A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura."

*Charles Bukowski



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/418078/chapter/13

Apesar de tudo que tinha passado, coisas assustadoras devo confirmar, era simplesmente impossível pregar os olhos. Enquanto Charles se enfurnava dentro do seu escritório, em busca de algo que ele chamava como “Estudo das coisas obscuras” fiquei encarando a cidade, em sua gloria anoitecida, enquanto bebericava um chã de ervas frescas que Fiona tinha preparado.

O relógio parecia piscar para mim, badalando seus sinos musicais enquanto a madrugada se estendia sobre a cidade. Fiquei ali, de frente a janela tentando entender seus mecanismos estranhos, e percebi com curiosidade estatuas de anjos, com asas abertas como se travando uma batalha contra o tempo. Eram estatuas brancas, que ficavam em lados opostos e estratégicos do relógio, tinham asas quase brilhantes.

- Vejo que notou algo que passa despercebido por todos -não virei para trás, enquanto Fiona como um fantasma ficava ao meu lado na janela, com seus dedos finos traçando um desenho sobre o vidro límpido -Existe toda uma história por trás daqueles protetores de branco.

- Conte-me -disse por fim tomando um gole do chã, que já estava frio. Ela sorriu e deu de ombros, como se fosse uma história sem importância.

- Dizem que a cidade de Cantis Shard é a morada dos anjos, guiadores que protegem nossa cidade e seus moradores contra forças do mal. A muito tempo havia um escritor, George Pirip era um louco, completamente lunático e um artista -sua voz era musical, enquanto seus olhos ganhavam um brilho flamejante animador -Estava certo de que havia algo no relógio da cidade, algo nos anjos de mármore que guardavam um mal que se descoberto pela pessoa errada, causaria grandes devastações não só a cidade...mais ao mundo que conhecemos.

Olhei em sua direção, com uma pitada de curiosidade e assombro.

- Guarda um mal? Isso...bem de alguma forma...-eu não sabia como dizer, na verdade Fiona me parecia a pessoa mais normal de toda essa bagunça, seria possível que ela soubesse sobre a lenda e o criador, por via das dúvidas fiquei em silêncio, mas consegui notar um sorriso de lado se abrir em seus lábios.

- Meu marido trabalhava como braço direito de Madame Lovelace, ele foi morto por...bem, por esse homem que aterroriza nossas ruas.

Engasguei, fazendo o chã ir para um caminho errado.

- O que? Você! Então...você sabe sobre a loucura toda?-ela assentiu, seu rosto sendo encoberto pelas sombras -Bem pensei que esse sujeito assassino, matasse apenas mulheres.

Ela negou ainda em silêncio, seus cabelos formando uma cortina a sua frente.

- Na verdade qualquer um que entrar em seu caminho.

Isso fez meu corpo gelar, mas tentei manter isso como um segundo problema.

- Pois bem, você sabe se o mal do relógio tem algo com a lenda?

Ela bocejou, como se de repente o peso da madrugada tivesse caído sobre seus ombros, me dando um fraco sorriso, enquanto brincava com uma pulseira de pedras brilhantes em seu pulso esquerdo.

- O único que deve saber sobre isso é o próprio George, mas ninguém sabe se está vivo ou não, ou onde se esconde, até mesmo Lovalece e seus Markers nunca conseguiram encontrá-lo, talvez jamais saberemos sobre isso.

Por um momento minha língua formigou, querendo lhe contar sobre esses estranhos sonhos e a musica que vinham em mina cabeça, mas algo me deteu, algo profundo me dizia que isso era para se manter em segredo, a hora da verdade veria com o tempo, então eu saberia o que fazer.

Eu espero que eu saiba. Por fim apenas assenti, enquanto lhe dava um sorriso sonolento.

- Obrigada por me contar, boa noite Fiona.

Ela acenou, enquanto sumia por entre os corredores escuros da casa de Charles. Mas eu não estava com sono, pelo contrario estava muito esperta e mais do que nunca curiosa. Larguei a xícara perto de um pequeno piano fechado e caminhei em direção ao escritório de Charles, dessa vez batendo na porta para não ganhar surpresas inesperadas.

Sua janela estava de certa forma reconstruída, com as cortinas dançantes puxadas para o lado, enquanto o mesmo trabalhava como louco, com os cabelos agitados acima da cabeça, usando um jaleco cinza e grandes óculos que deixavam seus olhos gigantes.

Ele não falava sozinho, conversava com...Robby.

- Tio -disse lentamente abrindo a porta em um vão -Posso lhe perguntar algo, é rápido e não irá ocupar seu tempo.

- Há claro, estou mesmo ficando louco com isso!-dizia quase exasperado enquanto jogava alguns papeis no lixo -Robby veja como anda o processo radioativo.

A aranha fez um ruído estranho, então caminhou pelo tato sumindo por uma abertura escura, certo estou ainda tentando me acostumar com isso.

- Certo, gostaria de saber se tem algum livro de George Pirip.

- George Pirip -o nome em sua voz soava estranho, mas ele tentou sorrir, mas eu sabia que havia algo a mais ali -Bem, acho que tenho algumas coisas, deixe-me ver.

Ele deixou sua mesa de lado e caminhou para sua enorme estante de livro, subindo em uma pequena escada de rodinha, enquanto lia alguns títulos e memorava consigo mesmo, quando apareceu achar o que queria ele gritou jogando em minha direção, consegui pegar antes que ele chegasse ao chão.

- Obrigado tio.

- E Nora, saiba o que irá fazer com isso, digamos que George não pé alguém que eu recomende para você.

Esse “você” fez algo tremular em minha alma, eu apenas apertei o livro em meu peito, tentando lhe entender.

- Tudo bem, terei...cuidado.

Fechei a porta, antes que ele falasse algo que me confundisse ainda mais ou Robby novamente aparecesse. Segui para meu quarto, deixando um feixe da noite estrelada banhar o quarto, enquanto sua luz pálida caia de forma delicada sobre minha rosa, que deixei no meu criado mudo, ao lado de uma foto minha e dos meus familiares...normais e sem espadas, e meu diário secreto, ela parecia a única coisa absurda, que de certa forma não fazia sentindo e se destacava.

Mas era um lembrete, de que algo em minha vida de fato estava além da compreensão de qualquer um. Talvez fosse isso que Ian gostaria de me mostrar, ao mesmo tempo que lhe agradeço eu tenho vontade de apenas ignorar, mas sei que não posso fazer isso.

Por fim apenas suspirei, passando o dedo sobre a capa de couro verde musgo, com nenhuma letra, nenhuma frase, nenhum titulo. As folhas era de um tom agradável de creme, antigo e que cheirava a grama recém cortada, havia uma breve assinatura sua, então uma frase que parecia ter sido feita diretamente para mim:

“Se quiser descobrir, siga em frente ou então nem mesmo ouse virar as paginas. Nas folhas despidas da verdade, na crua e desnuda descoberta pode haver efeitos, como....perda de família e amigos...estou lhe avisando apenas, não serei seu amigo muito menos inimigo, apenas o narrador de algo que você irá entender ou ficara a mercê do nada.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

????



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Mecânica Dos Anjos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.