Moody: Uma História a ser conhecida escrita por Emanuel Antunes


Capítulo 12
Quasimodo




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O cavalo pousou e o tocar de seus cascos no chão ecoou por todo o salão. Ninguém ousava romper o véu silencioso, ninguém movia um músculo.

            - Bom dia, irmãozinho! – E sua gargalhada se encarregou de rasgar o resquício de ilusão que se apossava de Moody, o colocando à luz da responsabilidade, lhe encarregando de mudar todo um enredo. O garoto sacou a varinha!

            - Jura? Mas você jura?- Brian deixava o desprezo e a ironia respingar entre seus lábios. Seu rosto ingênuo transformava-se a cada segundo que se passava. Suas pernas bailavam entre as cerâmicas, ele as encarava e saltava sincronizadamente, parecia ter ensaiado aquela dança. – Vou lhe contar uma historinha, Fredyzinho. – Moody apontava a varinha firmemente em direção a testa de seu oponente que se encontrava a metros de distância. Ele caminhava para abraçar a mira de Alastor. – Na verdade, uma história para todos vocês, meus convidados de honra! – Ele parou. – Vai, nem tão honrados assim. – Suas mãos se moviam em um compasso teatral. O garoto conseguia ser o Arlequim e o Pierrot ao mesmo tempo, seu rosto refletia tristeza e glória, monstros viviam naqueles olhos. – O conto é o seguinte... Vocês estão vendo todos esses homens e mulheres aqui?

            “Que homens e mulheres, seu louco de pedra?” questionou-se mentalmente Thaise sobre o dragão.

            - Pois então, eles chegaram antes na festa... é, bem antes – Lamentou-se o garoto. – Sendo assim, eles que comandarão o baile de hoje!

            Toda a Ordem se encarava, os animais não sabiam se avançavam ou ficavam ali, inertes. A praça em frente à Catedral começava a ganhar telespectadores curiosos, trouxas que não conseguiam assimilar a presença de todo um zoológico misturado à vultos trajados com as mais escuras vestes.

            - Só precisam de um comando – Continuou. Um simples comando! – Brian voltava a saltitar e sua proximidade com Alastor aumentava, em instantes ele estaria frente a frente com o irmão. – E digamos que o darei agora!

           Seus olhos se arregalaram, sua boca abriu-se em um sorriso infernal e ele gritou: “Fogo!”

         Nada aconteceu.

         “Fogo!” ele gritou pela segunda vez.

         Na sua frente os seguidores, seus seguidores fieis, sumiam um por um. Cada rosto que ele conhecia muito bem, cada bruxo que ele auxiliou, eles desapareciam como fumaça, partiam para o irreconhecível e onde havia uma confiança descomunal surgiu o desespero. Em instantes nenhum membro de sua sólida instituição se fazia presente, foi a brecha para Thaise gritar sem receio:

       - Atacar! – Como um exército élfico, eles empunharam suas varinhas, como um pelotão coreano, eles depositaram toda a força que tinham. Rajadas dispararam de centenas de varinhas, luzes partiam de todos os lados da catedral em direção ao jovem. Brian, em sua derrota iminente, ajoelhou-se, deixou que seus braços englobassem o espaço que sua envergadura permitia e encarou Moody, que ao ver toda aquela movimentação, nada fez. Eles ficaram assim por segundos, Alastor pode coletar o pingo de arrependimento no olhar do irmão, um pedido de socorro, era isso que ele via.

         Os feitiços ocultaram a linha de visão de todos ali, o amontoado de luz que se apoderou do corpo de Brian o transformou em nada aos olhos desatentos. Uma mistura de tons, verde, azul, vermelho, todos unidos em um só propósito e eles não findavam, os bruxos não disparavam, mas eles persistiam em chocar-se com o corpo do garoto. Até que aquele corpo foi inundado por uma imensa esfera, uma esfera que brotava não de outro lugar, mas sim dele, do garoto. A esfera resguardava um brilho imenso, era algo desnorteante, e Moody conseguiu visualizar, no interior daquela forma um sorriso maquiavélico, um sorriso vitorioso.

          Ela explodiu.

          A esfera transformou-se no que outrora fora, nos feitiços que a formou, e esses feitiços retornaram para seus donos, todos eles, viajando na direção contrária. Uma banda parecia entoar a mais tenebrosa canção, todos penderam com a força que prescindia aquele encantamento, todos,  independente de suas formas e assim os feitiços chocaram-se contra as paredes que de maneira alguma reagiram. Todos os combatentes beijavam o frio chão da Catedral, menos ele, Brian que há segundos estava agachado, prestes a receber uma carga imensa de magia, agora era altaneiro, olhava no fundo, bem no meio de cada alma ali presente. Sua roupa continuava impecável, seu andar era ainda mais diabólico, sua fala transpassava as dimensões.

          - Agora é minha vez! – Com um movimento diagonal, ele tentou conjurar o que quer que fosse, mas alguém lhe impediu.

         - Expelliarmus! – Gritou sobre o altar, Moody. A varinha de Brian tomou direção e sentido contrário à seu início de feitiço. O instrumento voara para a praça e os trouxas, os poucos que ali restavam, lhe encararam com temor.

         - Mas veja que atrevido... – Gargalhou o jovem. – Meu irmão é perspicaz, muito até! – E ele deu as costas para Alastor, começou a girar lentamente enquanto suas mãos se estendiam como se fossem abraçar o nada. As pessoas levantavam aos poucos, muitos dos bruxos catavam suas varinhas, outros ainda enfrentavam um estado de náusea. Fora ai, neste momento em que Moody contemplava a derrota temporária do irmão que ele surpreendeu novamente. Suas mãos alternavam de sentido, elas tremiam, acompanhavam o ritmo frenético daquele corpo. Suas palavras soaram como um sussurro interno na mente de cada bruxo.

         - Etiam cum dicitur... – Seu tom era sorrateiro, em um latim ensaiado deveras, ele disse: “E quando a palavra for dita...”— Unum regnare... – “Um só homem reinará...”— Et cum caelum discessisse depulsus – “E quando o céu assim findar” suas mãos apontavam para a abobada recém-destruída. - A command tantum take! – “Um só comandará!”

          Seus braços penderam, assim como o brilho que adentrava na Catedral. As nuvens que enfeitavam o céu Parisiense começaram a se agrupar, todas direcionavam-se para Notre Dame, nuvens e mais nuvens reunidas sobre o basílica, formando assim uma imensa cortina. Era noite na Ilha.

         - Agree! – gritou de forma prolongada, Brian. Nada ocorreu.

         Até que rachaduras tomaram conta do prédio. Lascas das paredes começavam a despencar, pequenas, mas barulhentas.

         - Agree. – Disse calmamente e sorrindo dessa vez. “Acordem”

          E eles despertaram.

          Junto às lascas, figuras emergiram das paredes.

          Thaise encarou August Bagshot, que não lhe devolveu o olhar, pois esse estremecia ao ver um arcanjo movendo-se, agonizado para abandonar sua residência. Batilda mirava em uma imagem de são Francisco de Assis. A estatua começava a conhecer seus membros, sua locomoção.

          Brian sorria desenfreadamente.

          Moody não conseguia sair de onde estava, apenas olhava para o que restou do teto e conseguia distinguir a sombra que um dia fora o céu das formas que tomavam vida e despencavam no salão, partindo-se ao meio. A sensação de algo movendo próximo a sua nuca o despertou do transe. Ao virar-se ele pode admirar toda a grandeza e magnitude daquela alegoria.

          Os olhos frios de Maria penetravam cada parte de seu corpo. O rosto feito de mármore fitava cada parte do seu frágil e formado da mais fraca pele. Seu corpo arrepiou-se por inteiro ao reconhecer cada traço daquela figura, o rosto angelical transformado em um mar de fúria. A estátua de quase quatro metros caminhava e suas vestes ganhavam mais vida do que há segundos, o mármore parecia flamejar. Isso acontecia com todas as outras esculturas em torno de Notre Dame e no seu interior. Todas marchavam para um só homem, um só comando.

          - Manda ver, Ernesto! – gritou Thaise Sauniere sobre o dragão, e uma onda de fogo emergiu da boca do animal. As estatuas que se aproximavam da fera pararam. – Toca aq... – Os anjos, os santos, as gárgulas que foram contidas pelo fogo, começaram uma marcha frenética. Eles transformaram-se em chamas-vivas, corriam e ao atingirem o perímetro do dragão, saltavam sobre suas escamas. Thaise reagiu. – Reducto! – Acertou bem no rosto de um são Gabriel. – Bombarda Máxima! – foi a vez de um Jesus Cristo pender no ar e explodir em mil pedaços.

         O piso lustrado de Notre Dame refletia centenas de batalhas individuais. Cada bruxo tentava combater duas ou três estatuas, e elas brotavam de todos os lugares, emergiam com a rapidez dos feitiços que lhes eram disparados.

          A virgem Maria ainda encarava Alastor.

          - Avada Kedavra! – Ele amaldiçoou. O feitiço atingiu o coração entalhado bem no centro do corpo da escultura. Ela continuou a se mover. – Estupefaça! – Moody enxergava o sorriso da virgem. Seus passos provocavam tremores no piso escorregadio.

         - Seus feitiços tolos não são páreos para ela, irmãozinho! – Ele ouviu a voz de Brian bem atrás de si. Um. Dois. Três passos e lá estava, encarando a virgem que ainda o perseguia e sentindo a ponta de um punhal em suas costas. – Ande mais! – Desdenhou o assassino. Com uma voz firme, declarou – Pare. – E a estatua parou. Assim como Moody. – Não, Fredy, foi com ela, não com você! – Um pequeno sorriso perfurou as entranhas de Alastor, criou uma raiva que nunca tivera. Brian ainda dançava às suas costas.

           O inferno de Dante, com seus nove níveis, pulara da Divina Comédia, se desprendera da superstição popular, viajara léguas e parara bem ali, no terreno de Notre Dame. Fogo e mármore duelavam violentamente. Batilda Bagshot usava todo seu arsenal, assim com o sobrinho ao seu lado.

           - Quantos, Titia? – Seus movimentos não cessavam, mais e mais estatuas os perseguiam.

           - Dezoito. E você? – perguntou ofegante.

           - Doze. – Disse o homem com o semblante ainda mais determinado.

            - Eu estou só começando, querido! – Falou Batilda. Eles recuavam mais e mais, até que choram-se com a parede espessa da Catedral. Uma estatua, ainda presa ao seu casulo, esticou seu braço e agarrou o pescoço da mulher. Segundos agonizantes, até que August mirou bem na face do São Sebastião esculpido e o transformou em pó, junto a metade da parede.

            - Isso vale por três! – Gritou em meio a multidão.

. . .

CONTINUA


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