A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas...

*Charles Bukowski



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/418078/chapter/17

Altrose me parecia uma cidade portuária, cheia de gaivotas. Havia o mar e navios encourados sobre eles, parecendo como pontinhos pretos na imensidão azul. A cidade era construída por prédios baixos e brancos, ou casas de madeiras de dois andares com venezianas pintadas de vermelho.

– O que estamos fazendo aqui afinal? -perguntei a Charles, enquanto atravessávamos a rua de pedras cinzentas e seguíamos até uma rua reta cheia de pequenos comércios que vendiam de jóias, livros a peixes e outras iguarias.

– Procurando por um amigo -ele levou o braço mecânico até a cabeça -Mas onde será que ele mora mesmo?....Mas de qualquer forma, gostaria de travar uma conversa com ele e você, bem seria bom se ouvisse

Assenti em silêncio enquanto seguíamos um tanto perdidos pelas ruas desconhecidas, mas Charles de qualquer forma parecia saber onde estava e isso me tranquilizou um pouco. Por fim chegamos em um prédio pintado de um tom pálido de azul, ele parecia abandonado, mas pelo rosto de Charles seu amigo deve viver por ali.

Ele subiu até os pequenos degraus, abrindo a porta de vidro com facilidade e entramos em um salão pequeno, com uma escada sinuosa que nos levava para cima. Sem dizer uma palavra, subimos para cima, eu apenas observava tudo com atenção, mas tudo que via eram caixas e mais caixas empoeirada uma em cima das outras, seguido de maquinas de escrever velhas e marcas de tinta pelo chão.

– Quem afinal mora aqui?-exclamei enquanto subíamos degraus empoeirados, parecido não ter sido usados por um bom tempo.

– George Pirip.

Quando ele falou isso eu simplesmente deixei minha boca ficar aberta, então a fechei.

– George Pirip o escritor? -perguntei um tanto tola e idiotamente, Charles abriu um pequenos sorriso, enquanto subia mais acima.

– O mesmo, ele saberá nos dizer algumas coisas.

– Mas...mas pensei que ele estivesse morto!

– Há não -ele disse rindo, com um humor que eu gostaria de achar nessa situação estranha -Velho amaldiçoando a todos, mas morto...bem até a última vez que pisei aqui não.

Apenas permaneci em silêncio, sentindo que mais descobertas viriam por ai, bem nada que de fato eu iria gostar. Por fim quando chegamos em um longo corredor, com apenas uma porta, Charles já sabia o que fazer, sorri para mim mesmo vendo sua batida secreta.

– Charles sei que é você seu gênio maluco -gritou alguém do lado de dentro -Entrem e feche a maldita porta!

Charles olhou para mim e me abriu um sorriso amplo.

– Vivo como nunca, venha.

Dentro do seu pequeno apartamento era tudo uma bagunça, seguido por mais bagunça e muitos livros por todos os cantos. As cortinas escuras não deixavam a claridade entrar, sendo assim sua casa era toda iluminada por velas em candelabros espalhados pela parede. Sentado em uma poltrona de couro estava um homem, ele não parecia ter idade definida, não era velho nem novo, mas sim meio termo.

– Ora meu amigo, quem é a jovem junto a você? -perguntou sem desgrudar os olhos do livro ao seu colo.

– Minha sobrinha Nora.

O homem suspirou, fechando o livro e erguendo seus olhos para mim. Ele usava óculos de aro grosso, enquanto os cabelos eram amarrados em um pequeno rabo de cavalo escuro atrás de sua cabeça, seus olhos pareciam ter cor de grama, enquanto fungou em minha direção.

– Sinto cheiro de Marker, ela é uma também estou certo.

Desde quando Markers tem cheiro?

– Sim -Charles respondeu com um tom de amargura -De qualquer forma, nem sempre se pode fugir do destino.

George riu se levantando, observei que ele usava um roupão roxo de camurça, enquanto seus dedos eram cheios de anéis. Ele era completamente o oposto do que eu esperava.

– Mas você conseguiu escapar direitinho e isso nunca lhe incomodou -riu para si mesmo, se virando para mim -E você Nora, prazer em conhecer.

– Igualmente...então, pelo que li sobre o que escreve você é o que, o escritor pessoal dos Marker?

– Não, apenas o oráculo.

Senti minhas sobrancelhas se juntarem, enquanto ele me media com os olhos. Por fim Charles lhe passou um pedaço de papel.

– Creio que sabe como nossa situação está -resmungou ele se jogando sem cerimônia no sofá cheio de pó de George, que pegou o papel como se fosse radioativo -Houve outro ataque, essa em frente a minha casa, mas dessa vez ele deixou um bilhete, o que você acha?

Ele lia em silêncio, fazendo caretas enquanto rodava sobre a sala e seus olhos lampejavam sobre o que se passava em sua mente. Então ele riu, um som engasgado, enquanto jogava novamente o papel em direção a Charles.

– Alguém está realmente fazendo pegadinhas com vocês -ele riu mais uma vez -Sabe, isso me soa cômico, é verdadeiramente uma mensagem de “vocês não podem fazer nada” apesar que sempre desconfiei, Markers para mim são meros....nada.

Charles suspirou, enquanto amassava o papel.

– Mas bem que você já foi um.

– Coisas do passado, coisas que realmente não quero me lembrar.

– Tudo bem!-argumentei por fim querendo que eles acabassem com essa pequena discussão inútil -O que sabe nos dizer sobre isso? Conhece a caligrafia, isso tem algo a ver com...bem você sabe....a criatura?

– Creio dizer que sim, e vocês bem, obviamente sabem quem é.

Olhei para Charles que assim como eu, mantinha uma careta no rosto. Estava começando a ficar irritada com essas conversas sem noção.

– Isso não esclarece muitas coisas para nós.

Mas George não parecia se importar, apenas deu de ombros enquanto abria um bocejo.

– De qualquer forma vocês irão rapidamente descobrir, se eu falar qual será a graça.

– Mas isso não é para ter graça! -argumentei me levantando-A pessoas inocentes morrendo!

– Inocentes? -ele disse com ar de rir -Você é tão inocente que é uma pena estar jogada nesse mundo podre que é dos Markers.

– O que ele quer dizer?-perguntei me virando para Charles, que apenas se levantou.

– George não sabe o que diz, mas bem vejo que isso foi uma perda de tempo, vamos Nora, temos ainda um desafortunado encontro com Lovalece.

– Aquela mulher horrenda, espero que ela saiba que ainda a odeio e claro, que jamais irei voltar a escrever meus livros para as crias dela.

– Certamente ela sabe, já que você está proibido de pisar em Cantis Shard -Charles riu, enquanto abria a porta e sumia pelo corredor, estava prestes a segui-lo mas George me chamou, me fazendo encará-lo, o mesmo parecia um pouco mais obscuro.

– Nora Darlly você deveria voltar para sua adorada America o mais rápido possível, o que está para acontecer aqui não será bonito, haverá perdas grandes e descobertas devastadoras.

– Eu já perdi muitas coisas, não a nada para mim naquele lugar, a não ser uma vaga suja em algum orfanato.

– Você está errada -ele dizia baixo, enquanto piscava de forma rápida -Ainda a seu irmão.

Era horrível como ele sabia coisas sobre nós, mas mesmo assim tentei me manter imponente.

– No momento ele está desaparecido, em meio a essa confusão pretendo encontrá-lo.

Ele voltou a se sentar, encarando novamente com desinteresse o livro que trazia consigo.

– Por isso mesmo que eu comentei, haverá descobertas devastadoras, acho que você não conseguirá suportar Srta. Darlly.

Senti meus punhos se cerrarem, enquanto minha cabeça latejava com uma dor adormecida, que começava a ganhar forma.

– O que sabe! O que sabe sobre tom?

– Nada de mais, o fim de todos os Markers está próximo, no dia certo você irá saber -bufei querendo pensar que ele era apenas um louco exilado e deixar o que ele disse para trás, mas era impossível -E Nora -me virei novamente, e ele deixava um sorriso dançante em seus lábios finos -O diário de Sophie Iscked traz certas coisas que você não irá gostar de ler.

Apenas lhe dei um sorriso seco, enquanto apertava o diário com força.

– Isso me deixa ainda mais curiosa, mas de qualquer forma obrigada pelo aviso.

Enquanto saia pelo corredor, pude apenas escutar o seu.

– Depois não chore ou fique traumatizada, eu apenas lhe avisei.

Apenas sentia meus dedos coçarem por querer saber quem era Sophie e sua história, mas mesmo assim o sentimento ruim sobre Tom e tudo que George falou queimavam em minhas entranhas. Em uma sede insaciável pelo desconhecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

???