Moody: Uma História a ser conhecida escrita por Emanuel Antunes


Capítulo 5
Ordo Lumen


Notas iniciais do capítulo

No capítulo que segue-se abaixo você irá descobrir os fatos que se escondem nas costas de Moody, Batilda, Rebecca e tantos outros personagens que irão aparecer de forma inusitada. A explicação de muitas coisas virá no capítulo 5. Não deixe de ler e se por acaso se sentir perdido releia os outros caps ou me envie uma mensagem.



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“Quandiu in custodiam, et ibi custodiantur "

By Ordo Lumen

1945

Era dia em Fulford.

O sol dava seu último beijo na mansão Bagshot e partia em direção ao céu azul. A casa da matriarca da família mais rica do vilarejo ficava no ponto mais alto do lugar. Coberta de mármore e repleta de empregados, a morada de Batilda é o ponto de começos e fins... o ponto onde toda a história teima em dar uma passada.

A historiadora bruxa mais famosa de todos os tempos comandava seus empregados.

– Rosana, você está precisando de um colchão? – A mulher de no máximo vinte e oito anos balançou a cabeça positivamente. – Está não é... leve esse para você!

O lugar estava um caos. Dezenas de homens e mulheres subiam e desciam a escada principal. Quartos, salas, banheiros... todos sendo desocupados. “Os Bagshot estavam abandonando o lugar”, sussurrou uma serviçal para o jardineiro no quintal da casa.

– Já não era sem tempo, Romilda. Eles só vêm aqui no verão. – Lucciano, o jardineiro, entrava e saia daquela mansão todos os dias. O terreno extenso exigia uma manutenção constante. Aquele era o único emprego que ele conseguiu encontrar após ter saído da Itália como fugitivo de guerra. – E tem mais... você sabe se alguém já comprou essa bagaça?

– Ouvi falar que é uma família de Liverpool... – A empregada varreu o lugar com os olhos, “Nenhum sinal da Sra. Bagshot.” – A Dandara disse que é os Fuck... Ruck... não sei, uma coisa do tipo.

Lucciano apoiou-se na sua pá e observou o horizonte. Se a família que iria ficar na mansão não o contrata-se seria o fim. O mesmo se aplicava a Romilda e todos os outros empregados. Um terço de Fulford trabalhava ali. O vilarejo sentiria falta da paciência e generosidade dos Bagshot.

– Rebecca! Rebecca! Aonde essa menina se enfiou?

Batilda havia procurado a neta em todos os aposentos. Nenhum sinal de vida.

– Vovó... achei ela! – Henrique, um garoto de no máximo nove anos conduzia a menina brutalmente até as pernas da avó. – Ela tava no Jardim... brincando com o Ripchip.

Ripchip era um cachorro que vivia cortando as ruas de Fulford. Focinho curto, Pelo sem brilho. A morte batia na porta de Ripchip.

– O que eu disse para você Becca? – A garotinha, com seus cinco anos de jornada fixou seu olhar no chão. – Nada de brincar com aquele animal.

– Sim, vovó. – O cabelo vermelho-fogo da menininha balançava acompanhando a direção do vento.

Rebecca esperou alguma palavra da avó, mas elas não vieram. Desse modo ela partiu do salão principal em direção ao jardim... Ripchip estaria lá, esperando a sua amiga.

. . .

Era dia em Liverpool.

– Olhe bem Fredy... é a última vez que veremos este lugar. – Robert e Frederick Tuck estavam na ponte mais movimentada de Liverpool. Pessoas indo e vindo. O medo da guerra ainda pairava no ar. Tudo parecia estar indo as mil maravilhas para a pequena família que morava na fronteira de Liverpool com Edge Hill. O ganho na loteria por Robert. O nascimento do segundo filho. A melhora em sua saúde. Sou um homem de sorte, pensou o pai. – Iremos nos mudar daqui a dois dias, sua mãe está empacotando tudo. Nossa vida está mudando filho... ah, ela está.

– Para onde vamos papai? – Quem dirigia a palavra agora era um pequeno garoto de no máximo cinco anos de idade. Cabelos louros batendo nos ombros. Olhos azuis cintilantes. A inocência poderia ser vista em cada traço do seu rosto.

– Fulford! Fica no alto leste, sairemos daqui na quinta de manhã, se tivermos sorte chegaremos na madrugada da sexta. – Robert mirou o filho que retribuiu o olhar. A criança parecia tanto com ele quando pequeno... uma cópia aperfeiçoada. – Iremos morar em uma mansão. – Os olhos do menino brilharam com a notícia. – Um corretor me abordou na rua e perguntou se eu queria comprar uma mansão no interior... nós temos o dinheiro e seria ideal para nos afastar da guerra. – O menininho ergueu a cabeça e sorriu para o pai. – Sendo assim, seremos os mais novos moradores de Fulford. – Disse o homem com um sorriso orgulhoso. – Agora vamos... sua mãe nos espera para o almoço.

Os dois continuaram a caminhada pela ponte. Do lado direito podia-se ver o grandioso Royal Liver Building que ainda ostentava o poderio inglês na segunda guerra. Do lado esquerdo o mar dava boas vindas de braços abertos aos aventureiros. A cidade dos sonhos tornou-se pesadelo. Liverpool não era mais segura como antes. A melhor coisa a se fazer era fugir daquele caos. Fugir dos bombardeios e das mortes. Fugir da realidade.

Desse modo os Tuck partiram para Fulford no dia um de setembro. No dia seguinte a grande guerra chegou ao seu fim.

. . .

Era dia em Paris

Em um dos grandes salões do Louvre, homens e mulheres se reuniam para fechar os últimos pontos de um plano que custará caro.

– Bem... Batilda já nos disponibilizou a mansão. – falou um homem de cabelos castanhos, pele negra e olhos verdes. – A família do garoto se deslocará de Liverpool até Fulford daqui a dois dias. – As pessoas que circundavam a mesa se entreolharam empolgadas. – O nosso plano deu certo.

Dezenas de mãos se tocando. As palmas vinham de todas as direções. Mesmo com tantas mortes lá fora, hoje seria um dia de comemoração.

Um dos mais engenhosos projetos da sociedade tinha sido vitorioso na sua conclusão. Tudo começou quando Batilda Bagshot entregou a chave e a fechadura para um recém-nascido. De a acordo com a tradição, quando o então guardião do tesouro da “Ordo Lumen” sentisse que estava perto do seu sucessor e notasse que aquele seria o momento, a chave deveria ser repassada. No dia em que a velha e sábia Batilda trouxera ao mundo o descendente dos Tuck, ela soube, ele seria o próximo. Sendo assim, o novo guardião de um dos maiores segredos de todos os tempos passou a ser uma criança. Uma criança inocente e sem preparação. Poderia ter sido um velho de oitenta anos, ou uma jovem de vinte, mas não... no momento do “passe” quem manda não é o cérebro. É a intuição que bate mais fundo. É a emoção do momento e toda a adrenalina ali presente. Frederick Tuck foi escolhido. Agora ele precisava ser protegido.

Antes de me aprofundar no nosso herói, preciso contar um pouco sobre a sociedade que o escolheu. A sociedade, que você, meu amigo leitor, só conhece o nome. A “Ordo Lumen” foi fundada em 1113 d.C. por bruxos atenienses em pleno Parthenon, com o propósito de estudar, pesquisar e entender a magia e desse modo trazer novidades para nosso mundo. E eles trouxeram... foi feita uma descoberta que até hoje está enterrada em algum lugar do planeta... poucos sabem a localização. Para ter acesso a essa descoberta é preciso possuir a “chave do destino”. É ela que abre o segredo que tantos desejaram. Orginalmente o nome da sociedade era “Για του φωτός”, que em grego significa “Ordem da Luz”. No inicio ela era formada por apenas doze bruxos. Doze pessoas que pensavam a frente de sua época. Doze pessoas que descobriram um dos maiores segredos de nosso mundo. Até hoje não se sabe o nome de nenhum dos integrantes desse grupo seleto. O tempo foi passando e a associação ganhou mais membros. Lusitanos. Nórdicos. A partir de 1389 d.C. os Italianos e Ingleses também se entrosaram ao grupo, que nesse momento já era formado por mais de quinhentos bruxos. Centenas habitavam a lista de assinaturas da sociedade, mas somente os descendentes dos gregos fundadores sabiam do real segredo e apenas um entre eles possuía a chave. Um segredo que persistia em se manter escondido desde 1113. É ai que a batalha interna começa. Os Médici, família governante de Florença na Itália, que tinha como os principais bruxos Cosme e Lourenço Médici tentam de toda forma tomar o poder da “Ordem” para si e desse modo roubar a chave. Depois de muita luta e resistência por meio dos gregos e nórdicos, os Italianos vencem em 1462, dois anos depois Cosme Médici falece e Lourenço assume a cadeira central da sociedade após ter extraído o segredo de um membro descendente dos gregos e apresentar a chave em suas mãos.

Uma “faxina” foi feita na cúpula central da “Για του φωτός (Ordem da Luz)”, que a partir de 1470 deixou de ter o grego como língua oficial para adotar o latim. A “Για του φωτός transformou-se em “Ordo Lumen” e os Italianos tinham poder máximo em qualquer situação. A sede deixou de ser Atenas para ser Florença. Mas o poderio toscano não durou mais de três séculos. Em 1730, os Médici são depostos do poder por revolucionários franceses. Mais uma vez o centro da sociedade ficou abalado. Líderes mudavam a todo instante. Até que uma medida drástica foi tomada. O número de seguidores da “Ordo Lumen” passava dos quatro mil. Bruxos do continente Europeu inteiro tinham seus nomes gravados nas pastas cheias de arquivos. O segredo que movia as estruturas oligárquicas da associação já havia passado de boca em boca. Sendo assim o então líder da sociedade, o francês Antonnie Saunière, joga sua última carta na mesa. A “era de sangue” da “Ordo Lumen” havia começado. Foram assassinados três mil e quinhentos bruxos. De um a um. Bruxos de todas as nações... bruxos que não conseguiram se defender. Cabeças rolaram em todas as capitais. No fim de tudo o segredo estava a salvo e a chave permanecia com o líder e então guardião. Agora poucos sabiam do verdadeiro motivo daquela sociedade existir.

O tempo passou e uma nova tática de contenção foi abordada em 1856, por Bernard Saunière, bisneto do líder sanguinário. Depois da chacina pouco menos de trezentos bruxos sobraram. Aqueles descendentes dos primeiros integrantes. A Ordo Lumen era novamente um grupo seleto. Mas Bernard pensava de outra forma. Ele queria apagar o fato dos anteriores líderes serem loucos assassinos. Queria mostrar que antes da chacina de 1738 a Ordo Lumen transpirava o verdadeiro significado desse nome. Ele conseguiu. Dentre os trezentos integrantes que ainda habitavam as reuniões da “Ordo” apenas dez sabiam do real segredo. Na realidade, desde 1389 quando os gregos perderam o poder, os demais integrantes só conheciam um terço do fato. Um terço da verdadeira magia que a “Ordo Lumen” sustentava. Sendo assim, o líder Saunière decidiu que somente poucas pessoas transportariam o segredo a partir dali. Em seus planos somente alguns poderiam saber do segredo, mas apenas o guardião tinha o poder sobre a chave e o mesmo poderia repassa-la para aquele que achasse ser o seu sucessor.

A partir de 1900 o medo passou a ser outro. Ao invés de o líder temer a propagação exponencial do segredo, o mesmo temia a extinção dele. Bernanrd Saunière morrerá em 1923 e no lugar dele, o inglês August Bagshot assumira a liderança. Nesse momento só ele sabia do mistério que assombrou a “Ordo Lumen” por séculos. O homem de cabelos castanhos e olhos verdes escolheu três pessoas de sua confiança. Uma delas foi a sua tia, Batilda Bagshot, a quem ele confiou a chave. Que em um dia qualquer, no meio de um bombardeio encontrará o novo guardião do segredo. Uma criança que sustentaria todo o peso de centenas de pessoas mortas no passado e dezenas de cadáveres que viriam no futuro.

– O garoto está longe do perigo dessa guerra trouxa. Em breve ele saberá da verdade... mas só em breve – August Bagshot tinha uma taça de vinho presa na sua mão esquerda. – Vamos festejar... só tomem cuidado para não sujarem as pinturas... – um risinho desdenhoso deixou-se escapar na ponta dos lábios do líder. Ele não queria saber de Picasos e Da Vincis... tudo estava dando certo. Sua sociedade caminhava para uma época de luz. A primeira em séculos de existência. O nome seria honrado. A ordem conheceria a verdadeira claridade da magia.

. . .

A maldita frase ainda cintilava na mente de Rebecca. “Quandiu in custodiam, et ibi custodiantur ", Enquanto existir o guardião, existirá o protetor.

– Estou falhando... nunca deveria ter aceitado isso. – A garota se lembrava muito bem daquele dia. Uma semana depois de saírem da mansão.

“Você será importante minha filha, não me decepcione.” Falou Batilda quando elas subiram na charrete em direção à estação de trem e de lá para Londres.

– Vovó, porque o Ripchip vai com a gente? – Disse a garota surpresa ao ver seu amiguinho embaixo do assento de Batilda. – A senhora nunca gostou dele... - A roda de madeira entrava em contato com as pedras do caminho.

– Em Londres eu lhe explico, querida... em Londres – Batilda parecia mais cansada do que nunca. Becca notou isso quando se acordou. Vovó precisa de um bom sono, pensou a criança.

Rebecca Bagshot subiu naquela charrete sabendo que iria para Londres, mas não tinha em mente o que iria fazer lá e nem quem iria encontrar. Tudo estava acontecendo rápido demais na vida da menina. Mudança... Morte da Mãe... e ainda sobrava tempo para mistérios.

Os cavalos que puxavam a charrete pareciam correr o mais rápido que podiam. O tempo passava de uma forma estranha. O medo apossou-se da garotinha... o desconhecido provoca terror.

Depois de seis horas na combinação charrete/trem as duas chegaram em Londres. Os prédios grandiosos. O Big Ben dando boas vindas. Becca estava em casa.

– Para onde vamos vovó? Comprar meu material no Beco Diagonal não pode ser... eu só entro em Hogwarts daqui a seis anos! – A menininha falava saltitando enquanto segurava a mão da avó. Do seu lado esquerdo Ripchip acompanhava as duas com o rabo balançando e com a língua de fora. Ao ouvir o nome “Hogwarts” Batilda estancou...

– Filha... você não vai para Hogwarts. – Os olhos da neta fugiram do Big Ben e fixaram na avó que agora se agachava para poder conversar com a menina. – É uma história longa... você irá entender. Por favor... não fale mais nada. – A velha senhora levantou-se com esforço e continuou sua caminhada.

“Você não vai para Hogwarts”, o coração de Rebecca pulsava fortemente. A mente tentava assimilar aquela frase... Vovó só pode estar brincando... só pode. Ripchip não balançava mais o rabo e sua língua não pendia do lado de fora escorrendo gosma no chão ladrilhado de Londres. O Big Ben perdera o encanto. O Tamisa deixou de ser apresentável. Vovó só pode estar brincando, ela repetia mentalmente enquanto caminhava sem sentir. Sua cabeça estava em outro lugar... estava em Hogwarts.

– Chegamos! – Em frente ao trio estava um apartamento ladeado de tijolos negros. Portas pratas chamavam atenção no meio de tudo aquilo. O lugar tinha no máximo dois andares. – Vamos, temos que ser breves. – Batilda puxou a neta pelo braço e Ripchip acompanhou o passo. A mão idosa acertou o centro da porta três vezes... depois de segundos um homem alto apareceu no arco de entrada. Cabelos negros, olhos verdes, era ele. August Bagshot.

– Titia ! Já não era sem tempo! - Titia? Mas que ousado... pensou Becca com seus botões. Ela nunca me falou de um sobrinho. – Vamos, entrem... em nome de Merlin... a senhora trouxe o Dan! – Batilda sorriu e partiu em direção ao sobrinho. Ripchip fez o mesmo, pulou nos braços do homem e em seguida adentrou na casa como se aquele fosse seu lar.

– August... você fica mais jovem a cada dia. – Os dois adultos sorriram graciosamente. – Meu filho... essa é a garota! – August desviou o olhar da tia e buscou a menina. Como é? A garota? Ele chamou o cachorro de Dan? Titia? Eu não vou para Hogwarts? A cabeça da pobre menina estava prestes a explodir.

– Olá Rebecca. – Horrorizada por saber que um estranho conhecia seu nome, Becca continuou perplexa olhando para o homem alto. – Entrem... o Dan já deve estar no seu quarto. – Um sorriso de satisfação tomou conta do homem e após segundos ele deu as costas. Atravessou novamente o vão e partiu casa adentro. Batilda acompanhou sua sombra e arrastou a neta consigo.

Uma casa bem arrumada e aconchegante abraçou Becca. No andar acima um cachorro latia de felicidade.

– Vovó... porque ele chamou o Rip de Dan? – A mão de Batilda segurou a da menina com mais força.

– Tudo no seu tempo... tudo no seu tempo. – A menina odiava mistérios. Odiava suspense, Conte-me logo o que vinhemos fazer aqui.

A voz do homem ressurgiu de algum dos cômodos... – Vamos logo com isso titia, a Rebecca parece estar chateada com todo esse suspense...-Mas como ele... Antes que ela pudesse concluir mentalmente a voz voltou. – Sim, Rebecca, eu leio mentes. – Um pacote embaraçoso de surpresas e dúvidas dançava na cabeça da pequena menina.

– Se acomodem no sofá! – Disse August aparecendo no meio do corredor. – Estou terminando de fazer um chá delicioso... aquele que a senhora adora. - Rebecca tentava assimilar tudo de uma só vez, mas era impossível.

– O de erva cidreira? – Gritou Batilda da sala, e no mesmo tom veio a voz do sobrinho: É esse mesmo! – Minutos depois o homem volta com quatro xicaras.

– Essa é sua titia, com bastante açúcar, do jeito que a senhora gosta. – A mulher soltou um obrigado carinhoso e agarrou o braço da xícara. – Essa é sua, Becca. – A garota só pegou por educação. Nunca gostou de chá.

– Porque você não disse, Becca? Eu poderia ter feito café para você! – A menina pulou do sofá. Já era demais. Ele tinha o dom, mas não poderia abusar.

– Olhe, moço-que-eu-não-sei-o-nome – falou ela nervosa. – O senhor pode ler mentes, mas isso já é abusar do seu dom. Tome vergonha na cara. – A menina falou e ao mesmo tempo paralisou na última palavra. Ela esperava uma bronca da avó e um pontapé do anfitrião. Mas nada disso aconteceu. Os dois adultos ali presentes caíram na gargalhada.

– É... essa menina tem o espírito da sociedade... – disse o homem em meio aos risos- Boa escolha titia... boa escolha. – Com cara de boba, ela se sentou no sofá. Não poderia existir dia mais estranho do que aquele.

– Mas então, August, vamos ao que importa? – O semblante de Batilda mudou de forma assustadora. O sorriso sumiu do nada e no lugar dele ficou a serenidade de sempre.

– Vamos então... Rebecca, agora é sério...preste atenção no que irei falar. – Aqueles olhos infantis nunca prestaram tanta atenção. Aqueles ouvidos nunca escutaram tão bem. – Existe uma sociedade... – O homem passou vinte minutos explicando a origem e o desenvolvimento da “Ordo Lumen”. Rebecca permaneceu de boca aberta. Uma sociedade secreta... minha avó sempre fez parte dela... – Agora, Becca, é a parte que você entra na história.

– Eu? – o coração estava prestes a explodir. – O que eu fiz?

– É o que você fará querida! – Batilda tomara a fala da situação. – Há cinco anos, enquanto sua mãe tinha você entre os braços aqui, nessa mesma Londres, eu corria perigo em Liverpool. Fui em uma viagem de negócios. Tinha que fechar com a editora e a sede mais próxima deles era lá. – Rebecca não piscava – Um bombardeio começou e eu me enfiei no primeiro lugar que encontrei... foi lá que eu repassei a chave que o Auguts falou a pouco... a chave que abre as portas para uma nova era... Rebecca eu depositei minha fé em uma criança recém-nascida... eu dei a chave para ele. O garoto é o novo guardião e você...

– Eu o que? – A menina não sabia se corria ou permanecia ali para escutar o que viria.

– Você será a protetora dele. – As pupilas infantis tomaram proporções inimagináveis.

Quandiu in custodiam, et ibi custodiantur - falou August.

– Um dia teremos que colocar você na vida dele. Uma amiga por acaso, sem que ele desconfie. A partir desse dia você irá protegê-lo com todas as suas forças.

– Mas... eu não... – August estendeu a mão para pegar sua xícara. – Eu não quero vovó.

– Você não tem opção Rebecca... é sua missão. – Era demais para uma criança de cinco anos entender... mas Becca era diferente das outras. – Você protegerá o garoto do melhor modo possível, e tem mais... ele não poderá saber que você é bruxa.

– Mas espera... se essa sociedade é tão grande, porque não colocam vários bruxos para vigia-lo, se o menino é tão importante? – August e Batilda se entreolharam, então veio a resposta.

– Entenda minha filha... – falou a avó. – Sempre que existir aqueles que buscam a luz, existirá aqueles que buscam as trevas. Assim como nós, também existe outra sociedade, mas essa só deseja os poderes que descobrimos durante séculos para usa-los na maldade. Não podemos cercar o garoto com dezenas de bruxos, pois os outros... aqueles que desejam nos derrubar, descobririam que é ele o guardião.

– Então que dizer... que não tenho escolha? É isso e pronto? E como ele não descobrirá que sou bruxa, se iremos para Hogwarts no mesmo ano? – A frase latejou na mente dela “Você não irá para Hogwarts”.

Você irá para Beauxbatons... a escola é uma das sedes da “Ordo Lumen”. – Ela não iria para Hogwarts. A casa com que tanto sonhou. Beauxbatons seria um quartel general da “Ordo” ?

A garota nem pode pensar direito... August já havia captado tudo.

– Não, Becca, Beauxbatons só é uma das sedes por questões históricas. – Rebecca não estava acreditando naquilo... Ela seria uma protetora de um moleque que nunca havia visto.

A conversa em Londres durou horas. O líder da “Ordo Lumen” discutia vários pontos com Batilda Bagshot. A pequena menina ficou do lado de fora com o Ripchip... ou era Dan? Bem... isso eu não posso contar agora, mas saiba que no futuro ele se chamaria Tintim.

Ah, o futuro. Como ele reserva surpresas. Três anos depois daquela declaração, Rebecca Bagshot deu conclusão a um dos planos da “Ordo Lumen”. Tudo começou quando eles deram dinheiro para os Tuck fingindo ser um ganho na loteria. Logo após veio o falso corretor oferecendo uma mansão quase de graça. E três anos depois surge uma menina dentro da uma pequena caverna. Como se não quisesse nada. Mas não iremos nos esquecer dele... o pequeno e velho cachorro que fora encontrado por um inocente Frederick Tuck nas ruas de Liverpool... outro peão posto em jogo. Outra peça movida pela “Ordo Lumen” que a partir de agora não lutava internamente, pelo contrário, a ameaça vinha de fora. Uma nova organização surgirá. Eles queriam poder... eles estavam conseguindo.

. . .

O garoto tentava absorver o que havia acontecido. O pai morto. A mãe morta. Traído pelo maior amor. Não poderia ocorrer algo pior.

Na direção de Moody vinha novamente o inspetor. Bertrand passara a manhã inteira perturbando o garoto.

– ... então o senhor chegou a noite... encontrou seus pais mortos e só sentiu um impacto forte na cabeça... foi isso? – Alastor já estava cheio de tudo aquilo. Não queria saber de Rebecca, nem de Inspetor nenhum. Mas para não causar desconfiança ele reafirmou.

– Foi isso mesmo. Eu não pude reagir. – Em partes ele estava contando a verdade. É claro que não poderia dar detalhes mágicos para um trouxa. Mas foi isso, ele desabou feito um bebê sem ter chance de lutar.

– Sr. Tuck, eu irei dar mais uma varredura na casa. Procurarei mais evidências e volto com mais pistas sobre o culpado. Farei de tudo para acha-lo. – O homem acenou com a cabeça e partiu mansão adentro. O jovem observava sua casa despencar sentado no barranco. Nas suas costas uma Fulford repleta de fofocas e desocupados. A sua frente uma casa despedaçada. Sem alegria, amor ou até mesmo luz.

Ah, a luz parecia estar tão próxima quando o garoto saiu de casa na noite anterior. Mas ela foi apagando gradativamente. Agora só restava um fiapo de esperança. Esse fiapo em minutos iria se dispersar.

De forma dramática o jovem deu as costas para mansão e tentou admirar aquele vale. Um visão não tão agradável surgiu. Rebecca e Marco subiam a ladeira central na maior velocidade. Marco como sempre estava chorando. Ele era sempre assim, ou chorava ou ria, só existiam esses dois estágios de humor para ele. Mas dependendo daquelas situações o choro de seu melhor amigo, e até então traidor, deveria ser levado a sério. A outra traidora vinha ao lado dele. Com a cabeça baixa.

Moody levantou-se quando a dupla se aproximou. Pronto para os xingamentos, independente da situação. Independente do que fez Marco chorar. Ele queria vingança. Vingança em todos os pontos.

– Vocês! – gritou ele sem pensar. Mas não deu tempo para mais nenhuma palavra. Marco pulou em seus braços e o abraçou chorando.

– Meu Deus... – falou o garoto em meio a soluços – O Brian!

– O que tem o Brian? – As coisas já estavam péssimas... mas parecia que algo insistia em piorar. Rebecca segurava uma folha que aparentava ter algo escrito. – Onde está o meu irmão? – Marco afastou-se de Alastor e esperou Rebecca falar algo. Então ela começou.

– Enquanto você estava aqui com o Inspetor, o Marco e o Brian foram dar uma volta... duas pessoas encapuzadas agarram o Brian perto do bosque e nocautearam o Marco. – O garoto mostrou o hematoma na maça esquerda do rosto. – O Marco ficou desmaiado e Brian... sequestraram ele! – Uma chuva de canivetes atingiu Moody. A dor foi reativada. Seu irmão... o irmão que tanto amara tinha sido levado embora. Arrancaram mais uma pessoa dele. As lágrimas caíram no chão.

– Eles deixaram isso – Falou Rebecca estendendo a folha que ele notara. O garoto segurou o papel firmemente e leu:

“Se você o ama, venha até nós”

Só tinha escrito uma frase. Uma pequena frase. Mas Moody soube quando chegou ao ponto final daquela oração que o papel tinha algo a mais. A gota de lágrima que tocara o papel ativara algo estranho. Algo mágico. A folha se revelava a cada gota de dor que caia da sua face. Os três se entreolharam. Marco como um bom trouxa fez cara de espanto e Rebecca o acompanhou. Depois de segundos a frase que estava solitária juntou-se a um conjunto de traços e desenhos.

– É um mapa! – disse Rebecca.


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