Vince era mesmo doido. Há cinco dias eu concordei com essa ideia maluca dele. Justo eu, tão certinha. Mas sabe o que me apavorou? Descobri outro lado meu que estava gostando dessa brincadeira e até se divertindo por ver que Leo sentia ciúme. Vince tornava essa história tão leve e natural, não parecia fingimento. Eram 14:30 e eu troquei de roupa para esperar por Vince que me levaria pra tomar sorvete. Meia hora depois ele me chamou no portão, sempre pontual.

-Vamos?

-Aham!

Fomos numa sorveteria não muito longe, cerca de 10 minutos de pé. Chegamos e sentamos numa pequena mesa na calçada. Nos servimos de várias bolas de sorvete e começamos a conversar:

-Vince, minha irmã vai fazer uma faculdade fora do país e vamos fazer uma festa de despedida pra ela. Quer ir?

-Claro. Ela vai fazer o que?

-Medicina. – ficamos calados por um tempo quando eu perguntei algo que tinha muita curiosidade de saber. – Você quer fazer o que quando for pra faculdade?

-Tenho dúvida entre publicidade e advocacia. Eu sei, são coisas totalmente diferentes, mas eu gosto dos dois.

-Você não tem cara de advogado Vince.

-Sério? Bem, e você, vai fazer o que?

-Não tenho a mínima ideia. Isso me perturba um pouco às vezes, não tenho mais tanto tempo pra me decidir e ainda não sei o que quero. É difícil, uma decisão importante e eu tenho medo de escolher errado.

-Você tem cara de psicóloga. Não! De atriz, quer dizer, não sei.

-Nossa, me ajudou tanto. – disse ironicamente.

.......

Leo e eu nos falávamos, mas não muito. Cat até havia saído com ele algumas vezes, em nome da amizade que tínhamos, mas eu não conseguia fingir que nada aconteceu. Não o odiava, ao contrário, ainda gostava dele, porém não como antes. Acho que esse tempo em que ele passou com o pai e a falta de contato adormeceu meu sentimento e eu sentia que um pouco dele ainda dormia. E eu queria muito que ele continuasse lá, dormindo. Vince apesar de ter ideias malucas estava me ajudando muito. Eu estava cansada, mas fui na casa de Cat antes de dormir.

-Sabia que ia acontecer alguma coisa com o Vince. – ela me olhava animada.

-Você realmente acha que eu estou namorando ele? Desatualizada. Só estamos fingindo. – Agora ela está me encarando boquiaberta, totalmente surpresa com a novidade.

-Como assim? Tá, mas você tá tirando proveito disso né? Porque o Vince é lindo amiga. Diz que tá por favor! –e lá vem ela com esse papo, nem sei como ela tá namorando.

-Eu não, quando estamos sozinhos somos apenas amigos. Para de besteira! E você anda fazendo o que? Nem te vi direito essa semana e você faltou três dias.

-Não quis ir pra escola. – eu acreditei, ela sempre fez isso mesmo. – Mas não falei direito com você porque estou de castigo, minha mãe ficou meio brava por que eu discuti com ela.

-Ok, então eu vou indo. Quando acaba seu castigo?

-Amanhã. Tchau!

.......

-Para Vince!

Eu estava em sua casa, pra estudar. Mas ele começou a brincar e agora me fazia cócegas sem parar. Consegui me desviar dele e saí correndo pela casa. Ele veio atrás de mim, rindo. Não tínhamos estudado nada e depois de amanhã começariam as provas, então eu disse, tentando ficar séria:

-Chega, vamos estudar!

-Tá bom, mas daqui a pouco. Quer comer alguma coisa? Tem uns sanduiches é só colocar no microondas.

-Quero então, vai lá. Te espero aqui. – e me sentei numa cadeira perto da piscina.

Alguns minutos depois ele veio com um prato na mão e dois copos. Colocou na mesa e eu comecei a devorar o sanduiche.

-Lana, você ainda gosta do Leo?

-Por que essa pergunta agora?

-Porque a gente tá fingindo o namoro. Eu tive essa ideia porque achei que você ainda gostava dele.

-Ainda gosto, só que estou meio confusa. Esse distanciamento confundiu meus sentimentos, não sei te responder. Sou meio instável em relação a essa coisa, não sei se já te disse, mas antes de voltarmos a ser amigos eu achava que era apaixonada por você.

-Sério? Quer dizer, eu suspeitava, mas você era discreta. – ele disse parecendo gostar de descobrir que eu já fui apaixonada por ele.

-Não era nada, você quem era lerdo, mas continuando, daí eu me apaixonei pelo Leo e tornei-me sua amiga. E agora estou nessa confusão.

-Você vai se decidir com o tempo. Mas e ele? Você acha que ele gosta de você?

-Não sei, não sei mesmo.

.......

O fim de semana passou depressa e hoje, segunda-feira, começariam as provas. Todos estavam no corredor, esperando a hora de entrar. Às 07:00 horas a sala estava cheia e o professor esperava com as provas na mão. Era o Sr. Carvalho, o professor de matemática. Ele entregou as folhas e eu comecei a fazer. Estava difícil, mas acho que ma saí bem. No intervalo me sentei com Cat numa mesa afastada.

-Lana, sabe quem foi lá em casa ontem à noite?

-Quem?

-O Leo. Ele queria saber de você e do Vince, até disse que estava com saudade da nossa amizade e que não entendia porque você está evitando ele.

-Lerdo! Ele sabe muito bem porque estou evitando ele! Você não contou que meu namoro é uma farça né!?

-Não, calma aí. Eu sei guardar segredos. Mas você tem que se esforçar mais, daqui a pouco vão desconfiar.

-Como assim? Estou me esforçando e ninguém está desconfiado, não que eu saiba.

-Eu ouvi murmúrios tipo “Ah, isso não vai durar” e “Nem acredito nisso, é só diversão”.

-Tá, já chega. Vou tentar deixar isso mais real.

Saí atrás do Vince. Não que eu ligasse que as pessoas não acreditam, mas agora dizer que eu sou uma diversão pra ele? Não, isso não. Ele estava sentado com alguns amigos e algumas garotas ao redor. Cheguei e sentei-me do seu lado.

-Oi meninos. – eu disse ignorando o monte de patricinhas que me encaravam.

-Oi Lana. – Vince respondeu e passou seu braço por minha cintura. Ele finge tão melhor que eu.

Olhei bem pra cara daquelas garotas. Com certeza alguma delas anda espalhando por aí que eu sou uma diversão. Eu não admitiria isso, por mais que aquilo fosse uma farça ninguém podia julgar. Vince não é disso e, se fosse verdade esse lance de namoro ele não faria isso. Eu não me importo muito com opiniões alheias mas esses boatos mexeram comigo de uma forma que eu não sei explicar. Comecei a pensar nessas coisas e tomei coragem. Cutuquei Vince que me olhou e dei um beijo nele. Um beijo de verdade. Não costumávamos fazer isso, só selinhos e abraços e outros carinhos. Mas não era pra acreditarem? Então eu ia fazer que isso acontecesse. Essa história ia dar certo.