- Por Merlin! – Lily exclamou assim que viu o estado em que seu namorado se encontrava sob os brancos lençóis da cama da ala hospitalar. – James, você está péssimo!

Ele tentou dar de ombros, mas o movimento fez seu corpo inteiro doer. James estava coberto em hematomas e ferimentos a beira de sangrar. Cortes dominavam seu braço esquerdo e seus lábios rachavam-se em uma perfeita linha reta. O maroto parecia ter sido surrado por centenas de lutadores profissionais.

- Nah, - ele disse indiferente. – Só estou um pouco mais quebrado do que o normal.

Lily não sabia se deveria rir ou chorar diante do descaso que o garoto fazia com o próprio corpo. Por acaso, James não sabia que vê-lo dessa forma doía mais nela do que nele? E se ela tivesse o perdido? Qual sentido teria sua vida?

- O que aconteceu? – A ruiva perguntou clara e direta.

Ele não respondeu prontamente. De fato, Lily notou-o olhando ao redor, verificando se os outros pacientes não ouviriam suas palavras.

- Moony não teve uma boa noite ontem – James disse lentamente, sabendo que ela iria entender.

Lily realmente entendeu. Ela sabia dos problemas que Remus Lupin enfrentava; sabia que James sacrificaria tudo, inclusive, sua própria vida a fim de ajudar seu amigo durante as noites de lua cheia.

Por mais imprudente e inconsequente que a ação dele foi, Lily sabia que, se estivesse no lugar de James, teria feito o mesmo.

- Eu te amo, Potter – as rápidas e precisas palavras deixaram a boca da ruiva antes que ela pudesse raciocinar. – Tente não me assustar de novo, por favor.

- Vou tentar – James concordou, sabendo que não poderia prometer nada. Um sorriso, involuntariamente, formou-se nos lábios machucados dele enquanto ele repassava em sua cabeça as palavras recém-ditas pela namorada.

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Hesitante, Lily bateu na porta algumas vezes antes de abri-la.

- Oh, - Remus disse olhando instantaneamente na direção dela. – É você, Lily.

A garota fechou a porta atrás de si lentamente, procurando calcular seus próximos passos. Ela sabia que o amigo, no momento, deveria estar tão frágil como a mais fina porcelana.

- James não está aqui – ele apressadamente disse, o sentimento de culpa evidente em seus olhos. – Ainda está na enfermaria.

- Eu sei – Lily respondeu com cautela, aproximando-se de onde o garoto estava sentado. – Eu vim aqui por você, Remus. Como você está?

Assim como o famoso ditado “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?” Lily não sabia responder se seu amor por James Potter nasceu primeiro do que sua amizade por Remus Lupin. Ela amava este como um irmão, por isso, vê-lo nessa tenebrosa dor sem fim partia seu coração.

- Eu... – ele tentou, buscando toda sua força. – Não sou eu quem está na enfermaria.

- Não – Lily concordou, seus olhos verdes analisando cada movimento de Remus, que se sentia cada vez mais diminuído diante do olhar dela. – James ficará bem – ela continuou. – É com você que estou preocupada.

Remus desviou os olhos, ele não podia encará-la. Lily Evans era o símbolo da bondade, enquanto ele próprio era o mal encarnado. Remus não merecia a piedade dela.

- Sinto muito – ele disse, sua voz falhando. – Nunca quis machuca-lo. Eu nunca quis isso, Lily.

- Eu sei – ela respondeu, sua voz suave, quase maternal.

- Eu nunca quis nada disso – ele repetiu as palavras que vieram acompanhadas de pesadas lágrimas.

Naquele dia, Remus chorou durante horas – horas essas que Lily passou com ele e, eventualmente, chorou também.

Remus Lupin sabia que nunca poderia se livrar da maldição que o perseguia. Entretanto, a persistência de James e a presença de Lily deixavam claro que ele nunca estaria sozinho.