Moody: Uma História a ser conhecida escrita por Emanuel Antunes


Capítulo 7
Ele tinha sido enviado para lutar




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O relógio no pulso de Frederick marcava nove horas de uma manhã movimentada. Chocando-se com seu rosto vinha o ar quente. Ele estava voando, esse era seu sonho. Mas o garoto nunca pensara que sua primeira vez no ar seria em circunstancias tão drásticas. Na sua frente mechas vermelhas balançavam acompanhando o movimento do cavalo-alado. Aquela era uma Rebecca que ele nunca conhecera. Corajosa. Madura. E acima de tudo, bruxa. Aquilo latejava em sua mente. Como ela conseguira esconder por todo esse tempo? E porque ela desejara fazer isso? Essa e muitas outras perguntas surgiam em sua mente. Elas colidiam com o desespero do recém-órfão e juntavam-se ao medo de perder seu único irmão. Brian era forte, robusto, parecia ser intocável e sem nenhum temor. Mas todo o ideal que habitava na cabeça adolescente de Moody evaporou. Agora seus pais estavam mortos. Sua casa invadida por policiais trouxas que nesse exato momento se encontravam deitados no jardim com projeteis alojados na cabeça. E por fim, o seu companheiro de tantos anos tinha sido sequestrado.

Ao tentar descolar um pouco de Becca para evitar uma situação constrangedora o jovem percebeu que Marco, seu melhor amigo, também estava no meio daquela enrascada. O outro garoto dormia sobre suas costas e babava seu paletó. Foi então que Alastor recebeu um choque de realidade. O jovem bruxo exalava um odor não muito agradável... Suas roupas grudavam a pele a cada movimento, elas estavam encharcadas de sangue. Um sangue já solidificado no tecido que até na noite passada era o mais caro de Fulford. Ao tocar no bolso direito da calça ele encontrou a varinha. O garoto só lembrava-se de um forte impacto contra seu rosto no quarto do pai e de um vulto correndo em sua direção. O fato do assassino não ter levado sua varinha o incomodava. Mas isso ainda seria discutido mentalmente. Os lapsos de memória impediam seu raciocínio por completo. O rosto da mãe paralisado. O pai estirado no chão frio. O seu fracasso. Ainda em sua mão estava o mapa. “Se você o ama, venha até nós.” A frase ardia sobre o pergaminho. Acima das letras encontrava-se o mapa do continente Europeu. Tudo era confuso para Frederick.

– Para onde estamos indo? – perguntou o garoto.

– Para a sede. – responde Rebecca.

– Sede? Sede de que? Se você está falando do Ministério da Magia tenho duas opiniões sobre isso, primeiro... –

– Não vamos para o ministério. – Afirmou Becca. – Nossa rota segue até Paris, não Londres. – A testa de Frederick contraiu-se. Como assim Paris? A resposta foi instantânea. – É na França onde está instalada a Ordo Lumen.

Ordo o que? – Os olhos da garota reviraram-se. Ela não desejava explicar a gigantesca história que escondera por tantos anos. Não agora.

– Você saberá o que é quando chegarmos à França.

– Conte-me logo tudo isso! – gritou Moody. – Como assim de uma hora para outra você é bruxa? Porque você e esse idiota que está me babando aqui atrás estavam se beijando? Conte, agora, ou se não eu...

– Você o que? Vai pular do cavalo? Olhe para baixo... aqui em cima, como lá embaixo, você sempre dependeu de alguém. – Falou Rebecca que agora soltara a crina de Tyron e fixara sua atenção em Fredy. – Acorde Alastor.- Disse a jovem em um tom forte e seco. - Não estamos brincando de voar ou muito menos de pique-esconde com loucos assassinos. Sua mãe está morta. Seu pai está morto. Seu irmão provavelmente está sendo torturado nesse exato momento. Não seja um figurante. Essa batalha não é minha, ou muito menos do Marco. Ela é sua! Antes de perguntas deve surgir as suas respostas. Antes de ser atingido você deve disparar. – Os cabelos de Moody dançavam ao som do vento. Ele estava paralisado. - Não espere mais nada... essa é a hora de entrar em cena... – Ela concluiu e deixou que Frederick pensa-se sobre tudo aquilo enquanto observava suas costas. – Saque sua varinha! Acorde o Marco... vamos pousar.

. . .

Como ela é linda. Eu sempre soube.

Em minha frente estava um dos quadros mais famosos do mundo trouxa. A Monalisa me encarava com um ar de admiração e temor. Traços de um grande pintor sobre uma simples tela... Estupendo. Meu império seguirá o mesmo caminho dessa obra. O inicio foi bruto e infiel... mas toda história começa assim, para existir o herói deve-se primeiro nascer o vilão. No futuro os papéis serão invertidos e eu, somente eu, serei o mártir. Minha mão formiga só de pensar sobre isso. A hora se aproxima e o cadáver caminha até mim. Serei o rei de um povo. O líder de uma nação.

– Senhor... os jovens estão em Londres. Pousaram o cavalo quase agora. – Reconheci sua voz, era o Mormont, meu fiel escudeiro. O garoto me seguiu durante toda a jornada, desde o primeiro traçar de planos até agora.

– Esperaremos... sei que estão vindo para Paris. Mesmo não sabendo que foi isso que coloquei no mapa, é aqui que fica a sede da ordem... ordem dos iludidos, esse deveria ser o nome. – Ao meu lado Mormont cai em uma gargalhada pitoresca. Acompanho-o e alguns trouxas que situavam dentro do recinto nos encaram com incredulidade. Eles nunca viram duas pessoas sorrindo? Aparentemente não. – Agora vá até Notre Dame... prepare tudo, nossos convidados não demorarão.

O garoto reverenciou-me e partiu para além do Louvre. Centenas de bruxos estavam reunidos na então interditada “Catedral de Notre Dame”. Depois que mataram meu tio... pobre tio, merecia muito mais do que um feitiço na testa. Merecia morrer com uma espada cruzada no pescoço. Mas no momento eu não tinha nenhuma espada... Infelizmente. Os trouxas não ousavam colocar mais os pés na Igreja... não depois da morte do Bispo.

A Catedral seria minha ratoeira... e o camundongo cairia levemente sobre ela.

. . .

Tyron, o cavalo-alado, pousou graciosamente em solo Londrino. A frente de Moody uma casa coberta de mármore. Rebecca cochichou no ouvido da fera e desceu do animal.

– Vamos. Não temos tempo. – Ela caminhou em direção a tal casa e socou a porta duas vezes. Quando se aprontava para bater pela terceira vez o arco de entrada modificou-se. No lugar de uma porta fechada estava um homem alto, de pele negra e porte físico avantajado e ao seu lado uma senhora de no máximo oitenta anos. – Vovó! Tio August! Temos que agir.

–Eu sei, minha querida – disse Batilda – Estávamos partindo para a sede nesse exato momento... mas parece que temos que ficar alguns instante. – A senhora Bagshot falou sua última frase olhando diretamente para Frederick e Marco que continuavam ao lado do cavalo-alado. Eles mereciam explicações.

– Venham, garotos. – disse August. – Temos muito que conversar.

Os jovens adentraram na casa do líder da Ordo. Moody apresentava receio. Marco tinha medo. Rebecca se sentia segura. Após momentos inconvenientes e sem razão para acontecer eles se acomodaram na sala de visitas. Batilda sentou-se em sua cadeira marcada.

– Frederick, você é o escolhido. – Os olhos do garoto tomaram proporções maiores. Uma longa história estava por vir.

August explicou todo o processo de formação da Ordo Lumen. Contou a má fase que viveram e a pior que estava por vir. Esquematizou todo o processo de ser o escolhido e o porquê de ser o tal. Também revelou o porquê dele ter que se mudar para Fulford e como seu pai ganhou na loteria. Moody desaprovou.

– Não pedi para ser eleito o portador de uma chave... – gritou ele – Foi graças a ela que meus pais morreram. Por sua culpa – agora ele apontava para Batilda. – Ninguém da minha família fazia parte dessa Ordem... eu não quero...

– Mas você deve! – gritou Rebecca, que agora se encontrava de pé olhando fixamente para o jovem. – Você não foi escolhido a toa. Somente aquele com poder suficiente pode carregar a chave.- Alastor abriu o paletó e rasgou a camisa branca que estava por baixo. Deixou o peito nu e foi até August.

– Eu guardava aquela maldita chave aqui... Era meu amuleto, a levava para qualquer lugar... Você a vê? Ela está pendurada em meu pescoço? – O homem apenas analisou toda aquela revolta. Com o rosto sereno e apto a dar respostas... mas aquele não era o momento. – É claro que não vê... pois um maníaco a levou. E junto com ela o louco acabou com a vida dos meus pais e possivelmente com a do meu irmão. – Uma lágrima escorreu sobre a face de Frederick... a raiva transformou-se em dor e ele despencou. Caiu sobre a cadeira a qual se levantara e clamou por ajuda. Por meio do choro ele mostrou o que sentia... Ele nunca tinha sido enviado para lutar, ele não queria lutar.

– Como assim seu irmão? – Perguntou August, agora de pé.

– O irmão dele, Brian, foi raptado pelo assassino. – disse Marco. – O louco só deixou um mapa como pista.

– Onde está? – falou Batilda.

– Está com o Frederick, vovó. – Rebecca estendeu sua mão para o garoto. – Me dê. – Ele apenas enfiou a mão no bolso, retirou-o e entregou a garota.

– Faça bom proveito. – Becca abriu o pergaminho e entregou a Batilda. Ela o analisou minunciosamente e expos:

– Tática de dissolução. Temos uma camada fina de pergaminho barato sobre a verdadeira mensagem... qualquer pingo de água revela o que se deve ver.

– Eu pensei que era magia... – disse Marco.

– Toda forma de inteligência é mágica, meu filho, seja ela direcionada para o bem ou não... mas vejamos, August, pegue um pouco de água na cozinha.

O homem caminhou até o corredor e sumiu de vista. As pessoas na sala ficaram se encarando. Moody ainda estava com a camisa rasgada e o paletó sujo de sangue. Rebecca permanecia com seu roupão de cor cinza e Marco vestia roupas trouxenses.

– Vovó... o titio ainda guarda minha roupas no primeiro andar? – Perguntou Becca.

– Guarda sim, vá até o quarto e vista-se adequadamente, sairemos daqui a pouco.

A jovem pulou da cadeira e foi até a escada que ficava ao lado do corredor. Subiu as pressas e deixou Moody, Marco e Batilda a sós.

A língua do garoto formigava e uma pergunta queria sair. Ele não demorou muito:

– Quem é você? – ele formulara respostas, mas queria saber da boca da senhora.

– Você me conhece, pequeno rapaz. Eu o ajudei a vir a terra. Há quinze anos... lembro-me muito bem, sua mãe gritava... seus gritos me comoveram. – A resposta que ele elaborara estava certa. – Foi nesse dia que lhe dei a chave. E além do mais você já deve ter lido meu nome centenas de vezes nos seus livros didáticos. Sou Batilda Bagshot meu caro rapaz e lhe garanto que não o escolhi a toa... Tive minhas razões. – A mulher falou firme e de certa forma deixou os dois garotos envergonhados. Foi então que Moody notou a estupidez que cometera minutos atrás. Mesmo que ele não deseja-se lutar por uma sociedade ou por si mesmo ele deveria lutar por algo que florava em seu íntimo... ele lutaria por vingança.

. . .

A hora havia chegado. Eu tenho que mostrar o porquê fui escolhida. Falhei na primeira, mas não posso falhar nessa. Abaixo de meus pés a reunião acontecia. Moody, que infelizmente aprendi a amar, corre perigo de vida. Marco, a pedra em meu caminho. Vovó, que me ensinou tudo. Tio August, que confiou em mim. Não posso parar agora.

O meu quarto mantem-se intocado. Titio sempre insistiu que eu fosse morar com ele e Tintim, mas as circunstâncias mudaram e meu lar virou Fulford. O cheiro de jasmim é o mesmo. Ele está intocado. Caminho até o guarda-roupa rosa que compramos há cinco anos no centro de Londres. Abri com receio. Giro a maçaneta com cuidado e ao puxar as portas o que vejo é incrível. Titio comprara vestidos novos. Em tempos como o que estamos vivendo um vestido novo é reconfortante. Retiro meu roupão e o jogo na cama que sempre estivera no lado direito do quarto. Sinto a brisa do Tâmisa tocar cada parte de meu corpo. Minha mente viaja e pareço estar livre. Só pareço.

Um choque de realidade se apossa de mim e enfio a mão no guarda-roupa. Retiro um vestido azul escuro, simples e leve ele me lembra do sonho de ir para Ravenclaw... sonho esse que fora interrompido bruscamente. Carrego-o junto a roupas íntimas até o banheiro ao lado do quarto. Após banhar-me e ter vestido minha nova peça, volto para o quarto. Procuro por sapatos, mas não encontro nenhum. Ouço duas batidas na porta.

– Pode entrar. – Titio August carrega dois sapatos brancos na mão.

– Porque sempre me esqueço do seu dom, titio? – Ele consegue ler mentes, mas nunca consigo lembrar disso.

– Acho que ele é insignificante. – Ele ri e eu o acompanho. Por um momento tudo parece como sempre foi. – Coloque-os, estamos na sala. – Ele deixa o par de sapatos sobre a cama, beija-me na testa e se esvai. Grande homem.

Calço os pequenos sapatos. Eles são simples e aptos a movimentos bruscos. Titio prevê a batalha que estaria por vir. Eu precisaria de bons sapatos para lutar.

. . .

Batilda derramara um pouco de água sobre o pergaminho. O mapa da Europa sumiu e no lugar dele o da França fez se presente. Uma estrela demarcava Paris.

– Parece que nosso vilão pretende guerrear em solo inimigo. – Disse August.

– Acho que não, filho... – Batilda interpretara da maneira certa. – Ele tomou Paris... e provavelmente a nossa sociedade. – Os olhos de August Bagshot fixaram-se no mapa e a frase “Se você o ama, venha até nós” surgiu novamente. Ela tinha vários sentidos, dependia de quem a leria. Nesse exato momento o homem estalou os dedos da mão direita e um emaranhado de corujas sobrevoou Londres em sua direção. O líder convocaria os vassalos. A guerra se aproximava.

Enquanto os adultos discutiam o que seria feito, Moody saiu sem chamar atenção do aposento. Rebecca notou sua ausência e seguiu seu rastro. Marco ficou na sala, encantado com tanta magia reservada em um lugar só.

Ao cruzar o arco da porta a garota encontrou um Alastor desconsolado e de cabeça baixa, sentado sobre os degraus de entrada esperando algo que nunca viria.

– Você não está só, Fredy... – Ele olhou para ela. A mais bela de todas, pensou, A mais mentirosa de todas.

– Como assim de uma hora para outra você é bruxa? – A pergunta estava engasgada. – Porque escondeu todo esse tempo?

– Foi para o seu bem... eles não poderiam saber que existia uma bruxa próxima a você... eles saberiam que você era o portador da chave.

– Não me importa o que eles sabem ou não...

– Você não sabe o que eu passei, Alastor. Meu sonho era atravessar os portões de Hogwarts. Eu nunca pisei lá...

– E como você aprendeu isso tudo... como pode...

– Beauxbatons, fui forçada a ir para Beauxbatons. Tudo isso para você não saber da verdade. Não saber do plano que foi orquestrado para seu futuro. Para de reclamar, nós sofremos por você.

– Eu não pedi isso... não pedi restrições ou guarda-costas.

– É o nosso destino, não pedimos por isso, apenas acatamos. Existe muitas pessoas envolvidas, não podemos falhar, Moody.

Eles se entreolharam. Entre os dois existiam segredos e revelações. Entre eles se encontrava o presente, o futuro. Alastor não esperou nem um segundo a mais. Beijou Rebecca como se fosse a última vez. Beijo-a como se nunca mais fosse sentir aquilo. A frente dos jovens, Londres recebia a tarde de braços abertos. Eles tinham pouco tempo. Eles não tinham tempo algum.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem pelos dois meses de atraso. Espero que tenham gostado do capítulo, e se não, comentem o que ficou ruim, o que detestaram, o que deve ser melhorado. Obrigado pela paciência e até o cap 8 !



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