu pulso com força. Seus cabelos estavam bagunçados, e seus olhos pareciam selvagens e estranhamente brilhantes, enquanto um colar com uma luz dourada pendia caindo para fora de seu casaco -Sabe, aprecio pessoas que não ficam histéricas em situações como essa.

- Tom! -gritei por cima do vento, enquanto apertava suas mãos -Era Tom!

Ele negou, então eu gostaria saber como ele estava voando por ali, lentamente percebi que a sua volta havia tiras de couro, que seguravam um tipo de asas de metal atrás de si, que se balançavam como asas de uma libélula. Isso era tão estranho, que chegava a ser belo.

Por fim, o mesmo apenas me segurou de forma que eu conseguisse apoiar minha cabeça em seus ombros.

- Não era não -suspirou, eu estremeci -Agente gosta de ver coisas que não estão de fato ali.

Olhei com mais atenção as engrenagens da “asa” de metal, e notei que elas tinham desenhos estranhos, como círculos e estrelas brancas, que reluziam um pequena luz palida.

- Eu sei o que vi! -argumentei cansada -Como...de onde tirou essas...asas?

- Seu tio, Charles é um ótimo inventor.

Eu sabia, então tudo pesou sobre mim como se eu estivesse por um dia carregando o peso do mundo sob meus ombros. A mulher e sua morte terrível, eu ainda via seu sangue manchar meu vestido, tio Charles e suas conversas estranhas e em código, a visita de dois estranhos de madrugada no apartamento do mesmo, essa....coisa me agarrando pela janela e me levando em direção a Tom, sim era ele!

Estava entrando em colapso. Minha respiração se cessou um pouco, e por um momento senti minha cabeça enevoada.

- O que era aquilo? -suspirei de forma baixa, mas que certamente ele ouviu.

- Depois falaremos sobre isso.

Eu queria argumentar, mas não tinha forças suficientes, então apenas deixei a inércia do cansaço me puxar para baixo. No mundo dos sonhos, não havia tanta confusão, quanto minha verdadeira vida.

..................................................

Alguma coisa queimava de leve minha pele, era um sentimento bom e aconchegante, mas que aos poucos estava se tornando irritante. Abri os olhos com lentidão, sentindo minhas pálpebras pesadas, bocejei enquanto me sentava e ficava um pouco feliz e um pouco triste, e muito infeliz para ser exata.

Feliz pois eu não tive pesadelos estranhos e incoerentes, triste e infeliz por saber que tudo que passei não fora um sonho.

Não mesmo, pois minha camisola que um dia tivera bonitas rendas vermelha clara e o tecido de seda branco algodão, estavam agora sujos e rasgados. Estremeci de leve, enquanto olhava com estranheza para o quarto.

Onde eu estava?

Mais essa agora!

- Nora! -virei minha cabeça para o lado, onde em uma enorme poltrona de couro bege, Fiona estava sentada meio sem jeito, com um roupão longo verde musgo ao seu redor, ela sorriu de forma aliviada e caminhou até a cama -Como está se sentindo, soube que enquanto e dormia sua noite estava sendo bem agitada.

- Você nem imagina o quando -suspirei, sentindo que ainda não tinha dormindo o suficiente -Onde estamos afinal, essa não parece a casa do tio Charles.

Ela negou, enquanto olhava para janela que exalava um sol de inicio de manhã, quente e um tanto abafado.

- Não mesmo, quem dera seu tio tivesse bom gosto para papeis de parede e pinturas -então me olhou, com os olhos cristalinos cheios de insegurança e desagrado -Casa da Madame Lovelace.

Fiquei com o nome pendurado em minha cabeça, um nome que não me trazia lembranças alguma.

- De fato, acho que você deve saber que estou perdida -então suspirei, sentindo um nó na garganta -Cheguei ontem, e já fui atacada por um braço mecânico e vi um assassinato, me diga se tem chances de Madame Lovelace ser alguém um pouco normal.

Fiona se levantou, sorrindo um pouco quanto me ajudava a sair da cama, ela apenas ajeitou os cabelos em uma fita branca.

- Bem, conheça-a e tire suas próprias conclusões.

- Isso não vai ser bom certo? -perguntei mais para mim mesma do que para Fiona, que apenas se sentou na poltrona, fechando os olhos e esticando os braços de forma relaxada, então me dando um olhar desafiador.

- Se prepare Nora, hoje será um dia e tanto.

A única coisa que eu fiz, foi suspirar, eu não tinha uma boa impressão dessa tal Madame Lovelace, muito menos desse dia.

De fato minha vinda para casa de tio Charles, não ia ser tão tranquila como imaginei. Nem um pouco, não mesmo.


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Notas finais do capítulo

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