Recomeçar escrita por mybdns


Capítulo 2
Capítulo 2




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Seis meses depois, Melanie Lewis chegou cedo para o seu primeiro dia de trabalho no Departamento de Polícia de Nova York. Estacionou sua moto numa vaga qualquer e entrou no elevador. Olhou-se no espelho e gostou do que viu. Aos vinte e nove quase trinta anos de idade, estava melhor do que se estivesse com vinte. Era uma mulher bonita, pele morena clara, cabelos castanhos escuros ondulados, olhos verdes levemente estrábicos, nariz fino, lábios nem muito grossos, nem muito finos, equilibrados. Tinha um metro e sessenta de altura e sessenta e cinco quilos. Era a filha única de James Lewis, um policial aposentado e de Esther Karpienko, uma bailarina russa, cuja família tinha origem judia e com a ameaça nazista na Europa tiveram que se instalar na América. Aprendeu a ser forte com a vida. Sua mãe fora assassinada quando ela tinha doze anos, na saída de um teatro. O pai prendeu o assassino e ele havia recebido sentença de morte. Chegou ao andar da Polícia Criminalística e parou na recepção.

- Oi, bom dia. Meu nome é Melanie Lewis e...

- Bom dia. O detetive Taylor já havia me avisado sobre você. – disse interrompendo. – a sala dele é aquela à esquerda. – disse apontando.

- Muito obrigada... Cintia. – disse olhando no crachá. A moça deu um sorriso e Melanie foi até a sala de Mac. Bateu na porta e ele acenou para ela entrar.

- Melanie! Como vai? – disse apertando a mão dela.

- Muito bem, detetive.

- E o seu pai? Como está?

- Bem. – o pai de Melanie já havia trabalho com Mac.

- Ótimo. Então, aqui estão seus instrumentos de trabalho. Sua maleta, seu distintivo e sua arma. Você pode deixar suas coisas no vestiário, no fim do corredor.

- Obrigada, Mac.

- Seja bem vinda. – ela saiu da sala e foi para o vestiário. Olhou os armários e viu um vazio. Colocou seu capacete e sua bolsa lá dentro e fechou. Saiu de lá de cabeça baixa e trombou em alguém, que derramou café em sua blusa.

- Oh! Desculpe-me. – ele disse. – eu deveria olhar pra onde eu ando.

- Imagina, eu que estava de cabeça baixa. – disse levantando a cabeça e olhando o belo homem que estava à sua frente.

- Eu sujei sua blusa, eu sinto muito mesmo.

- Não tem importância, eu tenho outra na bolsa. Sou precavida.

- Que bom! A propósito, como é seu nome?

- Melanie Lewis. Prazer. – disse estendendo a mão.

- Don Flack. – disse retribuindo o aperto.

- Eu vou trocar de blusa, com licença.

- Pode ir. Seja bem vinda.

- Obrigada. – Melanie abriu o armário e pegou a blusa reserva que ela guardava na bolsa. Entrou no banheiro e se trocou. Havia algo de estranho naquele homem. Tinha olhos tristes e vazios, parecia que não dormia há meses. Ela ficou se perguntando o que tinha acontecido em sua vida para ele ter tal aparência. Saiu do vestiário e viu Mac, que vinha em sua direção.

- Melanie, temos um caso.

- Vou pegar minha maleta.

- Eu trouxe pra você.

- Muito obrigada. – os dois seguiram para a cena do crime. Era uma casa de dois andares, em Manhattan. Melanie cruzou a linha amarela e entrou no local. Viu o mesmo homem de olhos azuis que derrubou café em sua blusa conversando com outro, loiro, que estava numa cadeira de rodas.  

- Quem é você? – perguntou o loiro à Melanie.

- Melanie Lewis, sou a nova perita. – disse estendendo a mão.

- Prazer, Danny Messer. – disse apertando a mão dela. – esse é...

- Don Flack. Já nos conhecemos. – ela disse.

- Vocês já se conhecem?

- Eu derrubei café na blusa dela hoje de manhã. – explicou.

- Entendi.

- O que aconteceu aqui? – perguntou Melanie adentrando a casa e vendo o  primeiro corpo ensanguentado na escada. 

- As vítimas são Dolores Newton, doze anos e o padrasto, Hector Lopéz, de quarenta e dois.  A mãe não estava em casa. A vizinha disse que achou estranho quando não viu a garota indo para a escola de manhã e foi checar o que estava acontecendo. Viu a porta encostada e entrou. Assim que viu os corpos, chamou a polícia. – disse Flack.

Melanie parou por um instante frente ao corpo da garota. Ela estava de bruços, com uma perfuração de bala na nuca. O legista a virou e ela pôde ver melhor o rosto da criança. Tinha algumas sardas no rosto, cabelos ruivos. Sentiu um nó na garganta. Casos com crianças sempre mexiam com ela. Tirou algumas fotos da cena e começou a andar pela casa em busca de algo mais. Lá em cima, estava o segundo corpo com uma perfuração de bala no abdômen.

- Oi, como vai? – disse uma detetive de cabelo curto.

- Tudo bem. Sou Melanie Lewis.

- Lindsay Messer. Seja bem vinda.

- Obrigada. Encontrou alguma coisa? – disse entrando no quarto da garota.

- Nada de comprometedor. Apenas coisas de meninas de doze anos.

- Casos assim me deixam frustrada. – ela comentou.

- Você não é a única.

Melanie e Lindsay reviraram o quarto em busca de algo e encontraram um diário.

- Ei! Lindsay. Olha o que eu achei.

- Um diário. Abra, vamos ver o que tem.

Melanie abriu o diário e folheou as páginas.

- Hum... Letras da Britney Spears, poemas, trechos de livros, meninos. Nada de muito revelador. – até que Melanie passou para as últimas páginas. – espera!

- O que foi?

- Olha isso aqui: 15 de Agosto. Hoje o Hector me viu beijando uma garota. Não entendi porque ele ficou tão bravo com isso. Não entendo o ciúme possessivo que ele tem por mim. Eu nem sou sua filha! Que droga.

- Oh! Nessa idade eu nem tinha beijado um garoto ainda. – comentou.

- Eu também. Parece que o padrasto era um pouco ciumento. – passou para a outra página e leu. – 20 de agosto. Minha mãe resolveu contratar um professor de francês para mim. Ele é legal, seu nome é Oliver Barrier, mas o Hector não gostou dele. Ele está insuportável ultimamente e parece que minha mãe não se importa.

- Vamos levar isso para o laboratório. Vou falar para o Flack entrar em contato com o professor. – disse Lindsay.

- Engraçado. A mãe ainda não apareceu. Se fosse minha filha, eu já estava berrando do lado de fora querendo saber quem tinha feito isso.

- Estranho. Ela deve estar em estado de choque, coitada. – as duas voltaram para o laboratório analisar as evidências do caso. Melanie analisou as roupas da vítima e encontrou apenas algumas fibras que levou para o técnico do laboratório analisar.

- Oi. Você é o técnico de laboratório? – ela perguntou.

- Oi. Sou sim, o que deseja?

- Pode analisar estas fibras pra mim?

- Posso. Sou Adam e você?

- Melanie. Prazer.

- O prazer é todo meu. – ele disse olhando a moça de cima em baixo.

- Legal. – ela disse saindo da sala, um pouco constrangida.

- Melanie?

- Oi Mac.

- Emitimos um mandado para a casa do tal professor.

- Excelente.

- O Flack está te esperando.

- Okay. A mãe da menina apareceu?

- Já. Ela acabou de sair da sala de autópsia. Coitada.

- Tudo bem. – ela entrou no elevador e foi para o térreo, onde Flack estava lhe esperando. Estava com óculos escuros e parecia que estava em outro planeta.

- Oi Melanie. Vamos?

- Sim. – os dois entraram no carro e foram até a casa de Oliver. – você está bem? Parece um pouco distante. – ela disse, puxando assunto.

- Estou bem, não se preocupe. Só estou com um pouco de sono.

- Parece que não dorme há meses.

- Você tem razão. É aqui. – Melanie desceu do carro e andou até a porta da casa. Flack ficou a o seu lado e bateu. – Polícia de Nova York! Abra a porta.

- Posso ajudar? – ele perguntou, um pouco assustado.

- Pode sim. Sou Don Flack e esta é Melanie Lewis. Somos da criminalística e temos um mandado de busca para a sua casa.

- Podem entrar. Mais, quem morreu?

- Dolores Newton e seu padrasto, Hector Lopéz. – respondeu Melanie.

- Mon Dieu! – exclamou. – quem faria isso com uma menina tão doce quanto Dolores?

- Nós ainda não sabemos.

- Mademoiselle, não está achando que fui eu, está?

- Ainda não. Depende de onde as evidências me levarão.

- Eu não faço mal nem a uma mosca, quem dirá matar uma criatura adorável como aquela.

- E o padrasto? – Flack perguntou, mas não obteve resposta.

Ela o deixou conversando com Flack e começou a andar pela casa. Entrou no quarto e não viu nada de anormal. Abriu o guarda roupas e teve uma surpresa.

- Senhor Barrier, o senhor costuma guardar artigos pessoais das suas alunas? – ela disse, descendo as escadas com uma caixa na mão.

- Do que está falando?

- Disto. – ela abriu a caixa e lá dentro havia uma foto de Dolores, roupas íntimas, óculos em formato de coração e um perfume.

- Isso não é de Dolores.

- Nem a foto? – Flack disse.

- Eu... Foi ela quem me deu!

- Vamos conversar lá na delegacia. – ele disse o algemando.

 - Porque você está me algemando? Eu não fiz nada! Eu vou te processar!

- Ah! Cala a boca, vai. – disse o levando pra fora.

Melanie guardou as provas e foi para o laboratório.

- Melanie? – gritou Adam.

- Oi.

- Tenho os resultados das fibras que você me mandou. É poliéster. Muito parecidas com a blusa do padrasto da vítima.

- Obrigada, Adam.

- Gente! – chamou Sheldon. – o Sid retirou as balas das vítimas. Ambas são de um revolver calibre trinta e oito e adivinhem quem comprou um desses há duas semanas?

- O padrasto? – arriscou Adam.

- Exato.

- No diário que a Lindsay e eu encontramos no quarto de Dolores ela sempre mencionava como o padrasto era ciumento e possessivo. Talvez ele sentisse outro tipo de amor pela menina.

- Os dois mantinham relações sexuais. – falou Sheldon.

- Você tá brincando? – surpreendeu-se Adam.

- Acabei de falar com o professor. – disse Flack. – ele me confessou que teve um caso com a garota, mas logo percebeu que era roubada. Então terminou. Ele jura que nunca fez sexo com ela.  

- Diferentemente do padrasto. O Sid encontrou sêmen na vítima e o DNA bate com o do padrasto. – disse Sheldon.

- Temos que encontrar a arma. – Adam disse.

- Então vamos. – Sheldon e Melanie voltaram para a casa onde ocorreu o assassinato para procurar a arma. Melanie foi até o quarto do casal e viu um livro debaixo da cama. – Mais é claro... Muito sugestivo.

- Com quem está falando, Lewis?

- Comigo mesma, Sheldon. Olha só o que eu encontrei. – ela disse mostrando-lhe o livro.

- Lolita. Não sou muito bom em literatura, pode me ajudar?

- Claro. Este livro foi escrito nos anos 50 por Vladimir Nabokov. Foi um escândalo na época porque trata de um tema polêmico. O amor entre um cara de quarenta anos por uma menina de doze. Nenhuma editora quis publicá-lo no inicio.

- E quais as ligações deste livro com o caso?

- Primeira: O nome verdadeiro de Lolita é Dolores. Segunda: o homem que está apaixonado por ela é seu padrasto. Terceira: A nossa Dolores se encaixa perfeitamente nos padrões “Lolita” de ser. Pequena, magra, seios não muito desenvolvidos, jovem, hiperdesenvolvida sexualmente. Ela é uma ninfeta, Sheldon. Hector devia ter preferência por garotinhas que estão entrando na puberdade, assim como o personagem Humbert Humbert do livro.

- Isso é uma doença mental chamada efebofilia.

- Exatamente, doutor. – ela sorriu.

- Que loucura. Quem mais poderia ter acesso a arma? – ele pensou um pouco. – Lógico! A mãe!

- Claro! Ela soube do envolvimento do marido com a filha e resolveu se vingar. Porque não pensamos nisto antes?

- Era óbvio demais. Olha aqui! A arma do crime. – disse Sheldon, tirando a arma de cima do guarda roupas.

- Se encontrarmos uma digital aqui...

- Bingo! – os dois correram para o laboratório e Danny analisou a arma, em busca de uma digital. Felizmente, ele a encontrou.

- Sheldon, Melanie. – ele chamou. – encontrei uma parcial na arma e ela bate com a digital da mãe. Ao que tudo indica, encontramos nosso assassino.

Melanie foi até a sala de interrogatório e Mac já estava lá. A mulher estava sentada, aparentemente muito nervosa.

- Senhora Lopéz. Nós encontramos uma parcial na arma usada pra matar seu marido e sua filha. E essa parcial é sua.

- O Hector nunca deveria ter comprado aquela arma. Eu saí cedo pra ir trabalhar, mas esqueci minhas chaves. Voltei para a minha casa e vi os dois aos beijos na escada. Peguei a arma e... Disparei. Ela correu, mas... Depois eu atirei nele. Corri para esconder e fui embora dali. Eu nunca vou me perdoar por ter feito isso.

- Ela era sua filha. Como teve coragem?

- Eu estava fora de mim, detetive. – a mulher começou a chorar compulsivamente.

Mac olhou para o policial e mandou prendê-la.

- Sabe, nesse trabalho eu vejo coisas que sinceramente eu não gostaria de ver. – ela comentou.

- É difícil de acostumar, eu sei.

- Eu já devia ter me acostumado, mas sei lá.

- Eu te entendo. Pode ir pra casa. Fez um bom trabalho. E mande um alô para o seu pai.

- Obrigada. Pode deixar que eu mando.

Melanie foi para o vestiário e pegou suas coisas. Subiu em sua moto e dirigiu até a casa do pai. Bateu na porta e ele abriu, com um belo sorriso no rosto.

- Oi minha princesa, como você está?

- Bem, pai. – ela disse entrando.

- Eu fiz o jantar.

- O cheiro está ótimo.

- Peguei um livro de receitas da sua mãe. Não sei se essa lasanha ficou tão boa quanto a dela, mas eu tentei.

- Eu garanto que está tão boa quanto a dela.

- E o seu primeiro dia? Como foi?

- Pegamos um caso complicado. A mãe matou a filha e o marido porque descobriu o caso amoroso dos dois.

- Ah! Eu vi isto na TV. Inacreditável como existem pessoas tão frias a ponto de matar a própria filha.

- Infelizmente, isso anda acontecendo com frequência.

- Está pronto.

- Vou lavar minhas mãos. – ela disse indo para o banheiro. – e o seu dia, como foi?

- Foi bom. Fiz uma caminhada pela manhã e fui pescar à tarde.

- Ótimo. – ela olhou por um instante para a mesa da sala e viu um maço de cigarros. – pai, você prometeu que ia parar de fumar.

- Eu sei, Mel. Mais eu não consigo. Eu juro que tentei.

- Você é muito teimoso.

- Vamos comer? – disse desviando do assunto.

Ela se serviu e ele também.

- A propósito, o Mac te mandou um alô.

- Oh! Faz um bocado de tempo que eu não o vejo. Você quer mais?

- Não , obrigada.

- Não está como a da sua mãe, não é?

- Está sim. Você já terminou? Vou lavar os pratos.

- Pode tirar. – ela lavou os pratos e depois os guardou. Ficou conversando mais um pouco com o pai e os dois assistiram ao jogo de futebol. Já passava das nove quando foi embora.

- Se cuida, pai. Qualquer coisa me ligue. – ela disse dando um beijo na testa de seu pai.

- Pode deixar. E cuidado com essa moto!

Ela deu partida em sua moto e se foi. Ficava triste por deixar seu pai sozinho, desde que sua mãe morreu, ele não era o mesmo. Tinha perdido o brilho dos olhos, andava triste pelos cantos. Não demonstrava muito para não preocupar a filha, mas ela podia ver. Foi como se seu mundo desabasse. Nada para ele tinha sentido. Estava de pé por causa do apoio que a filha lhe dava.  


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