Acho que eu não deveria ficar surpresa com o que iria ver, mas foi impossível. Estava ali, a pobre alma caída, com um grande corte em seu estômago, ela estava com os olhos pálidos arregalados para a noite, e a boca aberta em um grito terror.

– Foi...será que foi o mesmo que matou as anteriores? -perguntei em um sussurro para Ian, que não tinha sentimento algum passando por seu rosto, apenas uma máscara fria -Acha que a criatura está por trás disso?

– Sim, aliás não acho, tenho certeza -então o mesmo olhou ao redor, sabendo que logo uma multidão enlouquecida que logo estaria aqui.

–Temos de avisar Lovalece e aos outros markers, chame seu tio Nora, os policiais estão vindo, eu sei como tratar deles.

Havia uma urgência em sua voz, algo quase desesperado que me fez sentir uma adrenalina estranha. Por uma última vez passei meus olhos sobre a cena do crime, e peguei algo que certamente ele tinha visto, mas não tinha me contado. Era uma escrita, algo escrito a sangue na parede

“ Finalmente está começando”

Eu sabia que deveria correr até Charles, ou até mesmo dissipar a multidão, mas me sentia paralisada.

–Nora! -Alguém puxou meu braço e era Susan, gostaria de saber como Ian conseguiu chamá-los tão rapidamente, markers tinham algum poder de mente? -Nora entre e chame Charles, isso aqui não vai ficar melhor.

– Mas eu sou parte de vocês, quero ficar para ajudá-los, cansei de fugir Susan -na hora em que falei isso, ouve um brilho em seus olhos que se alastrou por seu sorriso.

– Eu sei disso Nora, sabe acho que dessa vez Ian soube exatamente escolher uma pessoa para ficar ao seu lado -acho que ela notou com exatidão a vermelhidão do meu rosto, mas nada disse -Mas você saberá a hora certa para agir, agora vá chamar Charles.

Enquanto corria de volta para chamar Charles, percebi pelo canto dos olhos que Phill estava junto a Ian, falando alguma coisa com os policiais que tentavam dissipar a multidão, Lovalece parecia inquieta enquanto olhava para um instrumento vermelho em suas mãos, pela primeira a vi preocupada.

Corri em direção ao prédio de Charles, que não parecia assim tão longe do beco, mas quanto mais eu corria, mais longe eu parecia estar. Por fim, quando consegui ver o vislumbre da janela da sala, percebi que a luz estava acesa, isso me aliviou, certamente eles já devem estar acordados.

Mas a sensação de alivio foi embora, quando algo me puxou para trás, me fazendo cambalear e cair sobre as pedras disformes da rua.

– Você mesmo mocinha, temos um recado da grande criatura para você -só consegui arregalar meus olhos, enquanto um homem de aparência mediana se aproximava, seus olhos eram brancos e sua pele amarelada, ele parecia...podre.

– Fique longe de mim! Sabe que posso acertar uma faca em sua coração em um piscar de olhos -disse me colocando de pé e cerrando meus olhos, era mentira pois eu tinha uma péssima mira e bem, nem uma faca eu tinha.

Mas aquela coisa apenas riu, enquanto com suas mãos de unhas em forma de garra apertarem meu braço.

– Poderia, seu eu tivesse um.

Tentei sair do seu abraço sufocante, mas era impossível, consegui apenas gritar enquanto a escuridão começava a me engolir, e por fim ela conseguiu.

*

Acorde...Acorde...Nora, estou esperando por você.

Meus olhos ardiam, tossi enquanto minha garganta parecia arranhada e meu corpo moído. Tateei o chão, sentindo o frio sob o toque e sujo com uma fina camada de pó branco, estava frio, mas meu corpo parecia em chamas.

– Vejo que finalmente acordou, preciso de você para terminar de cumprir o meu legado.

Me sentei, arrastando minhas pernas para conseguir ficar de pé, mas tudo que via era escuridão, apenas havia um feixe de luz pálido vindo de algum lugar, que me deixava ver o chão. Minha cabeça rodou, enquanto eu procurava está voz, que era tão estranhamente conhecida.

– Quem está ai? -fiquei um pouco feliz em conseguir dizer isso sem que minha voz tremesse.

Ouvi passos caminhando em minha direção, tentei me afastar mas minhas pernas não obedeciam aos meus comandos, aos seus passos que se aproximavam a temperatura parecia abaixar. Junto a seus passos, outros montes se movimentavam para mais perto, me deixando com os olhos arregalados de medo.

– Não conhece minha voz -eu sabia que...isso estava sorrindo, de fato eu conhecia, só não me lembrava de quem era-Sou aqueles que os markers mais temem, sou a criação profana, aqueles que levantara os mortos e exterminara os que entrarem em meu caminho, sou aquele que irá trazer para esse mundo uma nova era.

Engoli em seco, enquanto a ficha começava a cair.

– Criatura.

Ouve um riso que ecoou por toda a sala escura.

– Odeio isso, não sou uma criatura, apenas um homem normal -quando...ele entrou em minha visão, parando no feixe pálido de luz eu senti meus olhos queimarem, enquanto minha boca assim como todo meu corpo tremia. Tudo estava ainda tão idêntico, desde seus olhos azulados aos cabelos ruivos, o sorriso sempre amigável estava escondido por um cheio de presas afiadas. Eu consegui me afastar, então seu rosto se tornou falsamente dolorido -Porque está se afastando querida irmã, não gostou de me ter de volta.

Ainda com o medo que paralisava meus sentidos, consegui notar uma horda de pessoas atrás de si, como um exército. Eles eram caveiras, outros pareciam pútridos, consegui até mesmo ver uma das mulheres mortas no banco parada ali, encarando a mim com a cabeça torcida em um ângulo estranho, enquanto seu vestido rasgado, mostrava um terrível corte.

– Tom...-minha voz estava estranha, e parecia pertencer a qualquer um, menos a mim -O que você fez!

Ele riu, enquanto as órbitas claras se viravam para trás, tornando se vermelhas carmesim.

– O que eu fiz não, o que eu irei fazer. E você adorada irmã, irá me ajudar.