Moody: Uma História a ser conhecida escrita por Emanuel Antunes


Capítulo 3
" Não se faz o futuro sem conhecer o passado "




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– Um dia tudo isso irá acabar e nós iremos dizer: Até que enfim. – Batilda afirmou com tanta certeza que Elizabeth foi obrigada a balançar a cabeça positivamente. A senhora de cabelos castanhos apresentava alguns fios brancos a mostra. Para Elizabeth, aquela era uma heroína. Há poucos minutos o seu filho veio ao mundo, graças à ajuda da Sra.Bagshot – Bem minha filha, tenho que partir. Os bombardeios cessaram e a hora chegou!

– Muito obrigado por tudo! Devo minha vida a senhora. – Os olhos de Elizabeth brilhavam de emoção. O garoto que ela segurava nos braços permanecia calado, ele entendia tudo que estava acontecendo.

– Não precisa agradecer. Nossa missão aqui é justamente essa... transportar vidas. - A idosa alisou a cabeça do recém-nascido e concluiu. – Alguns acabam com histórias, já outros, fazem com que elas existam. – Um sorriso fraternal tomou conta do rosto enrugado de Batilda– Elizabeth... posso tocar na criança pela última vez?

– Claro! – Sorrindo, Elizabeth entregou o bebê para a velha.

Ao encostar seu dedo na pequena cabeça a sua frente, Batilda sentiu algo inédito. Era ele. O garoto que provocaria mudanças. Uma conexão foi estabelecida entre os dois, polos opostos que por fim se encontraram. Ela fez o que deveria ser feito.

– Senhora Elizabeth... Tenho algo para lhe entregar, ou melhor, algo para sua criança. – A jovem encarou a idosa com receio. Ele mal tinha nascido e já receberia um presente? Pensou Elizabeth.

Batilda passou a mão pelo pescoço, tateou um pouco até encontrar uma correntinha que aparentava ser de ouro. Retirou o objeto que a envolvia e revelou uma chave. Era velha, assim como a dona, mas seu brilho sustentava-se como podia.

– Essa chave apresenta uma história, assim como todo elemento nesse planeta. Não irei contá-la agora, pois ela não deve ser revelada tão depressa. – A anciã encarou a criança em seu colo e falou diretamente para ela. – É sua agora, pequeno . Tome cuidado – O garoto parecia captar a mensagem, e como magia, ele levantou o braço direito e agarrou a chave. – Bom menino. – A nova mãe ali presente ficou boquiaberta. – Agora, ele é todo seu. – Elizabeth recebeu sua criança nos braços com uma expressão de susto. – Adeus minha querida... cuide bem dele.

Sem explicação alguma, ela partiu. Deixou pai, mãe e filho para trás. Aquela chave permaneceu com Frederick até agora. O garoto passou infância e adolescência com aquilo pendurado no pescoço. Sempre escutando essa mesma história, que saia da boca de Elizabeth como algo decorado. Nunca conheceu o verdadeiro significado daquilo. Se soubéssemos o futuro, descartaríamos o passado. Aquele objeto moveria montanhas para ele... mas também destruiria várias fortalezas.

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A praça continuava cheia. As vozes ao redor estavam eufóricas. A melhor cantora da região iria atuar. Joana já andava em direção ao palco. Rebecca invejava aquela garota. Rica, talentosa, bonita e acima de tudo, popular. Os garotos beijavam os pés de Joana Tuck.

Becca partiu em direção a um monumento na parte esquerda da praça central. Ela não queria ver aquela apresentação. De relance um garoto alto, forte e de cabelos louros surgiu. Era Marco. O amigo de infância de Frederick. A garota lembrou-se de Frederick, ou melhor, Moody. Era assim que ele gostava de ser chamado. Marco sempre foi uma pedra no sapato do novo casal. Ele sempre postava-se no meio dos dois, muitas vezes parecia ser de proposito.

– Rebecca! Você viu o Moody? – Marco aproximou-se da garota e continuou – Não o encontrei.

– Deve estar chegando. – A jovem tentou responder educadamente, mas não conseguiu. Há alguns dias algo repentino tinha acontecido. Marco havia se declarado para a menina. Antes disso, Rebecca já teria dado seu primeiro beijo com Moody.

– De certa forma isso não importa – Rebecca pressentiu o que viria – Eu quero falar com você.

– Marco, nós já conversamos sobre isso... – Sem ela esperar, Marco partiu pra cima. Segurou seus braços e tacou-lhe um beijo. A garota tentou se desvencilhar , mas ele era mais forte. O beijo forçado durou cerca de oito segundos, mas foi suficiente para destruir a magia do casal. Rebecca viu Moody a alguma distância dali. O garoto com um terno elegante deu as costas e partiu. – Seu idiota! – Gritou Rebecca bem no ouvido de Marco assim que ela conseguiu soltar-se do cerco. – Você me paga... seu trouxa asqueroso! – A moça levantou a barra de seu vestido um pouco até alcançar as coxas, passou a mão pela perna direita e puxou algo preso na meia-calça. Em questão de segundos uma varinha estava fixa na mão esquerda de Rebecca – Estupefaça! – Marco voou no meio do povo. Caiu bem em cima de uma mulher baixa com cabelos negros.

A garota correu no meio do público, no sentido contrário ao baque de Marco. Tenho que me desculpar com o Moody, pensou ela. Os cabelos ao vento. O coração disparado. E a raiva de Marco. Tudo isso se apossava de Rebecca naquela instante. A casa de sua avó ficava logo ali.

– Vó! Vó! – Gritou Rebecca, enquanto batia na porta do seu lugar preferido. – Preciso de sua ajuda – disse ela logo assim que uma senhora baixinha apareceu no arco de entrada. – Me empresta sua vassoura?

– Claro minha filha, entre! – O vestido de Rebecca ainda roçou na entrada da casa. Parecia mais com a toca de um Hobbit do que uma casa propriamente dita. – Ela está ali... do lado do armário - A neta correu até lá. Agarrou a vassoura e agradeceu:

– Obrigado Vovó Batilda! – A velha senhora deu um abraço apertado na neta e a deixou ir, mas antes um aviso:

– Cuidado com o que faz minha neta. – Disse Batilda Bagshot –Cuide do garoto! – A garota assentiu, montou na vassoura e sumiu em meio ao céu estrelado.

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A varinha empunhada. O coração acelerado. O cenário não poderia ser pior.

– Mãe... não! – O garoto gritava desesperadamente enquanto segurava o corpo ainda quente de sua mãe. Uma dor cortante abria seu peio ao meio e deixava todas as feridas expostas. A mulher invencível havia caído. – Eu estou aqui... – O choro atingia o chão da sala como pingos de fogo. Frederick abraçava Elizabeth com tanta força que até suas mãos doíam.

A cabeça da jovem senhora tocava o peito do filho, enquanto os dois padeciam no chão daquele lugar escuro e frio. O menino suplicava... pedia para que a mãe fica-se... mas ela já tinha partido a muito tempo. Nada poderia ser feito. Cheguei tarde demais, essa frase latejava no íntimo de Moody. – Por favor, Mãe... fica comigo! – Foi chorando que ele conseguiu escutar algo no piso superior.

O seu choro pausou instantaneamente. Algo acontecia lá em cima. De relance uma memória veio à tona... Quando saiu, um homem de cabelos louros já gastos pelo tempo estava lá em cima... Seu pai corria perigo.

Moody segurou a varinha como quem segura uma espada, e partiu em direção a escada que dava acesso ao piso de cima. Subiu os degraus como um gavião em voo rasante. Agora nem o desespero nem a raiva eram os sentimentos em ápice... a única que coisa que assombrava Alastor era o medo. O corredor que ficava entre os quartos da mansão apresentavam-se mal iluminado e sem vida. Alguma coisa poderia surgir daquelas portas e ele não imaginava a que momento isso aconteceria. O instinto de proteção falou mais forte. Meu pai corre perigo, pensou ele, assim como eu.

Os passos diminuíram a velocidade. A cautela era providencial. A mão direita encontrava-se ocupada com seu artefato mais poderoso. A varinha de carvalho tremia freneticamente. Não tenha medo Moddy. As portas dos dois primeiros quartos mantinham-se fechadas. A do terceiro e quarto também. Já a do quinto... A porta do quarto de seu pai estava escorada. Um barulho cortante atingiu o menino.

O rangido de uma cadeira de balanço surgiu lá de dentro. O silêncio da noite assombrada fez com que aquilo parece-se uma facada. Alastor não hesitou. Seu andar provocava um barulho incontrolável assim que seus pés tocavam o assoalho. Mantenha a calma. A varinha pairou em frente ao seu corpo tremulo. É agora. A zuada da cadeira tornou-se mais forte. O coração quase saindo pela boca. Com um chute forte a porta se escancarou... o que ele viu não foi nada agradável.

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Após ter sobrevoado Fulford, a elegante e charmosa bruxa, Rebecca Bagshot desceu da vassoura. Pousou junto aos destroços da entrada da Mansão Tuck. Escondeu a varinha entre as vestes e correu jardim adentro. Assim que tentou visualizar o que tinha acontecido ali levou um susto. Elizabeth encontrava-se morta no chão frio da sala. Uma fisgada no peito mostrou a Becca que mesmo depois de tantos xingamentos e provocações, Elizabeth era sua amiga, ou melhor, sua mais nova sogra. Não posso perder tempo, pensou a jovem, Cheguei aqui para me desculpar, mas não imaginei encontrar isso. O sangue despencou e a mensagem de sua vó veio a tona: Cuide do jovem garoto. Vovó havia previsto... ela sempre soube.

A garota puxou a varinha que estava na meia-calça novamente e subiu as escadas. Tenho que proteger Fredy. O corredor do piso superior não tinha vida. Assim como Elizabeth, aquele lugar estava morto.

Rebecca empurrou a porta do quarto do Sr.Robert, e para seu horror lá estava Moody e seu pai deitados no chão, como corpos prestes a serem levados para o necrotério. Uma cadeira de balanço rangia. O vento soprava as cortinas do recinto. Sem querer, uma sombra mexeu-se no fundo do lugar, para espanto de Rebecca que estava prestes a se ajoelhar ao lado do corpo de seu amado.

– Pois é queridinha... Mamãe, papai e filhinho – A voz que surgiu daquela sombra demonstrava ódio e acima de tudo, maldade – Os três tombaram no chão como sacos de bosta. Só falta mais uma pessoa! – Rebecca não acreditava no que via. Seu braço esquerdo segurava a varinha apontada para o estranho assassino. Ele saiu das sombras, mas o seu rosto não veio junto. Só dava para analisar o corpo. A face encontrava-se coberta por um capuz sombrio – Aconselho não usar sua varinha... você poderia se juntar a eles se eu quisesse... – Com agilidade e precisão o encapuzado gritou: Expelliarmus! – A varinha da menina voou até a mão do louco do outro lado da sala. – Não quero ver você morta... Ainda não! – Rebeca tremia incontrolavelmente. Seu cérebro tentava arrumar um jeito para sair dali. Ele tinha duas varinhas em mão. Ele era invencível. – Sabe... quando me falaram sobre você, disseram: Cuidado com ela. Aquela garota é traiçoeira! – A voz da sombra saiu com um sarcasmo inconfundível. – Acho que a pessoa que me disse isso estava profundamente errada.

– Seu louco! Olha o que você fez! – A menina tomou coragem para falar. O homem do outro lado da sala revidou:

– Não fui eu – Uma mão pálida retirou uma chave do meio das vestes... –Depois de seu querido Frederick cair nesse chão podre, eu tomei isso dele... Interessante não é? – A sobrancelha esquerda de Rebecca tremia. Seu olho direito soltou uma lágrima de ódio. O psicopata continuou: - Um objeto tão velho e sem graça, pode causar tanto estrago. – Um sorriso cortante invadiu o quarto. Parecia com a risada da morte... mas o dono dela estava bem vivo. – Você sabe o significado dessa chavezinha, não sabe? – A jovem ameaçou avançar em direção ao homicida e retirar aquela capa, mas ele fez um sinal negativo – Nada disso mocinha... Pode ficar paradinha ai. - O vento que entrava pela janela direita do quarto balançava o vestido de Rebecca ainda mais. O frio da noite trouxe a realidade para ela. Aquela seria a pior de sua vida. – Isso mesmo. Parada e Calada. – O homem emergiu das sombras... aproximou-se da garota. As duas varinhas apontadas para cada extremo da face de sua oponente. Becca não tinha saída. – Eu observei vocês por vários anos. A família Tuck e seus agregados tiveram tempo de sobra para se protegerem... Mas de que adiantaria? Eu saberia do mesmo jeito! – A boca de dentes brancos e perfeitos atrás do capuz sorriu. – O dia de colocar a Operação Valkiria em ação chegou... e pode ver... deu tudo certo! – A varinha da mão direita do encapuzado tocou a cabeça de Rebecca.- Peguei o que queria e matei os que deviam... rimou até – Ele sorriu descontroladamente – Infelizmente o horário não me permite ficar. Tenho que partir querida Rebecca – A dor e o ódio apossaram-se da menina... esse louco esteve entre nós... mas nós não percebemos. Ele continuou a falar: - Não posso deixar você intacta, não é? – O ser tomou certa distância e mirou na jovem. Rebecca preparou-se para o choque, e então... – Estupefaça!

O feitiço foi bem executado. Na mente da menina tudo ficou escuro.


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